Emigre ou revolte-se
Os advogados da política de terra queimada podem finalmente festejar. O governo deu-lhes ouvidos e prepara-se para rebentar com qualquer possibilidade da economia recuperar nos próximos anos.
Os funcionários públicos, escolhidos por tanta gente que nunca hesitou em pendurar-se no Estado como bode expiatório da incompetência quem governou este País durante tantos anos, irão finalmente ser sacrificados para acalmar a fúria desse novo Deus que são os mercados financeiros. Mas basta olhar para a Irlanda para saber que os especuladores, os únicos beneficiados por esta crise, não se irão comover. Até porque sabem o que nos vai acontecer.
Mas não serão apenas os funcionários públicos. São os reformados, que verão as suas miseráveis pensões congeladas. Serão todos os consumidores, que verão os preços subir por causa do aumento do IVA. Serão os mais pobres entre os mais pobres, que vão sentir mais um corte no quase simbólico rendimento mínimo, aquele que os remediados maldizem até ao dia em que precisam dele. E, com o que aí vem, tantos irão precisar. Serão todos os contribuintes, que ficarão a pagar o fundo de pensões descapitalizado da PT.
E é, acima de tudo, toda a economia. Menos dinheiro disponível, preços mais altos. Mais crise sobre a crise. Empresas que fecharão. O desemprego que inevitavelmente irá aumentar. Menos receitas fiscais, mais despesas sociais. O filme é simples e todos o conhecem: a partir do momento em que aceitámos saltar para este abismo a queda será estrondosa.
O mais extraordinário é que tudo isto é feito para garantir o financiamento da nossa economia. Financiamento que a banca nos garante pedindo emprestado o nosso dinheiro, o dinheiro da Europa, a um por cento, para depois nos voltar a emprestar a seis por cento. Apenas porque a União inventou o crime prefeito: impede-se a si própria de ajudar os Estados membros para dar a ganhar a quem se alimenta da nossa desgraça. Todos estes sacrifícios não são para melhorar as nossas vidas. São para alimentar a mesma banca que nos obrigou a enterrarmo-nos para a salvar da sua própria ganância.
Almeida Santos disse: sorte do País que é governado por quem tem a coragem de tomar medidas impopulares. Eu respondo: azar do País que é governado por quem nunca tem a coragem de governar pelo povo, com o povo e para o povo. Medidas impopulares têm tomado todos. As difíceis, que tocam no poder que realmente decide os nossos destinos, é que nunca vêm. Mais uma vez vamos pagar a crise que outros causaram. Mais uma vez serão eles a lucrar com ela. Restam-nos duas possibilidades: ou emigramos ou nos revoltamos.
Daniel Oliveira
Os funcionários públicos, escolhidos por tanta gente que nunca hesitou em pendurar-se no Estado como bode expiatório da incompetência quem governou este País durante tantos anos, irão finalmente ser sacrificados para acalmar a fúria desse novo Deus que são os mercados financeiros. Mas basta olhar para a Irlanda para saber que os especuladores, os únicos beneficiados por esta crise, não se irão comover. Até porque sabem o que nos vai acontecer.
Mas não serão apenas os funcionários públicos. São os reformados, que verão as suas miseráveis pensões congeladas. Serão todos os consumidores, que verão os preços subir por causa do aumento do IVA. Serão os mais pobres entre os mais pobres, que vão sentir mais um corte no quase simbólico rendimento mínimo, aquele que os remediados maldizem até ao dia em que precisam dele. E, com o que aí vem, tantos irão precisar. Serão todos os contribuintes, que ficarão a pagar o fundo de pensões descapitalizado da PT.
E é, acima de tudo, toda a economia. Menos dinheiro disponível, preços mais altos. Mais crise sobre a crise. Empresas que fecharão. O desemprego que inevitavelmente irá aumentar. Menos receitas fiscais, mais despesas sociais. O filme é simples e todos o conhecem: a partir do momento em que aceitámos saltar para este abismo a queda será estrondosa.
O mais extraordinário é que tudo isto é feito para garantir o financiamento da nossa economia. Financiamento que a banca nos garante pedindo emprestado o nosso dinheiro, o dinheiro da Europa, a um por cento, para depois nos voltar a emprestar a seis por cento. Apenas porque a União inventou o crime prefeito: impede-se a si própria de ajudar os Estados membros para dar a ganhar a quem se alimenta da nossa desgraça. Todos estes sacrifícios não são para melhorar as nossas vidas. São para alimentar a mesma banca que nos obrigou a enterrarmo-nos para a salvar da sua própria ganância.
Almeida Santos disse: sorte do País que é governado por quem tem a coragem de tomar medidas impopulares. Eu respondo: azar do País que é governado por quem nunca tem a coragem de governar pelo povo, com o povo e para o povo. Medidas impopulares têm tomado todos. As difíceis, que tocam no poder que realmente decide os nossos destinos, é que nunca vêm. Mais uma vez vamos pagar a crise que outros causaram. Mais uma vez serão eles a lucrar com ela. Restam-nos duas possibilidades: ou emigramos ou nos revoltamos.
Daniel Oliveira
Revoltemo-nos!
Etiquetas: Portugal de Cócoras
3 Comments:
A dilatória e breve aquiescência, antes de emigrar...
Ao fim de meio século de ditadura salazarista os portugueses tiveram pouco mais de 3 dezenas de anos para respirar os ventos da modernidade e construir a “sua” democracia.
Há cerca de 2 anos tudo ruiu.
Não vamos enumerar os erros – que foram muitos – nem tentar exorcizar o presente.
Desde 2008 que vivemos numa "ditadura financeira" e todos os passos tentados com vista à libertação deste jugo são estorvados e afogados por uma nova chancela: “Estabilidade”.
A procura desta “estabilidade”, um novo El Dorado – segundo os arautos de fatalidades incontornáveis - tem deixado muita gente pelo caminho: mais de 700.000 portugueses no desemprego. Para estes [desempregados], a comunidade financeira criou um paliativo altamente tóxico [pérfido]: “estar desempregado tornou-se uma situação cómoda…”. Vivem à custa de quem trabalha!. E outras barbaridades do género...
Estes silogismos falaciosos pretendem anestesiar a consciência social dos cidadãos e desviar a atenção dos reais problemas do desenvolvimento que não estamos a conseguir resolver.
De facto, a “ditadura financeira” não fala stricto sensu de Pactos de Estabilidade. Defende Pactos de Estabilidade e Crescimento.
Na verdade, as severas medidas de austeridade que ombreiam com os pactos de Estabilidade estiolam qualquer possibilidade de crescimento, mas a comunidade financeira continua a representar uma mirífica comédia. O tecido empresarial nacional rompeu pelas costuras e quando o Governo e Organismos económicos internacionais clamam por mais [e melhor] investimento [externo ou interno, público ou privado] ninguém sabe onde, nem quando e, pior, nem porquê [aqui].
A verdade é que o caminho da Estabilidade tem sido difícil, doloroso. Quando falamos em cortes na despesa pública os poderes passam sistematicamente ao lado da corrupção, dos sumptuários compadrios, dos conluios à volta dos investimentos públicos, dos abutres que parasitam a mesa do Orçamento do Estado, das parcerias público-privadas, etc. …
Quando ao “crescimento”, neste momento, reduzimos largamente o leque produtivo. Produzimos, essencialmente, dois produtos contraditórios, quer na quantidade, quer na qualidade: muita miséria e pouca solidariedade.
É cada vez mais evidente que a ruptura social vem a caminho fundamentalmente porque o poder político [entorpecido] dorme nos braços da comunidade financeira...
As reacções às medidas de austeridade têm definido vários eixos de indignação. O mais consensual: “alguém andou a governar mal para chegarmos a este ponto”. O esquerdizante de cariz nacional: “é o povo que paga a crise enquanto o grande lucro e os interesses se mantêm intocados”. O esquerdizante de cariz transnacional: “há que confrontar a usura que resulta do bem orquestrado jogo entre os porta-estandartes da Europa neoliberal e as agências de rating”. E depois, depois há a indignação da direita neoliberal que limita a ideologia a voos domésticos: “Chegámos a este ponto porque somos governados por socialistas”, “O Estado Social é incomportável”, “Medidas de austeridade sim, mas sem aumento de impostos”.
As vistas curtas dos neoliberais pátrios alimentam-se de dois equívocos voluntários: nem Sócrates tem muito a ver com o socialismo (ou com qualquer outra ideologia documentada na história das ideias), nem o Estado Social representa um luxo anacrónico de extracção socialista. Queridos neoliberais, leiam comigo:
“Hoje é costume desdenhar-se o Estado-providência do século XX como Europeu e “socialista” – geralmente em formulações como: “Creio que a história registará que foi o capitalismo chinês que pôs fim ao socialismo europeu”. (…) “Socialista”? O epíteto mais uma vez revela uma curiosa ignorância do passado recente. Fora da Escandinávia – na Áustria, Alemanha, França, Itália, Holanda e outros países – não foram socialistas mas democratas-cristãos os principais responsáveis pelo estabelecimento e administração das instituições fulcrais do Estado-providência activista. Até na Grã-Bretanha, onde no pós-II Guerra o governo trabalhista de Clement Attlee inaugurou de facto o Estado-providência como então o conhecemos, foi o governo de tempo de guerra de Winston Churchill que encomendou e aprovou o Relatório de William Beveridge (ele próprio um liberal), que estabeleceu os princípios do fornecimento da providência pública: princípios – e práticas – reafirmados e garantidos por todos os governos conservadores que seguiram até 1979.” Tony Judt, “O mundo que perdemos”
Curiosa maquinação. Para os neoliberais tugas é possível defender o mercado e – acham eles – a concomitante demolição do Estado-providência como necessidade imperiosa, ao mesmo tempo que ignoram dois factos límpidos. Primeiro, quem impõe uma situação de austeridade aos mais frágeis povos da Europa é o mercado desregulado, a estimada banca e o lucro sumptuoso de quem mais ganha em juros quanto mais arriscados forem decretados os empréstimos. Segundo, o Estado Social não é um anacronismo socialista, mas sim uma lógica de governo encetada nessa Europa fora por muitos liberais e conservadores que visa um compromisso mínimo entre o crescimento económico e o bem-estar social: serviços universais (como a saúde e a educação), pleno emprego, e uma rede de segurança social para agregados de baixos rendimentos e outros grupos vulneráveis. Estamos pois, perante a suprema ironia: para alguns neoliberais de consumo nacional chegámos a uma situação em que temos que acabar com o Estado-social para nos defendermos dos mercados externos. Decididamente, temos é que nos defender dos neoliberais. De todos.
É risível que Sócrates ainda governe, se é que se pode chamar governar àquelas danças de marioneta. Mas se a alternativa a Sócrates são os que defendem o mercado dizendo que é essa a forma de nos defendermos do mercado, antes os socialistas anacrónicos – aqueles que perderam a noção da realidade em que vivem, talvez, mas que preservam uma noção vaga do que costumava ser a política. Por exemplo, antes de os neoliberais defenderem mais capitalismo encostando-se à condição de vítimas dos mercados.
Bruno Sena Martins
O outro desafio
Mais complicado do que corrigir o défice orçamental -- que se alcança em dois ou três anos com mais ou menos medidas de austeridade -- é corrigir do défice estrutural de competitividade da economia portuguesa, que está na base do défice externo e do endividamento externo da economia portuguesa e das próprias dificuldades orçamentais do país.
Sem maior competitividade não haverá melhoria das exportações, nem do investimento externo entre nós, nem do potencial de crescimento da economia, nem das perspectivas de emprego, nem aumento da receita fiscal do Estado.
Para melhorar a competitividade há que conter ou reduzir os custos de produção (crédito, trabalho, serviços), aumentar a produtividade (qualificação profissional, inovação tecnológica, organização empresarial), incentivar o investimento nos sectores de bens exportáveis, melhorar as infra-estruturas de transportes (rodoviárias, aéreas, portuárias), manter baixa a inflação interna (controlando ao aumento da procura), reduzir os custos administrativos da actividade empresarial (licenciamentos, etc.), superar as constrições do sistema judicial (cobranças, falências, etc.).
vital moreira, causa nossa
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