quarta-feira, agosto 23

Carta Breve

AO MINISTRO DA SAÚDE DO AMIGO ANTÓNIO

Excelência,
Desculpe tratá-lo deste modo tão reverencial, mas o tempo entre as nossas epístolas começou a ser tão longamente espaçado e os efeitos do poder costumam ser tão inevitáveis (o poder modifica as pessoas, ainda que se diga e pense o contrário) que temo que a nossa relação de amizade possa ter sido abalada. Espero que não. É neste pressuposto, por isso, que lhe escrevo, pensando, apesar de tudo, que a muita amizade que sempre tive e continuo a ter por si me dará a liberdade de lhe escrever para lhe chamar a atenção para um aspecto recente da sua governação que me deixou muito preocupado e também muito perplexo. Preocupado, pois sinto que o meu caro amigo ainda não terá ido de férias e temo que esteja a precisar delas com urgência, absolutamente. Digo isto, porque tenho verificado que depois de muitas medidas acertadas e corajosas (já agora, deixe-me que lhe diga que aprecio enormemente a sua coragem política. Talvez seja esta, entre todas a sua principal qualidade, sobretudo num país de meias-tintas, de arranjinhos, de conveniências, e de mansidão, V. Exª tem sabido ser firme nas suas decisões, elas próprias de enorme coragem e de grande valia técnica e política), V. Exª começa a dar sinais de algum desnorte. Precisa de assentar. De retomar a sua recente clarividência. Digo isto a propósito de um recente despacho de contenção de despesas nos Hospitais do SNS que é um sinal evidente de algum esgotamento emocional governativo e o motivo da minha perplexidade e a razão principal desta minha carta.
De facto, este despacho, nas mãos de um Eça (Conde de Abranhos) ou de um Camilo (A Queda de um Anjo), bem lapidado, evidenciaria um verdadeiro diamante do disparate, da política kisch, do focus-fatuum (o povo português é politicamente cego, eu sei, mas embora). Não o vou dissecar. Embora me apetecesse. Deixo isso para o Vasco Pulido Valente, agora distraído com a Guerra no Líbano, ou para o Sousa Tavares, mais distraído ainda com o início da temporada futebolística, o seu FCP e o seu Movimento Anti-anti-tabágico. Espero, por si, que eles não dêem conta da matéria – prima que têm nas mãos.
Entretanto a si, Excelência, apenas lhe peço, pela grande amizade que lhe tenho, vá de férias. Não sem antes encaixilhar o despacho, pendurá-lo no Gabinete, bem à vista, para que, quando V. Exª regressar de férias não se esquecer do que não deve ser feito, que há aspectos que não devem merecer um minuto do seu precioso tempo e que outros bem mais importantes carecem da sua maior atenção, por exemplo, o estado da informática hospitalar da saúde, em particular da informática hospitalar, completamente à deriva com consequências que antevejo muito funestas a curto prazo.
Um abraço, de quem apenas espera, para bem de todos nós, que faça um bom lugar e que descanse muito. Suba ao Pico. Reflicta. (Re)leia o Assim falava Zaratustra e volte com genica.

P.S. Vejo que perdeu uns quilitos. Não lhe faz mal, nenhum. Mas cuidado, não exagere!
O Amigo de sempre,
António.
vivóporto

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6 Comments:

Blogger tambemquero said...

CC já gozou um curto período de férias, mas, como o vivóporto refere, está a precisar de novo descanso para reflectir sobre o que há a fazer em relação aos hospitais do SNS.

Assim, as coisas não vão lá.

Sem informação não há gestão.
E o que se tem andado a fazer, só tem servido para encher os bolsos dos pançudos do costume.

Será que CC está apostado em entregar a gestão dos hospitais aos privados, e, pronto...

1:36 da tarde  
Blogger coscuvilheiro said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

4:42 da tarde  
Blogger coscuvilheiro said...

Éste despacho emocional de CC remete-nos para a questão da qualidade da gestão dos nossos hospitais.

Pauzinhos com que se faz uma boa gestão:

a) -Selecção dos gestores mais aptos;

b) - Autonomia e responsabilização;

c) - Instrumentos e ferramentas de gestão.

Quanto à selecção dos gestores, todos temos presente a trapalhada que se passou.

Sobre a responsabilização das administrações, este Governo criou cartas de missão que foram entregues a todos os nomeados.
Ao bom estilo de CC, as intromissões directas nas administrações dos hospitais têm-se repetido amiúde, baralhando níveis de gestão e de Governação.

Quanto a sistemas de informação, continua tudo uma desgraça.
Muitos projectos, muito dinheiro gasto, mas nunca mais.

Dada toda esta trapalhada, tudo o que possa vir a acontecer em relação à gestão dos HHs, já nada nos surpreende.

4:46 da tarde  
Blogger naoseiquenome usar said...

... Uma pequena intromissão: sorry.
O António é o alter-ego do CC?

1:15 da manhã  
Blogger Farmasa said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

5:43 da tarde  
Blogger Farmasa said...

Mas afinal, que trapalhada é esta? Vai para SA, depois para EPE, voltam a SPA... Mas que palhaçada é esta?

Então agora descobriram que os SA'a têm liberdade a mais? Mas não eram essas as grandes vantagens??? Estavam à espera de quê?? Com os administradores brilhantes que andaram a nomear estavam à espera de melhor? Só podem estar a gozar com a nossa cara!

Esta política é um escândalo!

Faz-se muita coisa. Está-se sempre em movimento. Dá uma imagem de dinâmismo, de grande interesse em mudar as coisas... Mas afinal volta tudo ao que estava. Andam a brincar com o nosso dinheiro?? E ainda têm lata de "puxar as orelhas" aos administradores que eles nomearam???

De todas as tiradas de CC, esta será, provavelmente a que mais me revolta. A esperança de virmos a ter, com este ministro, um melhor SNS, está perdida.

6:16 da tarde  

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