quinta-feira, maio 28

Ainda vamos a tempo...

Um mote de três versos e uma glosa de meia página em prosa corrida

Mote

Austeridade trava meritocracia no setor público
Interesses e corrupção minam Hospital de Santa Maria
A saúde que temos e a que nos prometem
Glosa
Desde finais dos anos 90 com o fim das carreiras na administração pública, a introdução dos contratos individuais de trabalho, a utilização do método da livre escolha para os mais diversos lugares sem correspondência em competências devidamente comprovadas, o menos prezo do interesse público e da ética pública, a partidarização, o clientelismo etc., a Administração Pública portuguesa tem vindo a retroceder (dolosamente, por quem é responsável) em termos de qualidade e de eficiência, por razões que se prendem fundamentalmente com a falta de mérito dos seus novos agentes. Em geral, é gente sem escrúpulos, sem habilitações, sem ética.
Com gente desta à frente das instituições e dos serviços públicos está aberto o caminho para o favoritismo político, o tráfico de influências, a mediocridade, a perda de qualidade dos serviços prestados, o desprezo pela coisa pública e a corrupção. O mal não está na Maçonaria, na Opus Dei, na Opus Gay. O mal está no sistema.
O setor da saúde é aquele onde todos estes problemas são mais visíveis. Em primeiro lugar, porque todos estávamos habituados a ter um SNS gerido com outras regras, em que o que prevalecia era o interesse público. Havia problemas é certo, mas de outra natureza. Falta de autonomia de gestão, falta de critérios objetivos de financiamento, regras rígidas de gestão, etc. Mas havia maior transparência, maior igualdade, mais ética, menos corrupção, menos favoritismo, menos tráfico de influência.Em segundo lugar, porque havia gestores especialmente habilitados e formatados para gerir tendo emvista o interesse público e nehum interesse particular.
A administração hospitalar é bem o exemplo de tudo quanto de pior tem acontecido na Gestão Pública. 
Todo este quadro foi dolosamente preparado por uns, para destruir a coisa pública, eventualmente cavalgado, por negligência, por outros. 
Nada está perdido. É possível reverter o sistema, maximizando as vantagens (autonomia de gestão, regras legais de gestão mais flexíveis e mais rápidas, com transparência, igualdade, mérito, especialização de competências, etc.) minimizando as desvantagens (tirar o tapete ao oportunismo, ao favoritismo, ao clientelismo, à corrupção). 
Haja vontade política, sobretudo por parte daqueles que nos vêm propor a mudança.
Gregório Nazianzo

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1 Comments:

Blogger Unknown said...

A corrupção foi mais evidente até meados de 2000, e sofreu uma quebra com a reorganização dos serviços. "Com efeito, a introdução da informatização dos serviços, as alterações nas chefias dos serviços de apoio (com a vinda de atores do sector privado bancário ou do sector dos seguros de saúde), a entrega de relatórios de contas por serviço, área ou departamento, ou a externalização de certos serviços (como a alimentação, a lavandaria ou obras de manutenção) fazem com que o despesismo seja mais controlado", adianta o relatório.O documento revela igualmente casos de absentismo de chefias médicas nos serviços de acção médica e nomeações dos directores de serviço feitas "à revelia das normas e regulamentos".

Haja Deus!
Este país que já era uma imitação reles no tempo do Eça, está a tornar-se irrespirável com gente desta que não só é parva como, pior do que isso, nos quer fazer de parvos a todos nós.
Ao que isto chegou!
Que investigadora esta! Paga por quem? Pelos mesmos que se divertem a brincar com os trabalhadores no dia 1 de Maio (os donos da cadeia Pingo Doce). A investigadora limitou-se a procurar ouvir o que os seus ouvidos queriam ouvir. A investigação foi baseada em questionários e entrevistas. A quem foram feitas as entrevistas e passados os questionários? Às novas chefias dos serviços de apoio, pois claro, vindos do setor privado bancário ou do setor dos seguros de saúde…vejam lá!
Querem fazer-nos querer que o problema era a gestão pública, quando o que se verifica é precisamente o contrário. Havia problemas, sabemo-lo. Mas se existem problemas de clientelismo, de corrupção, de tráfico de influências, de incompetência é agora que eles existem em larga escala, como todos sabem, depois da introdução na administração pública e nos hospitais das regras da gestão privada, dos gestores privados.
São eles, «as novas chefias vindas do setor privado bancário ou do setor dos seguros de saúde» os principais responsáveis pelo estado de clientelismo, do tráfico de influências, da corrupção, a que isto chegou.
Como foram estas chefias contratadas? Com base em que méritos? Por concurso? Não foi na base deste mesmo clientelismo, do tráfico de influências, da corrupção?
Haja decoro, snr Manuel dos Santos! Haja decoro senhora «investigadora». Haja decoro senhores gestores «vindos do setor privado bancário ou do setor dos seguros de saúde».
Brincar com gente simples e necessitada como sucede no 1º de maio é grave. Procurar brincar com gente supostamente menos simples e menos necessitada…é desaforo!
Só uma imprensa vendida é que dá guarida a estudos destes.
Toca a ler o último romance do Umberto Eco sobre o que é a imprensa de hoje. Ao menos para que não digam que não foram avisados.

12:54 da tarde  

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