domingo, maio 23

Gestão criteriosa

foto portal da saúde
David Laws, o novo Secretário do Tesouro britânico encontrou no seu gabinete uma curta mensagem do seu antecessor: ”Caro secretário, lamento informá-lo que já não há dinheiro.” link

A receita do novo Ministro das Finanças George Osborne foi a previsível: dar prioridade à redução do défice público. O Governo quer reduzir o défice essencialmente à custa do corte da despesa (80%). O novo orçamento, acrescenta Osborne, deverá obrigar o Reino Unido a “viver com aquilo que tem”.

Em Portugal, para viver com aquilo que temos, ainda temos de penar muito.
E não parece fácil.

Confrontada, pelos jornalistas, sobre o impacto das medidas de contenção anunciadas pelo Governo, no sector da saúde, disse a Sr.ª Ministra:
“Não podemos cortar cegamente o orçamento do Ministério da Saúde, para manter a qualidade do serviço.” A aposta será no combate ao desperdício, nomeadamente através da central de compras da saúde, que entrará em funcionamento em Junho.

Estou perfeitamente de acordo com a Dr.ª Ana Jorge no que respeita ao perigo de cortes cegos na saúde. Mas penaliza-me a forma como associa qualidade e custos. Philip Crosby afirmava, relativamente ao processo industrial, que o custo da não qualidade podia atingir 35% dos custos de exploração.
A saúde é um mundo muito diferente, mas basta pensar nos custos da infecção hospitalar para mudar a perspectiva. O que é caro é a falta de qualidade.

Também estou de acordo quanto à necessidade de eliminar o desperdício. Mas fico, mais uma vez, decepcionado que tenha dado, como único exemplo, a central de compras da saúde, que vai começar a funcionar em Junho.
A esse propósito, diz-nos a experiência que os ganhos putativos de instrumentos que parecem tecnicamente os mais adequados, acabam em prejuízos, resultantes de disfunções não previstas. Não quero ser profeta da desgraça, mas penso que os resultados da central de compras deveriam ser cuidadosamente monitorizados, para não restarem dúvidas sobre a bondade da sua existência.

O problema do desperdício na saúde é tão mais vasto, que se justificava criar um “think tank”, como agora sói dizer-se, para o estudar com o maior detalhe. E não seria preciso gastar dinheiro em consultores, pois há na saúde muitos técnicos, de alta categoria, para efectuar esse trabalho.

A Sr.ª Ministra voltou a apelar aos profissionais da saúde e aos administradores de serviços para que haja “uma gestão muito criteriosa”. Com isto, está, implicitamente, a afirmar que há serviços que não são geridos com o critério necessário.
Sendo assim, como todos sabemos que é, não se lhe pede que continue a lançar apelos.
O que é preciso é exigir-lhes o maior rigor na forma como gastam o dinheiro dos contribuintes.
E responsabilizá-los pelos resultados do seu trabalho.

Brites

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6 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

Os doentes com cancro são operados em períodos cada vez mais curtos mas ainda há um quinto (cerca de 700 pessoas) que só tem acesso à cirurgia ultrapassados tempos considerados clinicamente aceitáveis, que nesta área podem ir até um mês. Por contabilizar continua a espera do doente até chegar à cirurgia e no acesso a tratamentos de radioterapia e quimioterapia. link

12:36 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Nélson Baltazar vai trocar a presidência do conselho de administração (CA) do Hospital de Garcia de Orta (HGO), em Almada, pela presidência do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH). A notícia foi confirmada por uma nota à Imprensa proveniente do Ministério da Saúde (MS), no dia 18. No mesmo dia, um comunicado dos membros da administração actual do SUCH, presidida por Paula Nanita, dava conta da «estupefacção» face à medida, atendendo a que o órgão está «completo», não tendo «nenhum dos seus elementos renunciado ao cargo nem sido destituído». Por outro lado, fonte oficial do MS, citada por vários jornais generalistas, afirmou que «a doutora Paula Nanita sabe que vai ser substituída desde o dia 26 de Abril».

TM 24.05.10

Estupefactos estamos nós com o que se passa com a gestão do Serviço Público de Saúde.

10:40 da tarde  
Blogger Clara said...

A cativação de 20 por cento das verbas para horas extraordinárias e subsídio de trabalho nocturno vai pôr em causa o funcionamento de alguns serviços de urgência, avisam dirigentes da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).
Há especialidades médicas que são “a base das urgências, como a cirurgia, a medicina interna, a ortopedia, a anestesia e a obstetrícia, que consomem muitas horas extras”, explica Carlos Santos, do SIM, para quem não haverá serviço que não seja afectado, ainda mais agora que se aproxima o Verão, quando as necessidades de trabalho extraordinário crescem devido às férias.
“As coisas [nas urgências] já estão organizadas nos limites, isto é extremamente preocupante”, defende Sérgio Esperança, da FNAM, que lembra que a legislação actual (que limita as horas extras a um máximo de 100 por ano) “nunca foi cumprida”, porque sem trabalho suplementar alguns serviços não podem funcionar.
“Isto vai representar o encerramento de serviços a médio prazo”, avisa também o presidente do SEP, José Carlos Martins. “Já temos milhares de horas extras feitas por enfermeiros que
não são pagas e se as poucas que o são deixarem de o ser isto vai provocar uma situação explosiva.”
Ontem, confrontado com estas críticas, o Ministério da Saúde remeteu mais explicações para o Ministério das Finanças que, apesar de notar que “as cativações abrangem todas as áreas”, sublinha que isto não impede que se continue a realizar trabalho extraordinário. “Desde logo porque há uma parte da verba prevista nesta rubrica que não fi ca cativa, depois porque pode haver desactivação em situações fundamentadamente excepcionais, mediante despacho do ministro das Finanças”, adianta o gabinete de comunicação do ministério.
Em 2008, perto de um quarto do trabalho realizado nos hospitais (23 por cento) foi em regime de trabalho extraordinário, situação que se agravou no ano passado, com os gastos dos hospitais públicos em horas extras a totalizarem 211,1 milhões de euros até final de Setembro.

JP 22.05.10

11:07 da tarde  
Blogger Saloio said...

300 000 funcionários públicos podem perder o emprego

Pelo menos 300 mil funcionários públicos britânicos correm o risco de ficar sem emprego nos próximos anos devido às medidas anti-défice. O número está hoje a ser avançado pelo semanário ‘Sunday Times', o que acontece um dia antes de o novo Executivo britânico apresentar o plano de cortes orçamentais de cerca de seis mil milhões de libras (6,9 mil milhões de euros) para este ano. O orçamento rectificativo chega à Câmara dos Comuns, pouco mais de um mês após a entrada em funções do Governo de coligação. Os cortes vão afectar muitas regalias de que gozam os funcionários, tais como viagens de táxi, voos, hotéis, bem como uma série de organismos privados que oferecem serviços públicos mas que são financiados pelo Governo.
Só no sector da Saúde, revela o jornal britânico, 120 mil pessoas podem ficar sem emprego, assim como 100 mil funcionários de autarquias em todo o país e milhares de polícias e pessoal civil que trabalha nas esquadras.
O Ministério da Defesa, que tem que cortar os gastos em 25%, também terá que eliminar 20 mil postos de trabalho. Para dar o exemplo, o primeiro-ministro, David Cameron, que já tinha reduzido o número de seguranças e motoristas dos ministérios, comprometeu-se a pagar do seu bolso as despesas da reforma da residência oficial de Downing Street, para onde deve mudar-se com a família esta semana.

12:41 da manhã  
Blogger Unknown said...

A única forma dos contrinuinte não pagarem o despedício é a gestão/exploração ser feita por privados e o estado pagar só aquilo que contratualiza e é feito. O desperdício, a haver, e os custos da má gestão saiem do bolso do privado.

2:21 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Portugal campeão das PPPs

No campeonato da contratação de investimento público e de prestação de serviços com recurso a Parcerias Público-Privadas (PPP), Portugal é líder desde há muito.link

4:02 da tarde  

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