terça-feira, setembro 29

Indiferenciar os médicos?


A abertura de um elevado número de vagas para o concurso do Ano Comum parece, à primeira vista, uma boa medida por parte do Ministério da Saúde. Mas será, realmente? Atualmente, o Ano Comum apresenta-se como um ano de formação complementar, entre a conclusão do curso superior e a entrada na especialidade, que contribui para dotar os recém-graduados de competências profissionais que não são possíveis de obter durante o seu percurso académico, dado o elevado número de estudantes que atualmente ocupam as escolas médicas portuguesas.
Número este que tem obrigado ao aumento de vagas disponíveis todos os anos. Contudo, o Governo propõe agora um aumento desmesurado, comparativamente às necessidades, para um número de vagas total de 2147, o que reflete um problema que muito preocupa os estudantes de medicina de Portugal. Com a introdução do Decreto-Lei n.º 86/2015, os médicos que concluam o Ano Comum adquirem autonomia profissional, o que lhes permite observar, tratar, encaminhar e prescrever medicamentos livremente. Esta possibilidade, juntamente com a realidade de que nem todos os médicos que concluam o Ano Comum irão ter uma vaga de especialidade, facilmente nos faz perceber que o Governo pretende começar a gerar médicos indiferenciados em Portugal. Ou seja, médicos que, pela força do sistema, não puderam concluir a sua formação médica, e para que não fi quem inativos durante anos, irão prestar cuidados de saúde indiferenciados.
Além de se colocar em questão a qualidade da formação, atualmente reconhecida a nível nacional e internacional, coloca-se em perigo — o que é ainda mais preocupante — a qualidade dos serviços de saúde prestados à população portuguesa. Atualmente, os cidadãos portugueses são tratados por médicos especialistas — desde médicos de medicina geral e familiar até cardiologistas e anestesiologistas. Com estas medidas demagógicas, que falsamente são apresentadas como uma nova “contratação de mais de 2000 médicos”, e que no fundo refletem a continuidade de um processo de formação que acontece todos os anos, a qualidade dos profissionais de saúde vai decair ao longo dos anos e, consequentemente, a qualidade dos serviços de saúde prestados a todos os portugueses.
Pelo caminho, perder-se-ão anos de investimento na formação destes médicos, que, como a Ordem dos Médicos tem trazido a público, têm vindo a emigrar cada vez mais — chegando à ordem das centenas.
Assim sendo, serão as medidas assumidas pelo atual Governo aquelas que melhor protegem o Serviço Nacional de Saúde e os portugueses?
Alberto Abreu da Silva, Presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina
A caminho da “sul-americanização” do Sistema de Saúde: Um SNS pobre para os pobres a par de um sector privado florescente, a facturação dos hospitais privados mais do que a duplicar numa década, para os que podem pagar seguros públicos ou privados.
Mas o discurso oficial e pelos vistos o oficioso, continuam centrados, nos cortes e mais cortes no serviço público. 
Tavisto

Etiquetas: ,