domingo, maio 17

Saúde, mudança de paradigma

Direita liderada por "neoliberal assanhado" está contra SNS
O advogado e antigo governante António Arnaut afirmou, este sábado, que há "uma direita reacionária" no poder em Portugal, "presidida por um neoliberal assanhado", que não tem sensibilidade e está contra o Serviço Nacional de Saúde.
Há "gente de direita que defende o Serviço Nacional de Saúde (SNS), há uma direita social - não esquecer - que defende a doutrina social da Igreja [católica]", ressalvou António Arnaut, que falava na sessão de encerramento da conferência "Defender o SNS. Promover a saúde", que hoje decorreu em Coimbra, por iniciativa do PS.
Mas também há "uma direita reacionária, que é a que está no poder, presidida por um neoliberal assanhado, que não tem sensibilidade social nenhuma" e não defende o SNS, sustentou o antigo dirigente socialista e fundador do SNS.
"O SNS tem resistido pela sua grande força na consciência popular", sublinhou.
Em 2012, "só a ADSE [subsistema de saúde para funcionários e agentes da administração pública] pagou 500 milhões de euros" a prestadores de cuidados de saúde privados, afirmou António Arnaut, questionando se "esses serviços" entregues a privados não poderiam ter sido desempenhados pelo SNS.
"Nos últimos anos, o SNS perdeu quatro mil camas" e o setor privado "aumentou duas mil camas", salientou o antigo ministro dos Assuntos Sociais, apontando estes dados como outro dos indicadores que revelam que o atual Governo está contra o SNS e a favorecer o setor privado, que nunca "esteve tão viçoso" como agora.
"Se não fosse a Constituição da Republica" a atual maioria "já tinha revogado o SNS", afirmou.
O Estado social é a marca identitária do PS e o SNS é a sua "trave mestra", conclui António Arnaut, depois de considerar que "sem o PS não teria havido SNS" e que a respetiva legislação (Lei nº 56/79, de 15 de Setembro) foi aprovada pela Assembleia da República, há 35 anos, com os votos contrários dos partidos que formam a coligação que atualmente está no poder.
JN 17/05/2015
António Arnault, principal mentor, executor político e denodado defensor do modelo tipo Beveridginiano que é o nosso, sabe que, vítima de bullying continuado, o SNS foi encostado às cordas.
Utilizando a ADSE e demais subsistemas públicos como cavalos de Troia, a direita neoliberal e uma dita esquerda blairiana, vêm manobrando no sentido de o substituir por um modelo assente em seguros de saúde (públicos ou privados) numa plataforma concorrencial aberta tão a gosto dos grupos económicos que hoje dominam financeiramente o sector, influenciam ideologicamente a sociedade e, na sombra, fazem lobbying politico.
O aumento brutal das taxas moderadoras teve, entre outros objetivos, habituar-nos aos copagamentos e a aceitar que um modelo que tendo começado por ser universal e de livre acesso, se transforme num tendencialmente pago. O chamar da ADSE à tutela do Ministério da Saúde, agora que é suportada exclusivamente pelos beneficiários, servirá para a mudança de paradigma pretendido.
A estes sectores, pouco lhes importa que haja cerca de 50% de concidadãos isentos de taxas moderadoras, a maioria por insuficiência económica, que cerca de 1/3 da despesa em Saúde seja já suportada pelas famílias ou que a Nação esteja exaurida pelo pagamento de cerca de oito mil milhões de euros/ano em juros da divida. O que querem é mudar o paradigma da Saúde, a quem não servir o fato que ande nu.
Tavisto

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