sábado, dezembro 4

Afinal, sempre houve remodelação.

Teixeira dos Santos é o novo ministro da saúde. Passou a acumular com a pasta das Finanças.
Ana Jorge?
Ana Jorge, faz de conta. Como sempre!
Para governar, o mesmo é dizer, para cortar, é com o Teixeira dos Santos.
E, ontem, num esclarecimento tornado público, o Ministério das Finanças veio esclarecer que os hospitais com gestão empresarial vão ter mesmo de cortar 15% nos custos operacionais de 2011.
link

Bem pode Ana Jorge continuar a pregar que os hospitais, apesar dos cortes cegos, têm de ser capazes de manter a prestação de cuidados. E, as Administrações dos Hospitais que se desenrasquem.

João Correia da Cunha, que sobre esta matéria tem andado a dar a cara pelo SNS (ao contrário da senhora ministra que vergada às ordens do chefe Teixeira, parece ter medo de perder o triste lugar), já deu a resposta:
Está a dizer que é impossível (cortes de 15%)?
Digo-lhe claramente: eu não sei como é que se faz um orçamento com um corte de 15%.
Já o disse anteriormente e mantenho: o meu desempenho está estritamente ligado à possibilidade de prestar os cuidados de saúde indicados a cada momento segundo as regras técnico-científicas. No dia em que eu tiver de dizer que não podemos tratar um doente porque o custo é muito elevado, deixo de estar disponível.

Vácomdeus

Etiquetas: ,

9 Comments:

Blogger e-pá! said...

Não há sustentabilidade possível para autênticos desvarios orçamentais...
Há muito tempo que ouvimos repetidos alertas sobre os efeitos do economicismo no SNS.

De realçar - como se afirma no post - a atitude digna e responsável de João Correia da Cunha que não se exime a afirmar publicamente o que toda a gente - no SNS - sente, pensa e receia.


Todo este imbróglio faz lembrar a história do homem e da cabra...

Era uma vez ...um homem que vivia só e tinha uma cabra por companhia. Todos os dias tinha de arranjar pasto para o animal.
Ao fim de algum tempo estava cansado e farto.
Pensou, então, porque não tentar que a cabra viva sem comer?
E, daí para a frente, deixou de cuidar da cabra.
O pequeno ruminate emagrecia a olhos vistos, berrava por comida mas continua ser a sua única companhia.
O homem estava feliz com o sucesso do seu engenhoso método e proclamava aos 4 ventos: a minha cabra habituou-se a viver sem comer...
Um dia, de regresso a casa, encontrou a cabra morta.
Desesperado, gritou: porque moreste quando já te tinhas habituado a viver sem comer?
E, desolado, rematou: ingrata, fizeste isso para me deixares sozinho...


Moral da história: O hábito não é uma segunda natureza...

11:17 da tarde  
Blogger Tavisto said...

De facto ninguém se entende sobre a matéria. Ana Jorge quer que as administrações hospitalares consigam manter o tamanho da omeleta, haja ou não corte na ração de ovos. Teixeira dos Santos, desconfiado que anda a alguém a desbaratar ovos na João Crisóstomo, recusa-se a dar um tratamento diferenciado à Saúde insistindo na tese da poupança, nem que os hospitais tenham de fazer omeletas sem ovos.
No meio disto tudo aparecem os administradores hospitalares, pelo menos Correia da Cunha, a ameaçar bater com a porta se a omeleta não der para todos.
No meio de todo este desaguisado vamos ver se pelo menos o dono do galinheiro se salva.

11:19 da tarde  
Blogger Clara said...

No meio desta confusão geral, afinal, quem parece manter o bom senso são as administrações dos hospitais.
Tanto Ana Jorge como Teixeira dos Santos, ambos, há muito, parecem ter perdido a roda do leme.

12:41 da manhã  
Blogger xavier said...

Os hospitaisempresa têmde poupar 600 milhões de euros em 2011, o equivalente ao corte de
15% nos custos operacionais. Mas deste valor, apenas 260 milhões resultam demedidas já definidas, como o corte de salários, que vale 60 milhões de euros. Os restantes 340 milhões de euros serão obtidos com medidas de eficiência aindanão definidas.
Ou seja, os administradores hospitalares ver-se-ão obrigados a cortar mais 340 milhões de euros conseguidos à custa de ganhos de eficiência. Isto porque o despacho conjunto dos ministérios da Saúde e das Finanças, emitido a 30deNovembro e que chegou aos hospitais na quinta-feira, deixa claro que a redução de custos operacionais tem de ser feito, mas também adianta que esse corte não pode colocar em causa o nível de serviços de saúde prestados aos cidadãos. Aliás, foi isso mesmo que ontem o Ministério das Finanças veio reiterar em comunicado: o corte é para cumprir,mas sem“pôr emcausa o nível de serviços de saúde prestados aos cidadãos”.
Mas o despacho conjunto dos ministérios das Finanças e da Saúde que pretendia clarificar os
cortesnoshospitais-empresa (ver caixa de pontos ao lado) acabou por surtir o efeito inverso. Se, por um lado, vem esclarecer que os hospitais vãomesmo ter de cortar 15% nos serviços externos e reduzir a massa salarial entre 3,5% a 10%, nada diz sobre a redução da despesa commedicamentos.
Pedro Lopes, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) não sabe dizer se a regra inscrita no anterior despacho do Ministério da Saúde, de 26 de Outubro, que prevêumcrescimento de 1,5% na despesa com medicamentos, é para cumprir. “Talvez se mantenham as regras anteriores nos casos não contemplados agora no despacho conjunto, como é o caso das compras [medicamentos e material clínico] mas realmente não sei”, disse Pedro Lopes. João Correia da Cunha, presidente do hospital de Santa Maria diz que o despacho conjunto vem dar “pistas concretas sobre como aplicar os cortes”, mas não esconde que persistem “algumas dúvidas”.
O entendimento entre os ministérios de Teixeira dos Santos e Ana Jorge serve, a prazo, para
orientar os gestores hospitalares no preenchimento das matrizes que terão de enviar às Finanças até dia 17 de Dezembro.Odocumento transversal a todas as empresas públicas prevê apenas que os hospitais contabilizem o impacto financeiro do corte com recursos humanos e fornecimento de serviços externos, pontos que o despacho de dia 30 de Novembro esclarece.
O impacto da contenção nas restantes rubricashospitalares só poderá ser avaliado quando estiverem concluídos os contratosprograma. “É preciso esperar para ver o que é que as Administrações Regionais de Saúde vão conseguir contratualizar em termos de produção, até porque já se sabe que os preços vão baixar”, lembra Pedro Lopes. Conforme avançou o Diário Económico, os hospitais vão receber menos 4% por cada acto médico praticado em 2011, sejam consultas, cirurgias ou internamentos, comparativamente com o valor que o Estado pagou este ano, diminuindo assim o valor global que o Estado transfere para oshospitais

DE 04.12.10

Esta redução de 15% vai implicar obrigatoriamente corte na oferta e baixa de qualidade de alguns serviços.
Tudo se conjuga para os liberais de pacotilha levarem avante a sua reforma liquidatária do SNS.

1:05 da manhã  
Blogger Joaopedro said...

Já se viu que Ana Jorge não vai ser capaz de defender o SNS.
Teixeira dos Santos faz o que for preciso para limpar a cara.
O SNS está pois à mercê dos liberais de pacotilha.
Aliás estamos todos à mercê dos liberais da UE que nos querem impôr a cartilha liberal.
Como diz o Tavisto no post anterior temos de saber resistir.
Chegou a hora de demonstrarmos o que valemos.

5:43 da tarde  
Blogger saudepe said...

No próximo ano tenho dois objectivos: cumprir a execução orçamental e não diminuir a actividade nem a prestação de cuidados. Farei tudo para que isso não aconteça. Não podemos reduzir o acesso à Saúde, mas podemos gerir a saúde das pessoas de uma forma diferente .

Ana Jorge, entrevista ao
Expresso, 27.11.10

Pedindo, por exemplo, às pessoas para não adoecerem.
Só pode...

6:04 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Acaba de ser noticiado que quem acumula salário e reforma, pode manter a acumulação até ao final do mandato. A lei que o proíbe só se aplica a situações futuras.
Mais uma pouca-vergonha a somar à da não tributação de dividendos antecipados pelo sector empresarial do estado e privados. Quando alguma medida mexe com os poderosos, logo há-de surgir um obstáculo legal, incontornável, que impede a sua aplicação.
Somos, com a Espanha, os países comunitários com maior fosso entre ricos e pobres. Não obstante, um governo socialista continua a proteger claramente os que mais têm num período difícil para a grande maioria dos portugueses. Nem que para tal seja necessário fazer calar a consciência, com a ameaça de demissão do líder do grupo parlamentar, dos deputados que ainda mantêm pudor ideológico.

Shame on you Mister Sócrates. Shame on you.

11:33 da tarde  
Blogger ochoa said...

O SNS vai ser liquidado pelas costas. À traição. Fazendo secar a fonte de financiamento.

12:35 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Maria meteu a primeira licença em 1998. “Fui para outro hospital ganhar mais 15%, mas o que me fez mudar foi o modelo de gestão mais dinâmico”. O contentamento durou cinco anos. “O hospital entrou em degradação, com uma pressão na procura que me obrigava a ver 30 doentes por dia”. Como a visão da medicina de Maria não é ‘à produção’ — “o médico tem de procurar fazer o seu percurso com as condições mais adequadas” —, voltou a mudar.
Regressou ao hospital de origem, depois saiu por três meses para uma unidade no Norte e a seguir para outra, sempre dentro do SNS. “Foi feito um acordo de empréstimo entre o meu hospital e a outra unidade, que cobria a diferença de ordenado, que era mais do dobro”. Um ano e meio depois, regressou ao ponto de partida, onde esteve até à atual colocação.
Ainda assim, garante que o seu exemplo não é comum. “A maioria dos meus colegas acumula público com privado”. E dá exemplos: “Um radiologista no privado ganha numa tarde o mesmo que num mês no hospital; tenho um colega obstetra que em dois dias no privado recebe €10 mil”. Mas nem esses profissionais quebram o ‘cordão umbilical’ ao Estado: só o SNS lhes pode atribuir graus de carreira.

Segundo os sindicatos, é clara a explicação para este expediente. “Uma administração que quer mais serviço tem de ter os médicos mais tempo, e de lhes pagar mais, e faz isso alterando o vínculo”, diz o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Carlos Arroz. A solução passa por “grelhas salariais decentes”, dizem Carlos Arroz e Mário Jorge Neves, vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos. Exigência difícil em plena crise.
Maria não parece preocupada. “A minha licença termina em 2017 e só aí terei de optar, mas acho que até lá o sistema estará totalmente desvirtuado. Hoje já quase não faz diferença perder o vínculo ao Estado porque os hospitais públicos têm regras de gestão privada e as carreiras médicas — que eram a marca do SNS —, na prática, não existem”.
O duplo vínculo laboral no SNS, licença sem vencimento e contrato, foi chumbado pelo Tribunal de Contas (TC) numa auditoria divulgada no fim de novembro. Os juízes são perentórios: “Devem os conselhos de administração garantir que da celebração dos contratos com profissionais de saúde a quem foi concedida licença sem vencimento, não advenham custos adicionais para as unidades hospitalares”. Os auditores afirmam que este mecanismo e outros do género “não se mostraram suficientes de forma a garantir uma gestão eficaz”, salientando que “entre 31 de dezembro de 2007 e 30 de junho de 2009, houve um acréscimo de 122 médicos em regime de funções públicas ou com contratos individuais de trabalho”. O TC detetou ainda que o atual sistema de recursos humanos “não permite obter informação sobre a situação jurídico-laboral dos médicos”, impedindo a correção “de potenciais situações de desperdício de dinheiros públicos”. Por isso, é sugerida a atualização da base e “a concertação na contratação de serviços médicos”.
Os administradores dos hospitais-empresa têm dito a Ana Jorge que as disparidades contratuais e salariais entre médicos são um ‘mal menor’ para “assegurar áreas com carências de especialistas”. A ministra compreende, mas admite: “Temos de pôr ordem nos vencimentos”. E a solução até já está pensada. Ana Jorge diz que “pode ser feito um despacho conjunto da Saúde e das Finanças para os EPE ou negociar uma tabela salarial com os sindicatos, mas resta um problema: não há dinheiro para esta negociação”. Ou seja, tudo indica que os gestores vão continuar a ter liberdade para ‘arrumar a casa’ como entendem. Ainda assim, a tutela diz que irá “fazer o que é possível”, prometendo responsabilizar mais os gestores e proceder a “um cálculo, quase hospital a hospital, do que está a acontecer e organizar o trabalho”. Ana Jorge (médica de profissão) defende que “as profissões nobres da saúde deviam ser reconhecidas em termos remuneratórios”, mas face à atual crise reafirma que “não há condições financeiras para o fazer”.

expresso 04.12.10

12:52 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home