Revista da APAH, editorial
... Pelo quinto ano consecutivo, o sistema de saúde português
irá sofrer uma redução da despesa pública; os número da OCDE, referentes a
2011, mostravam que embora o peso da saúde no PIB se mantivesse acima da média
dos países do grupo, poucos dos Estados da União Europeia registavam maior
esforço das famílias em matéria de gastos de saúde, Em 2014, o sector público empresarial perderá
200 milhões de euros, acumulando uma redução percentual de mais de 10% desde
2010.
O exercício da administração hospitalar confronta-se, neste
contexto, com tremendas exigências. A pressão da procura de uma sociedade
demograficamente envelhecida envelhecida, afetada por doenças crónicas e pela
multicronicidade, mais informada e mais exigente, soma-se a pressão para a
melhoria do acesso e da qualidade,para a introdução de inovação tecnológica, para
a redução da despesa, para a criação de valor.Tudo isto no quadro de
organizações públicas de reduzida flexibilidade, com modelos de governação
interna onde se cruzam diferentes linhas de autoridade e onde as equipas
profissionais revelam, cada vez mais, sinais de exaustão.
Poucas áreas da gestão dispõem de um corpo profissional
especificamente formado para as dirigir, com quem seja possível negociar metas e objectivos, avaliando
resultados. É conhecido o argumento das particularidades da administração de
hospitais como fundamento para esta opção – em Portugal, como em outros países.
Mas há quem objete que o verbo gerir se conjuga nos mesmos moldes em qualquer
contexto; e quem invoque a recente emergência de oferta formativa de qualidade
suficiente para ombrear com monopólios tradicionais. Este não é o tempo, nem o
momento, para a discussão; constata-se
apenas que se tem assistido à nomeação condicional de dirigentes do setor, face
à ausência de formação de gestão em saúde, e à subsequente concessão de apoios
para colmatar a lacuna.
Os administradores hospitalares têm a especial
responsabilidade de conseguir estar à altura do momento. E a APAH de os apoiar –
sendo essa a sua primeira natureza estatutária – sobretudo quando a proposta do
orçamento de Estado anuncia a intenção de revisão da carreira.
O retomar da publicação da Revista de Gestão Hospitalar
pretende ser um instrumento deste processo de responsabilização técnica do
corpo profissional dos gestores da saúde; um fórum de discussão participado e
plural; um espaço de prestação de contas, não só perante os associados os mas
também perante os demais profissionais e cidadãos utilizadores do sistema de saúde
português. É para eles que trabalhamos.
Marta Temido, presidente da direcção da APAH
Etiquetas: APAH
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