domingo, dezembro 21

A quimera ...


O post do nosso colega tonitosa remete-nos para uma visão pueril de uma quimera inexistente. Nunca vimos no SaudeSA nenhum tipo de animosidade pessoal contra a Engª. Isabel Vaz. É verdade quando diz: …” Ela cumpre o seu papel e é certamente paga em função do mérito que lhe é reconhecido”… Quanto a isso não nos sobra nenhum tipo de dúvida. Agora quando refere: …” Sim, porque no sector privado quem não é competente não aquece o lugar”… somos invadidos pela inquietude da sua ingenuidade. Quer lugares, no sector privado mais "aquecidos" do que aqueles por onde passaram e perduram os gestores de “referência” BPN, BPP, BCP, GPSaúde, HPP, Nasdaq, Lehman Brothers, entre centenas de muitos outros já conhecidos e outros a conhecer a curto prazo?
Afinal o que é a competência?
É governar empresas “fingidas”, navegando em activos virtuais e recorrendo, sempre que necessário, a sucessivos aumentos de capital ou, pior ainda, ao chapéu protector do Estado? É gastar rios de dinheiro em propaganda para contar histórias de encantar?
Alguém conhece, com rigor, os resultados do tão proclamado “sucesso” do sector privado da saúde em Portugal?
Os utentes que, durante mais de uma década, recorreram ao SU do HFF terão sentido alguma vez a expressão do sucesso dessa experiência de gestão?
É evidente que este tipo de abordagem não pode estar contaminado por questões pessoais, frustrações ou preconceitos ideológicos. Nesta discussão é irrelevante saber se alguém está condicionado por ter sido afastado de um hospital público ou privado ou se está frustrado por desejar aí estar. É igualmente irrelevante discutir a circularidade oportunista que, na maior parte dos casos, não é mais a expressão “oficial” de informais “parcerias público-privadas”.

O país precisa de “espaço” para o rigor, para a seriedade e para as boas práticas comportamentais (também na gestão). Felizmente conhecemos muita gente no SNS que honra esse tipo de requisitos e que não vive atormentada por uma nomeação pública ou por um convite (milionário) privado para ir fazer bricolage gestionário apenas com um objectivo: enriquecer depressa e bem.

beveridge

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quarta-feira, novembro 12

Vale tudo ?


«O Conselho de Administração da LCS deliberou instaurar-lhe um processo disciplinar (Ana Rita Cavaco), com intenção de despedimento com justa causa, bem como a sua suspensão preventiva, com efeitos imediatos, sem perda de retribuição, antes da nota de culpa, tendo em conta que esta ainda não pôde ser elaborada e que é inconveniente a presença de V.Exa. nas instalações da empresa .»
JP 01.11.08

Estamos a falar de uma PPP. O Estado fez um contrato e como, infelizmente, noutros casos, que por aí virão, o operador é muito eficiente e barato no momento de ganhar o concurso e depois, rapidamente, entra na via clássica de "vale tudo menos tirar olhos"...
Começamos todos a ficar muito cansados. Os factos são por demais evidentes. Apenas falta agir não tendo receio de fazer política. Já todos sabemos a que o reino da tecnocracia neo-liberal nos conduz - mascambilhas e truques que terminam quase sempre, inexoravelmente, numa qualquer operação furacão. O Governo deixou passar a oportunidade de defender a imagem daquele serviço e desgasta a confiança que ele deve recolher e justificar perante os cidadãos .
beveridge

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Pedro Nunes

foto jornal público
Bastonário da Ordem dos Médicos, considera um absurdo a tentativa do Governo de regular a contratação de médicos através de empresas privadas

Pedro Nunes contesta as intenções da tutela: “o problema é mais vasto, isto limita-se a aplicar uma tabela, quanto muito provoca algum conforto aos administradores dos hospitais - que tanto clamaram que eram capazes de administrar os hospitais melhor do que os médicos - e agora precisam de se colocar por baixo do chapéu de chuva Governo para que o Governo os proíba de pagarem aquilo que eles sabem que têm que pagar”. O bastonário acusa ainda o Governo de assumir posições contraditórias e considera que as medidas agora conhecidas provam que o caminho da empresarialização dos hospitais está errado.
…/…
Há muito que a Ordem dos Médicos foi perdendo qualidade na sua representação formal. Longe vão os tempos em que, à sua frente se sucediam figuras gradas da Medicina Portuguesa respeitáveis e respeitadas. Esta evolução não tem sido favorável ao sistema de saúde na sua mais larga amplitude. Com efeito, o país teria muito a ganhar com uma representação qualificada que fosse capaz de intervir na discussão dos grandes temas que atravessam o sistema de saúde. Dessa circunstância beneficiariam, em primeiro lugar, os médicos mas também, claramente, os utentes do sistema e os cidadãos em geral.
Vivemos outro tempo. Ao invés dessa circunstância somos confrontados com uma enorme fragilidade bem ilustrada pelo que tem sido o corrupio de intervenções avulsas do Sr. Bastonário - primeiro, a propósito de um alegado prolongamento de internamentos nos hospitais, depois a propósito da medida do Governo de regular a aquisição de trabalho médico, através de empresas, por parte de Instituições do SNS.
Após se ter referido a factos (altas proteladas) que, objectivamente, desconhece como “manipulação miserável” ameaçando punir, arbitrariamente, os médicos que ousassem pactuar com aquele tipo de práticas (como se em matéria de punição disciplinar alguém levasse a sério o Sr. Dr. Pedro Nunes) veio agora pronunciar a “pérola” de retórica acima ilustrada. Faz pena ver o primeiro representante dos Médicos portugueses fazer uso de uma linguagem pobre, panfletária contaminada pelo verdete do léxico sindical em que foi doutrinado. Não discute factos nem ideias, antes pelo contrário, pronuncia um discurso suportado em “slogans” no qual, nunca consegue disfarçar, o seu verdadeiro inimigo – um sistema público moderno, eficiente e acessível. Se assim não fosse, provavelmente, já o teríamos ouvido ameaçar excomungar os médicos que participam em processos de selecção adversa, interrupção abrupta da relação médico-doente por razões financeiras (doentes oncológicos do sector privado) entre muitas outras situações.
É, por isso, pouco provável que, alguma vez, lhe ouçamos um reparo, pequeno que seja, sobre o sector privado, rotulado de complementar (sobretudo do rendimento dos profissionais) ou sequer das falhas do “paradigma sonhado” de um imenso sistema convencionado financiado, directamente, pelo dinheiro dos contribuintes.
Quanto à sanha exaltada relativamente à empresarialização ficamos curiosos se também será tão crítico das PPP’s com gestão clínica (expressão máxima da dita empresarialização) ou, se pelo contrário, como neste caso os gestores são privados não lhe é conveniente pronunciar-se.
Compreendemos, tal rebuço. De facto três anos sucessivos sem orçamento rectificativo, compressão dos custos a um dígito com sinais de alívio sobre a sustentabilidade do SNS comprometem muita coisa. Para aqueles que querem “desfazer” o SNS e retalhá-lo aos bocados dispersando o seu espólio pelas negociatas, saciadoras dos interesses particulares, o pior que pode acontecer é contrariar a insustentabilidade, saldar as dívidas, modernizar as infra-estruturas ou melhorar o acesso.
Os últimos anos trouxeram, para o Sr. Bastonário, um grande número de sinais de inquietação. Por um lado, um discurso político menos ambíguo e mais centrado no interesse público por outro, a evidência (agravada pela crise do liberalismo) de que o Estado tem de estar presente, ser eficaz e garantir a qualidade. Com isso esboroam-se as ilusões construídas à volta de um grande mar de PPP’s e de um apetitoso espólio público entregue, de mão beijada, ao sector convencionado.

beveridge

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terça-feira, junho 24

Gato escondido com rabo de fora

eng.ª Isabel Vaz, foto revista Iess
Privatizar a Saúde ou a Arte de Cavalgar o engenho na “Gestão Clínica” (Privada)
O trabalho publicado hoje no DN link é apenas o aroma daquilo que viria a ser um sistema de saúde com preponderância dos interesses privados nas áreas do financiamento e da prestação de cuidados de saúde. As declarações verdadeiramente “desconcertantes” da responsável do Hospital da Luz revelam o quão as areias estão movediças. O povo diz e bem “gato escondido com o rabo de fora”. Isto acontece, justamente, no dia em que no congresso do PSD, a novel líder MFL se referiu, com sepulcral ênfase, ao “sofrível” SNS reafirmando que tudo fará para encontrar maneira de “compensar” aqueles que já estão a pagar soluções privadas.
O mais lamentável, neste relato, não é o ficarmos a saber, publicamente, o que todos que trabalham no sector há muito conhecem. É incontornável o facto de que a prestação privada (orientada por objectivos de lucro) fará sempre a gestão (clínica) do acesso fundamentalmente por dois tipos de critérios: Entra primeiro quem melhor pagar ou então quem deixar, no final dos diferentes actos de consumo, a melhor margem. O mais grave é que estes responsáveis empresariais e dirigentes políticos relevam a natureza imoral deste comportamento reiterando, com enorme desassombro um total desrespeito pelos mais elementares critérios de ética no acesso dos utentes à prestação equitativa de cuidados de saúde com base em critérios económicos.
É claro que, a este propósito, os arautos do costume virão arremessar com a famigerada ERS. Não valerá a pena voltar à triste história da regulação em Portugal (Ensino Superior, Banca, Energia, etc) para rapidamente antever o que seria o sistema “deixado à solta” fingidamente “regulado” por uma Entidade sem propósito e com um profundo auto-desconhecimento da sua missão.
O mais preocupante é que os problemas, ora vindos a público, de restrição do acesso são apenas a ponta do iceberg. A verdade é que se os ditos órgãos de supervisão técnica e regulamentar fizessem o seu trabalho seria muito interessante conhecer a resposta a algumas questões:
- constituição e qualidade de equipas (médicos, enfermeiros e técnicos) nas instituições privadas (Blocos, Maternidades, Urgências, UCI’s, etc);
- supervisão técnica;
- enquadramento de equipas (as carreiras médicas, aparentemente, deixam de ter qualquer importância neste tipo de instituições)
- restrição à utilização de fármacos e de material clínico, etc;
- interrupção abrupta de tratamento (doentes oncológicos) por fim de cobertura financeira;

A ERS, a DGS, a IGAES, a OM não estarão motivadas para avaliar e fiscalizar com independência. Seria uma excelente ocasião para aferir das qualidades da gestão clínica privada e dos respectivos “milagres” de eficiência e qualidade. Talvez assim MFL chegasse à conclusão que as histórias que lhe contam estão longe de corresponder à realidade (com papas e bolos…)
beveridge

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sábado, junho 7

Liberais de pacotilha


Faz parte do código genético dos neo-liberais de pacotilha nos virem com a rábula habitual das virtudes de sistemas como a ADSE (a liberdade de escolha, o ficar mais barato, etc, etc). link O Sr. Dr. Miguel Frasquilho deveria antes averiguar os factos relativos à dívida da ADSE aos HH públicos bem como os truques que, sistematicamente, utiliza para fazer prescrever os prazos através de manobras dilatórias burocrático-administrativas e assim “eliminar” responsabilidades para com as unidades públicas de saúde. A sustentabilidade da ADSE e a lógica de acordos com os privados não resistirá a uma avaliação rigorosa, séria e independente. É quase como dizer que há 1.800.000 pessoas com seguros de saúde em Portugal. Já alguém se lembrou de perguntar ao Instituto de Seguros de Portugal quantos correspondem a seguros "virtuais" acoplados em cartões de crédito e quejandos?

Se assim fosse haveria alguma necessidade de disputar com tanta agressividade “parcerias” e convenções com o Estado? O que é facto é que o bolo é muito pequeno e começam a ser mais as bocas do que as fatias. Vide o arranque agónico do novel Hospital das Lusíadas…

beveridge

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segunda-feira, maio 26

OM


O Sr. Bastonário está a passar por momentos muito difíceis. É por essa razão que dá sinais de alguma desorientação. Disso é exemplo a ideia de se propor intervir na avaliação (pelo accionista) dos CA’s de um órgão de gestão de uma entidade pública empresarial (HH’s EPE). Dir-se-ia que estamos perante uma manobra de diversão destinada a desviar atenções sobre o ambiente interno da própria OM e das graves tensões internas que aí emergem. Com efeito a pior coisa que lhe poderia ter acontecido, neste novo mandato, tem tanto de inesperada como de cruel. A questão das cataratas e das idas a Cuba sob a aparência de uma questão menor, de contornos mais ou menos folclóricos de política autárquica, transformou-se numa verdadeira maldição da consciência do Sr. Bastonário (até porque se trata de um problema que ele conhece muito bem há muitos anos). O episódio de Cuba aflora o que de pior perpassa no sistema de saúde português. A inexorável descaracterização institucional da OM, com a progressiva tomada de poder por agentes do poder sindical, retirou à OM o papel de independência moral, rigor ético e isenção profissional que lhe está, filogeneticamente atribuído e que a tornaria um instrumento de prestígio profissional dos médicos, de respeito pelo poder político e de reconhecimento pelos cidadãos. Temos hoje uma OM fragmentada e construída em cima de interesses espúrios, negativamente convergentes. Actualmente a OM não se constitui, perante a comunidade, como o elemento fulcral de representação dos médicos e da interpretação dos valores fundamentais que enobrecem e caracterizam a Medicina mas outrossim numa espécie de mediadora de interesses sectoriais de natureza económica e corporativa.

beverigde

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