Uma boa medida
Bastonário pede a directores dos hospitais dados sobre lista de espera para exames
No IPO de Lisboa, o corte nas horas extra limita a gestão das listas de espera. “A situação não é dramática, mas pode tornar-se dramática muito rapidamente”, teme o director clínico
O Ministério da Saúde não vai rever o recente despacho que proíbe os hospitais públicos de recorrerem ao sector convencionado para fazerem exames complementares de diagnóstico e terapêutica, antes de esgotarem a sua capacidade instalada. Há uma semana, a Ordem dos Médicos (OM) reclamou a suspensão deste despacho e a sua reformulação, alegando que a lista de espera para exames nos hospitais do SNS se estava a agravar, mesmo no caso de doentes oncológicos.
“Temos informação de muitos colegas de que está a haver consequências para os utentes. Os responsáveis [dos hospitais] estão a tentar arranjar soluções, mas estas são difíceis de concretizar no curto prazo”, afirmou então ao PÚBLICO o bastonário da OM, José Manuel Silva, notando que o aumento da capacidade de resposta do SNS é complicado numa altura em que, em simultâneo, se decretaram cortes nas horas extraordinárias e se impuseram restrições à contratação de “tarefeiros”.
“A situação reportada [de agravamento dos tempos de espera para exames] não condiz com a informação que temos recebido”, garantiu o ministério ao PÚBLICO. Por isso, “não está prevista qualquer revisão do despacho”. Face a esta recusa, o bastonário da OM decidiu agora pedir formalmente aos directores clínicos dos hospitais informações sobre as listas de espera para exames, nomeadamente TAC, ressonâncias magnéticas ou colonoscopias, entre outros. “Quero saber se os doentes estão ou não a fazer os exames atempadamente. Se o problema não existe, por que é que os hospitais faziam exames fora? Os doentes desapareceram por um passe de mágica?”, pergunta José Manuel Silva.
Informações contraditórias
As informações são contraditórias. O presidente da Federação dos Prestadores de Cuidados de Saúde, Armando Santos, afirmou que os hospitais estão a ficar entupidos devido a estas restrições. E deu o exemplo do Hospital de Santa Maria, onde, segundo refere, haverá actualmente “uma lista de espera de TAC e ecografias que excede os três mil exames”.
Uma informação que o presidente do conselho de administração do hospital, Correia da Cunha, desmente categoricamente. Sem deixar de admitir que há problemas, Correia da Cunha diz que está a estudar alternativas e as adaptações necessárias — o Santa Maria faz apenas 70% das TAC e 80% das ressonâncias magnéticas internamente. Uma coisa garante, porém: no entretanto, os exames com prioridade alta, caso dos doentes oncológicos, “não têm espera”.
No Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, apesar de não haver ainda atrasos para exames urgentes, o director clínico, Nuno Miranda, admite estar preocupado porque a unidade está “muito perto da capacidade total” e porque “não dá para esticar muito mais”. Não por causa do despacho de Agosto, mas devido aos cortes nas horas extraordinárias que limitam a capacidade de gestão das listas de espera e que não permitem esticar o horário até à meia-noite, como antes se fazia. “Neste momento, a situação não é dramática, mas pode tornar-se dramática muito rapidamente”, antevê Nuno Miranda, que vai propor à tutela a aquisição de um novo equipamento de ressonância magnética e mais um aparelho de TAC.
Vítor Veloso, da Liga Portuguesa Contra o Cancro, diz ter indicações de um agravamento no tempo de espera para a realização de exames na generalidade dos hospitais. Afirma mesmo que já há queixas de doentes, sem concretizar em que unidades tal se verifica. “A situação não é caótica, mas pode tornar-se caótica em breve”, considera.
Público 28/09/11
Em que ficamos! Há ou não há entupimento? Se há, qual a dimensão?
Seria bom que todos os directores dos hospitais tomassem a postura de Correia da Cunha. Esgotar a capacidade interna antes de recorrer ao exterior é uma regra basilar da boa gestão.
No IPO de Lisboa, o corte nas horas extra limita a gestão das listas de espera. “A situação não é dramática, mas pode tornar-se dramática muito rapidamente”, teme o director clínico
O Ministério da Saúde não vai rever o recente despacho que proíbe os hospitais públicos de recorrerem ao sector convencionado para fazerem exames complementares de diagnóstico e terapêutica, antes de esgotarem a sua capacidade instalada. Há uma semana, a Ordem dos Médicos (OM) reclamou a suspensão deste despacho e a sua reformulação, alegando que a lista de espera para exames nos hospitais do SNS se estava a agravar, mesmo no caso de doentes oncológicos.
“Temos informação de muitos colegas de que está a haver consequências para os utentes. Os responsáveis [dos hospitais] estão a tentar arranjar soluções, mas estas são difíceis de concretizar no curto prazo”, afirmou então ao PÚBLICO o bastonário da OM, José Manuel Silva, notando que o aumento da capacidade de resposta do SNS é complicado numa altura em que, em simultâneo, se decretaram cortes nas horas extraordinárias e se impuseram restrições à contratação de “tarefeiros”.
“A situação reportada [de agravamento dos tempos de espera para exames] não condiz com a informação que temos recebido”, garantiu o ministério ao PÚBLICO. Por isso, “não está prevista qualquer revisão do despacho”. Face a esta recusa, o bastonário da OM decidiu agora pedir formalmente aos directores clínicos dos hospitais informações sobre as listas de espera para exames, nomeadamente TAC, ressonâncias magnéticas ou colonoscopias, entre outros. “Quero saber se os doentes estão ou não a fazer os exames atempadamente. Se o problema não existe, por que é que os hospitais faziam exames fora? Os doentes desapareceram por um passe de mágica?”, pergunta José Manuel Silva.
Informações contraditórias
As informações são contraditórias. O presidente da Federação dos Prestadores de Cuidados de Saúde, Armando Santos, afirmou que os hospitais estão a ficar entupidos devido a estas restrições. E deu o exemplo do Hospital de Santa Maria, onde, segundo refere, haverá actualmente “uma lista de espera de TAC e ecografias que excede os três mil exames”.
Uma informação que o presidente do conselho de administração do hospital, Correia da Cunha, desmente categoricamente. Sem deixar de admitir que há problemas, Correia da Cunha diz que está a estudar alternativas e as adaptações necessárias — o Santa Maria faz apenas 70% das TAC e 80% das ressonâncias magnéticas internamente. Uma coisa garante, porém: no entretanto, os exames com prioridade alta, caso dos doentes oncológicos, “não têm espera”.
No Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, apesar de não haver ainda atrasos para exames urgentes, o director clínico, Nuno Miranda, admite estar preocupado porque a unidade está “muito perto da capacidade total” e porque “não dá para esticar muito mais”. Não por causa do despacho de Agosto, mas devido aos cortes nas horas extraordinárias que limitam a capacidade de gestão das listas de espera e que não permitem esticar o horário até à meia-noite, como antes se fazia. “Neste momento, a situação não é dramática, mas pode tornar-se dramática muito rapidamente”, antevê Nuno Miranda, que vai propor à tutela a aquisição de um novo equipamento de ressonância magnética e mais um aparelho de TAC.
Vítor Veloso, da Liga Portuguesa Contra o Cancro, diz ter indicações de um agravamento no tempo de espera para a realização de exames na generalidade dos hospitais. Afirma mesmo que já há queixas de doentes, sem concretizar em que unidades tal se verifica. “A situação não é caótica, mas pode tornar-se caótica em breve”, considera.
Público 28/09/11
Em que ficamos! Há ou não há entupimento? Se há, qual a dimensão?
Seria bom que todos os directores dos hospitais tomassem a postura de Correia da Cunha. Esgotar a capacidade interna antes de recorrer ao exterior é uma regra basilar da boa gestão.
Tavisto
Etiquetas: Reformar o SNS, Tá visto
1 Comments:
Direcção da ANF demite-se (link)
João Cordeiro, na minha opinião o melhor lobista português, demitiu-se hoje, juntamente com a direcção da Associação Nacional de Farmácias. Em causa, as medidas publicitadas hoje pelo Governo com vista à redução do preço dos medicamentos.
A moral desta demissão pode ser duvidosa para o cidadão em geral, face aos objectivos da medida do Conselho de Ministros. Acredito que a opinião pública não seja muito condescendente com os demissionários, mas muitos farmacêuticos chorarão baba e ranho pela perda.
Se se vislumbra um combate sério aos lobbies da Saúde, então nada a opor.
Se se trata de uma encenação tipo "assim não brinco !" ... aguarde-se o resultado.
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