Salvar o SNS
Não posso estar mais de acordo com as medidas propostas por "rezingão". link Para sanar os males do SNS e, a palavra é forte mas vale por isso mesmo, o sanear da trama de conflitos de interesses que ao longo dos anos se foram urdindo minando-o como caruncho em madeira.
A falta de coragem política para separar sectores ou, quando tentada como aconteceu com Leonor Beleza, a incapacidade do poder político para suportar decisões que conflituam com interesses instalados, conduziram o SNS a um beco de difícil saída. E, há que dizê-lo, essa falta de coragem manteve-se na actual reforma dos Cuidados Primários ao continuar a permitir-se aos profissionais que integram as USF a acumulação com outros cargos conflituantes com a actividade que exercem. É também preocupante a forma como um dos princípios enformadores da proposta de reforma das Carreiras Médicas apresentada por Ana Jorge, o do trabalho em dedicação exclusiva, foi rapidamente esquecido e remetido para a gaveta dos impossíveis, para gáudio de quantos se especializaram em navegar em águas turvas.
É evidente que para se fazerem reformas é necessário dinheiro para se poder investir na mudança e, em tempos de vacas magras, tudo se torna mais complicado. Em 86 terá sido mais fácil pois os cofres do Estado estavam recheados de fundos comunitários tendo a revisão das Carreiras Médicas sido enquadrado dentro do processo de modernização da Administração Pública com a criação dos chamados corpos especiais. Hoje o Estado parece estar descapitalizado, como diz Hermes para justificar a opção PPP de Correia de Campos: “Não havia dinheiro no OGE para investir pesadamente em novos hospitais (nem há nem haverá tão cedo)”. Não havendo dinheiro para gastar em hardware havê-lo-á para investir em software?
A minha opinião é que se há escassez de recursos financeiros é preciso procurá-los dentro do próprio SNS e tal não me parece difícil. Vou apenas socorre-me das propostas de “rezingão” para dar algumas sugestões:
a) Imposição do princípio da dedicação exclusiva às novas admissões de médicos no SNS.
Diria que essa obrigatoriedade deveria existir na fase de formação (Internatos) decorressem elas em instituições públicas ou privadas. Para as novas admissões o regime de trabalho deveria constar do concurso de abertura. Escusado será dizer que a promoção de uma cultura de trabalho a tempo inteiro é condição necessária para mudar o paradigma do exercício em funções públicas.
b) Revisão do modelo remuneratório e da progressão profissional no âmbito das carreiras médicas.
É desaconselhável investir no sistema sem garantias de que tal se traduza em aumento da produtividade. Assim, há que condicionar a progressão técnico-profissional ao desempenho e introduzir incentivos financeiros associados à produtividade. Estas seriam formas de majorar salários com garantia segura de que o investimento não cairia em saco roto.
c) Parar de “alimentar” o sector convencionado em áreas onde a resposta existe no SNS reduzindo, desse modo, o incentivo ao trabalho fora do SNS.
A despesa em convenções é, a par da área do medicamento, a rubrica que percentualmente mais tem aumentado na despesa do SNS. Por que não reinvestir esse dinheiro no sistema persistindo na integração dos Centros de Saúde e Hospitais em rede (Sistemas Locais de Saúde) permitindo o recurso ao exterior apenas e tão só, quando não houver capacidade de resposta interna?
d) Obrigatoriedade da criação de CRI´s nos HH’s e Centros Hospitalares nas áreas de maior escassez de recursos e dificuldades de acesso por parte dos utentes.
A organização dos hospitais em CRI’s e respectivos centros de custos é fundamental para a sobrevivência do hospital público sendo a sua necessidade tão mais importante quanto maior for a unidade hospitalar. Sem a imputação total de despesas a cada unidade os usos de antibióticos continuará a não ser criterioso, os genéricos continuarão nas prateleiras da farmácia e as luzes irão continuar acesas durante a noite (valendo-me apenas de 3 exemplos dados por Ana Jorge em entrevista recente).
Tudo isto poderá parecer trabalho ciclópico para um Ministro da Saúde, sê-lo-á mas não há outra via para salvar o SNS de um declínio que parece inexorável. Os apelos à ética profissional dos médicos, como o que foi feito recentemente por António Arnault em crítica às empresas de prestação de serviços, sendo importantes não vão resolver nenhum problema numa sociedade que até a mercantilização da área social já olha com naturalidade.
Tá visto
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6 Comments:
O SNS com a criação dos ACES vai ter estrutura suficiente para criar e rentalibizar unidades de analises clinicas, fisioterapia, etc, nos próprio ACES!
Caro Tá visto:
Bato-me, há muito tempo, pela criação e desenvolvimento dos CRI's nos HH's.
Por isso, não podia estar mais de acordo com o exposto, quando afirma:
"A organização dos hospitais em CRI’s e respectivos centros de custos é fundamental para a sobrevivência do hospital público sendo a sua necessidade tão mais importante quanto maior for a unidade hospitalar."
Trabalhei num HH onde se integra o primeiro CRI (Centro de Cirurgia Cardio-Pulmonar dos HUC).
Foi uma solução de sucesso, que o País conhece, embora, hoje, enfrente alguns problemas, nomeadamente, relacionados com a sua actual dimensão que poderão ser solucionados com a criação do Centro de Transplantes Pulmonares., como anunciou a Ministra.
O CRI (Centro de Cirurgia Cardio-Pulmonar dos HUC) foi criado no final de 1998 (há cerca de 10 anos - na altura da discussão desta "solução"!) e partir de 1999 passa a funcionar com autonomia administrativa e financeira.
Em 2007, contando com 8 cirurgiões seniores, 4 cirugiões em formação, 4 anestesistas e 1 cardilogista (mais uma larga equipa adjuvante necessária para o tipo de intervenções que realiza), efectuou 1683 intervenções cirúrgicas (cardíacas e pulmonares)com uma taxa global de mortalidade de 0.6%.
Bem, não gosto muito de números (tenho saudades do Avicena) mas julgo que um truncado esboço dos resultados, está à vista.
Depois vários Serviços, deste mesmo Hospital, solicitaram a passagem a CRI's.
Organizaram os processos de mudança, que ainda comportam alguma burocracia, e o resultado, foi népias.
Sou obrigado a concluir que os CA's não toleram os CRI's!
Com o actual regime de empresa pública, de que são eméritos defensores de uma ampla autonomia de gestão, vai ser difícil desenvolver este tipo organizativo.
Na realidade, o problema é outro.
É a "descentralização" de competências (já não digo de "poderes") dentro dos Hospitais.
É o temor de dar lugar e criar "espaço" à clinical gouvernance que é defendida, desde 1998, no RU (A First Class Service: Quality in new NHS).
Em Portugal, este modelo esbarra com a noção (e exibição) de poder (aqui, sim!) dos doutos CA's.
Todavia, a "governação clínica" dos Serviços hospitalares não é nenhum papão, nem belisca as competências dos orgão centrais de gestão, tal como, na prática, são exercidas.
Ela (a dita "governação clínica") , integra e dedica-se ao desenvolvimeto das seguintes componentes na área clínica ou afim, agilizando respostas adequadas e consentâneas com a realidade e os problemas locais (não definíveis num remoto gabinete...)
Assim, incidem fundamentamente sobre:
1. Formação e desenvolvimento profissional;
2. Verificação (audição) clínica;
3. Eficiência clínica;
4. Gestão dos riscos;
5. Pesquisa e desenvolvimento;
6. Transparência.
Na verdade, pretendia-se que a "governação clínica" constituisse um novo quadro-modelo organizativo de modo`que as diversas Unidades de um Serviço Público fossem responsáveis pela melhoria contínua da qualidade dos serviços, salvaguardando normas rígidas que grarantissem uma alta qualidade e, simutâneamente, capazes de criar um ambiente favorável ao desenvolvimento da excelência clínica.
Tudo isto dentro de um quadro estratégico integrado (a definir pelo CA) de prestação de cuidados, de investigação, de formação, etc.
Onde encontraram um CA com estas preocupações?
Ana Jorge tem um campo vasto de medidas a implementar que podem marcar a diferença relativamente ao seu antecessor.
A revisão das carreiras médicas é uma delas.
Parece-me, no entanto, que nesta altura, com eleições à porta, é muito difícil desenvolver um processo negocial equilibrado.
Já deu para perceber que o "Fio Condutor" não é senão um verdadeiro pacote de minas, herdado do seu antecessor que exigirá toda a competência e paciência da ministra da saúde.
O que se passa com o SNS
António Correia de Campos (A.C.C.) referiu numa entrevista ao PÚBLICO a propósito do lançamento do seu livro as reformas importantíssimas que levou a cabo no domínio da saúde e do SNS.
Estas reformas, algumas delas ainda em curso, se bem que gravemente prejudicadas pela substituição do ministro, configuram, já, uma alteração radical dum sistema que, doutra forma, era absolutamente inviável.
O (agora) ex-ministro foi, sem dúvida, o homem que tentou (com ganhos evidentes!) disciplinar um sistema sem rei nem roque, desabituado de trabalhar e totalmente direccionado para uma entropia interna onde só se vislumbravam os interesses laborais de médicos e enfermeiros (especialmente dos médicos).
Os que agora vêm contestar as posições de A.C.C. são os mesmos que, perante o imobilismo anterior, nada fizeram ou pretendiam fazer; que se acham, neste momento, "peões e pontómetros", não percebendo que a dignidade profissional não lhes foge por cumprirem horários, verem mais doentes e por operarem mais, explorando os recursos existentes.
Há coisas, como as remunerações, que carecem de revisão urgentíssima sob pena de fuga dos melhores (e não só!) para os sistemas privados. Mas, olhar para os privados como parte do problema (e não da solução) só pode ser encarado como um enviesamento ideológico duma (nova) ministra soixante-huitarde que levará, ela sim, ao fim do SNS.
A prática médica não se degradou, como diz uma colega - Helena Sá, com A.C.C.. O que se degradou foram as visitas (de "médico"!) às enfermarias e que demoravam dois minutos, as estadas diárias no hospital de especialistas a tempo inteiro que duravam uma hora e outras "realidades" (eufemismo!) que se perpetuaram (e agravaram) ao longo dos anos, inquinando o SNS.
A política do medicamento de A.C.C. e as Unidades de Saúde Familiar só pecaram por tardias e por não serem tão "radicais" como deviam.
Ana Jorge, a nova ministra, é uma médica competente (ao que se sabe) mas, nem por isso, uma ministra sequer satisfatória.
Os temores das populações, esses, foram hiperbolizados pelos media e, claro está, por uma classe médica profundamente corporativista e paralisada por privilégios que já mais ninguém tem ou pensa sequer ter o direito de ter. Trabalhe-se, pois!
Ricardo Pereira Coutinho, médico interno
JP 28.09.08
Tudo bem!
Com excepção do ponto relativo à prática médica, que se degradou e muito.
ACC pensou que fazia a reforma sozinho e não soube ou não conseguiu cativar apoios.
Sem mobilização de alguns, nomeadamente médicos, não há reforma que aguente.
A reacção dura às reformas de Correia de Campos não foi só das populações. Polarizou-se também no pessoal do SNS, especialmente dos hospitais, area em relação à qual ACC, aliás, não ligou patavina enquanto foi ministro.
Um LADERO para a Ministra da Saúde
O Ladero é um robô de desminagem desenvolvido por uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) testado no campo da Royal Military Academy da Bélgica,capaz de detectar todas as minas existentes colocadas em seu redor.
O Ladero é o resultado de uma longa investigação, iniciada em 1999 com o desenvolvimento de um sensor baseado na utilização de micro-ondas e radiação infra-vermelha para detectar minas anti-pessoais de plástico (as mais difíceis de localizar) em solos de conflito.
Coordenada pelos investigadores do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da FCTUC, Lino Marques e Aníbal Traça de Almeida, a construção deste Robô tem por base várias preocupações: criar uma plataforma fiável, financeiramente acessível, para ser utilizada nas zonas de conflito, de fácil manutenção e reparação, e com uma estrutura mecânica robusta, construída essencialmente a partir de componentes industriais.
Aparentemente simples, o robô Ladero tem no seu interior "um delicado hardware e complexos algoritmos de software que processam toda a informação sensorial e decidem como o robô se deve movimentar no ambiente que o rodeia. É composto por múltiplos detectores de minas e outros engenhos explosivos para garantir uma informação robusta e reduzir muito os alarmes falsos".
Caro Ochoa:
Olhando ainda, e só, para os Hospitais do SNS.
A situação nos HH's degradou-se profundamente - é uma verdade insofismável - porque somente se tomaram medidas relativas ao estatuto (empresarial), gestão administrativa, repetia-se à exaustão a estratégia do combate ao "desperdício" e na gestão clínica procurava-se obter eficiência (de costas voltadas para os médicos) quais Diógenes deambulando pelo SNS, com a lamparina apagada. Não encontraram nada, nem podiam encontrar, desse modo.
Medidas economicistas, "palavrão" que irritava CC, chegando até a negar a sua existência.
Pouco, se fez em relação a mudanças estratégicas na organização, salvo raras excepções (H. S. João - Porto, H Sta Maria - Lisboa,...), mas estas alterações, são um oásis no meio de um deserto e diga-se, abertamente, pouco dependentes da acção do MS, antes ligadas à personalidade dos presidentes dos CA's. O resto, foram intervenções cosméticas.
Pelo meio, criou-se um novo espécime os tais médicos-"fantasmas" (que lá não pousavam), e promoveu-se um "feroz" combate pela assiduidade (ainda não há resultados das variações de produção, mas vão aparecer).
Por fim, nada, em relação a investimento, estratégia em relação recursos humanos (as "deserções" nascem deste vazio), formação (destruição das carreiras médicas), estímulo da qualidade (os números tornaram-se soberanos) , incentivos (a sua obrigação é essa!), remunerações (temos de inventar um sistema e entretanto esperam com CIT's...), etc.
Entretanto, quando se sentirem doentes não vão a um HH público. Cuidado! pode estar "escalado" o tal médico das "estadas diárias no hospital de especialistas a tempo inteiro que duravam uma hora".
Andam os médicos deste País, a fazer 6 milhões de urgências [*]/ano e, de barato, têm de ouvir estas baboseiras...
[*]- acúmulo de verdadeiras e falsas...
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