Trapalhadas, therbligs e tayloristas.
A referência aos textos do Dr. José Azevedo, suscitou-me a leitura de alguns artigos seus publicados no site do Sindicato.
Num deles deparei-me com este naco de prosa:
“Outro aspecto importante, na era actual, e que faz parte dos dados lançados, é a criação de um grupo de estudo da redefinição de tarefas, nos cuidados primários. A partir daí deve haver a reorganização do trabalho dos vários técnicos, sobretudo, no conceito de posse de cliente, através do famigerado "médico de família", chavão que não tem significado real, dado que ao redefinir as tarefas assistências fica a saber-se, onde começa e acaba o exclusivo possessivo do "médico de família", para entrar o contributo essencial e substancial de outros, nomeadamente o dos Enfermeiros.
É óbvio que a redefinição implica classificação média de tempos e movimentos, como dizem os "Tayloristas", nos famosos "terblig", onde os 1750, 1900 ou 2000 clientes por médico de família deixam de fazer sentido, dada a frequência escassa das visitas, ao médico de família, a singeleza das tarefas executadas por este e a imprecisão dos números, que são fantasmagóricos, porque ultrapassam a população real!”
Confesso a minha dificuldade em interpretar o texto que acabei de citar. O problema é, com certeza, meu, que não consigo atingir o elaborado raciocínio do Filósofo.
Mas não deixo de ficar perplexo com a imagem dos “therbligs” que aparecem aqui associados a Taylor, quando, na realidade foram concebidos por Gilbreth (a sua designação resulta aliás do sobrenome invertido do autor, ligeiramente modificado).
Muito embora tivessem trabalhado na mesma área, caso Gilbreth fosse vivo e o Dr. Azevedo lhe chamasse Taylorista era capaz de o mandar processar.
Taylor estava preocupado principalmente com a redução do tempo dos processos numa perspectiva de aumento do lucro, enquanto Gilbreth procurava tornar os processos mais eficientes visando, segundo o próprio, o bem-estar dos trabalhadores, reduzindo a quantidade de movimentos envolvidos.
Reza a história que as relações entre ambos não foram as melhores.
Agora, o que acho espantosamente apropriada é a imagem do Dr. Azevedo. Todos nós estamos habituados a ver analistas do trabalho, de cronómetro na mão, a medir os tempos das tarefas elementares de Médicos e Enfermeiros…
Valha-nos Deus: Taylor morreu há quase 100 anos. Tanta água correu debaixo das pontes! Mesmo no mundo industrial quantas mudanças não aconteceram. Quem é que hoje se atreveria a escrever “Um dos requisitos principais para um homem ser capaz de manusear a gusa, regularmente, é o de ser tão estúpido e fleumático que mais se pareça mentalmente com um bovino do que com qualquer outra espécie animal” (Taylor).
Mas pode ser que o Dr. Azevedo tenha alguma razão. E que se depare com algum desalmado que ache que a tarefa mais importante a fazer, na Saúde, é a racionalização do trabalho, no estrito sentido Taylorista.
Se tal acontecer permita-me um conselho: mande-o ler O´Neill: “Dize tu: Já começou, porém, a racionalização do trabalho. Direi eu: Todavia o manguito será por muito tempo o mais económico dos gestos!”
Brites
Etiquetas: Cromos
4 Comments:
"Todos nós estamos habituados a ver analistas do trabalho, de cronómetro na mão, a medir os tempos das tarefas elementares de Médicos e Enfermeiros…"
Quantos aos médicos não sei, mas se consultar a bibliografia sobre índices de carga de trabalho aprenderá umas coisas: Algumas siglas a recordar... NEMS, TISS, NAS, SCD...
Mas já agora também me poderia elucidar como são calculados os recursos humanos num qualquer serviço ou instituição...
Tenho,com certeza, muito a aprender sobre índices de carga de trabalho.
Dada a minha ignorância,e caso esteja efectivamente interessado numa resposta cabal à pergunta que me faz, estou certo que o(a), Enfermeiro(a) Director(a) de qualquer Hospital o informará muito melhor do que eu.
Cordiais saudações.
Caro Mauro,
Pensei que o sr enfermeiro nos ia elucidar.
Afinal... ficou-se pelas siglas.
Se os comentários não fossem filtrados... Agora assim é tornar desigual o debate...
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