segunda-feira, novembro 10

Hipocrisia (2)


Aqui há fogo…

“Gritar que aqui há fogo, mas estão a roubar outras casas no bairro, para o caso vertente - não resolve nada - essa sim é uma "não notícia"...”

Concordo com o É-Pá. Dizer isto – em boa hora o Silly Season o disse! – é uma “não notícia”, porque todos o sabemos, a começar, obviamente, pelo Senhor Bastonário. Dizer isto é uma denúncia. Pior ainda, é, como diz o Silly Season, a denúncia de uma estratégia de hipocrisia, enganosa (porque o objectivo é impedir que alguma coisa mude) e é muito fácil de levar a cabo, porque o que não falta ao SNS são pontas de fragilidade por onde se lhe pegue, seja o que for o que, em concreto, esteja em causa.

1. Que outro qualificativo daríamos, se não hipocrisia, à intervenção do senhor Bastonário quando “lamenta a "manipulação miserável" a que são submetidos os doentes” cuja alta é retardada (normalmente em 1 ou 2 dias já desnecessários e cujo custo será pouco mais que duas ou três refeições, só 15 ou 20 €) e nada diz sobre os atropelos referidos pelo Silly Season – esses sim, miseráveis e de incomparavelmente maior gravidade –? Acrescenta o senhor Bastonário que “os médicos que cooperem com esta política "serão seguramente punidos pela Ordem dos Médicos", por violarem o código deontológico destes profissionais”. Todos bateríamos palmas pelo significado e não pelas penas, mas creio bem que teremos de esperar sentados. Muito ajustado é o aforismo trazido pelo É-Pá: “Gritam que aqui há fogo, mas estão a roubar outras casas no bairro”! E que estão nem sequer o É-Pá – sempre tão solícito a minimizar as responsabilidades da grande corporação, quer rebatendo quer desviando – o contesta: diz apenas que “para o caso vertente - não resolve nada - essa sim é uma "não notícia"...”

2. E Pedro Lopes, o novo Presidente da APAH? Bem gostaria de acreditar na sua afirmação de que os HH estão a ser mais eficientes do que o pressuposto pelas tabelas dos GDH, conseguindo tratar os doentes em menos tempo do que o limiar nelas previsto (citado de cor). Ora, caro doutor, quem lhe contou essa?! Não será bem mais provável que estejamos perante alguma coisa de bem mais grave, ou seja, uma política de “up-coding”, promovida e praticada por aqueles a quem interessa? E quem são estes? Aqueles que retiram fama ou proveito do equilíbrio das contas – equilíbrio que, no entanto, defendo por outros métodos e processos – e os que auferem remunerações variáveis ligadas aos montantes facturados. Podem crer que sei do que falo, mas também não infiram que estou a negar que, em alguns casos, tenha havido algum progresso de eficiência e nem sempre sejam casos de “up-coding” o que está em causa.
Depois, pergunto-me, como muitos se perguntarão, como são possíveis saltos bruscos como alguns a que temos assistido de HH que passam de deficit para superavit sem explicações plausíveis, pelo menos conhecidas. Porque somos conservadores e até as melhores mudanças demoram muito tempo a mostrar resultados. Porque os avanços da CA e a sua extensão às várias especialidades que a deveriam praticar são irritantemente lentos, mantendo-nos numa posição desajustada em relação ao ranking internacional. Porque, na 1.ª listagem conhecida de actividade em CA, o H de Seia aparecia como o campeão da CA. Porque qualquer medida de conteúdo disciplinador da actividade é tomada como agressora da autonomia técnica ou insultuosa para os profissionais que têm de ser tratados com muito carinho para não fugirem.

3. Retornando mais concretamente ao tema do retardamento da alta dos doentes chegamos ao controlo e à supervisão (de que, ultimamente, tanto se tem dito) e, nesta sede o que encontramos? Uma enorme permissividade, quase diria incentivo, á fraude, porque não vejo qualificação mais adequada ao procedimento em causa, onde ele se verifique. Já noutras oportunidades abordei esta problemática pelo que me limito agora a alguns tópicos. O SNS, porque é geral e tendencialmente gratuito, está vocacionado para a cobertura de todas as situações, sem exclusão pelo conteúdo ou pelos recursos económicos dos utentes. No entanto, daí não decorre que o Estado, porque se trata de um Serviço que tem que manter, perca o poder e o dever de o organizar ou seja, de definir as regras de acesso ao SNS, e é o que faz através do conjunto de normas legais e regulamentares aplicáveis, entre elas, as tabelas hospitalares.

a) Era, pois, suposto que estas fossem definidas e traduzissem as políticas para a saúde, incentivando ou desmotivando conforme os casos. Não poderia, então estranhar-se que o SNS pura e simplesmente não financiasse em regime de internamento actividades que entende deverem ser desenvolvidas em regime ambulatório (v.g. CA), salvo situações criteriosamente justificadas e sem prejuízo de um prazo que fosse concedido para adequação e criação de condições de segurança de intervenção. Ora não é o que se verifica. Há situações resolúveis em CA, também previstas em internamento, praticamente sem qualquer exigência e com retribuição mais elevada que a do tratamento ambulatório;

b) A mesma situação clínica individual (desculpem-me se a terminologia não é a mais correcta) pode dividir-se pela consulta externa e pelo internamento, considerando-se que nestas áreas se incluem os custos relativos aos MCDT que não são objecto de pagamento específico, o que significa que esses custos são considerados em ambas as linhas de produção, ou pelo menos geram distorção quando se pretende conhecer e analisar os custos das actividades;

c) Na classificação dos doentes por GDH, em muitos casos a codificação depende de serem ou não declaradas complicações e, com o código, difere muito significativamente o preço do GDH. As complicações podem ser muito variadas, obviamente gerando custos muito diferentes; o código é com ou sem complicações não importando se muitas ou poucas, leves ou pesadas;

d) Por mais longe que se leve o esforço de prevenir desvios e de uniformizar entendimentos (o que deve fazer-se, designadamente, em sede de tabelas de remuneração) nunca será dispensável uma actuação de controlo que possa garantir a aplicação, já que a codificação é feita, e bem, pelos diferentes HH. Mas esse controlo, feito por médicos auditores contratados em tempo parcial, é extraordinariamente débil, cabendo umas horas a cada H e incidindo sobre uma dezena ou duas de processos e é limitado à mera conformidade formal com as tabelas; e ainda

e) Não há, ou não se conhece, qualquer análise comparativa das codificações dos diferentes hospitais, voltada para a detecção de prováveis irregularidades ou desconformidades pela qual, com os recursos informáticos disponíveis, se poderia levantar o perfil de cada um, prevenir e corrigir comportamentos como o que agora é posto em causa.

Tudo isto me surpreende quando falamos em transparência de intervenção, na ameaça da escassez de recursos e desperdiçamos despreocupadamente os que existem.

Aidenos

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7 Comments:

Blogger e-pá! said...

Caro aidenós:

"Depois, pergunto-me, como muitos se perguntarão, como são possíveis saltos bruscos como alguns a que temos assistido de HH que passam de deficit para superavit sem explicações plausíveis, pelo menos conhecidas."
Eu sou um dos muitos que faço essa interrogação.
Além da política de "up-coding", do prolongamento e uso artificial do internamento, de artifícios nas aquisições, do diferir de pagamentos de despesas, de uma política de recursos humanos inábil e discriminatória etc., como conseguem?

Agora, definir regras de acesso ao SNS, cuidado!
Porque:
Não somos um País com equilibrio e homogeneidade no desenvolvimento económico e social. Temos um Litoral relativamente desenvolvido e o Interior carente e sem apoios nem estruturas sociais.
O PIB per capita é muito diferente em várias regiões do País.
Na Saúde, como no supermercado, o que é verdade (ou vendível) em Lisboa não o é na aldeia serrana, atrás do sol posto.

E estas discrepâncias não se resolvem com:
"definir as regras de acesso ao SNS, e é o que faz através do conjunto de normas legais e regulamentares aplicáveis, entre elas, as tabelas hospitalares."
A solução não é, essencialmente, normativa, nem sanável com recurso a penalizações.

Outro exemplo: "Era, pois, suposto que estas fossem definidas e traduzissem as políticas para a saúde, incentivando ou desmotivando conforme os casos. Não poderia, então estranhar-se que o SNS pura e simplesmente não financiasse em regime de internamento actividades que entende deverem ser desenvolvidas em regime ambulatório".

Tudo conforme em centros urbanos, com disponibilidades de equipamento social, etc.
Muito diferente em situações do Interior onde tudo escasseia: transportes , habitação com condições higiénicas mínimas, CS na proximidade, etc.
Esta disparidade de desenvolvimento determina que determinada patologia se faça em ambulatório num HH Central e com internamento de curta duração em HH Distrital, fora de qualquer controlo de tabelas hospitalares - só pela avaliação do status social, nivel educacional e capacidade económica do doente em questão - o candidato a uma intervenção, "regulamentarmente" ou, melhor, habitualmente ambulatória.

Não deve ser atacada a autonomia técnica dos profissionais médicos, ao primeiro sobressalto estatístico, em favor de uma regulamentação de acesso ao SNS.
O crescimento das taxas de CA será lento mas é, já, desde alguns anos, progressivo.
Nesta área da CA, existem muitas disconformidades´de números e percentagens dificeis de entender.
Nenhum médico europeu (não precisa de ser português) acredita que mais de 85% da cirurgia programada, nos EUA, seja feita em ambulatório. Aqui há rato! Ou aqui há ratio (a mais).

A situação de prolongamento de internamento que está em discussão, sob o inconcebível signo da Hipocrisia, não está - penso eu - exclusivamente ligada à actividade cirúrgica dos HH's.
Está, antes, ligada a uma desenfreada procura de superação de deficits que leva , por exº., à obtenção de superavits (quase)instantâneos, miraculosos.
É como os casos de enriquecimento rápido e fácil, sem euromilhões.
Quase sempre está ligado à corrupção, a favorecimentos pessoais ou de grupo, a compadrios, a fraudes fiscais, a engenharias de contabilidade, etc.
Mas nunca se demonstra nada...
Por isso, considero que "definir regras de acesso ao SNS", pode levar às maiores inequidades.
O caminho será, necessariamente, outro.
Passará pelo incentivo, actualização e formação contínua dos profissionais de Saúde. Nunca por criar barreiras ao acesso.
E, já agora, por o tema hipocrisia começa pela tentativa de arranjar orçamentos justos (Pedro Lopes dixit), a utilização e a identificação de boas práticas, compensada em termos orçamentais.
Se o caminho for este não haverá tantos atropelos.
Nem Hopitais/ Empresa com culturas que se assemelham ao novo riquismo.
O empolar de um falso processo concorrencial público/privado, em detrimento, de uma gestão cuidadosa para quem o sector privado ou social é complementar.

Porque um desenfreado processo concorrencial no seio do SNS vira-se para o seu interior e dá lugar a atropelos, deslealdades e desconformidades tendo por fim resultados, a qualquer preço. Normalmente à custa dos doentes. Para esse processo concorrencial não poderão contar com os médicos, como penso que o Dr. Pedro Nunes, pretenderia dizer e acabou por lhe sair de uma forma enviesada e pejada de ameaças disciplinares aos clínicos.

Porque, caro aidenós, quando chegarem os famosos rankings da ERS, será (ainda) pior!

7:22 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Terreno congestionado
Depois de o PSD se juntar à fronda contra o processo de avaliação dos professores, competindo com o PCP e o BE, resta o CDS juntar-se à manada.
O oportunismo político no aproveitamento partidário de protestos profissionais é terreno congestionado em período eleitoral...
Vital Moreira, causa nossa

Inteiramente de acordo com o VM.
A verdade, verdadinha é que a maioria dos professores não está habituada a trabalhar.

8:24 da manhã  
Blogger Joaopedro said...

Já não há défice, e este ano vai deixar de haver dívidas na Saúde

Durante anos, os ministros da Saúde respondiam com desagrado e sem grande convicção cada vez que alguém lhes perguntava porque razão as dívidas dos hospitais à indústria farmacêutica continuavam na ordem das centenas de milhões de euros.

A culpa era dos administradores hospitalares porque não faziam bem as contas, era da indústria porque aumentava de forma artificial os preços, enfim, tudo servia para explicar que o orçamento, pura e simplesmente, não chegava e que, como a indústria não cobrava juros nem suspendia os fornecimentos, os hospitais pouco se importavam. Até ao final deste ano, tudo vai mudar. Como? Simples: o Governo vai permitir que o capital social dos hospitais-empresa seja utilizado para pagar dívidas (depois de tanto ter criticado esta ideia quando estava na oposição). Para a indústria, a notícia da constituição de um Fundo com 800 milhões de euros para pagar aos fornecedores é óptima, e mesmo os hospitais concordam que podem ter de perder alguns juros para ajudar os outros a pagarem as dívidas. O défice saiu do debate político. Esperemos que às dívidas dos hospitais aconteça o mesmo.
DE 10.11.08

A notícia da morte do défice e das dívidas aos fornecedores do SNS é manifestamente exagerada!

8:47 da manhã  
Blogger Joaopedro said...

Depois do que eu li aqui e no post anterior, imagino o que irá dizer o PKM.

8:48 da manhã  
Blogger ochoa said...

Ministério da Saúde impõe limites à contratação de "tarefeiros"
11.11.2008, Alexandra Campos
Vão ser criados valores de referência para acabar com as discrepâncias
nos pagamentos à hora aos médicos nos hospitais públicos
O Ministério da Saúde vai fixar por tabela os valores a pagar aos profissionais de saúde contratados à tarefa, para evitar a disparidade de preços praticados pelas empresas de fornecimento de mão-de-obra, que nalguns casos chegam aos 100 euros por hora.
Esta é uma das medidas previstas num despacho do secretário de Estado adjunto e da Saúde, Francisco Ramos, a que o PÚBLICO teve acesso, e que visa disciplinar a contratação de médicos à tarefa nos serviços de urgência dos hospitais, pondo ordem num mercado que cresceu sem regras nos últimos anos.
Para além da fixação dos valores/hora de referência para a contratação (a definir pela Administração Central do Sistema de Saúde no prazo máximo de 15 dias), os hospitais passam a ter de publicitar as contratações efectuadas, nos respectivos sítios na Internet, com todos os detalhes do processo, nomeadamente as especialidades e o número de profissionais em causa. E estão proibidos de contratar para as urgências médicos que tenham sido dispensados da prestação de trabalho extraordinário, a seu pedido. O despacho já foi enviado para publicação no Diário da República e entra em vigor no dia seguinte à sua publicação.
O documento abre uma brecha, ao prever que, nos casos em que não seja possível contratar médicos pelos valores definidos, se pratiquem preços superiores, por "razões de interesse público". Mas isso apenas poderá acontecer dentro de certas condições: é obrigatória a "fundamentação concreta e inequívoca" para cada situação, de forma a permitir a fiscalização pelos serviços do ministério. Quanto aos contratos actualmente em vigor, deverão ser reavaliados até ao final do ano.
O recrutamento de médicos para assegurar as escalas dos serviços de urgência, com preços que chegam a atingir os 80 a 100 euros por hora, é um fenómeno recente (surgiu após a criação dos hospitais-empresa), mas cresceu rapidamente.
Em alguns hospitais, os tarefeiros são já perto de dez por cento dos recursos humanos nas urgências. Face à carência de médicos, sobretudo em determinadas especialidades, o mercado das empresas de fornecimento de mão-de-obra para os hospitais explodiu nos últimos anos, sem qualquer tipo de regulação.
No despacho, o secretário de Estado reconhece que há carências de recursos humanos e que o resultado das respostas estruturais em curso não é imediato. Mas defende que é necessário tomar medidas, desde já, para limitar os "efeitos indesejados" da actividade deste tipo de empresas.
Um destes efeitos é precisamente a disparidade de valores pagos, que faz com que médicos do quadro dos hospitais ganhem bastante menos (entre 16 a 25 euros por hora) do que colegas com menos anos de experiência.

As reacções às medidas escolhidas pelo Ministério da Saúde para disciplinar o mercado de recrutamento de profissionais à tarefa dividem-se: enquanto o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Pedro Lopes, aplaude as soluções encontradas, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Pedro Nunes, antecipa, céptico, que "não vão resolver nada".
"Estava à espera de uma resposta mais estruturada". A criação de tabelas é "uma tentativa de intervenção no mercado e não passa da solução mais simples", comenta o bastonário, para quem não é o preço pago aos profissionais de saúde que está em causa, mas sim o modelo, que "não funciona".
"Os hospitais têm que ter médicos contratados de uma forma coerente para as urgências, custem o que custarem as horas. Não podem é contratar empresas [que fornecem mão-de-obra à tarefa]. Desta forma, mantém-se o mal, diminuindo-se apenas os custos",
.

"O ministério disse que ia tomar medidas e cumpriu", diz por sua vez Pedro Lopes, notando que "a regulamentação e regulação destas empresas" era fundamental. Criou-se "uma pressão na gestão hospitalar" que se vê obrigada a pactuar com propostas e valores "verdadeiramente inaceitáveis", lamenta Lopes, explicando que as administrações hospitalares optam muitas vezes por este tipo de contratos porque há limites para gastos com horas extraordinárias e esta despesa é remetida para outra rubrica.
O problema é recente, mas já a anterior secretária de Estado da Saúde, Carmen Pignatelli, tinha prometido regular este mercado e produzido até um diploma em que definia várias regras. Uma delas, agora retomada, é a de que os hospitais não podem contratar médicos do quadro que tiverem pedido dispensa da realização das horas extraordinárias. Só que as unidades de saúde não cruzam este tipo de dados. Estipulou-se ainda que as unidades do SNS apenas devem recorrer aos contratos de prestação de serviços depois de esgotados os mecanismos de mobilidade previstos na lei.
Mas estas medidas estão longe de ser cumpridas. A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde fez duas auditorias sobre esta matéria e concluiu que apenas 17 dos 60 inquiridos utilizam habitualmente os mecanismos de mobilidade geral da administração pública, através de requisições e transferências.
Além disso, vários hospitais não enviaram os elementos identificativos dos médicos contratados, alguns porque só identificam as empresas.
JP 11.11.08

O bastonário da OM, dr Pedro Nunes, Bloqueou às quatro rodas.

PN, tornou-se um dos principais opositores do Governo. Barafusta, esperneia e atira em tudo o que sai do Governo.
Tudo porque o Governo não lhe dá mimos.

10:40 da manhã  
Blogger Clara said...

Afinal onde está a hipocrisia?

No bastonário da OM, dr. Pedro Nunes, semprepronto a atirar em tudo que mexe?

Nos Administradores Hospitalares, exemplarmente representados pelo dr. Pedro Lopes?

Nos profissionais de saúde que pactuam com este sistema?

No Ministério da Saúde, apenas preocupado em apresentar os melhores resultados (no papel) ?

11:48 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bastonário da Ordem dos Médicos considera um absurdo a tentativa do Governo de regular a contratação de médicos através de empresas privadas

Pedro Nunes contesta as intenções da tutela: “o problema é mais vasto, isto limita-se a aplicar uma tabela, quanto muito provoca algum conforto aos administradores dos hospitais - que tanto clamaram que eram capazes de administrar os hospitais melhor do que os médicos - e agora precisam de se colocar por baixo do chapéu de chuva Governo para que o Governo os proíba de pagarem aquilo que eles sabem que têm que pagar”. O bastonário acusa ainda o Governo de assumir posições contraditórias e considera que as medidas agora conhecidas provam que o caminho da empresarialização dos hospitais está errado.
…/…
Há muito que a Ordem dos Médicos foi perdendo qualidade na sua representação formal. Longe vão os tempos em que, à sua frente se sucediam figuras gradas da Medicina Portuguesa respeitáveis e respeitadas. Esta evolução não tem sido favorável ao sistema de saúde na sua mais larga amplitude. Com efeito, o país teria muito a ganhar com uma representação qualificada que fosse capaz de intervir na discussão dos grandes temas que atravessam o sistema de saúde. Dessa circunstância beneficiariam, em primeiro lugar, os médicos mas também, claramente, os utentes do sistema e os cidadãos em geral.
Vivemos outro tempo. Ao invés dessa circunstância somos confrontados com uma enorme fragilidade bem ilustrada pelo que tem sido o corrupio de intervenções avulsas do Sr. Bastonário - primeiro, a propósito de um alegado prolongamento de internamentos nos hospitais, depois a propósito da medida do Governo de regular a aquisição de trabalho médico, através de empresas, por parte de Instituições do SNS.
Após se ter referido a factos (altas proteladas) que, objectivamente, desconhece como “manipulação miserável” ameaçando punir, arbitrariamente, os médicos que ousassem pactuar com aquele tipo de práticas (como se em matéria de punição disciplinar alguém levasse a sério o Sr. Dr. Pedro Nunes) veio agora pronunciar a “pérola” de retórica acima ilustrada. Faz pena ver o primeiro representante dos Médicos portugueses fazer uso de uma linguagem pobre, panfletária contaminada pelo verdete do léxico sindical em que foi doutrinado. Não discute factos nem ideias, antes pelo contrário, pronuncia um discurso suportado em “slogans” no qual, nunca consegue disfarçar, o seu verdadeiro inimigo – um sistema público moderno, eficiente e acessível. Se assim não fosse, provavelmente, já o teríamos ouvido ameaçar excomungar os médicos que participam em processos de selecção adversa, interrupção abrupta da relação médico-doente por razões financeiras (doentes oncológicos do sector privado) entre muitas outras situações.
É, por isso, pouco provável que, alguma vez, lhe ouçamos um reparo, pequeno que seja, sobre o sector privado, rotulado de complementar (sobretudo do rendimento dos profissionais) ou sequer das falhas do “paradigma sonhado” de um imenso sistema convencionado financiado, directamente, pelo dinheiro dos contribuintes.
Quanto à sanha exaltada relativamente à empresarialização ficamos curiosos se também será tão crítico das PPP’s com gestão clínica (expressão máxima da dita empresarialização) ou, se pelo contrário, como neste caso os gestores são privados não lhe é conveniente pronunciar-se.
Compreendemos, tal rebuço. De facto três anos sucessivos sem orçamento rectificativo, compressão dos custos a um dígito com sinais de alívio sobre a sustentabilidade do SNS comprometem muita coisa. Para aqueles que querem “desfazer” o SNS e retalhá-lo aos bocados dispersando o seu espólio pelas negociatas, saciadoras dos interesses particulares, o pior que pode acontecer é contrariar a insustentabilidade, saldar as dívidas, modernizar as infra-estruturas ou melhorar o acesso.
Os últimos anos trouxeram, para o Sr. Bastonário, um grande número de sinais de inquietação. Por um lado, um discurso político menos ambíguo e mais centrado no interesse público por outro, a evidência (agravada pela crise do liberalismo) de que o Estado tem de estar presente, ser eficaz e garantir a qualidade. Com isso esboroam-se as ilusões construídas à volta de um grande mar de PPP’s e de um apetitoso espólio público entregue, de mão beijada, ao sector convencionado.

10:06 da tarde  

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