Gato escondido com rabo de fora
eng.ª Isabel Vaz, foto revista Iess
Privatizar a Saúde ou a Arte de Cavalgar o engenho na “Gestão Clínica” (Privada)
O trabalho publicado hoje no DN link é apenas o aroma daquilo que viria a ser um sistema de saúde com preponderância dos interesses privados nas áreas do financiamento e da prestação de cuidados de saúde. As declarações verdadeiramente “desconcertantes” da responsável do Hospital da Luz revelam o quão as areias estão movediças. O povo diz e bem “gato escondido com o rabo de fora”. Isto acontece, justamente, no dia em que no congresso do PSD, a novel líder MFL se referiu, com sepulcral ênfase, ao “sofrível” SNS reafirmando que tudo fará para encontrar maneira de “compensar” aqueles que já estão a pagar soluções privadas.
O mais lamentável, neste relato, não é o ficarmos a saber, publicamente, o que todos que trabalham no sector há muito conhecem. É incontornável o facto de que a prestação privada (orientada por objectivos de lucro) fará sempre a gestão (clínica) do acesso fundamentalmente por dois tipos de critérios: Entra primeiro quem melhor pagar ou então quem deixar, no final dos diferentes actos de consumo, a melhor margem. O mais grave é que estes responsáveis empresariais e dirigentes políticos relevam a natureza imoral deste comportamento reiterando, com enorme desassombro um total desrespeito pelos mais elementares critérios de ética no acesso dos utentes à prestação equitativa de cuidados de saúde com base em critérios económicos.
É claro que, a este propósito, os arautos do costume virão arremessar com a famigerada ERS. Não valerá a pena voltar à triste história da regulação em Portugal (Ensino Superior, Banca, Energia, etc) para rapidamente antever o que seria o sistema “deixado à solta” fingidamente “regulado” por uma Entidade sem propósito e com um profundo auto-desconhecimento da sua missão.
É claro que, a este propósito, os arautos do costume virão arremessar com a famigerada ERS. Não valerá a pena voltar à triste história da regulação em Portugal (Ensino Superior, Banca, Energia, etc) para rapidamente antever o que seria o sistema “deixado à solta” fingidamente “regulado” por uma Entidade sem propósito e com um profundo auto-desconhecimento da sua missão.
O mais preocupante é que os problemas, ora vindos a público, de restrição do acesso são apenas a ponta do iceberg. A verdade é que se os ditos órgãos de supervisão técnica e regulamentar fizessem o seu trabalho seria muito interessante conhecer a resposta a algumas questões:
- constituição e qualidade de equipas (médicos, enfermeiros e técnicos) nas instituições privadas (Blocos, Maternidades, Urgências, UCI’s, etc);
- supervisão técnica;
- enquadramento de equipas (as carreiras médicas, aparentemente, deixam de ter qualquer importância neste tipo de instituições)
- restrição à utilização de fármacos e de material clínico, etc;
- interrupção abrupta de tratamento (doentes oncológicos) por fim de cobertura financeira;
A ERS, a DGS, a IGAES, a OM não estarão motivadas para avaliar e fiscalizar com independência. Seria uma excelente ocasião para aferir das qualidades da gestão clínica privada e dos respectivos “milagres” de eficiência e qualidade. Talvez assim MFL chegasse à conclusão que as histórias que lhe contam estão longe de corresponder à realidade (com papas e bolos…)
- constituição e qualidade de equipas (médicos, enfermeiros e técnicos) nas instituições privadas (Blocos, Maternidades, Urgências, UCI’s, etc);
- supervisão técnica;
- enquadramento de equipas (as carreiras médicas, aparentemente, deixam de ter qualquer importância neste tipo de instituições)
- restrição à utilização de fármacos e de material clínico, etc;
- interrupção abrupta de tratamento (doentes oncológicos) por fim de cobertura financeira;
A ERS, a DGS, a IGAES, a OM não estarão motivadas para avaliar e fiscalizar com independência. Seria uma excelente ocasião para aferir das qualidades da gestão clínica privada e dos respectivos “milagres” de eficiência e qualidade. Talvez assim MFL chegasse à conclusão que as histórias que lhe contam estão longe de corresponder à realidade (com papas e bolos…)
beveridge
Etiquetas: beveridge
8 Comments:
"Entra primeiro quem melhor pagar ou então quem deixar, no final dos diferentes actos de consumo, a melhor margem"...
Vamos fazer um tentativa de "criar" um painel de prioridades (de entrada):
Utilizamos, como método de trabalho, meia dúzia de cartões (BES) de crédito, disponíveis no mercado:
1º. - T Gold
2º. - T Silver
3º. - Platinium 360º
4º. - Gold 360º
5 . - Branco
6 . - Silver
Um excelente ranking!
Assim, ficam assegurados novos critérios para substituierem essa pecha da equidade e da universalidade "sistema obsleto" com 30 anos...
Paragrafo único:
O Sr. Salvador entra, à frente de tudo e todos, sem necessidade de exibir cartão!
«As declarações verdadeiramente “desconcertantes” da responsável do Hospital da Luz », pela sua arrogância, são reveladoras de um novo estado de alma dos investidores privados.
Já cantam vitória.
E a Manela Ferreira Leite aí está para lhes dar novo fôlego.
se conseguir ganhar as próximas eleições.
Até lá, vai empatando. ou seja, não faz nem vai deixar fazer!
Errata:
Não é o Sr. Salvador (que tem produção própria e independente) mas o Sr. Ricardo.
SAÚDE -
A nova semiótica PSD.
E como universalidade e gratuitidade - se podem transformar na quimera do Ouro e da Luz.
É mais do que notório que abriu a época de caça ao SNS.
A Engª Isabel Vaz, acha que é oportuno, vincar que os HH's que administra têm regras próprias, e para manter equilibrios financeiros tem quotas, p. exº., para os beneficiários da ADSE.
Se algo de parecido fosse tentado no Sector público seria o fim da picada...
Mas, o enternecedeor é a confluência de desejos, discursos e intenções.
Não tem coragem de chamar os bois pelos nomes.
Ora vejam esta peça de retórica do Congresso do PSD (da sua presidente) sobre o SNS:
"o crescente interesse das populações implica um investimento crescente num sistema que deve ser universal e de acesso gratuito a todos os que não têm meios para comparticipar o custo dos serviços prestados.
Acabo de ler esta prosa e lembro-me de Bagão Felix, no seu melhor.
Mas o que me espanta é o falso pudor. É a maneira enganosa como se tratam problemas cruciais. Vive-se como no salazarismo. Uma semântica política fechada falava em democracia (só que era orgânica), eleições (só que um colégio eleitoral era mais esclarecido), etc.
O PSD, e no concreto MFL, não consegue erradicar a universalidade do paleio de chacha que resolve debitar da tribuna, nem a gratituidade das suas cristãs intenções caritativas.
Chama-se a isto a caça aos incautos.
Por este caminho, e por melhor que lhe corra a vidinha não vai conseguir 2/3 para mudar o art.º 64.º da Constituição da República.
Só que a base política de apoio ao SNS iniciou com o PSD o caminho da contracção, primeiro política, mas desde logo, social.
Como gostam de vangloriar-se quando constroiem alguma coisa - mesmo que insignificante - precisam de ser, também, identificados os destruidores.
Todavia, alimento a esperança de que se estabeleça um profundo desfazamento entre esta opção política redutora e a uma grande maioria sociológica que penso manter-se firme e determinada a não abdicar do SNS.
A Esquerda, dora avante, não pode tolerar sobre esta matéria, que continuará o cerne da Saúde em Portugal, quesões existenciais.
Universal, equitativo e tendencialmente gratuito.
A última cedencia foi o tendencialmente.
Julgo que a populaça aprendeu com a história das taxas moderadoras. Se for chamada a pronunciar-se não caírá noutra.
Na questão da Saúde, o grande vencedor do Congresso do PSD foi Pedro Passos Coelho. MFL cavalgou uma onda que não chega à praia - vai enrolar-se...
Excelente post.
Um excelente post quanto às intenções de MFL e insultuoso quanto à independência (ou falta dela) das entidades reguladoras/fiscalizadoras.
À PALA do ESTADO
Na opinião de Maria de Belém Roseira assistiu-se ao surgimento de uma sector privado que «cresceu à custa de recursos públicos» sem que tivessem sido negociadas contrapartidas. Esta «distracção», acusou Maria de Belém Roseira, constitui um «crime económico».
TM 23.06.08
O SNS tem sido uma verdadeira vaca leiteira das empresas privados.
Eu não lhe chamaria distracção...
Quando até quadros de empresas privadas que operam na Saúde chegam a ministro.
Quando é que se lhes vai acabar a mama?
«O bastonário da Ordem dos Médicos sugeriu hoje que eventuais mecanismos de convenção, que "tornem público o investimento privado", poderão assegurar aos portugueses o acesso à Saúde porque apenas uma "faixa residual" pode pagar tratamentos no sector privado.
"Actualmente o sector privado não substitui o serviço público e apenas uma faixa residual da população tem capacidade financeira para ser tratada em situações de gravidade estritamente no sector privado. Provavelmente teremos de encontrar mecanismos de convenção, que tornem público o investimento privado, como se faz em França e na Alemanha", referiu Pedro Nunes, depois de uma audiência com o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.»
Com bastonários assim...
O sistema convencionado induz maiores consumos de consultas; MCDTS,tratamentos, etc.
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