Portugal, paraíso fiscal
O FALSO DILEMA “MENOS SAÚDE, EDUCAÇÃO E SEGURANÇA SOCIAL OU
MAIS IMPOSTOS”link
O dilema de Vítor Gaspar, repetido por ele e por todo o
governo, e papagueado nos media pelos seus defensores, de “Menos saúde,
educação, e segurança social, ou mais impostos”, tem a mesmo credibilidade que
as previsões do governo e da “troika” que sempre falham, ou seja, não tem fundamento real nem credibilidade
técnica. É mais uma mentira ideológica que tem como objectivo a manipulação da
opinião pública para o governo e FMI poderem mais facilmente destruir os
sistemas públicos de educação, saúde e segurança sociais fundamentais para os
portugueses, pois a sustentabilidade financeira das funções sociais do Estado
não depende apenas da sua dimensão como pretendem fazer crer, mas fundamentalmente
de outros factores como vamos mostrar.
A “espiral recessiva”, de que falou Cavaco Silva, causada
pela politica de austeridade fortemente recessiva tem determinado uma
diminuição enorme das receitas fiscais do Estado e das contribuições para a Segurança
Social agravando as suas dificuldades
financeiras, e pondo em causa a sustentabilidade financeira das funções sociais
do Estado. Entre 2011 e 2012, segundo o Ministério das Finanças, as receitas
fiscais do Estado e as contribuições para a Segurança Social diminuíram em
3.001 milhões €. Em relação ao OE-2012 inicial do governo a quebra é de 3.833,6
milhões €, um valor praticamente igual àquele que o FMI e governo pretendem
agora cortar o que mostra, por um lado, que se existisse crescimento económico
tais cortes não se colocavam e, por outro lado,
a ignorância deste governo em relação
à forma como funciona a economia e a sociedade portuguesa. Este enorme
erro de previsão está associado a outros com consequências dramáticas para os
portugueses. A divida pública não para de aumentar tendo atingido, em Dez.2012,
124% do PIB, e os juros dela 6.843 milhões € em 2012. Como consequência da
política de destruição da economia, a despesa com o subsidio de desemprego
aumentou para 2.593 milhões € em 2012. É esta situação, provocada por uma
politica irresponsável e destruidora, que põe verdadeiramente em causa a
sustentabilidade financeira das funções sociais do Estado.
No entanto, a criação de uma situação financeira
insustentável para as funções sociais do Estado não é feita apenas desta forma.
Ela também resulta de perda de enormes
receitas fiscais pelo Estado. Como consequências das múltiplas deduções no
rendimento e de variadíssimos benefícios fiscais de que gozam nomeadamente as
grandes empresas em Portugal, o lucro dado pela contabilidade (lucro
contabilístico) declarado à Administração Tributária pelas empresas foi, em 2008,
de 30.213 milhões €, mas o lucro sujeito a IRC foi apenas 17.594 milhões €
(58,2% do total); em 2009, o lucro contabilístico atingiu 30.232 milhões €, mas
o lucro sujeito a IRC foi apenas de 16.893 milhões € (55,7% do total); e
finalmente em 2010, último ano em que
foram divulgados dados, o lucro total dado pela contabilidade atingiu 49.855
milhões €, mas o lucro sujeito a imposto foi apenas 15.150 milhões € (30,4% do
total). Se calcularmos a percentagem que o IRC cobrado em cada um daqueles anos
representa do lucro obtido pela contabilidade obtém-se as seguintes taxas efectivas de IRC: 2008: 19,6%; 2009: 15%; 2010: 8,6%. O Estado arrecadou nos três anos(2008/2010)
14.764 milhões € de IRC, mas se tivesse aplicado a taxa legal de IRC (25%)
sobre o lucro contabilístico teria obtido 27.598 milhões € de receita, ou seja, mais 86,9%. A agravar
esta situação de perda de receita, há ainda a acrescentar os rendimentos transferidos
para o estrangeiro que não pagam impostos em Portugal, causando elevados défices
na balança de rendimentos de Portugal que não têm diminuído desde a tomada de
posse deste governo e a intervenção da “troika”.
No período 2000/Novembro 2012, o saldo negativo acumulado da
balança de rendimentos atingiu 71.178 milhões € (o governo gaba-se da redução
do défice da balança comercial, mas ignora e esconde este que é mais grave).
Este gigantesco défice resulta de transferências maciças de rendimentos (riqueza
criada em Portugal) para o estrangeiro. Só neste período (2000/Novembro 2012) foram transferidos
para o exterior 175.398 milhões € de rendimentos que tiveram como origem investimentos directos em empresas, aplicações em acções e outras de natureza financeira
(lucros, juros, mais-valias, etc.) que não pagaram qualquer imposto em Portugal,
o que agravou a situação financeira do Estado e das suas funções sociais.
E isto acontece porque a lei fiscal
portuguesa continua a isentar esses rendimentos do pagamento de impostos no
nosso país, apesar de serem gerados no nosso país, como se prova através de
normas do Código do IRC e do Estatuto dos Benefícios Fiscais que se analisam à
frente. Qualquer português paga 28% de imposto em tais rendimentos mas aqueles
“senhores” não pagam nada. E o governo e o FMI pretendem baixar o IRC. A eliminação
destas injustiças, aumentaria a justiça fiscal, e contribuiria para garantir as
funções sociais.
Um dado para reflexão. Segundo o Eurostat, a divida pública portuguesa atingiu, em Setembro-2012, o gigantesco
valor de 201.003 milhões €. Se Portugal tivesse de pagar por ela uma taxa de
juro de 4,891%, os encargos só com juros atingiriam 9.831 milhões € por ano, o
que seria insustentável para o país (seria muito superior ao que o Estado gasta
com o SNS ou com a educação). Mas o governo e os seus defensores nos media,
procurando manipular a opinião pública, dizem que foi um êxito a emissão de
mais 2.500 milhões € de divida com tal taxa. Para os grupos financeiros uma taxa
de 5% é um negócio altamente lucrativo (daí a procura exceder a oferta) quando
a taxa paga pela Alemanha é entre 0% e 1%.
Eugénio Rosa
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