Para que nos serve este PS?
«A abstenção na votação do OE 2012, o orçamento do empobrecimento desigual, da desvalorização salarial e social, a antítese da social-democracia, indica que a nova direcção do PS já desistiu de dizer qualquer coisa de esquerda, qualquer coisa civilizada, qualquer coisa. Já desistiu do país. O definhamento é seguro.» link
Etiquetas: raiva a nascer
3 Comments:
Sim, os gregos terão falsificado estatísticas e exageraram no Estado social que construíram. Sim, são eles em primeiro lugar os culpados pelos problemas que enfrentam. Mas a Europa em geral e a Alemanha em particular têm uma pesadíssima responsabilidade no drama que se desenrola no berço da democracia. Berlim adiou até ao limite a ajuda à Grécia, permitindo que a ferida gangrenasse, contagiasse outros países e se tornasse uma ameaça para a União. E quando finalmente a ajuda chegou, a pulsão punitiva bávara esmagou a racionalidade económica. E assim a Grécia entrou numa cornucópia recessiva, em que a austeridade gera recessão e esta exige mais austeridade conduzindo a mais recessão. Mas o referendo sobre as medidas de austeridade anunciadas pelo primeiro-ministro George Papandreu não é o responsável pela situação a que a Europa chegou. Angela Merkel e Nicholas Sarkozy são os principais culpados de terem conduzido a União até à beira do abismo, com decisões calculistas e timoratas, tomadas a reboque dos acontecimentos e sob pressão destes. Sem a grandeza nem a visão dos grandes estadistas que construíram o sonho europeu, Merkel e Sarkozy ficarão na História por terem conduzido a Europa à sua desintegração — e, quem sabe, a uma nova guerra.
Nicolau Santos, expresso 05.11.11
Quando ouvi o PR dizer que o Governo poderia ter ido longe de mais nos cortes orçamentais e a falar em iniquidade social pelo tratamento discriminatório dos funcionários públicos, pensei: aqui há gato. Então Passos Coelho não terá apresentado e discutido previamente o orçamento com Cavaco Silva! Será isto possível ou tratar-se-á apenas de uma grande encenação? Terá sido esta a fórmula encontrada por ambos para, através de um orçamento de míngua, indo muito além das exigências da Troika, deixar folga a alterações na especialidade e, desta forma, permitir ao PS abster-se e lavar a face?
Quando ouço José Seguro defender a abstenção do PS e dizer que tudo fará para que pelo menos um dos subsídios não seja cortado aos funcionários públicos e Miguel Relvas acolher esta possibilidade, pergunto-me: Como pode o líder do PS caucionar esta encenação que pretende levar os portugueses a aceitar o processo reaccionário em curso? Como bem designou Vasco Lourenço esta política de direita em recente entrevista a Maria Flor Pedroso.
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Se é verdade que o anúncio do referendo grego veio baralhar as contas ou, nas palavras da senhora Merkel, “alterou profundamente a situação psicológica”, no essencial serviu para mostrar que a crise da dívida soberana é uma verdadeira arma de destruição maciça. Está a destruir, como se fossem peças de um jogo de dominó, as economias europeias e está a destruir, um a um, governos nacionais, sem escolher cor política.
É manifesto que Papandreu se moveu por motivações políticas internas, incapaz de recusar a solução da cimeira da semana passada, ficou preso entre uma maioria parlamentar em decomposição e um apoio popular já inexistente, mas a sua decisão foi reveladora de que, por um lado, há limites para sacrifícios punitivos e, por outro, de que uma crise sistémica necessita de respostas sistémicas.
A crise da dívida soberana indica que há uma dívida do soberano e, como é evidente, em democracia, uma das prerrogativas do soberano é decidir, nomeadamente, não pagar. Ora, a curta história das democracias liberais ensina-nos que nunca foi possível sustentar liberdades em contextos de degradação sistemática das condições materiais, baseados numa punição, ainda mais de contornos morais, imposta desde fora. O que a Europa tem feito à Grécia só pode acabar mal, resta saber quando e como é que vai acabar. Até agora tivemos um ‘choque positivo’ com o referendo, depois um espectro de demissão e finalmente negociações para um governo de unidade nacional. Evidentemente, não vai ficar por aqui.
Mas se os limites aos sacrifícios em democracia não são surpresa, não deixa de causar estranheza que uma economia que representa apenas 2% da zona euro possa colocar em risco toda a economia europeia. Quando isso acontece, é porque o problema não é apenas grego, português, irlandês e agora italiano, mas, sim, estrutural. E um problema estrutural não se resolve com o conjunto de analgésicos prescritos na cimeira.
Não é fácil descortinar virtualidades no que se passou esta semana, mas, ainda assim, ficou demonstrado como a democracia é uma arma de último recurso ao serviço dos fracos. A sucessão de jogadas de alto risco de Papandreu revelou que a Grécia tem, ao seu alcance, o poder de fazer colapsar a economia europeia. Talvez depois desta experiência, o eixo Merkozy tenha compreendido que o risco que paira sobre os credores é real e que a Grécia somos todos nós.
Pedro Adão e Silva, expresso 05.11.11
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