domingo, julho 24

Isabel Vaz, quer mudar imagem das PPP

foto semanário expresso
Expresso (E):
O SNS está em causa?
Isabel Vaz (IV):
Os políticos têm de parar de usar o SNS como arma de arremesso, que é algo que considero uma falta de respeito extraordinária. E digo isto chateada! O SNS é uma coisa sagrada, é um direito civilizacional muito importante. Não pode ser maltratado desta maneira! E não estou só a falar do Governo central, mas também das autarquias que querem sempre tudo à porta de casa. E isso prejudica claramente esse direito, porque não vai haver nem dinheiro, nem qualidade para tudo.

(E): Contribuiu para o programa do governo e foi convidada para ministra da Saúde. Porque não aceitou?
(IV):
Neste momento essa é já uma questão ultrapassada, agora o que interessa é quem lá está e ajudar quem lá está a fazer um bom trabalho.

(E): Na parceria pública privada (PPP) do Hospital de Cascais os prejuízos sucedem-se e temos o director clínico (João Varandas) a dizer que fica com o Hospital. O que pensa disto?
(IV):
Depende do que a administração do hospital sabe sobre essas declarações. Se o dr. Varandas falou com a administração e era claro para eles que ele ia ter esse tipo de posiocionamento é uma coisa, se não falou, isso constitui uma quebra de lealdade. Mas reforço, não sei o que se passou. Mas conhecendo o dr. Varandas, que é uma pessoa frontal, provavelmente a administração estaria avisada. Além disso, tem vindo a público que os HPP vão ser vendidos e é preciso ver em que contexto é que surgem estas declarações.

(E): Estariam disponíveis para ficar com o contrato de gestão do Hospital de Cascais?
(IV):
Esse dossiê de privatização da área seguradora da Caixa de Depósitos é uma operação que temos interesse em analisar.

(E): Teme que os problemas nos hospitais de Cascais e Braga prejudiquem Loures?
(IV):
Para mim não é claro que as parcerias estejam a correr mal. Por exemplo, no Hospital de Braga sei que a produtividade aumentou e que a lista de espera diminuiu. Em Cascais o problema pode ser outro, antes havia um hospital decrépito – ou seja, a oferta estava restringida por esta via – e agora existe uma unidade fantástica. Se calhar a procura aqui foi mal calculada e aí o Estado tem que admitir que efectivamente terá que recalcular essa quota.
Excertos da entrevista da Eng.ª Isabel Vaz, semanário expresso, caderno de economia, 23.07.11

Na semana passada tivemos Varandas Fernandes, em bicos de pés, a clamar para si a viabilização do Hospital de Cascais. Esta semana foi a vez da engenheira Isabel Vaz confessar o seu profundo amor ao SNS: “O SNS é uma coisa sagrada, é um direito civilizacional muito importante.”

Nunca tínhamos visto nada assim. Sem entrar na análise dos conceitos desta declaração que mistura na mesma frase “coisa sagrada” e “direito civilizacional”, não deixa de ser surpreendente esta declaração. Ou, talvez não. Isabel Vaz sabe, agora, que o SNS está à sua mercê. Que é como quem diz: o acesso aos dinheiros públicos está facilitado. De molde a financiar a unidade PPP de Loures e a gestão de todos os hospitais públicos que a ESS conseguir ganhar no leilão que o Estado se prepara para levar a cabo. Transposta a barreira, em vésperas da tomada do sector público, a ideia de complementariedade do sector privado faz-nos soltar estrondosas gargalhadas.

Interessante o que Isabel Vaz refere sobre as declarações de Varandas Fernandes da semana passada, a quem atribui a qualidade de frontalidade. Para nós a frontalidade só faz sentido quando alicerçada em convicções. Quando actuamos em defesa das nossas convicções. Não é o caso. Varandas Fernandes navega na espuma dos dias, ao sabor do que lhe trouxer mais notoriedade e proveito. Pouco importando se se trata da presidência de uma unidade de saúde, a liderança de uma qualquer paróquia de aldeia, ou a presidência do glorioso Benfica.

Sobre o Hospital de Cascais, Isabel Vaz classifica-o de «unidade fantástica» . Talvez a pensar que muito em breve esta unidade, em processo de venda, poderá também fazer parte do seu universo gestionário. Operação que a ISS admitiu estar interessada em participar. E não perdeu oportunidade para relançar a discussão sobre a renegociação dos contratos PPP. De molde a alijar o risco “excessivo” destes contratos suportado pelos privados. Sempre nos pareceu que o êxito das PPPs se resolveria, ao fim e ao cabo, por golpes de secretaria. Ou seja, no aproveitamento das alternâncias de poder político.

Isabel Vaz não deixa de gabar também o rigor do modelo de contrato PPP. A nossa curiosidade está em saber que tipo de contrato vai o Estado utilizar nas anunciadas adjudicações de hospitais públicos ao sector privado.

drfeelgood

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8 Comments:

Blogger john watson said...

Fantastico Melga

Sempre imparavel a ingenheira. Consegue de uma penada "assassinar" politicamente o Dr. Joao Varandas, manter o conveniente enigma de que terá sido convidada para MS (utilizando mais uma vez os préstimos do único meio que alimentou esta delirante tese), "condescender" com a nova equipa, insinuar ser a grande "mentora" ideológica deste novo rumo para a "coisa sagrada", fazer caminho para a OPA aos HPP a preço de saldo, branquear o desastre das PPP's abrindo assim caminho para o que todos já sabíamos há muito: reestruturacao desses magnificos contratos ( tao bem feitos) para garantir que nada se perde tudo se transforma. Nada que amigos bem colocados, assessores bem escolhidos, uma ou outra promessa de empregos não ajude a resolver.

12:58 da manhã  
Blogger e-pá! said...

“O SNS é uma coisa sagrada”… Eng.ª Isabel Vaz, semanário Expresso, Economia, 23.07.11

"Sagrado" é palavra indo-européia que significa "separado". A sacralidade, portanto, não é uma condição espiritual ou moral, mas uma qualidade inerente ao que tem relação e contacto com potências que o homem, não podendo dominar, percebe como superiores a si mesmo, e como tais atribuíveis a uma dimensão, em seguida denominada "divina", considerada "separada" e "outra" com relação ao mundo humano. O homem tende a manter-se distante do sagrado, como sempre acontece diante do que se teme, e ao mesmo tempo é por ele atraído, como se pode ser com relação à origem de que um dia nos emancipamos…
In RASTROS DO SAGRADO, de Umberto Galimberti link

7:53 da manhã  
Blogger Tavisto said...

Nesta entrevista Isabel Vaz mostra ser uma pessoa com senso, ao recusar o convite para MS, e com sentido de oportunidade.
Esta extremosa declaração de amor ao SNS, para além de pretender dar uma visão pessoal progressista, visa dois objectivos:
- Declarar guerra ao programa assistencialista de Manuel Lemos /Cavaco Silva/CDS, procurando conjurar o perigo que representa para os grandes grupos económicos a exploração de parte do SNS pelo sector social através dos hospitais das misericórdias.
- Solidarizar-se com os demais detentores de PPP, mesmo com os de gestão ruinosa (o mal não está em quem gere mas no apertado caderno de encargos), procurando mostrar a excelência da gestão privada relativamente à pública (perdulária e ineficiente, apesar de beneficiada pela tutela).
Devido às dificuldades financeiras que atravessamos, a um programa da Troika que não questiona a gestão pública do SNS e põe em causa as PPP, para além de impor a auto-suficiência dos subsistemas públicos, Isabel Vaz sabe que o espaço para os grupos económicos pode ser mais estreito do que antecipavam com a mudança de governo.
Entretanto Paulo Macedo se não sabia ficou a saber que não foi o primeiro. Se isso lhe irá causar alguma mossa é coisa que não sabemos e pouco importa. Contudo, se é dos que gosta de se olhar ao espelho e perguntar: espelho meu, espelho meu há em Portugal ……. Que lhe sirva de consolo ter como alter-ego uma pessoa inteligente e arguta.

7:28 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Ministro da Saúde quer divulgar todos os meses o desempenho dos hospitais… link

Depois de a sua antecessora andar meses a fio a tentar apresentar as contas do MS é caso para dizer que não há fome que não dê em fartura…

11:09 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

«Declarar guerra ao programa assistencialista de Manuel Lemos /Cavaco Silva/CDS, procurando conjurar o perigo que representa para os grandes grupos económicos a exploração de parte do SNS pelo sector social através dos hospitais das misericórdias.»

Bem visto.
De qualquer forma vá o diabo escolha.
O que vemos é o SNS ser atacado por todos os lados com o patrocínio do PR e deste Governo.

Não comungo da opinião do Tavisto acerca da inginheira.
Em três acerta uma. O que é bastante pouco.

Também não compreendo a observação do John Watson acerca do Varandas Fernandes que não precisa da ajuda de ninguém pois este queima-se por si.

11:58 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Contudente

É isso mesmo. Este Governo tem de ser derrubado. Objectivamente vão-se criando as condições para que Portugal inicie um novo rumo. Um rumo inovador e regenerador. Um rumo que constitua um exemplo para todos aqueles que na Europa estão sofrendo um ataque sem precedentes aos rendimentos do seu trabalho. Um ataque que tem por único objectivo consolidar o capital e transformá-lo no pólo aglutinador de toda a riqueza nacional. link

12:02 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Quanto ao Dr. Varandas e aos (maus) resultados do hospital de Cascais não volto a pronunciar-me pois "perdeu-se" (admito que se tenha perdido) o comentário que fiz no momento oportuno.
Continuam os ataques não só às PPP mas também à Eng. Isabel Vaz.
Parecem-me pouco éticos os ataques pessoais e sobretudo quando baseados em factos não demonstrados.
E como conheço "muito boa gente" que sendo contra as PPP não deixou de ir ocupar lugares nos novos hospitais (e outros esperam a sua oportunidade) considero que está tudo dito.
Quanto às PPP são frequentemente rejeitadas, e atacadas, mais por motivações ideológicas e de defesa de interesses de classe do que por razões verdadeiramente sociais. Como sempre disse não vejo mal nas PPP desde que o Estado assuma, como deve, o papel de regulador, cabendo-lhe, sempre, definir a Política de Saúde.
E não foi por o PS ter sido governo que as PPP foram abandonadas; se a memória me não atraiçoa, com CC foram perspetivados novos HH-PPP.
As Parcerias, tal como as IPSS's/Misericórdias cabem no SNS enquanto Sistema Nacional de Saúde. E nesse sistema o Serviço Nacional de Saúde tem que continuar a ser um referencial pela universalidade e pela qualidade. Mas não tem que ser monopolista e muito menos continuar a conviver com ineficiência e desperdício.
A terminar uma breve referência às contas e indicadores dos HH e outros Seviços de Saúde. Como se continua a constatar, as contas têm sido apresentadas "tarde e a más horas", talvez porque "compor resultados" exige demoradas reflexões. Paulo de Macedo fará muito bem se exigir apresentação de resultados mensalmente. E tal nem sequer será inédito pois assim era no tempo de LFP com os HH SA's. E não é nada que se não possa (deva) fazer. Mas, mais do que ter resultados, é importante refletir atempadamente sobre os mesmos e tomar as medidas que se mostrem adequadas à sua melhoria (mesmo quando possa ter lugar a revisão de objetivos e substituição de responsáveis).

1:08 da manhã  
Blogger e-pá! said...

O Ministro e as "suas" circunstâncias…

Não deixa - apesar do longo silêncio - de ser inquietante a situação no sector da Saúde em Portugal.

O novo ministro aproveitou o ensejo das primeiras declarações públicas link para dar uma no cravo outra na ferradura...

Para Paulo Macedo há, para já, uma prioridade que é criar condições para que o SNS atravesse o actual “momento financeiro” sem que “sucumba nas suas dimensões de universalidade e qualidade” .

Alerta avisado já que contabilizou a actual dívida do SNS nos 3 mil milhões de euros e um défice orçamental (2010) próximo dos 450 milhões... e evitou "malhar do ferro frio", i.e., atirar-se às cegas à sustentabilidade. A postura política sobre as contas tem significado.

As soluções, aparentemente, são as mesmas (as que geraram esta volumosa dívida e o último défice): racionalizar e combater a fraude (antes era o desperdício).

Só que o horizonte de actuação "alargou-se" e assumiu-se como "ministro do sistema de saúde e não apenas do SNS"...
O que sendo formalmente correcto, e politicamente escorreito, dá direito a múltiplas interpretações. Uma delas - por mais malabarismos retóricos que se façam - tem a ver com o futuro da gestão das unidades públicas (do SNS).
A sua retracção quanto a este assunto, neste momento, será meramente circunstancial.
E as circunstâncias raramente são imperativas.

11:15 da tarde  

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