domingo, agosto 21

Despedimentos na Saúde

Para o Governo conseguir a redução de 200 milhões de euros nos custos operacionais dos hospitais...link

As pessoas vão ter de pagar mais pela saúde?

Vão aumentar as taxas moderadoras. Não vejo mal nenhum em que as taxas, que rendem uns escassos 100 milhões passem a render uns 250, 300 ou quase 400 milhões de euros. Mesmo que sejam os 400 milhões, num orçamento de quase 10 mil milhões, é muito pouco.

Até ao final de Setembro, o governo tem de levar a cabo cortes na despesa, essencialmente na saúde...

Os principais cortes já estão a ser feitos, que são nos medicamentos. E os reembolsos também, mesmo que volte atrás alguma coisa são cerca de 30 milhões. Nos medicamentos é possível baixar progressivamente qualquer coisa. Eu consegui deixar de crescer 340 milhões em cada ano, quase 680 milhões em dois anos. Acho que é possível ainda este ano os medicamentos sofrerem reduções. Nos hospitais é preciso juntar algumas medidas que já estão preparadas. Por exemplo, é possível diminuir o número de gestores, que são excessivos. Tudo porque no passado era preciso ter um médico, um enfermeiro e mais pessoas no conselho de administração. Pode ter-se conselhos de administração de apenas três pessoas.

O governo tem de apresentar medidas para alcançar uma redução de 200 milhões de euros nos custos operacionais dos hospitais...

É possível uma redução dessa ordem, mas primeiro é preciso conhecer bem os hospitais. Vai ser preciso fazer alguns despedimentos. Para se alcançar esses valores vai ser preciso convencer muitos dirigentes intermédios a fazer a sua contenção. Aqueles que não vão querer - há quem argumente que é antiético, muito pelo contrário, antiético é não fazer isso - o governo terá toda a legitimidade para os substituir.

Podem ser necessários mais despedimentos?

Acho que vai haver necessidade, sobretudo, de mudar os esquemas de gestão dos hospitais. Não ao nível macro, mas dentro de cada hospital, que é uma adição de serviços, que tem à frente um director de serviço e que tem muita liberdade para fazer despesa. Não tem muita liberdade para despedir pessoal - ou não quer usar para gerir bem o seu pessoal, outros gerem bem -, mas a grande liberdade que tem é gastar sem controlo. É necessário ainda mudar o estatuto remuneratório dos médicos. Em vez de ser um salário fixo compensado com horas extraordinárias - o que vai gerar horas extra em excesso, desnecessárias, com gente a mais - pode pagar-se com incentivos, variáveis e associados à produtividade. Isso é uma reforma difícil. Não se vai fazer num ano e não em todo o país, mas é preciso começar.

Os médicos não vão colocar muitos entraves?

Não tem muita contestação, porque houve muitas saídas de médicos para a reforma nestes dois últimos anos porque justamente não viam perspectivas dentro do hospital. E depois houve aquele pânico de que os serviços de saúde ficassem sem médicos e arranjou-se aquela fórmula artificial de ir buscar médicos à reforma. Tudo isso foi um processo de péssima gestão, mas enfim, não quero falar sobre um passado em que não sou responsável.

Os portugueses vão deixar de ter a saúde no SNS tal como agora?

O programa podia ter ido muito mais longe como impor co-pagamentos no momento do contacto. Nas taxas moderadoras, por exemplo, não propõem a sua mudança e a sua utilização. Não vejo que isso seja uma destruição do SNS. Li também o programa do governo e lá tem duas ou três frases que são um pouco mais ambíguas, agora não me parece que apontem para o desmantelamento do SNS. Finalmente, conhecendo a equipa, não creio que tenham sido convidados para o fazer.

entrevista a Correia de Campos,I, 20.08.11

Mais papista que o Papa:
Correia de Campos tem nesta entrevista afirmações - como a necessidade deste Governo efectuar despedimentos para conseguir a redução de despesa imposta pela Troika aos hospitais do SNS - que nem o ministro da saúde, Paulo Macedo ousaria, neste momento, fazer aos órgãos de comunicação social.
Descontada a necessidade permanente de protagonismo do ex-ministro da Saúde e o pico da "silly season" que atravessamos, penso ser lícito inserir esta intervenção na actual estratégia de capitulação do PS de António José Seguro. Ou na lógica de Bloco Central em todo o seu esplendor.
Seja como for, uma ajuda preciosa para o seu amigo ministro, Paulo Macedo. E para o Governo liberal-social de maioria liberal pacotilha.
Ao que chegámos !

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2 Comments:

Blogger Tavisto said...

Face às declarações de Correia de Campos e ao que se conhece do programa do PSD, é caso para dizer: em matéria de Saúde valham-nos as propostas da Troika.
Repare-se que Correia de Campos nada diz quanto à enorme poupança para os cofres do Estado que irá resultar da autonomização dos subsistemas públicos. A este respeito prefere salientar duas medidas que escandalizam: uma por ser contra-natura ao pensamento socialista – o aumento escandaloso das taxas moderadoras, incentivando mesmo à prática de co-pagamentos; outra pela inocuidade – reduzir em 1 ou 2 elementos os CA dos hospitais que poupança substantiva gera?

Correia de Campos revela ainda e uma vez mais, a sua faceta narcísica quando, questionado sobre a inevitável e desejável reforma hospitalar: Os médicos não vão colocar muitos entraves? Responde: “Não tem muita contestação, porque houve muitas saídas de médicos para a reforma nestes dois últimos anos porque justamente não viam perspectivas dentro do hospital. E depois houve aquele pânico de que os serviços de saúde ficassem sem médicos e arranjou-se aquela fórmula artificial de ir buscar médicos à reforma. Tudo isso foi um processo de péssima gestão, mas enfim, não quero falar sobre um passado em que não sou responsável”.

Ai que não é responsável. Não era por acaso Ministro da Saúde quando o governo aprovou a lei da reforma da administração pública que deixou ao livre arbítrio do trabalhador a decisão de reforma antecipada não cuidando de saber da necessidade do serviço público? Em abono da verdade há que dizer que Ana Jorge não gerou mas sim herdou uma situação de debandada dos médicos do SNS.

E que fez o senhor ex-ministro para melhorar a vida interna dos hospitais? A legislação aprovada ao tempo de Maria de Belém sobre CRI ficou no baú do esquecimento enquanto a vida interna dos hospitais se ia degradando. Não foi assim?

À debandada de profissionais do SNS quer agora acrescentar despedimentos! Pelo que sugere espera que sejam os directores de serviço a fazer a sangria dos que, apesar da falta de perspectivas profissionais que reconhece, ainda persistem em dedicar-se ao serviço público hospitalar.

2:16 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Quem tivesse acompanhado unicamente Correia de Campos nas últimas eleições e lido agora esta entrevista, concluiria, certamente, estar em presença de um mercenário da comunicação ao serviço de quem lhe possa pagar mais e melhor.
Como é possível CC produzir declarações tão chocantes em relação aos principios que até agora parecia defender relativamente às taxas moderadoras, reforma dos hospitais e despedimentos de profissionais da Saúde.
Não será, pois, surpresa para ninguém a nomeação, um dia destes, de Correia de Campos, por este Governo, para um qualquer cargo, nacional ou além fronteiras, comissão ou grupo de trabalho da Saúde.

5:05 da tarde  

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