domingo, novembro 9

Governo apoia

Governo apoia emigração de médicos para a Arábia Saudita (actualização)
Actualização: devido a dúvidas entretanto surgidas relativamente aos factos noticiados, suscitadas pelo Ministério da Saúde, que informou não serem verdadeiros, decidimos disponibilizar os documentos que suportam a informação aqui divulgada, que poderão ser consultados através de “links” inseridos no corpo da notícia.
O Governo Português está a colaborar com o seu homólogo saudita na contratação de especialistas portugueses, a maioria dos quais de especialidades carenciadas em Portugal, para irem trabalhar para hospitais do Médio Oriente. Nos próximos dias 10 e 11 de Novembro, representantes de um “prestigiado grupo multinacional de hospitais árabes” – com unidades na Arábia Saudita, Kuwait, Jordânia e Emirados Árabes Unidos – vêm a Portugal entrevistar os mais de 200 médicos especialistas que mostraram interesse em preencher as 30 vagas disponíveis, a maioria das quais em unidades de Riade e Dammam. O salário oferecido aos médicos que desejem embarcar na aventura… “é das arábias”: entre oito e 11 mil euros por mês livres de impostos. Mais alojamento para a família, bónus, prémios, férias pagas… De acordo com a empresa responsável pelo recrutamento, a iniciativa conta com o apoio da Embaixada de Portugal em Riade e vem no seguimento do Protocolo de Cooperação entre os Ministérios da Saúde de Portugal e da Arábia Saudita. A pedido do nosso jornal, o Gabinete de Paulo Macedo disponibilizou o documento, que nos chegou acompanhado da explicação de que o convénio “em causa foi realizado e está construído tendo em vista, apenas, a formação profissional. Nada mais do que isso”. Uma explicação desmentida pelo próprio memorando (memo AS v port (2)
Entre o Ministério da Saúde da República Portuguesa e o Ministério da Saúde do Reino da Arábia Saudita Sobre Cooperação no Domínio da Saúde, assinado em Riade a 6 de Abril de 2013, em cuja alínea e), do artigo 1º, é acordada a “cooperação no recrutamento de profissionais de saúde portugueses”. Para o bastonário da Ordem dos Médicos, “independentemente do interesse do protocolo entre os dois países, que é positivo que tenha sido assinado e tem objectivos relevantes e de interesse nacional, é surpreendente que o Ministério da Saúde assine um memorando com um país estrangeiro em que se compromete a colaborar na exportação de médicos de especialidades carenciadas no país e no SNS, nos quais o país muito investiu”. Reconhecendo que “o Governo não se poderia opor à emigração desses médicos”, José Manuel Silva defende que a “a assunção do compromisso de colaboração por parte do Ministério da Saúde exige que se saiba a natureza desse compromisso e como se vai concretizar essa colaboração”, afirmou, em declarações ao nosso jornal. “No fundo, parece haver aqui um peso na consciência do Ministério da Saúde, que desqualificou tão exagerada e inacreditavelmente os médicos portugueses que agora até auxilia na sua emigração para países onde o seu trabalho e qualidade são melhor reconhecidos, respeitados e retribuídos. Mas depois, não continue a queixar-se da falta de médicos no SNS…”, avisa.
Especialistas com qualificações especiais
Os candidatos à “aventura das arábias” têm de cumprir um conjunto de requisitos pré-definidos: serem médicos com experiência mínima de três anos pós-especialidade “em cirurgia-geral (com experiência na área vascular); ortopedia (com experiência em artroscopia e artroplastia); obstetrícia e ginecologia (com experiência em laparoscopia e/ou I.V.F-fertilização in vitro); oftalmologia; urologia; otorrinolaringologia; cirurgia cardiotorácica; cardiologia de intervenção; anestesiologia; medicina intensiva; embriologia médica; dermatologia (aceitam recém especialistas com experiência em laser e estética); neurocirurgia; nefrologia e cirurgia plástica”, lê-se no anúncio, disponível na página na Internet da Uma empresa que afinal é uma ONG
Na sua página na Internet, a FFF Healthcare apresenta-se como uma unidade de outsourcing da ONG portuguesa sem fins lucrativos Grupo Traço de União (GTU). De acordo com a mesma fonte, a GTU está acreditada pela Segurança Social (alvará 12/09) e pela CASES (Cooperativa António Sérgio para a Economia Social) INSCOOP, e conta com 12 anos de actividade na prestação de cuidados de saúde e sociais, recrutamento e selecção e, também, cedência temporária de profissionais nas áreas médica, enfermagem, reabilitação, deficiência, assistência técnica/operacional entre outras similares cujo enquadramento esteja vocacionado para a área da saúde, geriatria e serviços sociais. No referido site lê-se ainda que a FFF foi considerado o melhor Serviço de Apoio Domiciliário 2008 no estudo da Fundação Aga Khan/CEDRU/Boston Consulting Group.
Jornal Médico, 06 de Novembro de 2014, por Catarina Gomes

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1 Comments:

Blogger Tavisto said...

Ministro da Saúde: «saída de médicos para outros países é natural»

Paulo Macedo considerou hoje natural a saída de médicos de família para países como a França, onde os ordenados rondam os 15 mil euros mensais, uma vez que o mercado de trabalho é internacional.
A falta de clínicos em França ou na Irlanda está a levar aqueles países a recrutar profissionais portugueses, oferecendo-lhes cerca de 15 mil euros mensais, quando em Portugal o salário destes profissionais em início de carreira é de 2.746 euros brutos, revela a edição de hoje do Diário de Notícias.
Questionado sobre esta situação, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, defendeu que o mercado de trabalho de «qualquer profissão diferenciada, das pessoas com competências específicas, (...) é o mercado internacional», lembrando nomes de profissionais que foram trabalhar para fora «e regressaram como mais-valias», como João Lobo Antunes, Manuel Antunes ou Sobrinho Simões.
Paulo Macedo, à margem da cerimónia de tomada de posse do novo conselho diretivo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), defendeu ainda que «o valor que nós pagamos aos nossos médicos, quer quando acabam a licenciatura, quer quando acabam a especialidade, é do valor mais alto que pagamos a qualquer licenciado em Portugal. (...) À saída da faculdade, no Estado e mesmo no sector privado, em muitos casos, ninguém paga valores tão elevados como nós pagamos aos médicos. E também, ao fim de quatro anos, são dos valores mais altos que qualquer licenciado ganha em Portugal».
O ministro reconheceu que possam existir «eventuais problemas de remuneração dos médicos, mas em graus e outros níveis de experiência na carreira».
«Obviamente que nós temos como objetivo fixar um conjunto de médicos em Portugal e inclusive temos o caso de vários médicos que foram estudar para o estrangeiro e estão a voltar para Portugal para fazer a sua formação», afirmou.

TSF notícias 07 NOV 14 às 16:10.

Há que dizer que Paulo Macedo até vê com bons olhos a saída de profissionais de saúde. Face a esta estratégia de empobrecimento geral e do consentido estatuto de segunda face aos nossos parceiros comunitários, este governo arrisca a “deixarmos de ser um País mas tão só um lugar mal frequentado”, citando Eça de Queirós.
Ao justificar a desvantagens desta avalanche migratória com o benefício do putativo regresso de profissionais mais qualificados, invocando para tal o percurso profissional de três insignes médicos, Paulo Macedo procura apenas iludir as razões actuais para a saída de médicos e de outros grupos profissionais do País.

12:38 da tarde  

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