SNS, as urgências e as 4 estações
Em tempos de maior ‘stress’ na procura - como é o caso das afecções gripais sazonais - as urgências hospitalares mostram, de facto, iniludíveis carências que podem classificar-se como uma situação como de ‘pré-ruptura’ link .
Concomitantemente, essa situação mostra claras ‘insuficiências’ da rede de cuidados primários, onde o investimento (p. exº. em USF) não conseguiu iludir uma ‘precariedade’ já denunciada link.
A conjugação destes dois factores é deveras preocupante para os portugueses mas o MS prefere ‘desdramatizar’ ou ‘assobiar para o lado’ (à espera que o Inverno passe!).
Assim, a primeira preocupação do MS é afastar o espectro de que essas insofismáveis ‘falhas’ sejam conotadas com os repetidos e profundos cortes que têm sido feitos no SNS. Se há alguma coisa que, à priori, deverá ser taxativamente considerada ‘inofensiva’ para as políticas públicas de saúde, são os cortes orçamentais. Nada do que acontece (ou possa acontecer) deverá ser atribuído a esta circunstância. Em caso de dúvida cria-se uma comissão ou encomenda-se um relatório ‘à maneira’ para corroborar liminarmente as virtudes das políticas gizadas na João Crisóstomo.
Quando o País é atravessado pelo clamor (não só mediático) de que existem graves problemas na capacidade de resposta dos serviços, muito mais visíveis nas urgências, nomeadamente em relação aos tempos de espera, a primeira reacção deste Governo é avançar com uma irresponsável atitude ‘negacionista’ link. Depois, seguem-se medidas circunstanciais (paliativas) como alargamento de horários nos centros de saúde link. Portanto, devemos preparar-nos para enfrentar ‘ciclópicos’ trabalhos: no Inverno, será necessário colmatar os efeitos colaterais das gripes e pneumopatias; na Primavera, será necessário suprir a avalanche de 'doenças alérgicas’ (latu senso) e no Verão haverá que precaver os efeitos da ‘onda de calor’ capaz de dizimar muitos portugueses (nomeadamente idosos). Sobra aparentemente o Outono que, segundo entendem os portugueses, servirá para elaborar o orçamento do próximo ano onde se incluirão novos cortes e onde se colocarão dívidas a pagarem dívidas.
Para qualquer distraído este percurso assemelha-se a uma partitura barroca – as qustro estações de Vivaldi - onde cabe o Inverno (...do nosso descontentamento).
Sugestão:
Inundar – suavemente - as salas de espera das urgências do SNS com esta maravilhosa música para homenagear a gélida natureza invernal, enquanto aguardamos mais sibilas declarações de Paulo Macedo. Outra 'solução' será no Inverno 'hibernar' (esta caberá no próximo relatório da ARSLVT).
E-Pá!
4 Comments:
Passados que são sete meses desde a criação do Centro Hospitalar do Algarve, através da fusão do Hospital de Faro EPE e do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio, EPE, os médicos Assistentes Hospitalares pertencentes a esta instituição consideram ser este o momento adequado para uma reflexão e tomada de posição no que se refere à atual situação deste Centro Hospitalar.
Tendo o Centro Hospitalar do Algarve a particularidade de ser constituído por unidades hospitalares que distam mais de 60 Km entre si, consideram os ora signatários que teria sido de todo aconselhável que tivesse havido um apropriado período de reflexão, discussão e preparação, com participação ativa dos profissionais que trabalham na Região com dedicação e competência, antes da fusão das unidades hospitalares. Não sendo já possível essa via, visto que o Centro Hospitalar já é uma realidade de facto e de direito, resta aos médicos aqui signatários chamar a atenção para algumas situações que estão a ocorrer neste Centro Hospitalar e que fazem antever um futuro preocupante. Os Gestores vão e vêm; os Algarvios continuam cá…
Temos assistido de forma preocupada à degradação dos cuidados de saúde da população Algarvia. Frequentemente são adiadas cirurgias programadas, por falta de material cirúrgico, aumentam as faltas às consultas médicas pela nova organização do Centro Hospitalar e pelos constrangimentos que têm sido (im)postos aos doentes. Existem ainda atrasos inaceitáveis na realização de exames complementares, nomeadamente de imagiologia, sendo também inexplicável a realização de tomografia axial computorizada – tomografia por emissão de positrões em Sevilha.
Foi por Vexa assumido publicamente que o Conselho de Administração do Hospital de Faro, EPE, não cumpriu o contrato programa em dois anos consecutivos. É certo que as metas clínicas serão piores nos próximos anos, com grave prejuízo dos doentes da Região.
Com frequência são confrontados os profissionais e os doentes com faltas de medicamentos (doentes oncológicos e com doenças autoimunes, por ex.) com graves reflexos na saúde destes (aumento da morbilidade e provável aumento da mortalidade a curto/médio prazo) e com repercussões diretas negativas sobre os indicadores hospitalares, como a demora média de internamento e aumento dos reinternamentos. São ainda habituais as faltas de material de uso corrente, como seringas, agulhas, luvas. Está em curso todo um processo que leva ao descrédito dos Serviços Hospitalares, por parte de quem os utiliza.
Tem insistido Vexa na subalternização de todos os Serviços Hospitalares ao Serviço de Urgência. Parece-nos redutor e perigoso, uma vez que não tem em consideração toda uma atividade clínica de qualidade, assegurada aos doentes do Algarve. Paradoxalmente, não se verifica qualquer melhoria da qualidade desse mesmo Serviço de Urgência, nomeadamente na Unidade Hospitalar de Portimão, que passa frequentemente por situações ridículas, ao melhor estilo dos Países em vias de desenvolvimento.
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Medicos assistentes CHA
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Por outro lado, muitos dos profissionais médicos têm manifestado preocupação, desconforto e, em alguns casos, indignação, pelo facto de terem sido – ou serem amiúde – confrontados com ameaças e chantagens por parte de Vexa na relação que mantem com os profissionais médicos, desconsiderando por completo a Direção Clínica. A forma autocrática como Vexa tem exercido os poderes que lhe assistem enquanto Presidente do Órgão de Gestão tem levado a que muitos profissionais, com anos de dedicação às unidades hospitalares que compõem este Centro Hospitalar optem por deixar de colaborar com a instituição, facto que assume contornos de especial gravidade, considerando a carência de recursos humanos médicos com que o Centro Hospitalar se confronta.
Todos os profissionais já presenciaram a passagem pelas Instituições de vários órgãos de gestão mas muito poucos terão partilhado experiências gratificantes com os mesmos.
Todos pensamos que já não se trata do tipo de modelo a implementar, mas sim da forma como é implementado. Já não se trata de virtuosidade ou não do modelo ou da organização interna, mas sim da virtuosidade da gestão implementada e da capacidade do Órgão de Gestão para envolver e motivar os profissionais na implementação do novo modelo organizacional; da capacidade e disponibilidade do Órgão de Gestão para estabelecer uma base dialogante com os profissionais que todos os dias constroem e dão a cara pela instituição.
Estamos não só preocupados com a degradação dos cuidados de saúde na região do Algarve, devido às políticas que estão a ser implementadas, com grave prejuízo dos doentes, como também consideramos ser este o momento para manifestar a nossa indignação pela forma pouco dialogante e autocrática que caracteriza a relação de Vexa com os profissionais médicos deste Centro Hospitalar e que, em última análise muito prejudica os doentes, uma vez que antes da tomada de decisões com repercussão clínica não são ouvidas nem tidas em consideração as opiniões técnicas dos médicos especialistas.
Médicos assistentes do CHA
Excelente post.
O departamento de propagando do senhor ministro da Saúde começa a ter dificuldades em tapar a dura realidade.
Depois do que se passou com a onda de calor do último verão os portugueses estão à mercê do pico gripal deste inverno.
«Denunciada rutura de urgências hospitalares “como não se via há 20 anos”
Com equipas insuficientes para dar resposta aos casos diários, os serviços de urgência dos hospitais portugueses estão em rutura, um quadro que se agudizou com a temporada da gripe. A denúncia parte de sindicatos e da Ordem dos Médicos e está esta segunda-feira nas páginas do Diário de Notícias. Ouvido pelo jornal, o bastonário José Manuel Silva afirmou que “as equipas estão a funcionar com pessoas abaixo dos mínimos para cortar nas despesas com recursos humanos”. Mas o Ministério da Saúde apenas reconhece um “pico de procura” que “originou maiores tempos de espera”.» link
«De repente, e com uma cadência impressionante, os alertas e queixas sobre o funcionamento do SNS começaram a tomar conta do noticiário nacional. Há casos particulares arrepiantes, demissões em bloco, alertas estatísticos e, acima de tudo,uma ideia que começa a ganhar forma: a de que alguns ganhos orçamentais conseguidos na Saúde podem ter enormes riscos e acentuar a desigualdade entre portugueses.»
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editorial do expresso 18.01.14
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«É óbvio que o sector da Saúde, como outros, ao ser objecto de menor receita reflecte esse efeito. Por isso, são necessárias reformas de fundo que permitam melhorar a eficácia e eficiência para que não se perca a qualidade. O governo ainda não terá sido capaz de fazer e as falhas aparecem. Uma reforma de fundo não pode ser só cortes, tem de mudar atitudes.
Quais? Como numa empresa, é preciso motivar as pessoas com eficiência e distinguir quem mais trabalha. O Estado tem de pagar pela qualidade e não precisa de ser prestador”.»
LFP, expresso 18.01.14
Paulo Macedo passou todo este tempo a fazer cortes a eito, a cuidar da laboriosa propaganda e a assobiar para o ar quanto às medidas de reforma necessárias. O resultado está à vista. A situação de pré-ruptura é a justificação perfeita para dinamizar o processo de entrega da Saúde aos privados. Como defende também desde sempre o anterior ministro LFP colaborador do ministro da saúde no projecto do Hospital de Todos os Santos.
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