quinta-feira, novembro 25

Por terras de Vera Cruz

.../ Foi então que se fez luz na minha mente. É uma viagem secreta. Só pode ser. Na certa, desesperada com o retrocesso que se tem registado na reforma dos CSP, em Portugal, com o saldo entre o número de novas USF e o de USF extintas a ameaçar suplantar, a breve trecho, o valor do deficit das contas públicas, Ana Jorge decidiu ir conhecer a estratégia adoptada no Brasil. Estratégia que, refira-se, permitiu que mais de meia centena de milhar de USF fossem inauguradas no país durante o mandato de Lula da Silva. link

Faz bem. Afinal de contas, por cá, a situação no terreno é insustentável. As denúncias de inacção, quase coma, que tem marcado a actividade da nova estrutura que conduz a reforma, avolumam-se. Tudo sob o olhar indiferente de Ana Jorge. Com o final do ano à porta e com ele o fim da mobilidade de centenas de profissionais das USF, que à falta de instrumento jurídico de suporte terão que regressar às suas unidades de origem... A situação assume contornos de catástrofe.
Diz-se que a manhã de dia 27 trará novo ministro. Oxalá venha a tempo de impedir o desastre para onde a actual ministra empurrou o SNS.

MMM, JMF 24.11.10

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4 Comments:

Blogger e-pá! said...

Já que andamos de viagem...

Num site da Coordinadora Anti-Privatization de la Sanidad Publica de Madrid aparece um texto sobre : "Grecia, sanidad: Una semana de invitación a la desobediencia masiva"… link

Uma interessante notícia!

Torna mais fácil compreensão da propalada sentença ditada, centenas de vezes, por políticos e economistas da "nossa praça": "o caso português não é semelhante ao grego…"
De facto, em Portugal, as “taxas moderadoras” começaram há muitos anos [ainda a "crise" era uma criança], justificadas pela contenção do [abusivo?] consumo de cuidados de saúde.
Taxas que se implantaram em Portugal com os protestos de algumas forças políticas e sindicais, mas perante a total passividade dos profissionais de saúde...

Nisto, de facto, somos diferentes dos gregos...

10:27 da tarde  
Blogger bisturi said...

No Brasil a ser implementadas as UPA 24 ( Unidades de Pronto Atendimento 24 horas), enquanto por cá se fecham serviços de proximidade e se deixam populações indefesas e abandonadas ao deus dará e à sua má sorte e à morte...
E os civilizados somos nós ...os europeus!!!!

10:50 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro bisturi:

Somos como a velha e decadente aristrocracia.

Civilizados - mas "tesos" como um virote.
Logo, substiuimos a proximidade por uma falaciosa eficiência. Que sendo um conceito fica barato.
É - como dizem os brasileiros - "só botar da boca p'ra fora"!
Tem sido assim na Saúde, passou a ser nas Escolas, será nos Correios, etc.

12:00 da manhã  
Blogger Unknown said...

NO SOL de hoje, 26/11
A REFORMA dos cuidados de saúde primários, uma das bandeiras dos governos de José Sócrates, está parada. Segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, pela primeira vez desde que foi lançado o programa das Unidades de Saúde Familiares (USF) – a imagem de marca desta reforma –, não só não abriu nenhuma destas unidades, como até desapareceu uma, em Lisboa.
Os responsáveis da USF Gerações, em Benfica – que iniciara funções em Maio de 2009 –, desistiram do projecto e, segundo soube o SOL, voltaram ao que eram antes: um centro de saúde igual aos outros. «Isto nunca tinha acontecido», lamenta o antigo responsável deste programa, o médico Luís Pisco, acusando: «Não há sinais políticos dos responsáveis do Ministério da Saúde de que esta reforma é uma prioridade». E acrescenta: «Compreende-se que as pessoas desistam. São cada vez maiores as dificuldades que lhes estão a ser colocadas pelas administrações intermédias».
Vítor Ramos, que chefia a coordenação estratégica dos cuidados de saúde primários, no Ministério, assegura, no entanto: «Esses sinais são dados, e eu sou testemunha deles, mas não se fazem omeletes sem ovos. Como não há médicos suficientes, é natural que as administrações regionais de saúde criem dificuldades à saída de médicos de um lado, onde fazem falta, para outro, onde esses profissionais pretendem criar a USF».
As USF, que surgiram como o principal instrumento organizativo da reforma dos cuidados de saúde primários, são um modelo de prestação de cuidados assente na iniciativa dos próprios profissionais. A ideia é que, de forma voluntária, médicos, enfermeiros e administrativos se organizem para responderem melhor às necessidades das populações que servem. Isto implica oferecer serviços adequados e gerir o tempo e o conteúdo do trabalho de acordo com essas necessidades.
O princípio era o de que, estabelecido esse pacote de serviços, o Ministério faria com cada grupo de profissionais um contrato-programa, sendo estes pagos em função do seu cumprimento. Nasceram assim, desde 2006, mais de 250 USF por todo o país, em substituição dos velhos centros de saúde, abrangendo já cerca de 30% do total dos utentes do Serviço Nacional de Saúde. Entretanto, foram criados outros tipos de organização dos serviços, como as unidades de cuidados nas comunidades e as unidades de saúde pública.
As USF tornaram-se, de qualquer modo, numa das mais importantes bandeiras da política de saúde dos Governos de Sócrates, tendo conhecido um crescimento exponencial desde que o programa foi lançado pelo ex-ministro Correia de Campos.
Este ano, porém, e apesar das promessas políticas de acelerar o ritmo da reforma, o que está a verificar-se é o contrário. A ministra da Saúde anunciou em Julho que, até ao final do ano, deveriam abrir 32 novas USF. Desde então, entraram em funcionamento apenas seis.
Vítor Ramos promete que, em Dezembro, haverá novidades: «Esperamos abrir pelo menos 15 novas USF», lembrando que, este ano, foi sobretudo por falta de médicos que o ritmo de abertura de novas unidades abrandou. «Já se esperava que se reformassem muitos médicos de familia. Mas ninguém contou com as reformas antecipadas. Este fenómeno comprometeu muita coisa na Saúde, em particular nos cuidados primários», justifica.
O anterior coordenador da reforma, porém, vê a realidade de outro modo. «No passado, ter-se-ia feito tudo para impedir que os profissionais desistissem. Esse é o pior sinal que pode transmitir-se», lamenta, insistindo na falta de investimento político na reforma. «Nem sequer é preciso mais dinheiro. O que sempre se fez foi reorientar as prioridades», diz, acusando ainda: «A falta de ideias e de vontade política, porém, é pior que a falta de dinheiro».
Neste momento, as USF enfrentam ainda outro problema. Cerca de 20% dos seus profissionais estão em regime de mobilidade (cujo prazo termina no final do ano) e muitos já começaram a ser chamados de volta aos serviços de origem, onde também fazem falta.

1:36 da tarde  

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