segunda-feira, janeiro 12

Paulo Macedo, mais erros de palmatória

Fragilizar o SNS e deixá-lo sem rumo
O “príncipe” manda na saúde mas ninguém dá orientações ou gere o SNS. Este foi o maior falhanço de PM: Não promover uma estratégia para o SNS nem ter concretizado qualquer reforma para aumentar a sua qualidade e sustentabilidade. Neste comentário analiso quatro erros de palmatória.
1º Erro: Desistir de melhorar os cuidados primários (CSP) e continuados (CCI)
Prometeu que com ele cada português iria ter um médico de família. Na realidade aumentou o número de portugueses sem médico de família, bem mais de um milhão e apesar de nestes três anos terem emigrado centenas de milhar, diminuíram as consultas programadas nos cuidados primários, onde se espera meses por uma consulta e muitos vão de madrugada para terem um atendimento de recurso, pelo que os doentes usam as alternativas possíveis, urgências e saúde privada. Mas essas alternativas geram consequências negativas, para além dos pagamentos envolvidos, a saúde mantém-se fragmentada, com inapropriação e recurso exagerado à urgência, ao hospital e a cuidados de especialistas, com duplicação de atendimentos, sem acesso adequado a consultas programadas e a exames, com resultados piores que o desejável, em qualidade e eficiência, e com insatisfação dos doentes e dos profissionais. 
Como PM não desenvolveu os CCI os hospitais são forçados a manter doentes internados, desnecessariamente e com muito maiores custos e riscos, impedindo o internamento de outros que se amontoam nas macas das urgências.
2º Erro: Não ter reorganizado e qualificado as urgências (SU)
Havia necessidade de reorganizar a rede de urgências, “podando” algumas que já não se justificam, aproveitando para consolidar os SU nas grandes cidades e para qualificar as unidades que se mantivessem na rede, as quais seriam dotadas com equipas médicas dedicadas e melhorada a articulação, entre SU, com os CSP, o INEM e a Saúde 24. De modo semelhante justificava-se repor atendimento permanente nas grandes cidades e aí desenvolver cuidados domiciliários para a doença crónica grave. Deste modo melhorava-se a resposta aos doentes e libertavam-se médicos: Para os hospitais aumentarem o número de exames e tratamentos, consultas e operações cirúrgicas; Para os CSP, atribuírem um médico a cada português e responder prontamente à população. Um grupo de peritos foi nomeado por PM e apresentou um excelente relatório em janeiro de 2012, mas PM enviou-o diretamente para o arquivo morto e não mais se lhe referiu.
Consequências: Nos CSP há insuficiência de médicos, provocando problemas de acesso a consultas e elevado tempo de resposta; Nos hospitais mantêm-se os longos tempos de resposta para primeiras consultas, para exames e tratamentos; Globalmente o SNS gasta mais, tem elevada inapropriação e menor eficácia. É a política de saúde que temos e que terá que ser mudada.
3º Erro: Não ter reajustado a rede de hospitais do SNS
Quando PM chegou sentia-se a necessidade de rever a rede de hospitais, dada a evolução que se tinha verificado na acessibilidade, no volume populacional e, sobretudo, na tecnologia médica, que exige dimensão aos hospitais para haver qualidade e sustentabilidade. Essa necessidade foi espelhada no programa da Troika que exigia a reorganização da rede.
Impunha-se tirar da rede de hospitais de agudos algumas pequenas unidades, de concentrar a grande tecnologia médica e consolidar alguns serviços nas grandes cidades - com esse movimento qualificava-se a rede e garantia-se a qualidade e eficiência necessárias. PM pediu vários projetos e estratégias - a Mendes Ribeiro, ERS, ENSP, etc.- as quais foram entregues, logo em 2012, mas o ministro enviou-as também para arquivo morto, para fazerem companhia à proposta dos peritos para os SU!
Apesar da abertura de novas unidades, que aumentaram o número de camas e capacidades do SNS – em Lisboa, hospitais de Loures e de Vila Franca, no norte, hospital de Braga, centro de reabilitação e centro materno infantil –, nada fez para ajustar a oferta, nomeadamente na capital onde há excesso de camas hospitalares e insuficiência de cuidados continuados e primários. Com isso aumentou o hospitalocentrismo e a inapropriação, agravou os défices dos hospitais e foi forçado a cortes excessivos nos profissionais, com redução do seu número e corte brutal da remuneração. Pior, ficou sem os recursos necessários para expandir a oferta do SNS onde se justificava: Nos CSP, aumento de consultas e domicílios; Nos hospitais, com expansão significativa de primeiras consultas, de exames e operações.
4º Erro: Não ter promovido a gestão da doença
A política administrativo-financeira de PM limitou o acesso de pobres e idosos a cuidados programados – com taxas moderadoras e pagamento de transportes, sem médico de família, elevado tempo de espera por primeira consulta, atrasos na substituição dos profissionais saídos – promovendo o recurso às urgências, a especialistas e à saúde privada. Ora, há em Portugal: Uma elevada percentagem de idosos, das maiores na OCDE, com morbilidade e incapacidade acima da média, sendo possível evitar o sofrimento e melhorar a sua qualidade de vida; Um número significativo de idosos que acumula pobreza, isolamento, múltiplas co-morbilidades com doença grave.
Assim, impunha-se uma resposta integrada de gestão da doença, nomeadamente na doença crónica e na normalização de práticas clínicas nas situações de maior gravidade, para aumentar a qualidade dos processos e os resultados em saúde. Apesar da boa colaboração da Ordem dos Médicos pouco se fez na implementação de protocolos e tudo continua por fazer na gestão da doença crónica, pelo que houve certamente consequências, nos SU, na qualidade dos cuidados e na mortalidade.
Duas notas finais sobre o estilo e forma de atuação política do Sr. Ministro.
Alguns defendem que PM não tem erros, pois trazia um desígnio e uma agenda, não declarada, de diminuir a capacidade e qualidade do SNS para promover a expansão acelerada da saúde privada. Talvez, na verdade no seu mandato houve abertura de um centro de reabilitação e vários hospitais e só num caso não entregou ao privado e contrariado, segundo as suas declarações públicas, o CNIM.
Caraterizou-se por tacticismo e inconsistência. Dois exemplos: Quando havia greve de médicos ou a Ordem aparecia a contestar as suas medidas logo saía nos media mais uma notícia de fraude no SNS (coincidências); Cancelou primeiro o programa de troca de seringas, para enfraquecer mais a rede de farmácias, quem sofreu foram os doentes e o SNS, aparece agora a defender o seu desenvolvimento (mudou de ideias, é ditame de ano eleitoral, descobriu que a ANF pode ser-lhe útil?).

Haja Saúde

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4 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

Hospitais públicos perdem quase 700 camas num ano e privados ficam com 30% do total
Capacidade de internamento dos hospitais privados é neste momento igual a metade da que existe no Serviço Nacional de Saúde. Sector já faz 13% das urgências de todo o país, 30% das consultas e 20% dos internamentos.
Com a progressiva redução de camas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde e a expansão e inauguração de mais unidades privadas, 30% das camas disponíveis para internamento nas instituições de saúde de todo o país estão já nas mãos do sector privado, que consegue ter agora o equivalente a metade da capacidade de resposta dos hospitais públicos. De acordo com os dados da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), os seus hospitais contam com mais de 9000 camas e os números da Administração Central do Sistema de Saúde apontam para que o sector público somasse em Setembro do ano passado uma lotação de 20.857 camas, quando em igual período de 2013 tinham 21.546 – o que corresponde a uma quebra de 689 vagas no espaço de um ano.
O presidente da APHP confirma ao PÚBLICO que “todos os parceiros privados registaram um crescimento assinalável em 2014” e atribui parte da oportunidade de melhoria “às reformas que o Serviço Nacional de Saúde sofreu”. No entanto, para Artur Osório, o sucesso da oferta privada deve-se, sobretudo, a uma conjugação de palavras: liberdade de escolha. “O cidadão hoje é cada vez mais cioso de poder decidir e de não estar sujeito às redes definidas”, diz, numa altura em que como também presidente do Grupo Trofa Saúde se prepara para inaugurar nesta segunda-feira mais uma unidade com 100 camas: o Hospital Privado de Gaia. Do lado dos profissionais de saúde, considera que o comportamento também é diferente quando estão nas unidades privadas, “pois são vistos como parceiros e o efeito da cenoura ainda é importante e estimulante”.
Em termos globais, os dados de 2014 ainda não estão fechados e a recolha dos números “precisa de ser afinada”, mas a APHP estima que o sector privado conte já com 50 unidades com categoria de hospital e mais de 100 se incluirmos os hospitais sem internamento. Entre os maiores grupos de saúde do país está a José de Mello Saúde com 1430 camas, seguida pela ES Saúde com 1179 camas, a Lusíadas Saúde com mais de 740 e o Grupo Trofa Saúde, que passa a partir desta segunda-feira a deter mais de 500 camas.
No total, somada toda a actividade privada, o sector já atende um milhão de urgências por ano (o que corresponde a 13% do total do país), dá mais de cinco milhões de consultas (30% do global do país), interna 200 mil doentes (quase 20% do total) e gera uma facturação na ordem dos 1,5 mil milhões de euros anuais. No entanto, no que diz respeito ao número de camas, Artur Osório ressalva que nem todas estão abertas e que a oferta é ajustada à procura em cada momento. “Ao contrário do sector público nós abrimos as camas em função da procura, de forma gradual, o que torna tudo mais racional. O ambulatório começa a funcionar em pleno muito mais cedo e o internamento é sempre gradual no crescimento”.
cont

11:23 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

...
A presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Marta Temido, ressalva que “a capacidade de resposta dos serviços de saúde cada vez menos deve ser avaliada à luz do número de camas disponíveis”, sobretudo tendo em consideração que há efectivamente cada vez mais procedimentos feitos em ambulatório e sem recurso a internamento do doente. Para Marta Temido o olhar deve concentrar-se nas “ofertas a montante e a jusante”, isto é, nos cuidados primários de saúde e na oferta de cuidados continuados – e é nestes campos que considera que a resposta pública pode ser melhorada para retirar pressão desnecessária dos serviços hospitalares.
Ainda assim, a administradora hospitalar alerta que a redução de camas nos hospitais públicos, na ordem das quase 700 no período de um ano, tem “sido uma mera resposta a razões economicistas”, insistindo que as camas de agudos que estão a ser fechadas nem sempre são as que estavam de facto a mais, lamentado que com estas falhas o sector privado acaba por sair favorecido, “como se vê pelo consecutivo aumento do número de camas”. Marta Temido lembra também que, neste campo, Portugal conta com menos camas que outros países. Aliás, de acordo com os dados da OCDE, o país tinha em 2011 um total de 337,9 camas por cada 100 mil habitantes, quando na média da União Europeia o valor estava nas 535,2. A liderar a tabela surgia a Alemanha, com 829,9 camas por cada 100 mil habitantes, seguida pela Áustria e Bélgica. Na causa da tabela surge a Irlanda, Reino Unido e Suécia, esta última com pouco mais de 270 camas.
JP 12.01.15 link

11:23 da tarde  
Blogger xavier said...

O Ministro perdeu completamente o tino.

Confrontado com urgências com número de medicos insuficiente, do quadro e alugados à hora, vem agora defender que sejam enfermeiros a prescrever exames e medicamentos?? Os próximos substitutos são os auxiliares!

Eu até acredito que é possível substituir algum do trabalho médico por enfermeiros, mais qualificados, dentro de normas e protocolos clínicos bem definidos e com acompanhamento e avaliaçºao. Assim corresponderia apenas a mais exames e mais despesas, como bem diz a Ordem dos médicos.
O que precisamos é ter mais médicos e enfermeios de família não aumentar cada vez mais a oferta no serviço de urgência.

O príncipe vai mesmo nú, como diz o haja saúde!
Perth Inácia

12:59 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

situação caótica
Luísa Salgueiro abriu a sessão com duras críticas à actuação da equipa da João Crisóstomo afirmando que «a situação caótica nas urgências é muito grave» e é o reflexo dos «problemas de todo o Serviço Nacional de Saúde (SNS)» em consequência «das opções políticas deste Governo». «A imagem que o Ministério da Saúde tentou vender de que os cortes e a austeridade na Saúde decididos por este Governo não punham em causa o SNS caiu definitivamente por terra com o que se está a acontecer nas urgências hospitalares», acrescentou.
Também para o Bloco de Esquerda a situação de ruptura nas urgências noticiada ao longo das últimas semanas «era previsível e evitável se a política do ministro da Saúde não fosse determinada pela poupança», afirmou João Semedo.
Já para Miguel Santos do PSD Miguel Santos as longas horas de espera reportadas em alguns serviços de urgência não são «um problema novo, mas sim que já acontece, infelizmente, todos os anos", o mesmo tendo sido reportado ao longo das legislaturas da responsabilidade do PS. Uma ideia secundada por Teresa Caeiro, já que a deputada do CDS lembrou aos socialistas que o anterior Executivo «teve conhecimento desta situação durante sete anos».

«Os cortes na Saúde, sobretudo quando os cortes decididos por Vossa Excelência foram mais do dobro do que estava previsto no Memorando da Troika, têm custos sim e os resultados estão agora, da pior forma, à vista». Luísa Salgueiro, PS

«Quando temos urgências de hospitais organizadas para atendimentos médios de 200 utentes e de repente num determinado dia fruto da gripe, do clima, acabam por comparecer 300, 400, 500 utentes como foi o caso de um hospital naturalmente que existe uma necessidade de se adaptar os tempos de resposta». Miguel Santos PSD

«O Senhor Ministro sabe que é pelas opções políticas deste Governo, foi pelas medidas que este e anteriores governos tomaram, que levaram a que muitos profissionais de Saúde abandonassem precocemente o Serviço Nacional de Saúde». Carla Costa, PCP

«O Sr. ministro preferiu poupar em vez de reforçar os mecanismos de resposta do Serviço Nacional de Saúde». João Semedo, BE
«O caos que se vive nas urgências hospitalares não tem nada a ver com o aumento da afluência que, em alguns casos, até é menor do que no ano passado". José Luís Ferreira, Partido Os Verdes
Tutela «desistiu» da reforma dos CSP

Para além das críticas à situação vivida nos Serviços de Urgência os socialistas, pela voz de Luísa Salgueiro, acusaram ainda Paulo Macedo de ter parado «e desistido da reforma dos cuidados de saúde primários [CSP]». Uma atitude que tem resultado na redução da abertura de novas USF e tem intencionalmente impedindo a progressão das unidades actuais para modelo B e reduzindo os horários de atendimento das unidades com alargamento de horário
A deputada socialista criticou anda a criação de «mega agrupamentos [de centros de saúde] ingovernáveis».
Luísa Salgueiro argumentou ainda que Paulo Macedo não levou avante a prometida reforma hospitalar também consagrada no documento assinado com as entidades internacionais, nem cumpriu com o reforço da Rede de Cuidados Continuados Integrados, considerado essencial para o sucesso da reestruturação do parque hospitalar nacional.
Ainda sobre os hospitais e as urgências, a deputada socialista afirmou que o responsável da Saúde tinha sido «devidamente alertado» pelos socialistas, pelas ordens dos Médicos e dos Enfermeiros, pelos sindicatos dos profissionais de Saúde e pelas comissões de utentes para as possíveis consequências da redução serviços «ao mínimo e em algumas circunstâncias abaixo do aceitável».

2:02 da tarde  

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