Promiscuidade público/privado
Responsável clínico da unidade lisboeta lançou empresa que
contratava médicos de hospital público para enviar doentes. Tribunal de Contas
alerta para "situações de incompatibilidade".
Catarina Gomes, Público - sábado,
09 Novembro 2013 link
Uma notícia cuja leitura se recomenda. Não tanto pela
novidade, pois a situação já tinha sido denunciada anteriormente, mas pelas
justificações dadas pelo principal visado e, mais que tudo, pelas palavras do
Presidente da ARSLVT.
Cunha Ribeiro diz desconhecer a situação. O que significa
que, a ser verdade, ignorou o relatório do TC que alertava para os graves
conflitos de interesses verificados nas relações Cruz Vermelha/SNS. Quanto à
recomendação do TC para que os médicos passassem a ter como prática a apresentação
de declaração de conflitos de interesses, argumenta que aplicá-la só à Cruz
Vermelha seria discriminatório pois o Estado tem milhares de convenções com
outras entidades, rematando com a evidência “a lei portuguesa permite que um
médico trabalhe de manhã num hospital e à tarde numa das instituições privadas
com quem o Estado mantém convenções. Há milhares de situações destas”.
Escamoteando o facto do acordo Estado/Cruz Vermelha
estabelecer expressamente que, transcrevo da notícia “ é proibido que pessoal
médico exerça funções nesta unidade e, ao mesmo tempo em hospitais públicos nas
áreas médicas abrangidas pelo acordo”, nem se pronunciando sobre o que pensa
desta permissividade público/privada generalizada, Cunha Ribeiro acaba por vir
dizer que o rei vai nu. E, pergunto eu, não é mais que tempo de o cobrirem?
Porque não se estende os termos do acordo Estado/Cruz
Vermelha a todos os hospitais privados e da rede social? Estabelecendo-se, o
que inexplicavelmente não foi cumprido com a Cruz Vermelha, a exigência de que
um hospital só possa estabelecer convenções numa dada área com o SNS se não
tiver profissionais do SNS a exercer funções na área médica abrangida pelo
acordo.
Quantos mais casos de polícia terão de vir a público para
que se chegue à conclusão que é preciso pôr cobro ao insustentável conflito de
interesse na área da Saúde? Não será este um assunto quente numa futura reforma
do Estado feita por gente séria e com sentido ético?
Tavisto
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