terça-feira, janeiro 21

A máquina de fingir

O radicalismo dos chacais
O governo julgou que a melhoria de meia dúzia de indicadores lhe permitira ufanar na criação de uma nova narrativa capaz de fazer esquecer a destruição do país, das pessoas e das empresas levada a cabo, de uma forma aleatória e incompetente, pelo agrupamento de néscios que, ao longo destes dois últimos anos, foram acompanhando esse verdadeiro saltimbanco político que dá pelo nome de Pedro Passos Coelho.
A excitação despertada por esta nova narrativa fez com que a turba se tenha descontrolado numa azáfama de disparates e asneiras como há muito não se via. O ex-maoísta da Educação e da Ciência conseguiu, de uma penada, demonstrar como a ignorância, o rancor e a falta de senso são perigosas na política. Depois de se ter entretido a destruir a Escola pública, desprezando os seus fundamentos e a sua importância estratégica fez, como referiu Sobrinho Simões, o exultante exercício de destruição maciça da investigação e da produção científica em Portugal. Sempre bem acompanhado pelas tolices dos jotas do CDS que chegaram a propor a regressão da escolaridade obrigatória e dessa luminária incandescente investida de ministro da Economia cujo entendimento do que é ciência se confina no estreito espaço de um copo de cerveja.
Há que referir que em matéria de tolice de jotas tivemos segunda dose com a rábula de cinismo canalha ensaiado recentemente a propósito do processo da co adoção.
Entretanto, na saúde, tudo como dantes, a não ser que emergiram, pela primeira vez, de forma nítida sinais de descontrolo da máquina de fingir que tão bem oleada se tinha revelado nos últimos dois anos. Na verdade o papel do polícia bom e do polícia mau ensaiou diversos tipos de gaffes, por todo o país começaram a despontar os sinais cruéis de uma “política” cega, acrítica, voluntarista e irresponsável que nos quis transmitir a ideia de que o SNS era assim uma espécie de reino da grande farra com desperdício à tripa forra perante o qual apenas faltaria um “mão dura” e um ar mal disposto para de um ano para o outro transformar e resolver os problemas de uma penada.
Confundiram-se os planos, misturou-se desperdício e fraude com subfinanciamento, destruíram-se as organizações e as pessoas, dilacerou-se a rede pública, nomearam-se uns quantos cavaleiros do Apocalipse para gerir os hospitais e investiu-se tudo na sedução de uns quantos comentadores e opinion makers para irem alimentando a ladainha.
Sempre que apertados pela verdade ou pressionados pelo Bastonário lançavam para cima do prime time as requentadas, repetidas e exauridas notícias de fraude entre médicos, farmacêuticos e indústria. Se os hospitais rebentavam ou davam sinais de crise falava-se de picos, da ignomínia dos utilizadores que em vez de ligarem para a Linha (agora low cost e destruída) Saúde 24 e, in extremis, repetia-se o pagamento de 1,9 mil milhões de dívidas ocultando o estado atual do défice e da dívida certamente por vergonha do insucesso após tanto corte.
Claro que neste contexto regressam os abutres, aliados deste governo e desta política, pontos a servir-se a seu bel-prazer de um SNS em avançado estado de decomposição.
Chegados ao fim só nos resta esperar que o relógio do Porta acelere o tempo.

 Carlos Silva

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