Saúde, má organização
“Um dos grandes problemas da saúde em Portugal é organizacional", cujas causas estão nos "administradores e directores de serviço hospitalares" link Ana Jorge em entrevista à Lusa
Jornal de Notícias (JN): Numa escala de zero a dez que classificação atribui aos serviços públicos de Saúde?
Correia de Campos (CC): Um seis, sim ... à vontade. Entre seis e sete.
JN: Um suficiente, pouco mais que medíocre?
CC: Não, corresponde a um suficiente a raiar o bom! Temos profissionais muito competentes, com boa qualidade e preparação técnica, mas continuamos a ter uma má organização. Em termos globais, os serviços públicos de saúde não carecem de recursos humanos nem financeiros, mas continuam a gastar mal o dinheiro. E atenção, porque nós não precisamos de gastar menos, precisamos de gastar melhor. Sei que estou a ser optimista porque nas sondagens internacionais, que comparam os sistemas de saúde e que são efectuadas pela UE, Portugal aparece sempre num dos lugares mais desfavoráveis da tabela, com resultados muito mais negativos e que, no meu entender, não correspondem à realidade.
JN: Adepto da descentralização e da responsabilização, diga-nos se os gestores hospitalares vão passar a ser efectivamente responsabilizados pelos seus actos?
CC: Todos os gestores que forem nomeados trouxeram no acto da posse uma carta de missão. É um documento de enorme importância pois foi redigido pelos próprios e revisto por quem os nomeou, embora seja provisório e revisto noventa dias depois.
Jornal de Notícias magazine de 24.07.05
Jornal de Notícias (JN): Numa escala de zero a dez que classificação atribui aos serviços públicos de Saúde?
Correia de Campos (CC): Um seis, sim ... à vontade. Entre seis e sete.
JN: Um suficiente, pouco mais que medíocre?
CC: Não, corresponde a um suficiente a raiar o bom! Temos profissionais muito competentes, com boa qualidade e preparação técnica, mas continuamos a ter uma má organização. Em termos globais, os serviços públicos de saúde não carecem de recursos humanos nem financeiros, mas continuam a gastar mal o dinheiro. E atenção, porque nós não precisamos de gastar menos, precisamos de gastar melhor. Sei que estou a ser optimista porque nas sondagens internacionais, que comparam os sistemas de saúde e que são efectuadas pela UE, Portugal aparece sempre num dos lugares mais desfavoráveis da tabela, com resultados muito mais negativos e que, no meu entender, não correspondem à realidade.
JN: Adepto da descentralização e da responsabilização, diga-nos se os gestores hospitalares vão passar a ser efectivamente responsabilizados pelos seus actos?
CC: Todos os gestores que forem nomeados trouxeram no acto da posse uma carta de missão. É um documento de enorme importância pois foi redigido pelos próprios e revisto por quem os nomeou, embora seja provisório e revisto noventa dias depois.
Jornal de Notícias magazine de 24.07.05
Ana Jorge e CC estão de acordo relativamente à má organização da Saúde. Enquanto CC parecia ter esperança no desempenho dos AH, volvidos cerca de três anos e meio, a actual ministra da saúde parece desencantada quanto ao seu contributo para a melhoria do sistema.
Etiquetas: HH avaliação
6 Comments:
Já que estamos numa de revisão da matéria dada, vamos relembrar, por exemplo, o que foi dito pelo Primeiro Ministro, nos debates quinzenais da AR - este sobre o tema "Política de Saúde" (Março de 2008)
A prestação de Sócrates está, como habitualmente disponível no Portal do Governo link
Esta intervenção fala sobre as habituais intenções gerais - "SNS possa dar resposta às novas realidades sociais e às novas necessidades dos cidadãos sobretudo os mais idosos" e, caso raro, assume... prioridades.
Não vamos comentar ipsis verbis esta prestação pública, mas adoptaremos o publiictado escalonamento de prioridades.
Primeira:
A reconfiguração dos CPS (Sócrates gosta de chamar-lhe Reforma para enfatizar), nomeadamente com as USF's, sabemos hoje, que está longe de atingir o political definite target de uma cobertura nacional neste âmbito.
Estaremos (?) na 160ª USF, mas para cumprir a universalidade do SNS estes cuidaos carecem de estender-se a mais meio milhão de portugueses. O que é obra.
As ilusões sobre objectivos esbarram no paradoxo de que se esgotam na sua própria concretização, num mundo, que, será... cada vez mais objectivo e regulável. Novos tempos...
Registemos esta prioridade em fase de semi-realização e longe da concretização global. Mas não lhe vamos colocar na Baixa lisboeta um billboard de Socratews com um nariz de Pinóquio...
Segunda:
A jóia da coroa: - a rede de Cuidados Continuados Integrados, a crescer em ritmo acelerado e capaz de ultrapassar objectivos previamente definidos, mas parasitando as existentes estruturas do Sector Social da Saúde.
As grandes dificuldades vão surgir no erguer de um apoio domiciliário eficaz, quando se entra nos problemas de recursos humanos, como sabemos, deficitários em pessoal especializado (enfermagem, técnicos sociais e, esporadicamente, médico).
Terceira:
A gestão rigorosa e equilibrada do Serviço Nacional de Saúde.
Os objectivos foram, também, escalonados por ordem prioritária:
o financiamento adequado;
o investimento;
a modernização da gestão.
Bem, conceitos vagos onde cabe tudo...inclusive 1 ano depois sacudir responsabilidades.
A tal imputação sobre as deficiências dos AH's na organização hospitalar integram-se na "modernização da gestão"?
Quarta:
Qualificação da rede hospitalar!
Aqui, neste debate parlamentar, o Governo perante a passividade da Oposição, entrou pela madeira dentro, no que diz respeito à gestão hospitalar.
Saliento as seguinte "tiradas":
"No que diz respeito aos hospitais a nossa orientação é clara: as parcerias público-privado são úteis para a construção; a gestão hospitalar, essa, deve permanecer pública.";
"O Governo é a favor da moderna gestão pública; mas não está disposto a abdicar da responsabilidade própria do Estado na gestão do SNS."
Estas duas citações per si, e o que continua a acontecer, de concurso para concurso, nas PPP's, justifica, de algum modo, uma paralisia organizacional, por desorientação dos intervenientes...
O Governo precisa de compreender que, em termos de gestão, os novos e modernos hospitais (HH's de Sintra e Braga) têm sido entergues ao Sector Privado, pelo que a criatividade organizacional e, consequentemente, a sua responsabilidade, mudou de mãos.
Não foi por isso que o MS criou uma Comissão para o Estudo das Parcerias na Saúde?
Hoje - sobre as PPP's em Saúde - o Governo tudo o que afirmou com pujança e jactância, em Março do ano transacto, estará ultrapassado, por indefinição (a definição estará na depedência da tal Comissão), por uma prática avulsa deambulante e, no mínimo, intrigante, que se resume em passar de arremedos de autoridade para cedências e daí para ofertas de bandeja, até à expoliação total.
Nesse ambiente poderá acontecer alguma avaliação dos CA's?
As responsabilidades sobre organização nos HH´s existem, de facto, mas só são relevantes quando o sistema hospitalar é gerido e organizado em rede que tenha alguma coerência de métodos, coesão de processos, avaliação idónea e respeite a coesão universalista do SNS.
Sem isso nada feito.
Quanto aos AH´s colocados nos CA's e quanto às chefias intermédias:
Os AH's continuarão a ser nomeados pelo MS, mas os CA's respondem perante as concelhias e as distritais do partido no poder.
Os Directores de Serviço são, a 3ª. geração da catadupa de nomeações, e os destinatários das cartas de missão que os CA´s assinam no MS e, cuidadosamente nos seus HH's "transferem" para objectivos anuais.
Neste frenesim as estruturas intermédias são meros verbos de encher sobre o conteúdo das tais "cartas de missão" assinadas pelos CA's e que por volubilidade de não saber administrar transformam-se em diktats (administrativos, organizativos, clínicos, medicamentosos, etc.).
Finalmente,
É preciso democratizar a gestão para haver uma boa organização.
As teias que os diferentes e competitivos poderes tecem não permitem, esse importante passo, quer aos políticos, quer aos trabalhadores do sector público da Saúde.
Então pedir responsabilidades avulsas e descontextualizadas (aos gestores e aos directores de Serviços) pode ser um simples exercício de prestidigitação ou, outrossim, um pirueta no vasto ambiente de ilusionismo pré-eleitoral.
Ou,
Não precisaremos de fazer um Congresso de todos os trabalhadores hospitalares? (públicos, privados e do sector social)
Talvez esteja na altura da senhora ministra agir, ou seja, tomar medidas. Substituindo os incompetentes e dinamizando a avaliação das administrações dos hospitais.
Ao que parece, segundo declarações de alguns, é que os senhores Administradores Hospitalares, tal como os professores, não querem ser avaliados!
Perplexidades ou a Arte de alijar responsabilidades…
Talvez fruto das condições atmosféricas parece, que na Saúde, entrámos numa verdadeira silly season.
Os Ministros (actuais e passados) comentam a realidade como se nenhum deles tivesse que ver com essa mesma maçadora realidade.
A última rábula desta “comédia” pôs na liça o paradigma hospitalar e o papel dos gestores e dos directores de serviço.
Ficamos perplexos!
Então as Cartas de Missão (não foram implementadas e controladas)? A avaliação (não foi feita por culpa dos gestores, dos administradores, dos directores de serviço? A contratualização interna? E, já agora, o programa do governo?
Esta lógica “comentarista” é curiosa.
Relembremos alguns capítulos desta novela:
Amadora-Sintra sai da gestão privada porque gestão pública deu provas. Equilíbrio das contas da saúde graças à boa gestão hospitalar. Restrição das PPP’s nos HH’s em virtude dos bons resultados da gestão pública.
Estaremos perante um ataque de amnésia ou pura e simplesmente de alijamento de responsabilidades?
Afinal quem tem mantido e incentivado a “contaminação” público-privada impedindo uma gestão desprovida de conflitos de interesses na rede pública?
Quem são os responsáveis por às 2ªs., 4ªs e 6ªs. defender o SNS e às 3ªs., 5ª.s e Sábados legislar para favorecer as convenções, “fechar” os olhos à má prática privada, favorecendo, sorrateiramente, o avanço da privatização do SNS com as PPP’s? Porque razões não se implementaram modelos de “descentralização” concreta da gestão nos HH’s (CRI’s)?
Quem serão os responsáveis pela criação de condições que tornarão impossível, no futuro, a integração do sistema de saúde?
Quem tem afinal responsabilidades na “inundação” dos HH’s de “administradores hospitalares” (na sua esmagadora maioria de “carreira”)? Quem será responsável pela manutenção em funções dos “clássicos” e crónicos casos na AH? Quem será responsável por não existir avaliação? Quem deverá responder por tudo isto?
É muito fácil “passar” pelos lugares, não cumprir programas, falhar compromissos e depois “transferir”, assim como quem não quer a coisa, as responsabilidades para a arraia-miúda e quiçá, no final, levar ao prelo duas ou três opúsculos exortando a “obra feita” ou melhor justificando a obra não feita.
Por este andar se o ambiente político se tornar muito instável ainda ouviremos dizer outras coisas. Por exemplo, a reforma das urgências não se fez porque os doentes e os médicos não deixaram ou que a factura com os medicamentos não pára de aumentar porque os cidadãos tomam muitos remédios…
O nosso counter tem andado avariado. Cheguei a pensar tratar-se de alguma sequela do protesto contra o controlo pontométrico de assiduidade dos profissionais da saúde.
Nada disso...
Hoje chegou-me a explicação para o sucedido:
We have received some reports of statistics having disappeared in the Hit Counter service, and this is currently being looked into. We're doing our best to correct this as soon as possible, and we should be able to restore all or most of the lost data.
We're very sorry for any inconvenience, if you have any further questions or concerns please feel free to open a ticket and we'll follow up with you.
Estamos a "contar" atingir o milhão de visitas lá para finais de Março. A tempo do 5.º aniversário do SaudeSA.
Tanto administrador Hospitalar! Uns serão colocados certamente por concurso. Outros tantos serão contratados pelas próprias administrações dos hospitais.
Como referi em comentário anterior desloquei-me recentemente ao norte do país para uma sessão de trabalho num hospital do SNS.
Na referida reunião participaram além dos elementos do conselho de administração cerca de uma dúzia de AH muito jovens. Alguns com nomes interessantes: Zézé, fatucha, Misé, Noronha.
Isto parece uma agência de emprego. E aonde é que a administração do hospital vai buscar dinheiro para pagar a esta gente toda! Pensei com os meus botões.
É necessário avançar urgentemente com o sistema de avaliação das administrações dos hospitais.
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