segunda-feira, janeiro 27

Revista da APAH, editorial

...  Pelo quinto ano consecutivo, o sistema de saúde português irá sofrer uma redução da despesa pública; os número da OCDE, referentes a 2011, mostravam que embora o peso da saúde no PIB se mantivesse acima da média dos países do grupo, poucos dos Estados da União Europeia registavam maior esforço das famílias em matéria de gastos de saúde,  Em 2014, o sector público empresarial perderá 200 milhões de euros, acumulando uma redução percentual de mais de 10% desde 2010.
O exercício da administração hospitalar confronta-se, neste contexto, com tremendas exigências. A pressão da procura de uma sociedade demograficamente envelhecida envelhecida, afetada por doenças crónicas e pela multicronicidade, mais informada e mais exigente, soma-se a pressão para a melhoria do acesso e da qualidade,para a introdução de inovação tecnológica, para a redução da despesa, para a criação de valor.Tudo isto no quadro de organizações públicas de reduzida flexibilidade, com modelos de governação interna onde se cruzam diferentes linhas de autoridade e onde as equipas profissionais revelam, cada vez mais, sinais de exaustão.
Poucas áreas da gestão dispõem de um corpo profissional especificamente formado para as dirigir, com quem seja possível  negociar metas e objectivos, avaliando resultados. É conhecido o argumento das particularidades da administração de hospitais como fundamento para esta opção – em Portugal, como em outros países. Mas há quem objete que o verbo gerir se conjuga nos mesmos moldes em qualquer contexto; e quem invoque a recente emergência de oferta formativa de qualidade suficiente para ombrear com monopólios tradicionais. Este não é o tempo, nem o momento, para a discussão;  constata-se apenas que se tem assistido à nomeação condicional de dirigentes do setor, face à ausência de formação de gestão em saúde, e à subsequente concessão de apoios para colmatar a lacuna.
Os administradores hospitalares têm a especial responsabilidade de conseguir estar à altura do momento. E a APAH de os apoiar – sendo essa a sua primeira natureza estatutária – sobretudo quando a proposta do orçamento de Estado anuncia a intenção de revisão da carreira.
O retomar da publicação da Revista de Gestão Hospitalar pretende ser um instrumento deste processo de responsabilização técnica do corpo profissional dos gestores da saúde; um fórum de discussão participado e plural; um espaço de prestação de contas, não só perante os associados os mas também perante os demais profissionais e cidadãos utilizadores do sistema de saúde português. É para eles que trabalhamos.
Marta Temido, presidente da direcção da APAH

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