Ana Jorge, preocupada
foto portal da saúde
1.º - A Ministra da Saúde está “preocupada” com saídas de médicos para o sector privado link
Ana Jorge retoma o tema forte da sua politica de saúde.
Ana Jorge retoma o tema forte da sua politica de saúde.
Há poucos meses atrás questionou José Manuel Boquinhas por ter “roubado” quatro obstetras do Hospital Garcia de Orta, o que, naturalmente, criou sérias dificuldades ao funcionamento daquele serviço público.
Também Rui Portugal, presidente da ARSLVT, considerou exagerados os contratos de transferência de cinco médicos de uma unidade de cuidados intensivos do hospital Pulido Valente para o HPP Hospital de Cascais.
2.º - Ao contrário de Ana Jorge, esta matéria parecia não incomodar CC que, em entrevista ao DE, considerava: «a migração de médicos do SNS para estabelecimentos privados é óptima para este pelo menos no curto prazo, pois passam a dispor de profissionais em cuja preparação não investiram, sendo de qualidade e reputação reconhecida. No médio-longo prazo veremos se o mercado privado garante, ou não, a sustentabilidade dos altos salários com que agora são aliciados. Certo é que não podem contar com a ajuda do Estado, para encaminhamento de doentes, uma vez que o SNS não convenciona serviços onde os seus têm oferta excedentária, ou pelo menos suficiente. Para os hospitais públicos, no curto prazo, a situação pode ser perturbadora, mas é vantajosa no médio-longo prazo: ninguém é insubstituível, há “segundas linhas” de qualidade prontas a tapar as brechas dos que saem e menos médicos em serviços ingurgitados só podem melhorar o desempenho.» DE, 14.12.06
3.º - Para o Económico o problema não reside na “passagem” mas sim na perversidade do sistema:
«o problema, segundo a minha opinião, é o de considerar-se que existem médicos em número suficiente em todos os hospitais privados e do sector social, quando todos sabemos que os mesmos médicos que de manhã trabalham nos hospitais públicos durante o resto do dia se dedicam à actividade própria (dita privada).
O problema, parece-me não estar na passagem dos médicos para o sector privado, o problema é que os médicos têm uma ideia do seu valor (salário/vencimento) que não pode ser suportado pelo SNS de forma isolada, e como tal, o modelo misto é o melhor para atingir o valor considerado justo. Nesta mesma perspectiva o sector privado, tal como existe, não conseguiria, também, suportar os vencimentos que os médicos pensam ser o justo valor do seu trabalho e dai existirem mesmo nesses hospitais privados alguns conflitos relativos aos consultórios privados dos clínicos fora dessas unidades.
O equilíbrio só se conseguirá com maior oferta de médicos no sistema o que como é sabido não é muito bem aceite pela Ordem dos Médicos com base no argumento da qualidade do ensino da medicina. »
4.º - Para o Tavisto a solução deste problema está na separação dos sectores e implementação nos hospitais de modelos de gestão inovadores.
«É precisamente por não se avançar na separação dos sectores, a par de novos modelos de gestão em que, entre outras medidas, o financiamento em função da produtividade e a componente de remuneração por desempenho, assumam valores expressivos, que o sector público vai sendo esvaziado dos melhores profissionais.
Ordenados-base de cinco mil euros líquidos, os quais, com horas extraordinárias, podem chegar aos sete mil por mês, são o forte contributo das PPPs à desestruturação do SNS e à total mercantilização da saúde e, a curto prazo, a sua extinção por exaustão de meios financeiros.
Também Rui Portugal, presidente da ARSLVT, considerou exagerados os contratos de transferência de cinco médicos de uma unidade de cuidados intensivos do hospital Pulido Valente para o HPP Hospital de Cascais.
2.º - Ao contrário de Ana Jorge, esta matéria parecia não incomodar CC que, em entrevista ao DE, considerava: «a migração de médicos do SNS para estabelecimentos privados é óptima para este pelo menos no curto prazo, pois passam a dispor de profissionais em cuja preparação não investiram, sendo de qualidade e reputação reconhecida. No médio-longo prazo veremos se o mercado privado garante, ou não, a sustentabilidade dos altos salários com que agora são aliciados. Certo é que não podem contar com a ajuda do Estado, para encaminhamento de doentes, uma vez que o SNS não convenciona serviços onde os seus têm oferta excedentária, ou pelo menos suficiente. Para os hospitais públicos, no curto prazo, a situação pode ser perturbadora, mas é vantajosa no médio-longo prazo: ninguém é insubstituível, há “segundas linhas” de qualidade prontas a tapar as brechas dos que saem e menos médicos em serviços ingurgitados só podem melhorar o desempenho.» DE, 14.12.06
3.º - Para o Económico o problema não reside na “passagem” mas sim na perversidade do sistema:
«o problema, segundo a minha opinião, é o de considerar-se que existem médicos em número suficiente em todos os hospitais privados e do sector social, quando todos sabemos que os mesmos médicos que de manhã trabalham nos hospitais públicos durante o resto do dia se dedicam à actividade própria (dita privada).
O problema, parece-me não estar na passagem dos médicos para o sector privado, o problema é que os médicos têm uma ideia do seu valor (salário/vencimento) que não pode ser suportado pelo SNS de forma isolada, e como tal, o modelo misto é o melhor para atingir o valor considerado justo. Nesta mesma perspectiva o sector privado, tal como existe, não conseguiria, também, suportar os vencimentos que os médicos pensam ser o justo valor do seu trabalho e dai existirem mesmo nesses hospitais privados alguns conflitos relativos aos consultórios privados dos clínicos fora dessas unidades.
O equilíbrio só se conseguirá com maior oferta de médicos no sistema o que como é sabido não é muito bem aceite pela Ordem dos Médicos com base no argumento da qualidade do ensino da medicina. »
4.º - Para o Tavisto a solução deste problema está na separação dos sectores e implementação nos hospitais de modelos de gestão inovadores.
«É precisamente por não se avançar na separação dos sectores, a par de novos modelos de gestão em que, entre outras medidas, o financiamento em função da produtividade e a componente de remuneração por desempenho, assumam valores expressivos, que o sector público vai sendo esvaziado dos melhores profissionais.
Ordenados-base de cinco mil euros líquidos, os quais, com horas extraordinárias, podem chegar aos sete mil por mês, são o forte contributo das PPPs à desestruturação do SNS e à total mercantilização da saúde e, a curto prazo, a sua extinção por exaustão de meios financeiros.
5.º - Aguardemos pelos próximos passos da senhora ministra. Será que, dada a actual crise, Ana Jorge conseguirá elevar o nível de remuneração do pessoal médico de forma a que este se sinta mais confortável no sector público?
Leituras:
1.º - Acordo da Carreira Médica link ; 2.º - Debate das Carreiras Médicas link ; 3.º - Grande Feito link ; 4.º - Salvar o SNS link ; 5.º - Ainda a Estratégia de CC link ; 6.º - Desestruturação do SNS link ; 7.º - Os intereses são fortes, a memória é fraca link
1.º - Acordo da Carreira Médica link ; 2.º - Debate das Carreiras Médicas link ; 3.º - Grande Feito link ; 4.º - Salvar o SNS link ; 5.º - Ainda a Estratégia de CC link ; 6.º - Desestruturação do SNS link ; 7.º - Os intereses são fortes, a memória é fraca link
Etiquetas: Ana Jorge
6 Comments:
É salutar que Ana Jorge esteja preocupada e que, contrariamente ao seu antecessor, não desvalorize uma questão que é razão de apreensão para todos os que se preocupam com o futuro do SNS. A solução do problema é que se me afigura complicada tendo em conta as limitações orçamentais, dificultando a captação dos melhores profissionais, e o clima geral no sector da saúde, aqui designado por perversidade do sistema, já que pouco ou nada se tem avançado para separar sectores.
É pois com curiosidade que se aguardam as recomendações da comissão a constituir, ou já constituída, para a reforma hospitalar.
Concordo com o Ecoómico.
A actual situação foi criada pelos diversos governos desde que há SNS. O "status quo" tem permitido ao Estado suster os médicos no SNS, pagando mal, em troco de certas regalias.
O privado, por sua vez, beneficia do sistema, pagando acima quando se trata de atrair alguns profissionais de renome, pagando abaixo, quando esses profissionais repartem a actividade entre sectores.
A solução está em lançar mais médicos no mercado como forma de fazer descer os salários e equilibrar a concorrência entre sectores.
O tempo da separação entre sectores está ultrapassado.
Vem aí a triste realidade da concorrência e do mercado. Acabaram-se as quintas.
Ao não compreender esta dura realidade a Mnistra da Saúde comete um grave erro que nos pode custar muito caro.
Portugal foi muitas vezes inovador. Na saúde, por exemplo, a Rainha Dª Leonor mandou construir o primeiro hospital termal do Mundo. Trata-se do Hospital do Pópulo, nas Caldas da Rainha, que tinha, à época, uma lotação de 117 camas, possuía Médico privativo, consultas diárias prévias ao internamento e farmácia.
O compromisso estabelecia que nunca poderia ter como Provedor nenhum frade, nem comendador, nem pessoa poderosa que fosse de cavaleiro para cima.
Como era prudente a Rainha Dª Leonor e quão mais importantes são hoje os Provedores das Misericórdias.
O cargo assumiu uma tal relevância social que as eleições, em algumas Misericórdias, se tornaram num espectáculo pouco edificante.
Uma vez no poder, alguns eleitos não se esquecem de reunir os sinais exteriores de riqueza que uma Misericórdia importante deve ostentar.
É o caso da maior Misericórdia não oficial do País que acaba de adquirir, para serviço da Provedoria, um BMW série 7, um automóvel que custa, no mínimo, 100.000 euros!
Isto mostra como estamos longe da crise em Portugal. Sim, porque se a Senhora Ministra da Saúde mandar esmiuçar as contas, nos Relatórios da Santa Casa da Misericórdia do Porto, chegará à conclusão que quem pagou tão luxuosa viatura foi o seu Ministério.
Associação Nacional de Estudantes de Medicina diz que já há excesso de internos a ter formação nos hospitais. "Não é ético para o doente". link
O problema não é "a quantidade" de médicos que deixam os serviços públicos de saúde para o privado mas "a qualidade" dos que saem, resume o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Manuel Pizarro. Não serão mais de 200 a 300 saídas por ano, mas "são pessoas com muita experiência e qualificação". O que poderá ficar em causa não é tanto a capacidade de prestar cuidados à população, mas de dar formação às grandes fornadas de médicos recém-licenciados que vão sair nos próximos anos, refere.
A ministra da Saúde, Ana Jorge, reafirmou anteontem que está preocupada com a saída de profissionais do público para o privado, por serem também "os formadores" dos mais jovens. Para que um licenciado em Medicina possa fazer a sua especialidade num determinado serviço público, este tem que obedecer a certas condições e só assim a Ordem dos Médicos lhe reconhece idoneidade para capacidade formativa: o número de especialistas no serviço, assim como a existência de orientadores de formação fazem parte dos critérios.
Manuel Pizarro diz que ainda "há uma folga". Este ano, o Ministério da Saúde abriu 1180 vagas para internatos de especialidade, "tantas quanto o número de candidatos". "Mesmo assim podíamos ter aberto 1600 vagas, haveria capacidade formativa", diz. Mas Pizarro reconhece que se a cada ano continuarem "a sair 100 a 250 dos melhores", daqui a "dois a três anos" não sabe "se haverá problemas".Alunos a mais?
Inês Lains, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina, diz que já há problemas graves na formação, por excesso de alunos, e denuncia as condições em que decorre o ensino prático da Medicina em Portugal. A estudante da Faculdade de Medicina de Coimbra fala da observação de um doente por 15 internos. "Não é ético para o doente."
Na Faculdade de Medicina de Lisboa, diz que se chegou ao cúmulo de "haver cinco estudantes a fazer toque rectal a um único doente", sintoma do excesso de internos a aprender com doentes em hospitais.
Os números das saídas de médicos para o privado são difíceis de quantificar. Segundo o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), entre 2006 e 2007 foram entre 300 e 500 os médicos que pediram licença sem vencimento de longa duração ou exoneração da função pública, um número que era residual em anos anteriores. Houve também 400 médicos que se reformaram, desconhecendo-se quantos terão ido para o sector privado. Em 2007, o ex-ministro da Saúde, Correia de Campos, admitia no seu livro Reformas da Saúde que tivessem saído para o privado "à volta de 500".
Carlos Santos, presidente do SIM, constata que "estão a abrir mais hospitais particulares por todo o país", nomeadamente na região Norte, estando na fase final de construção os novos hospitais de Braga e de Guimarães. "Vão continuar a sair. Os salários são mais atractivos e têm boas condições de trabalho."
JP 29.12.09
Os estudantes de medicina são dos que mais temem as leis do mercado de trabalho. Da qual têm estado a salvo até hoje.
As unidades privadas que têm aberto estão sobredimensionadas, diz o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes.
A saída de médicos para o privado é uma situação que o preocupa?
Os cuidados assistenciais não estão em perigo, o grande problema vai colocar-se na capacidade formativa. Não é abrindo faculdades de Medicina. Vão sair 1700 a 1800 licenciados todos os anos, esta gente vai sair para serviços públicos depauperados ou que estão a trabalhar à peça e não têm tempo para os formar, o que leva à inexorável decadência
dos serviços. Caímos no erro dos espanhóis, que formaram muita gente mas depois não tinham lugar para a sua formação, por isso, nos anos 80, os internos espanhóis tiveram que vir para Portugal.
O privado exerce uma grande atracção sobre os médicos?
Acontece nos médicos o que aconteceu nos professores: reformam-se antecipadamente, mas muitos dos médicos que saem do Serviço Nacional de Saúde [SNS] acabam por continuar a trabalhar no público através de empresas que prestam serviços aos hospitais EPE [unidades públicas com gestão empresarial], uma obrigação da lei da contratação pública. Há aqui um artifício legal que faz com que as saídas de médicos não sejam assim tão dramáticas, porque eles acabam por lá trabalhar e até recebem salários mais altos. Já não são do público, circulam por onde lhes pagarem melhor. Não tem havido assim tanta criação de unidades privadas e as unidades privadas que têm aberto estão sobredimensionadas.
Coloca-se a questão da qualidade da prestação de serviços?
O que mantinha as pessoas no público era a capacidade mde desenvolvimento dos seus serviços, o dar formação aos mais novos, por isso os médicos não se importavam de ganhar salários irrisórios. Mas as reformas de carácter gestionário fizeram com que se entrasse numa lógica de produção: se estiver a ensinar um interno faço uma cirurgia, se estiver sozinho faço quatro. Deixa de haver uma lógica de serviço mas de produção. A ministra tem razão quando fala não só do abandono do SNS mas do abandono do espírito do SNS.
JP 29.12.09
Este post do Brites mostra bem aonde andam os artistas, especialistas no serviço aos pobres (eles próprios, claro).
Lembra-me aquela anedota de alentejanos:
"Então ti Manel e vocemecê? Casou por amor ou por interesse?
O Ti pensou um pouco (devagar) e falou assim: Deve ter sido por amor, porque ela não tem interesse nenhum!"
Também aquele, que podemos passar a designar por "Série 7 da Misericórdia" ,só pode ter escolhido aquele lugar por amor...
Enviar um comentário
<< Home