Pulseira preta
O inquérito instaurado pelo Conselho de Administração à
morte de um utente após três horas de espera conclui que mesmo que tivesse
esperado só uma hora o desfecho seria igual.
O Conselho de Administração instaurou um inquérito para
esclarecer as circunstâncias da morte de um homem naquela unidade de saúde, no
domingo passado, depois de três horas à espera de ser visto por um médico, o
qual concluiu que "a morte não se poderia ter evitado".
"O doente padecia de uma doença grave, com vários dias
de evolução e o seu agravamento súbito, pelo carácter fulminante, tornou
impossível qualquer procedimento em tempo útil que evitasse a morte",
lê-se no comunicado divulgado hoje, no qual se garante que "foram
prestados todos os cuidados que numa situação deste tipo são considerados
adequados".
O inquérito concluiu que "o tempo de espera não
influenciou o desfecho final" e que não influenciaria mesmo que o utente
tivesse esperado apenas uma hora em vez de três.
A Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS) acompanhou a
investigação.
DN 15.01.2015
link
Depois destas sinistras conclusões, não ficaremos surpresos
se o Conselho de Administração do Garcia de Orta vier a propor que se
acrescente mais uma cor à pulseira de Manchester. A cor preta, indicativa de
que o doente pode ser conduzido a uma antecâmara mortuária evitando-se perda de tempo desnecessária em situações idênticas.
Tavisto
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Desde julho que Macedo sabia dos problemas nas urgências
Tanto os médicos como os sindicatos alertaram o Ministério e a ARS Norte da falta de profissionais de saúde que poderia pôr em causa a assistência aos pacientes do Hospital de S. Sebastião, em Santa Maria da Feira. O Jornal de Notícias conta que o primeiro aviso chegou a 18 de julho às mãos do ministro Paulo Macedo, mas nenhuma medida foi tomada e já se contabiliza uma morte por falta de cuidados nas urgências.
O Ministério e a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte sabiam desde julho que a falta de médicos em Santa Maria da Feira colocava os pacientes em risco e, ainda assim, nenhuma medida foi tomada, avança o Jornal de Notícias.
A morte de um doente que aguardou cinco horas para ser atendido nas urgências do Hospital de S. Sebastião a 4 de janeiro, demostrou a falta de profissionais que existe naquele serviço de saúde. No entanto, várias denúncias tinham sido feitas para alertar face a este problema.
Dois dias antes da tragédia, a diretora da Urgência enviou uma carta à Ordem dos Médicos, onde relatava as consequências negativas para esta condição. Muito antes disso, a 2 de outubro, já tinha surgido um outro alerta.
O Jornal de Notícias apurou que o primeiro aviso surgiu a 18 de julho do ano passado, numa carta enviada a Fernando Silva com o conhecimento do ministro da Saúde, Paulo Macedo, e do presidente da ARS Norte, com a indicação que era impossível “assegurar os serviços clínicos na Unidade de Cuidados Intermédios/Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente e gestão do doente crítico, sala de emergência e reanimação inter-hospitalar”.
Até à data nenhuma medida foi tomada e os alertas continuam a repetir-se.link
Paulo Macedo chumbo na prova oral
Na semana em que mais um doente, o quinto, morreu num hospital público enquanto esperava para ser observado por um médico, vários especialistas garantiram ao Expresso que as explicações do ministro da Saúde sobre o ‘caos’ nas Urgências não estão, de todo, corretas. A maioria dos argumentos que Paulo Macedo usou na semana passada no Parlamento e em entrevistas não corresponde totalmente à realidade. A primeira das incongruências é detetada na dita imprevisibilidade da gripe e do frio. Além de serem aspetos monitorizados regularmente pelas autoridades, não há inverno sem temperaturas baixas ou síndrome gripal. Paulo Macedo é ainda reprovado, pelos próprios médicos, por ter dito que no início do ano já tinha contratado 1700 clínicos. Na verdade, são médicos sem autonomia para tratar doentes.
Na prova oral, o ministro recebe ainda negativa em algumas reformas.
É o caso da abertura de Unidades de Saúde Familiar ou de camas de cuidados continuados. Afirma que está a expandir estas valências, mas omite que o ritmo está muito abaixo do suposto.
As notas positivas são poucas. São atribuídas às melhorias nas infraestruturas das Urgências com mais problemas e à contratação de médicos de família. É reconhecido que tem aberto vagas para esta especialidade, embora mantenha os grandes entraves burocráticos.
“A data exata em que começámos a gripe e este frio anormal não era previsível”
O Instituto Ricardo Jorge publica todas as semanas boletins sobre a evolução da atividade gripal e afirma que o período epidémico, com muitos doentes, teve início entre os últimos dias de 2014 e os primeiros de 2015, já depois do ‘caos’ nas Urgências durante o Natal. Sobre o frio, desde o início de dezembro que a Proteção Civil tem vindo a avisar para o perigo das baixas temperaturas.
“Também não é exatamente igual aos outros anos o tipo de doentes que estão a ocorrer às Urgências: não são só mais idosos, como têm mais comorbilidades...”
Dados de vários hospitais, incluindo alguns onde morreram doentes em espera, mostram que nos picos de afluência à Urgência a maior parte dos doentes não eram idosos, tendo menos de 60 anos.
“...e temos mais doentes com uma triagem de maior prioridade”
À exceção de um ou outro caso, muitos dos episódios nas Urgências foram, de facto, graves. Por exemplo, nos dias mais lotados no São João, na primeira semana do ano, os doentes não urgentes (azuis) foram 2,8% do total. E no pico em Coimbra, a 5 de janeiro, “houve apenas um caso triado com a cor azul”.
“Desde 2010 houve um aumento líquido do número de médicos em Portugal: são hoje mais cerca de 2200 do que a 31 de dezembro daquele ano”
Segundo a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), as unidades públicas tinham ao serviço 23.492 médicos no final de 2010 e 25.862 em 2014. Portanto, o aumento (de 2370) até é superior ao referido. Ainda assim, em 2013 aposentaram-se 349 especialistas e no ano passado, até novembro, as saídas (620) já eram quase o dobro.
“Vamos contratar, além dos 1700 médicos que contratámos esta semana, um número aproximado de enfermeiros”
Os clínicos contratados são médicos que ainda vão iniciar a especialidade, ou seja, que não têm autonomia para tratar doentes. No caso dos enfermeiros, a ACSS diz que o plano é ...
cont....
...contratar 2000 este ano, mas o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses só confirma 1700. Avisa que “a proposta é extremamente insuficiente” e sugere a entrada de 2500 enfermeiros.
“Vamos remodelar Urgências que não têm capacidade, como é o caso da Amadora, Caldas da Rainha, Barreiro, Coimbra e Gaia”
Todos os responsáveis pelos hospitais mencionados confirmaram a realização de melhorias na Urgência, exceto a equipa do AmadoraSintra, precisamente o hospital com mais congestionamentos.
“Temos 10 mil médicos que podem não fazer urgências”
O Sindicato Independente dos Médicos refere que o número não será tão elevado, estimando que mais de 35% dos médicos acima dos 50 anos não exercem o direito de recusar o trabalho noturno na Urgência. A dispensa total é possível depois dos 55. Num dos maiores hospitais do país, de Coimbra, só 214 dos 937 especialistas não fazem este serviço.
"Estamos a aumentar, como nestes três anos, o número de Unidades de Saúde Familiar”
O presidente da Associação de USF diz que “nos primeiros seis anos o crescimento médio anual foi de 53 unidades e nos últimos três anos foi de 30”. Bernardo Vilas Boas afirma que dos objetivos definidos pelo Governo, em maio passado, só metade foram cumpridos —“muito aquém das necessidades”.
"Abrimos 1.500 leitos de terapia continuada"
Segundo a ACSS, em 2012 existiam 5911 camas, que no final de 2014 aumentaram para 7160, logo um pouco menos do que disse o ministro. O objetivo inicial era de 12 mil unidades em 2016. Ao invés, nos hospitais foram fechadas 430 camas.
Expresso, 17.01.15
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