Do estado de graça ao fio da navalha?
O ministro da
saúde (MS) é considerado uma das estrelas do governo e beneficia de imagem
pública favorável. Esse benefício construiu-se através da comunicação social
(CS), a qual foi bem trabalhada desde o início pelo ministério, e pela
convicção que foi sendo incutida na população de que o MS era diferente dos
demais, pois não favorecia os grandes grupos, antes cortava a direito em defesa
da sustentabilidade do SNS.
O MS procurou
ganhar a opinião pública com medidas efetivas – cortes nos «grandes
beneficiados» (laboratórios farmacêuticos, farmácias e produtores de exames),
combate à fraude e cumprimento do memorando – e com promessas de reforma dos
hospitais e das urgências e da atribuição de médico de família a cada
português. Na verdade, ao invés da veia reformadora implícita nas promessas,
optou por gestão casuística de cariz exclusivamente financeiro, centralizando a
decisão e desvalorizando a gestão das instituições de saúde, como se estas
fossem serviços simples quais repartições de finanças.
Fugiu a sete
pés da reforma estrutural tão necessária e substitui-a por cortes sistemáticos,
efetuados transversalmente no SNS, indo para além da Troika e sem cuidar de
distinguir as performances e as situações particulares. Esta opção, que teve
consequências duras para os doentes e profissionais, assentou na convicção de
que o SNS era só desperdício pelo que se justificavam cortes sucessivos e a
eito nos serviços, nos medicamentos e nos exames, acompanhados por aumento de taxas
moderadoras e por redução de direitos dos doentes (ex. transportes).
Mas foi longe
de mais nesses cortes, daí os problemas que a comunicação social tem reportado
(quadro).
Quadro: Ai aguentam, aguentam!
Problemas
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Causas principais
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1- Atendimento urgente
Confusão com cenário terceiro mundista nas urgências:
tempos de espera muito elevados, doentes m 3 dias em macas no corredor. VMER
imobilizadas, Saúde 24 em pé-de-guerra para lá caminha…
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a) Cortes
excessivos nas remunerações e horas extra; b) Saída de profissionais sem
substituição (só IPO esperam por recrutamento de mais de 100 profissionais);
c) Cuidados primários com resposta insuficiente; d) Picos de afluência com
problemas da época; e) Objetivos financeiros são os únicos que
importam no MS; f) Nos cuidados primários o desinvestimento reduziu as
consultas e atendimentos, idem cuidados continuados nas grandes cidades.
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2- Redução de acesso a Consultas e
Exames, tempos acima do aceitável (doente morre de cancro após 2 anos á
espera de colonoscopia; alerta de Presidentes dos IPO; OMS preocupada com CSP
oferece-se para ajudar).
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b) Saídas de
profissionais sem substituição diminuem capacidade de hospitais e IPO; g)
Corte excessivo no preço de alguns exames (ex. colonoscopias); h) Alterações
nos transportes e maiores taxas moderadoras aumentam a %de faltas de doentes; f) Nos CSP o
desinvestimento leva a redução das consultas e atendimento permanente.
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3- Degradação das condições de
funcionamento para doentes e profissionais (ex. abaixo assinado
subscrito por 80% dos médicos do CH do Algarve).
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b) Saídas de
profissionais sem substituição diminuem capacidade de hospitais e IPO; i)
Cortes orçamentais pararam o investimento de substituição e adaptação; j)
Falta frequente de materiais por redução de stocks; a) Cortes excessivos nas
remunerações acompanhados de aumento do nº de horas de trabalho semanal; e)
Objetivos financeiros são únicos que importam, projetos melhoria da segurança
e qualidade parados; k) Desmotivação de profissionais e gestores gera menor
empenho.
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4-
Mortalidade infantil a subir (diminuição sistemática era a bandeira do SNS).
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b) Saídas de
profissionais sem substituição; l) Degradação das condições de vida das
pessoas (alimentação, habitação, saneamento).
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Mas
o que está por trás desses problemas e em que medida resultam da opção do MS de
fugir à reforma estrutural do SNS?
(cont ...)
SNS SEMPRE
Etiquetas: s.n.s
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