quarta-feira, maio 15

HH EPE, benchmarking


Pela primeira vez o Ministério da Saúde vai divulgar um estudo que compara os indicadores de eficiência de todos os hospitais-empresa (EPE). São 32 centros hospitalares (C.H.) e hospitais cujos gastos foram analisados à lupa.  
Objectivo: “explicar diferenças de acesso, qualidade e desempenho económico-financeiro” e “avaliar o potencial de melhoria de cada hospital em cada uma das principais área de actuação”. Por outras palavras, a partir destes dados, o Ministério da Saúde pode pedir aos hospitais com maior nível de despesa que tomem medidas de corte para conseguirem chegar aos valores apresentados pelas unidades mais poupadas, resultando numa poupança de 438 milhões de euros até ao final de 2015.
O relatório a que o Diário Económico teve acesso tem a data de 8 de Maio é ainda uma versão provisória (o documento oficial deverá ser divulgado nos próximos dias), mas permite perceber que existem grandes assimetrias nos custos dos hospitais, mesmo naqueles com características mais semelhantes.
Por exemplo,no grupo dos seis maiores hospitais do país, o C.H. Universitário de Coimbra gasta 3.014 euros por cada doente que trata, mais 254 euros do que no C.H. Lisboa Ocidental (São Francisco Xavier e Egas Moniz). Se olharmos para indicadores de produtividade, é no C.H. de São João (Porto) que os médicos são mais produtivos. Já em questões de acesso a cuidados de saúde é no C.H. Lisboa Central (S. José, Estefânia, Sta. Marta e Curry Cabral) e no C.H. de São João que a percentagem de consultas e cirurgias realizadas em tempo adequado é maior (ver infografia).
O Diário Económico questionou o Ministério da Saúde sobre o papel futuro desta comparação, mas fonte oficial do gabinete de Paulo Macedo disse apenas que “não reconhece qualquer outro documento que não seja a versão que, a seu tempo,será divulgada”.
O memorando assinado entre o Governo português e a ‘troika’ prevê a realização do ‘benchmarking’ (comparação com a referência) em vários indicadores sobre a actividade dos hospitais.
O relatório promete gerar polémica, a começar pela qualidade dos dados que servem de base à comparação, que já está a ser contestada pelos hospitais com base na notícia publicada ontem pelo Diário Económico.
O Centro Hospitalar de São João divulgou ontem uma nota esclarecendo que “alguns dos dados constantes no relatório (ainda preliminar) da Administração Central do Sistema de Saúde [ACSS] são, no que diz respeito ao Centro Hospitalarde São João, falsos, principalmente porque o número de doentes-padrão está errado, o que condiciona erros em todos os indicadores que dependem deste número”.
Em declarações ao Diário Económico o presidente do hospital, António Ferreira, reconhece que este é um documento “fundamental” para que os hospitais possam aprender uns com os outros, implementando medidas de eficiência. Contudo, ressalva António Ferreira, para que o relatório seja de facto uma boa base de trabalho é preciso “assegurar o rigor absoluto dos dados”. E os dados preliminares da ACSS não reflectem a realidade do São João, cujos indicadores de despesa são até mais baixos, alega o presidente.
Outra “fragilidade” apontada ao relatório é a própria comparabilidade entre hospitais que prestam serviços diferentes. Um gestor hospitalar ouvido pelo Diário Económico, que preferiu não ser identificado, lembra que apesar do Santa Maria e do São João estarem no mesmo grupo de comparação, o primeiro trata doentes com VIH/Sida (cujos tratamentos são muito caros) e o segundo não.
A ACSS reconhece no relatório que o indicador de “doente-padrão” “não incorpora as especificidades particulares de toda a carteira de serviços das entidades hospitalares”, remetendo para uma análise mais detalhada.
E a qualidade do serviço?
O terceiro ponto, e talvez o mais crítico, é que o relatório olha apenas para os custos não tendo em conta os resultados em saúde. “Será que os hospitais com melhores indicadores económico-financeiros são aqueles que garantem maior qualidade?”, lança o mesmo gestor hospitalar, continuando: “Posso ter um hospital muito poupado mas onde a taxa de infecções hospitalares ou de mortalidade é alta”, alerta.
Este ponto da discussão lança a “pergunta para um milhão de euros”: se os hospitais menos eficientes forem obrigados a cortar custos para chegar à mesma despesa dos mais eficientes, a qualidade e o acesso dos doentes aos cuidados de saúde sairão prejudicadas?
Ninguém arrisca para já uma resposta.
DE 14.05.13
Ou nos enganamos muito ou esta espécie de borda-d´água hospitalar vai dar muito que falar.

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1 Comments:

Blogger Carlos Ribeiro said...

Uma ressalva relativamente ao comentário do gestor/ Administrador hospitalar do Santa Maria: O Centro Hospitalar São João trata doentes - em nº considerável - que têm o VIH.
Lamento que este tipo de citações anónimas sejam citadas sem serem comprovadas.

6:20 da tarde  

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