Esteio da reforma, avança
Temos em funcionamento 141 USF (01.09.08), a prestar assistência a 1.769.304 utentes, representando um ganho de cobertura de 193.273 utentes.
O número de profissionais envolvidos é de 2.832 : médicos:1004; enfermeiros:1024; administrativos: 804.
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FINALMENTE!
Até agora a criação de USF foi deixada ao voluntariado.
Para o próximo ano serão criadas USF por iniciativa do Governo, com o objectivo de chegar às 250 unidades e conseguir uma maior cobertura das populações.
«Até agora, a proposta do Governo tem sido a de permitir aos profissionais de saúde que se organizem com autonomia e estes têm sido capazes de responder a este desafio», alega Ana Jorge, anunciando que, a partir do próximo ano, a tutela avançará com uma resposta para «melhorar o acesso aos utentes que não estão incluídos em USF».
2.º ANIVERSÁRIO das USFs
Dois anos: USF trouxeram mais doentes com médico
As Unidades de Saúde Familiar, criadas há dois anos, trouxeram mais doentes com médico, mas há profissionais a querer abandonar o projecto e queixas de que a reforma trata uns como filhos e outros como enteados.
Os cuidados de saúde primários foram eleitos por este Governo como o pilar da reforma do sector e a criação das Unidades de Saúde Familiar (USF), uma nova forma de organização dos centros de saúde, um instrumento para a concretizar.
Dois anos após as primeiras USF entrarem em funcionamento - a USF Nascente (Centro de Saúde de Rio Tinto, em Gondomar), a USF de Valongo e a USF de São João do Sobrado (Centro de Saúde de Valongo) e a USF de Condeixa (Centro de Saúde de Condeixa) - o balanço dos profissionais envolvidos nesta forma organizativa é «positivo».
Como principal benefício, médicos e enfermeiros elegem a existência de mais doentes com médico de família.
Contudo, as críticas já se fazem ouvir, nomeadamente contra a estagnação da reforma. Mais longe vai a Ordem dos Médicos, com o bastonário a afirmar que, tal como previra, começa a haver «sinais de descontentamento» e até alguns médicos que dão mostras de «querer abandonar o projecto».
Isto porque, conforme disse à Lusa, alguns médicos sentem-se defraudados com o modelo e com a falta de compensação financeira.
Mas as críticas de Pedro Nunes vão além da questão financeira, contestando a existência de condições diferentes para os médicos e doentes envolvidos nas USF e nos modelos que não aderiram a esta reforma.
«Encontramos situações em que, num centro de saúde, uns doentes são atendidos até às 20:00, porque o seu médico aderiu à USF, e outros que não têm consulta até tão tarde», exemplificou.
Também os espaços físicos revelam que «há doentes de primeira e de segunda».
«Com mais dinheiro, as instituições que são USF têm ar condicionado e boas condições e as outras, com profissionais que não aderiram a este modelo, apresentam condições miseráveis, nomeadamente nas salas de espera».
Pedro Nunes aponta ainda o dedo ao facto de a reforma em curso ter deixado cair um «aspecto fulcral» para qualquer reestruturação dos cuidados de saúde primários: a possibilidade de o doente mudar de médico, se assim o desejar.
«É um direito inalienável», disse, lamentando que ainda existam situações em que os médicos de família nada conhecem do doente e, por isso, não entendam o contexto em que vivem.
«Por que razão não pode o doente escolher um médico, para com este estabelecer uma relação de confiança, que não encontra no seu médico actual?», questionou.
Os enfermeiros também consideram que ainda há um longo percurso a fazer, embora a bastonária da Ordem que representa estes profissionais considere o balanço dos últimos dois anos «bastante positivo».
Em declarações à Lusa, Maria Augusta Sousa classificou a transformação como «globalmente positiva», no que diz respeito aos «cuidados de proximidade».
A bastonária critica, contudo, que a reforma tenha conduzido a que «uns tenham tudo e outros nada», no que diz respeito aos centros de saúde com e sem modelo organizativo USF.
Do ponto de vista económico, e uma vez que este modelo pressupõe contrapartidas financeiras, Maria Augusta Sousa adiantou que estas já estão definidas em papel, embora ainda não sejam uma realidade total.
O coordenador da Missão para os Cuidados de Saúde Primários (MCSP), Luís Pisco, reconhece a legitimidade de algumas críticas, mas considera que as mesmas fazem parte da impossibilidade de avançar «à velocidade ideal» com uma reforma deste tipo.
Luís Pisco subscreve ainda a crítica à existência de condições diferentes, consoante os profissionais aderem ou não ao modelo USF.
«É verdade que as USF fornecem melhores serviços em termos de acessibilidade, mas os centros de saúde com modelos convencionais, que não aderiram às USF, vão igualmente ser transformados e melhorados», disse.
Sobre a existência de profissionais a querer abandonar o projecto, Luís Pisco mostra estranheza, principalmente por esta acusação «partir de um bastonário».
«Acho extraordinário e grave que [o bastonário da Ordem dos Médicos] venha agitar esse espantalho. Temos dificuldades no terreno, claro, mas não conheço um único caso de um médico, um enfermeiro ou um administrativo que queira abandonar o projecto», disse.
Segundo Luís Pisco, nos últimos dois anos foram entregues 244 candidaturas a USF, das quais 182 foram aceites para avaliação e 141 estão em funcionamento.
Estão envolvidos nas 141 USF em funcionamento 2.834 profissionais: 1.004 médicos, 1.025 enfermeiros e 805 administrativos.
Dados da Missão indicam que as 141 USF em actividade representam um aumento de 12,26 por cento das listas de utentes, o que na prática se traduz em 193.273 utentes que ganharam médico de família.
Para Luís Pisco, o aumento substancial de utentes com médicos de família é positivo, embora ainda existam «outros milhões que não têm médico de família».
Diário Digital / Lusa
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