Governo apoia
Governo apoia emigração de médicos
para a Arábia Saudita (actualização)
Actualização: devido a dúvidas entretanto surgidas
relativamente aos factos noticiados, suscitadas pelo Ministério da Saúde, que
informou não serem verdadeiros, decidimos disponibilizar os documentos que
suportam a informação aqui divulgada, que poderão ser consultados através de
“links” inseridos no corpo da notícia.
O Governo Português está a colaborar com o seu homólogo
saudita na contratação de especialistas portugueses, a maioria dos quais de
especialidades carenciadas em Portugal, para irem trabalhar para hospitais do
Médio Oriente. Nos próximos dias 10 e 11 de Novembro, representantes de um
“prestigiado grupo multinacional de hospitais árabes” – com unidades na Arábia
Saudita, Kuwait, Jordânia e Emirados Árabes Unidos – vêm a Portugal entrevistar
os mais de 200 médicos especialistas que mostraram interesse em preencher as 30
vagas disponíveis, a maioria das quais em unidades de Riade e Dammam. O salário
oferecido aos médicos que desejem embarcar na aventura… “é das arábias”: entre
oito e 11 mil euros por mês livres de impostos. Mais alojamento para a família,
bónus, prémios, férias pagas… De acordo com a empresa responsável pelo
recrutamento, a
iniciativa conta com o apoio da Embaixada de Portugal em Riade e vem
no seguimento do Protocolo de Cooperação entre os Ministérios da Saúde de
Portugal e da Arábia Saudita. A pedido do nosso jornal, o Gabinete de Paulo
Macedo disponibilizou o documento, que nos chegou acompanhado da explicação de
que o convénio “em causa foi realizado e está construído tendo em vista,
apenas, a formação profissional. Nada mais do que isso”. Uma explicação
desmentida pelo próprio memorando (memo AS v port (2)
Entre o Ministério da Saúde da República
Portuguesa e o Ministério da Saúde do Reino da Arábia Saudita Sobre Cooperação
no Domínio da Saúde, assinado em Riade a 6 de Abril de 2013, em cuja alínea e),
do artigo 1º, é acordada a “cooperação no recrutamento de profissionais de
saúde portugueses”. Para o bastonário da Ordem dos Médicos, “independentemente
do interesse do protocolo entre os dois países, que é positivo que tenha sido
assinado e tem objectivos relevantes e de interesse nacional, é surpreendente
que o Ministério da Saúde assine um memorando com um país estrangeiro em que se
compromete a colaborar na exportação de médicos de especialidades carenciadas
no país e no SNS, nos quais o país muito investiu”. Reconhecendo que “o Governo
não se poderia opor à emigração desses médicos”, José Manuel Silva defende que
a “a assunção do compromisso de colaboração por parte do Ministério da Saúde
exige que se saiba a natureza desse compromisso e como se vai concretizar essa
colaboração”, afirmou, em declarações ao nosso jornal. “No fundo, parece haver
aqui um peso na consciência do Ministério da Saúde, que desqualificou tão
exagerada e inacreditavelmente os médicos portugueses que agora até auxilia na
sua emigração para países onde o seu trabalho e qualidade são melhor
reconhecidos, respeitados e retribuídos. Mas depois, não continue a queixar-se
da falta de médicos no SNS…”, avisa.
Especialistas com qualificações
especiais
Os candidatos à “aventura das arábias” têm de cumprir um
conjunto de requisitos pré-definidos: serem médicos com experiência mínima de
três anos pós-especialidade “em cirurgia-geral (com experiência na área
vascular); ortopedia (com experiência em artroscopia e artroplastia); obstetrícia
e ginecologia (com experiência em laparoscopia e/ou I.V.F-fertilização in
vitro); oftalmologia; urologia; otorrinolaringologia; cirurgia cardiotorácica;
cardiologia de intervenção; anestesiologia; medicina intensiva; embriologia
médica; dermatologia (aceitam recém especialistas com experiência em laser e
estética); neurocirurgia; nefrologia e cirurgia plástica”, lê-se no anúncio,
disponível na página na Internet da
Uma empresa que afinal é uma ONG
Na sua página na Internet, a FFF Healthcare apresenta-se
como uma unidade de outsourcing da ONG portuguesa sem fins lucrativos Grupo
Traço de União (GTU). De acordo com a mesma fonte, a GTU está acreditada pela
Segurança Social (alvará 12/09) e pela CASES (Cooperativa António Sérgio para a
Economia Social) INSCOOP, e conta com 12 anos de actividade na prestação de
cuidados de saúde e sociais, recrutamento e selecção e, também, cedência
temporária de profissionais nas áreas médica, enfermagem, reabilitação,
deficiência, assistência técnica/operacional entre outras similares cujo
enquadramento esteja vocacionado para a área da saúde, geriatria e serviços
sociais. No referido site lê-se ainda que a FFF foi considerado o melhor
Serviço de Apoio Domiciliário 2008 no estudo da Fundação Aga Khan/CEDRU/Boston
Consulting Group.
Jornal Médico, 06 de Novembro de 2014, por Catarina Gomes
Etiquetas: Crise e politica de saúde
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Ministro da Saúde: «saída de médicos para outros países é natural»
Paulo Macedo considerou hoje natural a saída de médicos de família para países como a França, onde os ordenados rondam os 15 mil euros mensais, uma vez que o mercado de trabalho é internacional.
A falta de clínicos em França ou na Irlanda está a levar aqueles países a recrutar profissionais portugueses, oferecendo-lhes cerca de 15 mil euros mensais, quando em Portugal o salário destes profissionais em início de carreira é de 2.746 euros brutos, revela a edição de hoje do Diário de Notícias.
Questionado sobre esta situação, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, defendeu que o mercado de trabalho de «qualquer profissão diferenciada, das pessoas com competências específicas, (...) é o mercado internacional», lembrando nomes de profissionais que foram trabalhar para fora «e regressaram como mais-valias», como João Lobo Antunes, Manuel Antunes ou Sobrinho Simões.
Paulo Macedo, à margem da cerimónia de tomada de posse do novo conselho diretivo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), defendeu ainda que «o valor que nós pagamos aos nossos médicos, quer quando acabam a licenciatura, quer quando acabam a especialidade, é do valor mais alto que pagamos a qualquer licenciado em Portugal. (...) À saída da faculdade, no Estado e mesmo no sector privado, em muitos casos, ninguém paga valores tão elevados como nós pagamos aos médicos. E também, ao fim de quatro anos, são dos valores mais altos que qualquer licenciado ganha em Portugal».
O ministro reconheceu que possam existir «eventuais problemas de remuneração dos médicos, mas em graus e outros níveis de experiência na carreira».
«Obviamente que nós temos como objetivo fixar um conjunto de médicos em Portugal e inclusive temos o caso de vários médicos que foram estudar para o estrangeiro e estão a voltar para Portugal para fazer a sua formação», afirmou.
TSF notícias 07 NOV 14 às 16:10.
Há que dizer que Paulo Macedo até vê com bons olhos a saída de profissionais de saúde. Face a esta estratégia de empobrecimento geral e do consentido estatuto de segunda face aos nossos parceiros comunitários, este governo arrisca a “deixarmos de ser um País mas tão só um lugar mal frequentado”, citando Eça de Queirós.
Ao justificar a desvantagens desta avalanche migratória com o benefício do putativo regresso de profissionais mais qualificados, invocando para tal o percurso profissional de três insignes médicos, Paulo Macedo procura apenas iludir as razões actuais para a saída de médicos e de outros grupos profissionais do País.
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