sábado, novembro 1

Apagão da Saúde, ameaça continuar

Compromissos para um novo futuro na saúde
O ministro Paulo Macedo sugeriu no dia 7 de Outubro a criação de compromissos duradouros entre Governo e Partido Socialista, conferindo de algum modo à saúde a possibilidade de constituir o mote para um eventual consenso mais alargado de governação. Paulo Macedo vê na saúde uma área onde se pode gerar um amplo consenso, que considera necessário e exequível, designadamente em torno do SNS e das respectivas características de universalidade e tendencial gratuitidade. Estou de acordo que a saúde é “a área” por excelência.
Mas os consensos não se podem esgotar na saúde, porque o país atravessa, infelizmente, um período complicadíssimo e dramático em termos de resposta social às necessidades mais básicas das pessoas: emprego, protecção ao emprego, à habitação, saúde, educação, justiça. Parece um chavão de Abril, mas infelizmente vemos as suas conquistas demasiado ameaçadas por aqueles que fazem da austeridade uma panaceia e da mão invisível um dogma.
Sentimos o Estado social a desmoronar. Vemos problemas originados pela crise com reflexos diários no quotidiano das pessoas. Todos estávamos avisados, os efeitos de crises prolongadas e severas como a que afecta os portugueses estão descritos em literatura abundante. Os sinais e os apelos para o abrandamento vêm de todos lados, mas são sistematicamente ignorados pelo Governo em nome de uma gestão calculista da sua reeleição.
Os factos demonstram que as prioridades deste Governo têm sido outras (na agenda, vemos privatizações, compensações ao sistema bancário, grandes preocupações com a venda de activos de grupos económicos, incentivos à tomada de posição de grupos privados de saúde estrangeiros, americanos e chineses, no Serviço Nacional de Saúde).
Como é evidente, o Partido Socialista não pode desprezar qualquer verdadeiro sinal dado por este Governo para a construção de consensos, mas só se forem sinceros.
Juntos nunca deixaremos que o Partido Socialista se afaste da sua matriz de solidariedade activa para com os mais fracos e vulneráveis. O Partido Socialista trata todos como iguais e defende e professa a igualdade de oportunidades, num quadro mais vasto de políticas que promovam mais justiça e equidade. Não podemos continuar a tolerar que as desigualdades se agravem e que Portugal surja no top europeu como um dos países mais desiguais na distribuição de rendimentos.
O ministro Paulo Macedo sugeriu quatro áreas de compromisso: 1) valor de despesa pública em saúde em percentagem do PIB; 2) qual o tipo de inovação que estamos dispostos a comparticipar? 3) que prioridades para o investimento? 4) que prioridades para o desinvestimento?
Tenho pontos a acrescentar, existe muito pensamento construído sobre esta matéria, muito trabalho desenvolvido com uma vasta equipa no Partido Socialista, nomeadamente no LIPP, e muita experiência adquirida ao longo da minha já longa carreira profissional como médico do SNS. A seu tempo, identificarei os pontos que devem ser acrescentados.
No essencial e por agora, a minha opinião é de que o Partido Socialista deve tentar perceber se este é o sentimento genuíno de todo o Governo (PSD e CDS) ou se não passa de uma tentativa de aproximação oportunista face ao calendário eleitoral de 2015.
Depois de um período em que foi vivido o mais forte ataque social aos mais fracos da nossa história recente pós-democrática, não será fácil sentar o Partido Socialista à mesma mesa com a direita.
À esquerda têm vindo a surgir sinais muito favoráveis de abertura. Sempre os pedi e fomentei. Como fiz no PS, também no país estou disponível para lutar por compromissos duradouros e estabelecer pontes. À esquerda ou com a verdadeira social-democracia.
Álvaro Beleza, JP 30.10.14
PS na encruzilhada
AB, entusiasmado, promete acrescentar mais  pontos às áreas de compromisso identificadas por Paulo Macedo: 1) valor de despesa pública em saúde em percentagem do PIB; 2) qual o tipo de inovação que estamos dispostos a comparticipar? 3) que prioridades para o investimento? 4) que prioridades para o desinvestimento?

AB, considera-se apto e experiente, aberto à esquerda e à direita (social democrata), pronto a usar como os caldos knorr, na sucessão do ministro Paulo Macedo .

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2 Comments:

Blogger Tavisto said...

Será que Álvaro Beleza não conhece o programa da actual coligação para a Saúde! Não terá ainda percebido que sem questionarem abertamente o actual modelo do SNS vão, de forma paulatina, criando um outro financiado preferencialmente por seguros públicos e privados? Que o SNS é cada vez mais o destino e o reduto daqueles que não têm alternativa?
Vislumbra alguns traços de “verdadeira” social-democracia no programa para as áreas sociais dos partidos da coligação? Não seria bem mais producente ler e aconselhar os seus a ler “Ill Fares the Land “ de Tony Judt?

Social democrats, on the other hand, are something of a hybrid. They share with liberals a commitment to cultural and religious tolerance. But in public policy social democrats believe in the possibility and virtue of collective action for the collective good. Like most liberals, social democrats favor progressive taxation in order to pay for public services and other social goods that individuals cannot provide themselves; but whereas many liberals might see such taxation or public provision as a necessary evil, a social democratic vision of the good society entails from the outset a greater role for the state and the public sector.

10:38 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Depois de ter afirmado 'isto':
"Como é evidente, o Partido Socialista não pode desprezar qualquer verdadeiro sinal dado por este Governo para a construção de consensos, mas só se forem sinceros"..., Álvaro Beleza, deveria ser convidado a fazer um longo retiro nas Berlengas onde lhe atribuiriam o 'prémio da incrível ingenuidade' (poderia ser entregue por uma gaivota, na falta das cagarras do Sr. Aníbal).
Por enquanto, não temos por cá desertos, mas a 'desertificação de ideias' abunda...

4:31 da tarde  

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