30 anos de SNS (2)
Nesta sua crónica, link PKM mistura várias coisas tendo como alvos principais o Estado e o SNS público. É manifesta a sua opção neoliberal ao tentar ilibar o mercado, leia-se capitalismo financeiro, da responsabilidade pela actual crise mundial e, em versão doméstica, os grupos financeiros por dificuldades que possa estar a atravessar o SNS.
Há crise? Então o mais provável é que tal se deva à incompetência do Estado em não cumprir o seu papel de regulador e não ao modelo económico mundial que condiciona e impõe a superstrutura. Ou seja, aqueles que estão sempre prontos a apontar o dedo ao Estado por intervir excessivamente na esfera económica, quando as coisas falham responsabilizam-no de igual modo por não ser capaz de exercer o papel de “watch-dog”, minimalismo a que procuram remetê-lo.
Nesta sua postura, PKM fez-me recordar uma crónica de JMF no Público em que criticava asperamente José Sócrates/Ana Jorge pela decisão de fazer voltar à esfera pública a gestão clínica dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, defendendo que o Estado deveria aligeirar procedimentos no controlo à actividade dos privados na Saúde como forma de poupar dinheiro e tornar mais baratos os custos administrativos da regulação. E, pasme-se o desplante, quando pouco tempo antes tinha zurzido os órgãos de acompanhamento e controlo da Banca (CMVM e Banco de Portugal) por não terem detectado as irregularidades cometidas em torno do processo BCP. Para ambos o Estado é preso por ter cão e por não ter ou, numa tradução anarcocapitalista, há Estado? Eu sou contra.
Há crise? Então o mais provável é que tal se deva à incompetência do Estado em não cumprir o seu papel de regulador e não ao modelo económico mundial que condiciona e impõe a superstrutura. Ou seja, aqueles que estão sempre prontos a apontar o dedo ao Estado por intervir excessivamente na esfera económica, quando as coisas falham responsabilizam-no de igual modo por não ser capaz de exercer o papel de “watch-dog”, minimalismo a que procuram remetê-lo.
Nesta sua postura, PKM fez-me recordar uma crónica de JMF no Público em que criticava asperamente José Sócrates/Ana Jorge pela decisão de fazer voltar à esfera pública a gestão clínica dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, defendendo que o Estado deveria aligeirar procedimentos no controlo à actividade dos privados na Saúde como forma de poupar dinheiro e tornar mais baratos os custos administrativos da regulação. E, pasme-se o desplante, quando pouco tempo antes tinha zurzido os órgãos de acompanhamento e controlo da Banca (CMVM e Banco de Portugal) por não terem detectado as irregularidades cometidas em torno do processo BCP. Para ambos o Estado é preso por ter cão e por não ter ou, numa tradução anarcocapitalista, há Estado? Eu sou contra.
Num outro ponto, PKM insurge-se e bem, quanto ao facto de se permitir que profissionais de saúde possam trabalhar mais de 70 horas semanais pondo em risco a sua saúde e a de quem recorre aos seus cuidados. Pena é que não tenha estendido a crítica às formações políticas do seu espectro ideológico que no Parlamento Europeu procuram alterar as directivas europeias sobre tempo de trabalho, também extensivas aos profissionais da saúde, por forma a permitir regimes de trabalho sobre-humanos que pomposamente designam por flexi-trabalho.
Quanto ás bombásticas declarações de Correia de Campos, ou, como diria Pessoa, se não fossem bombásticas não seriam de CC, relativamente aos conflitos de interesses no Infarmed, estou em absoluto acordo com a opinião expressa por PKM. A sua extemporaneidade (dizê-lo quando já nada pode fazer) e falta de transparência (porque não tornou públicos os relatórios?) em nada abonam a favor do rigor e isenção intelectual de quem as produziu.
Por último, subscrevo em absoluto a sua observação quanto ao atraso do SNS relativamente à implementação do que designa de “Skills Mix”. O trabalho clínico excessivamente focado na prática individual (medicocentrismo) diminui a produtividade por não permitir tirar partido de sinergismos de um trabalho em equipa envolvendo outros profissionais do sector. Esta é uma das principais razões da proclamada falta de médicos quando os ratios por habitante o desmentem no que respeita ao sector hospitalar. Dizer apenas que tal pecha não me parece poder atribuir-se ao modelo público dos nossos hospitais mas a uma concepção atávica do exercício da medicina, caracterizada por relações hierárquicas rígidas e estanques dentro e entre grupos profissionais, explicada pelo nosso atraso sociocultural.
Tá visto
Etiquetas: Tá visto
5 Comments:
Li a resposta da Clara ao meu último comentário no post anterior com este mesmo título.
Admito ter incluído a Clara num comentário meu que pode ter parecido menos amistoso.
As minha desculpas à Clara
Caro Tá visto:
Porque deixei de quarentena os " skill-mix" evocados pos PKM?
O pontapé de saída para a implementação de processos de "skill-mix" não é da competência do SNS, nem sequer do Ministério da Saúde.
É um problema que começa na mudança do ensino e formação dos futuros profissionias, logo, diz respeito à área do Ensino Superior.
Não se enxerta no que já existe, com todos os vícios de forma e questões de liderança.
Depois vem a qualificação que tem de ser diferente da que se pratica, nomeadamente a capacidade de trabalhar em equipa.
Finalmente, o treino, este no âmbito dos serviços ou sistemas de saúde.
Económicamente, parece uma solução aliciante. Todavia, sem passar por uma tramitação rigorosa conduz, na maior parte das vezes, à utilização ineficiente de recursos.
É uma solução que tem grande campo de aplicação nos CPS, envolvendo médicos e enfermeiros.
PKM, lança a atoarda, como se fossem os HH's ou os CPS's a lançar o processo, como se podesse começar amanhã.
Temos de partir de muito mais longe...da Escola.
Todavia, estes processos, que terão de ser impregnados de um grande pragmatismo, não dizem unicamente respeito à Saúde.
Podem ser aplicados a outros ambientes profissionais.
Como acharia se, sem mais nem menos, se cozinhasse, na Saúde, uns "skill-mix" entre gestores, contabilistas, administrativos?
O "skill-mix" à portuguesa é diferente e, em consequência, ineficiente.
É por exemplo, o que se verificou no tempo de LFP, com engenheiros na Administração dos Hospitais...
Lembram-se dos resultados?
ERRATA~
Por ser gritante, e incomodar-me, onde se diz:
"PKM, lança a atoarda, como se fossem os HH's ou os CPS's a lançar o processo, como se podesse começar amanhã."
deve ler-se:
"PKM, lança a atoarda, como se fossem os HH's ou os CPS's a lançar o processo, como se pudesse começar amanhã...
Será que a Caixa Geral de Depósitos...
Não se coloca em causa que a Caixa Geral de Depósitos esteja em excelente situação financeira, mas a venda à Parpública de parte das suas participações na REN e na Águas de Portugal surge numa altura de tal forma delicada que dá azo a várias conjecturas, a mais benéfica das quais a de que o banco está a ser preparado para apoiar outros bancos que possam entrar em dificuldades.
semanário expresso 04.10.08
Não está na hora de rever nomedadamente as remunerações principescas e as mordomias dos gestores desta vestuta instituição bancária (do estado) ?
Caro Ochoa não tenha muitas esperanças quanto a isso. Pode não haver dinheiro para investimento reprodutivo ou, até para simples crédito aos pequenos empresários ou para os jovens poderem adquirir casa própria. Haverá, no entanto, dinheiro garantido na CGD (via HPP) para “aventuras empresariais” na saúde abrindo e mantendo unidades inviáveis ou mesmo adquirindo sub-sistemas de saúde falidos. É este o padrão dos neo-liberais de pacotilha. Basta lê-los nos jornais e ouvi-los nas televisões. Pateticamente, vêm agora dizer que o problema não está no liberalismo (vide Expresso e Sol de hoje) mas sim na gritante falha de regulação do Estado. É assim como o problema não estar num criminoso, que comete uma infracção, mas sim no polícia que não cumpriu o seu dever. Faz-me lembrar a expressão que ouvi, há tempos, a um dirigente de um hospital privado a propósito da regulação que teve a pueril sinceridade de dizer: …”se o Estado não é capaz de regular e deixa roubar o problema é do Estado”…
Valha-nos a animação a que vamos assistindo enquanto o liberalismo se vai desmoronando, pelo mundo. Estamos perante uma rábula divertida (quase circence) ao ver os benditos neo-liberais de pacotilha a contorcerem-se tentando explicar que, de facto o edifico está a ruir, mas o projecto e os materiais eram tão bons…Pena foi que o fiscal da obra fosse tão, profundamente, incompetente.
Em ano pré-eleitoral, meus caros amigos, o caminho será, seguramente, para desgosto de muitos, mais Estado e melhor Estado…
Nota Final:
PKM não vê, no serviço público, grandes motivos para celebrar os 30 anos de SNS. Não deverá desanimar porque, apesar de tudo, a evolução objectiva dos indicadores, não é má de todo. Certamente devido ao facto de, nestes trinta anos, termos podido contar com o Hospital da CUF, a Clínica de São Lucas, a Clínica de Oiã, o Hospital Particular e, meia dúzia de anos de JMS no Amadora-Sintra. Se não tivesse sido assim…
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