sábado, maio 22

Expiração do prazo

O sector da saúde, nos últimos dias, não tem destoado do tom geral do governo. Esgotado, sem ideias, sem capacidade de inovar vai-se arrastando, penosamente, na recriação de “soluções” e de protagonistas que torna bem evidente que este ciclo está acabado.
O discurso político redondo, quase sempre imperceptível, apenas é salpicado por esporádicos assomos de acção quase sempre, desconexa, incoerente e inconsequente.

Na “política” do medicamento este governo ficará para a história como aquele que mais prejudicou a investigação, o desenvolvimento e a modernização da indústria inovadora e que, ao mesmo tempo, mais penalizou os cidadãos enquanto contribuintes e enquanto consumidores. A prática política, neste sector estratégico para a economia e o bem-estar dos cidadãos, fica marcada por um serpentear de incompetência ao nível da gestão estratégica.

No capítulo dos recursos humanos assistimos a uma continuada acumulação de erros de consequências, infelizmente, duradouras e irreversíveis. Para conquistar (comprar) simpatias e apoios o PM e a MS prometeram aquilo que não podiam e, sobretudo, não deviam cavalgando a dívida pública e deixando um lastro de destruição do sector de que não há memória no sector, há muitos anos.
Não intervindo, como deviam, com sentido de Estado e prudência na governação da “coisa pública” em duas áreas fundamentais - medicamento e recursos humanos, criaram constrangimentos insanáveis ao nível da gestão operacional das unidades de saúde.

Tendo a actual tutela uma visão “passadista” do sector, desgarrada no tempo e incapaz de compreender a natureza de um sector empresarial na saúde, o que vimos foi uma desvirtuação da gestão com uma progressiva alienação da autonomia e da responsabilização da gestão.

Em desespero de causa vem-se agora com um simulacro de modelo de avaliação para justificar, à pressa, o prenunciado falhanço na governação da rede hospitalar pública. Nesta área do SNS a norma foi sendo o retomar progressivo da cadeia de comando burocrático administrativista em que a actual tutela foi “formatada”. O desapoio progressivo das equipas de gestão foi a nota dominante com o alijar de responsabilidades políticos como regra. Espanta, aliás, como ainda existem pessoas dispostas a integrar conselhos de administração quando o papel que lhes está destinado é o de serem os “patinhos feios” de uma política sem norte e sem qualquer sentido de solidariedade ética.
Esta ausência de ética política é, igualmente, visível na deliberada omissão sobre o incumprimento das obrigações contratuais, por parte do Estado, relativamente às Instituições que tutela.

O que é impressionante é como estes dirigentes políticos não percebem o “estado de alma” do sector e a falta de reconhecimento e de autoridade que lhes é acometida.
Há um tempo para tudo. Para prometer, para fazer e para ser avaliado. Esse tempo expirou. Só os próprios ainda não perceberam…
amorim

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