domingo, agosto 22

Absolutamente extraordinário

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Instituto do Sangue lança concurso para aparelho fornecido pelo filho do presidente

Empresa de Nelson Olim comercializa equipamento inovador que evita picadas nos dedos e é mais barato do que os métodos actualmente usados na dádiva de sangue.
O Instituto Português do Sangue (IPS) lançou um concurso para a compra de testes para a medição de hemoglobina, cujas especificações técnicas apontam para um novo método que é comercializado em Portugal apenas por uma empresa de que é sócio o filho do presidente do instituto.
A história começa em Nova Orleães, nos EUA, no encontro anual da associação americana de bancos de sangue, em Outubro de 2009. Foi ali que o presidente do IPS, Gabriel Olim, viu pela primeira vez um equipamento que lhe despertou grande interesse: um aparelho que determina o valor da hemoglobina evitando a desconfortável picada no dedo a que os dadores hoje são obrigados a submeter-se.

Em Maio, o IPS lançou um concurso público internacional (n.º 1 90040/2010) para "Aquisição de Testes a Determinação Automática do Valor da Hemoglobina na Pré-doação de Sangue" no valor de 200 mil euros cujo critério principal de selecção é o preço. No caderno de encargos especifica-se que os equipamentos a distribuir pelos vários centros regionais de sangue (Lisboa, Porto e Coimbra) devem ser não invasivos, "isto é, sem necessidade de agulha ou picada de agulha". Sucede que das quatro empresas concorrentes apenas terá apresentado um equipamento capaz de preencher este requisito, porque as outras usam os métodos que obrigam a picada no dedo. Trata-se da empresa Med-First Lda, que se propôs a concurso com o tal equipamento israelita inovador. A assinar a proposta aparece o sócio e director médico da empresa, Nelson Olim, que é filho do presidente do Conselho Directivo do IPS.

A Med First propõe-se fornecer ao IPS 50 sensores com capacidade para a realização de 200 mil testes para a determinação automática do valor da hemoglobina, bem como 45 equipamentos a distribuir pelos centros regionais de sangue de Lisboa, Coimbra e Porto. O valor é o máximo previsto no concurso: 200 mil euros.

Vale a pena conhecer as reacções dos protagonistas:

…” O presidente do IPS diz que não tem nada a ver com o concurso”…
…” Confrontado com o facto de a empresa do seu filho estar a candidatar-se, Gabriel Olim diz que os concursos do IPS são feitos através do Departamento de Aprovisionamento e Financiamento do Instituto. "Não tenho nada a ver com isso", diz Gabriel Olim, sublinhando que até nem sabe quem faz parte do júri do concurso”…

…”Nelson Olim garante, pelo seu lado, que teve conhecimento da existência deste equipamento pela primeira vez só em Março deste ano, quando foi a Israel fazer formação sobre emergência médica. Entretanto, viu no portal dos concursos públicos, que consulta frequentemente, a referência a este concurso do IPS. "Acabei por saber por acaso", frisa. E nota que, se houvesse aqui algo de suspeito, as propostas não iriam assinadas com o seu nome. "É o máximo da transparência.” ”…

…” A única coisa que admite, após algumas reservas - "as conversas que tenho com o meu filho são privadas" -, é que a determinada altura terá falado com o filho sobre a nova solução, que é "óptima" “…

Uma aposta? Nada acontecerá.

Se as clínicas privadas podem fazer cirurgias oftalmológicas em vãos de escada, desprezando o licenciamento ou até a (obrigatória) inscrição na ERS, se o delegado de saúde regional há seis anos que fazia “vista grossa”, se a Ordem dos Médicos há seis anos tinha a queixa contra o médico holandês fechada na gaveta porque razão haveria agora a senhora Ministra de incomodar o senhor presidente do IPS a pedir que este lhe apresentasse, de imediato, uma carta de renúncia do lugar?

Aguiar

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2 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

Mais um caso que devia merecer resposta pronta da senhora ministra.

A confirmarem-se os factos da noticia, a tentativa de fuga às responsabilidades do director do IPS é absolutamente vergonhosa.

6:20 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Este seria - em qualquer País onde funcionassem as instituições democráticas - um sumário caso de polícia.
Aqui, em Portugal a situação vai complicar-se. Começará pelo IGAS, passará pelo MP para, daqui a meia dúzia de anos, desembocar nos Tribunais...

E, apesar deste longo percurso como se escreve no post nada acontecerá!
E este o roteiro português...

ou,

se acaso, vier a acontecer alguma coisa, não deverá andar longe da interposição de um novo processo por danos materiais e o respectivo pedido de compensação de [avultados] prejuizos por parte da Med-First Lda contra o Ministério da Saúde ou o Estado.

Primeiro, há que salvaguardar o mercado e a livre iniciativa [mesmo com recurso a insider-trading...];

Depois vem a transparência [nebulosa?] dos concursos públicos [inclusive os internacionais]...

Finalmente, a nova versão da história do capuchinho vermelho onde, em vez do lobo e da avózinha, os protagonistas são filiais e paternais personagens...com ideias giras e soluções óptimas, não é?

11:15 da tarde  

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