Hospitais EPE do "Grande Porto"
IPO-Porto
Fonte: elaboração a partir de informação da ACSS (Evolução dos Elementos Económico-Financeiros dos Hospitais EPE Junho - 2006/2007)
i ) -O “Total dos Custos” no Semestre em análise mostra-se globalmente estabilizado, embora a “Variação 2006/2007“ seja considerável, com uma amplitude de 7,9 pontos percentuais ( - 3,58 no Hospital Santo António, neste ponto com a melhor performance do conjunto, e +3,51 no C. H. VN Gaia/Espinho e quase nula nos restantes HH). Mas não vamos mais longe, porque outros juízos exigiriam conhecer outras coisas, como a produção e a situação no ponto de partida.
ii) – Contrariamente, a análise do “Total dos Proveitos”, o menos que posso dizer é que me deixa perplexo. Não esqueço que a informação relativa aos Semestres comparados corresponde a execução (Realizado em 30/06/2006 e Realizado em 30/06/2007), enquanto que, para o total de 2006 e 2007, o que nos é dado a conhecer é o respectivo orçamento (previsão), pelo menos vem assim designado, e, se é orçamento, não sabemos em que medida foi cumprido ou excedido (tanto em Proveitos como em Custos). Não obstante, a ACSS toma os respectivos montantes no apuramento de resultados (que tem a ver com a execução e não com o orçamento) o que legitima as seguintes observações:
- No Semestre a ” Variação 2006/2007” é positiva em todos os HH do conjunto seleccionado: quase nula no H. Santo António (0,50 %) e no C. H. VN Gaia/Espinho (0,46%), elevada no IPO-Porto (23,67%) e abissal no H. São João (83,29%); se a informação está correcta, será sem dúvida um caso a analisar detidamente (ou antes um “caso de polícia? É que, neste Hospital, ou houve alteração revolucionária do quadro de fundo ou alguém não terá feito o que devia no 1º Semestre de 2006!);
3. - No pressuposto de que os orçamentos anuais não se afastam muito da respectiva execução, ou, por confusão terminológica, são mesmo a execução (orçamentos “ex post”, que a administração pública tem destas coisas!) veja-se só o que daí resulta:
É verdade que a actualização das Tabelas Hospitalares (tendencialmente anual), que devia ser feita a tempo de ser considerada na elaboração do Orçamento anual, portanto em Junho ou Julho do ano precedente – nunca compreendi por que não é assim –, só tem surgido em Março ou Abril, quando não em Outubro do próprio ano, obrigando a refazer a facturação, o que, para além do prejuízo na imagem dos HH e não só na imagem, nem sempre se consegue fazer a tempo de não afectar os montantes da realização do 1.º Semestre.
Esta explicação pode ajudar a entender que, no 1.º semestre, os HH facturem apenas 40 a 45 % do total anual, mas é claramente insuficiente para que se aceitem os 28,80 % registados pelo H. São João.
- Tenho, evidentemente, que admitir que foram respeitados os princípios orçamentais da verdade orçamental e da especialização dos exercícios; o montante da facturação do 2.º Semestre induz-me a pensar que assim foi. Se o não tivesse sido, seria mais fácil entender as diferenças como resultantes de não facturação em 2006 de produção desse ano.
4. - Confirma-se a espectacular recuperação do H. São João que, de 31.12.2006 para 30.06.2007 passou de um Resultado Operacional negativo (-5.558,1 milhares de Euros) para um Resultado Operacional positivo de 9.547,0 milhares de Euros, e fica claro que, (embora tendo um Orçamento de Proveitos inferior ao de 2006 – 294.672,0 contra 303.853,2 milhares de Euros em 2006 – sendo de esperar que ambas as marcas sejam excedidas) o salto verificado ficou a dever-se à performance do lado dos Proveitos, já que os Custos cresceram, embora pouco, relativamente a 2006. Surpresa ainda maior seria se o Resultado Operacional em 31.12.2007 mantivesse o ritmo de crescimento registado em 30.06.2007;
Fica também provado que era falso o alarme relativo ao IPO-Porto. O Resultado Operacional conseguido passou de -1.570,1 para +4.569,1 ou seja, uma melhoria de 6.139,2 milhares de Euros. Aqui a recuperação verificou-se sobretudo do lado dos Proveitos (+23,67% do que em 2006), mas também, embora muito menos, do lado dos Custos que diminuíram 0,72 % relativamente a 2006.
Quanto às dúvidas (ou questões) inicialmente formuladas relativamente ao H.S.to António e ao CH VNGaia/Espinho voltarei a elas mais adiante.
5. – Ainda na análise dos Proveitos, terá interesse comparar a sua estrutura no conjunto dos Hospitais e verificar no que, sendo todos HH-EPE, diferem uns dos outros. Com esse intuito, elaborei o quadro seguinte:
Nota: Inclui os Proveitos Financeiros e Extraordinários apesar de estes não serem Proveitos Operacionais.
Antes de mais, atente-se em que os Proveitos de cada uma das rubricas são indicados em percentagem do Total dos Proveitos, donde deriva que a expressão de cada coluna, afecta, em sentido inverso cada uma das restantes. Por isso mesmo deter-me-ei apenas nas diferenças mais significativas. Assim:
- No H. São João a percentagem de “Outros Proveitos” (25,29% em 2006 e 14,70% previstos para 2007, embora em 30 de Junho registe apenas 3,27%!), em que o peso largamente predominante é o da conta 76 (Outros Proveitos Operacionais), só se compreende se a esta conta forem levados os proveitos derivados de investimentos que o Hospital fez (criação de um Hotel, Parque de Estacionamento, por ventura outros). Não discuto o acerto com que tenham sido feitos, mas o que se não compreenderia é que os rendimentos fossem considerados Proveitos Operacionais porque esta Conta, de natureza residual e portanto com baixa expressão, como se vê nos restantes HH do conjunto que seleccionei, deve registar apenas os que estão ligados à actividade própria do hospital, o que não se verificará nos casos referidos. Aqui está uma diferença estrutural que impede, ou pelo menos dificulta gravemente, o confronto com outros HH;
- Vêm depois, mas é um problema da mesma natureza, as “Transferências correntes obtidas”. Como é sabido, a lógica do sistema é que os Proveitos provenham da produção, no caso, que provenham da “Prestação de serviços”. Proveitos, ou transferências, de outra natureza extravasam essa lógica, a menos que se fundamentem na compensação de exigências ou de características que impendem sobre o hospital beneficiário, que a este não é permitido dominar, e ainda que, sendo específicas de cada um, não sobrecarregam a generalidade dos HH, ou o fazem com medida variável. Tudo o que for além disto arrisca-se a ser considerado como indevido, depõe negativamente sobre o desempenho do hospital e dos seus gestores, e, mesmo que seja limitado no tempo (com o intuito de conter o desequilíbrio entre Proveitos e Custos reais, por exemplo, subsídios de convergência) distorce os Resultados; se tivesse que existir, deveria ser levado a “Proveitos financeiros e extraordinários” (conta esta que não afecta o Resultado Operacional) e nunca a “Transferências correntes obtidas”. No Quadro 3., o que vemos? No H. São João e no IPO-Porto verifica-se congruência com o acabado de referir. No H. S.to António (20,42% em 2006 e 17,28% previstos para 2007) e, de forma muito mais marcada, no CH VNGaia/Espinho (75,93% em 2006, reforçados para 86,88% na previsão para 2007!) as Transferências a que nos referimos revelam que não partilham do mesmo sistema de financiamento ou, em alternativa, serão tão diferentes dos outros que pertencem a outro mundo.
- Não será necessário dizer mais nada sobre as dúvidas atrás referidas relativamente ao H. S.to António e ao CH VNGaia/Espinho, a não ser que este tem pela frente um longo caminho de recuperação até uma situação comparável com a dos restantes. Ambos estão longe de atingir o auto financiamento.
6. – Depois do que deixei no ponto 2., serei muito breve na análise dos Custos pelas razões que já referi, ou seja, pela falta de informação relativa à produção e porque no Semestre em análise os Custos se mostram globalmente estabilizados. Limitar-me-ei a abordar, muito pela rama, (com as limitações da informação disponibilizada) os Custos com Medicamentos e os Custos com Pessoal, pelo seu peso real (quase75% do Total dos Custos Operacionais) e pela actualidade que muito justamente adquiriram.
Fonte: elaboração a partir de informação da ACSS (Evolução dos Elementos Económico-Financeiros dos Hospitais EPE Junho – 2006/2007)
Nota: n.d. = não disponível; a ACSS apenas publicou o total das “Matérias de consumo”
i) – Custos com Medicamentos:
- A avaliar com base no Realizado em 30/06/2006 e em 30/06/2007, todos os HH do conjunto seleccionado estão na senda da redução destes Custos, com excepção do CH VNGaia/Espinho onde se registou um crescimento de +1,26%;
- A redução no Semestre foi de -6,88% no IPO-Porto, (que, neste ponto consegue a melhor performance), de -4,71% no H. São João e de -0,23% no H. S.to António;
- O ranking inverte-se quando relevamos o peso dos Custos respectivos no Total dos Custos Operacionais. Temos então: apenas 14,11% no CH VNGaia/Espinho, 22,14% no H. S.to António, 25,02% no H. São João e 27,26% no IPO-Porto;
- Se dispuséssemos da previsão de custos para 12 meses poderíamos avaliar como os HH se situam em relação ao objectivo definido. Assim não podemos.
ii) – Custos com Pessoal:
- Também nesta área e no Semestre em análise o CH VNGaia/Espinho contrasta com os restantes, ainda que os custos em todos tenham crescido: aumentou em 10,94% os Custos com Pessoal, enquanto os restantes se contiveram todos abaixo dos 2,00% de crescimento (1,71% no H. São João, 0,94% no IPO-Porto e 0,62% no H. S.to António);
- Pior ainda, o CH VNGaia/Espinho destaca-se também como aquele que, para os 12 meses, prevê afectar maior percentagem dos Custos Operacionais aos Custos com Pessoal (54,44%). Vêm depois o H. São João (50,43%), o H. S.to António (49,49%) e o IPO-Porto, com a melhor performance, (45,40%);
- Os Custos com Pessoal serão, de todos os Custos, os mais estáveis e mais difíceis de reduzir por múltiplas razões, embora não estejam todas presentes em todas as situações (desde a cumplicidade que naturalmente se estabelece entre responsáveis e executantes, ao reconhecimento de culpa implícito na redução, à necessidade de esta ser acompanhada de reestruturação ou reorganização dos vários sectores e de nova mentalidade e de novos métodos de trabalho, …) Situam-se bem no centro da luta pela promoção da eficiência. Certamente mereceriam uma análise de maior acuidade, necessariamente mais extensa e obviamente com mais informação.
Mas o que nos propusemos foi uma análise de generalidade da evolução dos elementos económico-financeiros em quatro HH-EPE do “Grande Porto”.
Aidenos
1. - Os vários comentários, alguns surpreendentes, surgidos no Saudesa a partir da publicação pela ACSS do documento “Evolução dos Elementos Económico-financeiros dos Hospitais EPE Junho - 2006/2007” link link (motivaram-me para a pesada tarefa de recolher, reconfigurar e analisar a informação que pudesse confirmar ou afastar dúvidas que me pareciam consistentes.
Quais as surpresas e as dúvidas? Curiosamente, mas talvez não por mero acaso, incidem todas sobre hospitais da Região Norte e, mais concretamente, em hospitais do ”Grande Porto”. Surpresas foram, para mim, a espectacular recuperação de situação pelo Hospital de São João e a derrocada, primeiro anunciada e depois desmentida, do IPO-Porto. Dúvidas (ou curiosidades): i) a saúde económico-financeira do H.S.to António apoia os propósitos, anunciados pela sua Administração, de auto financiar projectos financeiramente exigentes (como a construção de um centro de cirurgia ambulatória para a Região Norte)? ii) Qual a situação do CH VNGaia/Espinho, que tem o seu primeiro semestre no regime EPE? É a contra gosto que excluo da análise o Hospital Pedro Hispano, que completaria o grupo de maiores HH do ”Grande Porto”, porque a informação publicada respeita à Unidade de Saúde Local de Matosinhos - EPE, sendo válida em si mesma, mas não confrontável com a dos restantes Hospitais, que não têm compromissos na área dos CSP.
Por meras razões de operacionalidade, ou melhor, para diminuir o volume de trabalho, só destes hospitais me vou ocupar, mas é evidente que seria de interesse estabelecer o confronto com os HHCC de Lisboa e Coimbra, IPOs incluídos. Noutra oportunidade, se outros o não fizerem.
Não consigo calar uma prevenção que muitos sentirão como eu sinto: analisar Proveitos e Custos num hospital, fazendo completa tábua rasa da Produção que, esta, uns e outros deve determinar e justificar deixa inevitavelmente na boca um sabor a “chapéu velho”, o tal que, no dia seguinte, nos faz perguntar: afinal, por que me meti nesta? Temos que superar porque é o que temos.
A análise que se segue é, pela vastidão do tema, de grande generalidade, ou, se preferirem, uma justaposição da informação de 4 HH, com o objectivo de facilitar a leitura e pouco mais link.
2. - A simples análise de totais em receitas e despesas já esclarece muita coisa:
Quais as surpresas e as dúvidas? Curiosamente, mas talvez não por mero acaso, incidem todas sobre hospitais da Região Norte e, mais concretamente, em hospitais do ”Grande Porto”. Surpresas foram, para mim, a espectacular recuperação de situação pelo Hospital de São João e a derrocada, primeiro anunciada e depois desmentida, do IPO-Porto. Dúvidas (ou curiosidades): i) a saúde económico-financeira do H.S.to António apoia os propósitos, anunciados pela sua Administração, de auto financiar projectos financeiramente exigentes (como a construção de um centro de cirurgia ambulatória para a Região Norte)? ii) Qual a situação do CH VNGaia/Espinho, que tem o seu primeiro semestre no regime EPE? É a contra gosto que excluo da análise o Hospital Pedro Hispano, que completaria o grupo de maiores HH do ”Grande Porto”, porque a informação publicada respeita à Unidade de Saúde Local de Matosinhos - EPE, sendo válida em si mesma, mas não confrontável com a dos restantes Hospitais, que não têm compromissos na área dos CSP.
Por meras razões de operacionalidade, ou melhor, para diminuir o volume de trabalho, só destes hospitais me vou ocupar, mas é evidente que seria de interesse estabelecer o confronto com os HHCC de Lisboa e Coimbra, IPOs incluídos. Noutra oportunidade, se outros o não fizerem.
Não consigo calar uma prevenção que muitos sentirão como eu sinto: analisar Proveitos e Custos num hospital, fazendo completa tábua rasa da Produção que, esta, uns e outros deve determinar e justificar deixa inevitavelmente na boca um sabor a “chapéu velho”, o tal que, no dia seguinte, nos faz perguntar: afinal, por que me meti nesta? Temos que superar porque é o que temos.
A análise que se segue é, pela vastidão do tema, de grande generalidade, ou, se preferirem, uma justaposição da informação de 4 HH, com o objectivo de facilitar a leitura e pouco mais link.
2. - A simples análise de totais em receitas e despesas já esclarece muita coisa:
Fonte: elaboração a partir de informação da ACSS (Evolução dos Elementos Económico-Financeiros dos Hospitais EPE Junho - 2006/2007)
i ) -O “Total dos Custos” no Semestre em análise mostra-se globalmente estabilizado, embora a “Variação 2006/2007“ seja considerável, com uma amplitude de 7,9 pontos percentuais ( - 3,58 no Hospital Santo António, neste ponto com a melhor performance do conjunto, e +3,51 no C. H. VN Gaia/Espinho e quase nula nos restantes HH). Mas não vamos mais longe, porque outros juízos exigiriam conhecer outras coisas, como a produção e a situação no ponto de partida.
ii) – Contrariamente, a análise do “Total dos Proveitos”, o menos que posso dizer é que me deixa perplexo. Não esqueço que a informação relativa aos Semestres comparados corresponde a execução (Realizado em 30/06/2006 e Realizado em 30/06/2007), enquanto que, para o total de 2006 e 2007, o que nos é dado a conhecer é o respectivo orçamento (previsão), pelo menos vem assim designado, e, se é orçamento, não sabemos em que medida foi cumprido ou excedido (tanto em Proveitos como em Custos). Não obstante, a ACSS toma os respectivos montantes no apuramento de resultados (que tem a ver com a execução e não com o orçamento) o que legitima as seguintes observações:
- No Semestre a ” Variação 2006/2007” é positiva em todos os HH do conjunto seleccionado: quase nula no H. Santo António (0,50 %) e no C. H. VN Gaia/Espinho (0,46%), elevada no IPO-Porto (23,67%) e abissal no H. São João (83,29%); se a informação está correcta, será sem dúvida um caso a analisar detidamente (ou antes um “caso de polícia? É que, neste Hospital, ou houve alteração revolucionária do quadro de fundo ou alguém não terá feito o que devia no 1º Semestre de 2006!);
3. - No pressuposto de que os orçamentos anuais não se afastam muito da respectiva execução, ou, por confusão terminológica, são mesmo a execução (orçamentos “ex post”, que a administração pública tem destas coisas!) veja-se só o que daí resulta:
É verdade que a actualização das Tabelas Hospitalares (tendencialmente anual), que devia ser feita a tempo de ser considerada na elaboração do Orçamento anual, portanto em Junho ou Julho do ano precedente – nunca compreendi por que não é assim –, só tem surgido em Março ou Abril, quando não em Outubro do próprio ano, obrigando a refazer a facturação, o que, para além do prejuízo na imagem dos HH e não só na imagem, nem sempre se consegue fazer a tempo de não afectar os montantes da realização do 1.º Semestre.
Esta explicação pode ajudar a entender que, no 1.º semestre, os HH facturem apenas 40 a 45 % do total anual, mas é claramente insuficiente para que se aceitem os 28,80 % registados pelo H. São João.
- Tenho, evidentemente, que admitir que foram respeitados os princípios orçamentais da verdade orçamental e da especialização dos exercícios; o montante da facturação do 2.º Semestre induz-me a pensar que assim foi. Se o não tivesse sido, seria mais fácil entender as diferenças como resultantes de não facturação em 2006 de produção desse ano.
4. - Confirma-se a espectacular recuperação do H. São João que, de 31.12.2006 para 30.06.2007 passou de um Resultado Operacional negativo (-5.558,1 milhares de Euros) para um Resultado Operacional positivo de 9.547,0 milhares de Euros, e fica claro que, (embora tendo um Orçamento de Proveitos inferior ao de 2006 – 294.672,0 contra 303.853,2 milhares de Euros em 2006 – sendo de esperar que ambas as marcas sejam excedidas) o salto verificado ficou a dever-se à performance do lado dos Proveitos, já que os Custos cresceram, embora pouco, relativamente a 2006. Surpresa ainda maior seria se o Resultado Operacional em 31.12.2007 mantivesse o ritmo de crescimento registado em 30.06.2007;
Fica também provado que era falso o alarme relativo ao IPO-Porto. O Resultado Operacional conseguido passou de -1.570,1 para +4.569,1 ou seja, uma melhoria de 6.139,2 milhares de Euros. Aqui a recuperação verificou-se sobretudo do lado dos Proveitos (+23,67% do que em 2006), mas também, embora muito menos, do lado dos Custos que diminuíram 0,72 % relativamente a 2006.
Quanto às dúvidas (ou questões) inicialmente formuladas relativamente ao H.S.to António e ao CH VNGaia/Espinho voltarei a elas mais adiante.
5. – Ainda na análise dos Proveitos, terá interesse comparar a sua estrutura no conjunto dos Hospitais e verificar no que, sendo todos HH-EPE, diferem uns dos outros. Com esse intuito, elaborei o quadro seguinte:
Fonte: elaboração a partir de informação da ACSS (Evolução dos Elementos Económico-Financeiros dos Hospitais EPE Junho - 2006/2007)
Nota: Inclui os Proveitos Financeiros e Extraordinários apesar de estes não serem Proveitos Operacionais.
Antes de mais, atente-se em que os Proveitos de cada uma das rubricas são indicados em percentagem do Total dos Proveitos, donde deriva que a expressão de cada coluna, afecta, em sentido inverso cada uma das restantes. Por isso mesmo deter-me-ei apenas nas diferenças mais significativas. Assim:
- No H. São João a percentagem de “Outros Proveitos” (25,29% em 2006 e 14,70% previstos para 2007, embora em 30 de Junho registe apenas 3,27%!), em que o peso largamente predominante é o da conta 76 (Outros Proveitos Operacionais), só se compreende se a esta conta forem levados os proveitos derivados de investimentos que o Hospital fez (criação de um Hotel, Parque de Estacionamento, por ventura outros). Não discuto o acerto com que tenham sido feitos, mas o que se não compreenderia é que os rendimentos fossem considerados Proveitos Operacionais porque esta Conta, de natureza residual e portanto com baixa expressão, como se vê nos restantes HH do conjunto que seleccionei, deve registar apenas os que estão ligados à actividade própria do hospital, o que não se verificará nos casos referidos. Aqui está uma diferença estrutural que impede, ou pelo menos dificulta gravemente, o confronto com outros HH;
- Vêm depois, mas é um problema da mesma natureza, as “Transferências correntes obtidas”. Como é sabido, a lógica do sistema é que os Proveitos provenham da produção, no caso, que provenham da “Prestação de serviços”. Proveitos, ou transferências, de outra natureza extravasam essa lógica, a menos que se fundamentem na compensação de exigências ou de características que impendem sobre o hospital beneficiário, que a este não é permitido dominar, e ainda que, sendo específicas de cada um, não sobrecarregam a generalidade dos HH, ou o fazem com medida variável. Tudo o que for além disto arrisca-se a ser considerado como indevido, depõe negativamente sobre o desempenho do hospital e dos seus gestores, e, mesmo que seja limitado no tempo (com o intuito de conter o desequilíbrio entre Proveitos e Custos reais, por exemplo, subsídios de convergência) distorce os Resultados; se tivesse que existir, deveria ser levado a “Proveitos financeiros e extraordinários” (conta esta que não afecta o Resultado Operacional) e nunca a “Transferências correntes obtidas”. No Quadro 3., o que vemos? No H. São João e no IPO-Porto verifica-se congruência com o acabado de referir. No H. S.to António (20,42% em 2006 e 17,28% previstos para 2007) e, de forma muito mais marcada, no CH VNGaia/Espinho (75,93% em 2006, reforçados para 86,88% na previsão para 2007!) as Transferências a que nos referimos revelam que não partilham do mesmo sistema de financiamento ou, em alternativa, serão tão diferentes dos outros que pertencem a outro mundo.
- Não será necessário dizer mais nada sobre as dúvidas atrás referidas relativamente ao H. S.to António e ao CH VNGaia/Espinho, a não ser que este tem pela frente um longo caminho de recuperação até uma situação comparável com a dos restantes. Ambos estão longe de atingir o auto financiamento.
6. – Depois do que deixei no ponto 2., serei muito breve na análise dos Custos pelas razões que já referi, ou seja, pela falta de informação relativa à produção e porque no Semestre em análise os Custos se mostram globalmente estabilizados. Limitar-me-ei a abordar, muito pela rama, (com as limitações da informação disponibilizada) os Custos com Medicamentos e os Custos com Pessoal, pelo seu peso real (quase75% do Total dos Custos Operacionais) e pela actualidade que muito justamente adquiriram.
Fonte: elaboração a partir de informação da ACSS (Evolução dos Elementos Económico-Financeiros dos Hospitais EPE Junho – 2006/2007)
Nota: n.d. = não disponível; a ACSS apenas publicou o total das “Matérias de consumo”
i) – Custos com Medicamentos:
- A avaliar com base no Realizado em 30/06/2006 e em 30/06/2007, todos os HH do conjunto seleccionado estão na senda da redução destes Custos, com excepção do CH VNGaia/Espinho onde se registou um crescimento de +1,26%;
- A redução no Semestre foi de -6,88% no IPO-Porto, (que, neste ponto consegue a melhor performance), de -4,71% no H. São João e de -0,23% no H. S.to António;
- O ranking inverte-se quando relevamos o peso dos Custos respectivos no Total dos Custos Operacionais. Temos então: apenas 14,11% no CH VNGaia/Espinho, 22,14% no H. S.to António, 25,02% no H. São João e 27,26% no IPO-Porto;
- Se dispuséssemos da previsão de custos para 12 meses poderíamos avaliar como os HH se situam em relação ao objectivo definido. Assim não podemos.
ii) – Custos com Pessoal:
- Também nesta área e no Semestre em análise o CH VNGaia/Espinho contrasta com os restantes, ainda que os custos em todos tenham crescido: aumentou em 10,94% os Custos com Pessoal, enquanto os restantes se contiveram todos abaixo dos 2,00% de crescimento (1,71% no H. São João, 0,94% no IPO-Porto e 0,62% no H. S.to António);
- Pior ainda, o CH VNGaia/Espinho destaca-se também como aquele que, para os 12 meses, prevê afectar maior percentagem dos Custos Operacionais aos Custos com Pessoal (54,44%). Vêm depois o H. São João (50,43%), o H. S.to António (49,49%) e o IPO-Porto, com a melhor performance, (45,40%);
- Os Custos com Pessoal serão, de todos os Custos, os mais estáveis e mais difíceis de reduzir por múltiplas razões, embora não estejam todas presentes em todas as situações (desde a cumplicidade que naturalmente se estabelece entre responsáveis e executantes, ao reconhecimento de culpa implícito na redução, à necessidade de esta ser acompanhada de reestruturação ou reorganização dos vários sectores e de nova mentalidade e de novos métodos de trabalho, …) Situam-se bem no centro da luta pela promoção da eficiência. Certamente mereceriam uma análise de maior acuidade, necessariamente mais extensa e obviamente com mais informação.
Mas o que nos propusemos foi uma análise de generalidade da evolução dos elementos económico-financeiros em quatro HH-EPE do “Grande Porto”.
Aidenos
4 Comments:
Caro aidenos:
O resultados referentes aos "proveitos", no H. S. João (Porto), configuram como interroga:
"um caso de polícia?".
Por isso reitero a proposta que fiz, num comentário em 31.08.07, parecendo-me incontornável uma auditoria externa a essas contas.
Tresanda um pesado odor a obscuras engenharias financeiras.
E, o que é pior, o desabar de um dos princípios basilares propalados por esta equipa ministerial:
- as "boas contas".
Auditoria, já!
Não vou comentar a análise do Aidenós. Números são números e enquanto tais, cada um fará deles a leitura que entender.
Um coisa é certa: só com muita ingenuidade poderia admitir que os proveitos apresentados pelo H. S. João, no 1º semestre de 2007, "podem" ser comparados com os de igual semestre de 2006.
E nessa ingenuidade, como técnico, e apesar dos meus reduzidos conhecimentos de Contabilidade, eu não embarco.
Os proveitos, a não serem de natureza extraordinária, derivam no essencial da produção. E dada a estabilidade dos preços - contratualizados como sabemos - é de todo impossível que o aumento evidenciado pelos números, esteja associado a um aumento paralelo da produção. Até porque, dificilmente se conseguiria uma redução de custos em tal contexto. E da produção, hoje como no passado, pouco ou nada se sabe.
Nem sequer pretendo concluir que os valores de 2007 sejam irreais. O que é irreal é a pretensa evolução comparativa. E se não é do "cú" é das calças!
Como diz o é-pá, "tresanda um pesado odor a obscuras engenharias financeiras".
Mais ainda, partindo do princípio de que a produção prevista para 2007 teve por base o realizado em 2006, como explicar que o orçamento para 2007 seja inferior ao orçamentado para 2006 e os proveitos venham apresentar uma (eventual) tão grande discrepância?
E o que explica que a execução do 1º semestre de 2006 tenha sido de 28,8% do orçamentado e a igual período de 2007 se situe nos 53,4%? Mais uma vez, não bate a bota com a perdigota! E se não é do "cú", é das calças!
Enfim, fica o desafio ao CA do HSJ para fundamentar, sob o ponto de vista técnico e contabilístico, o progresso anunciado.
Para um Ministro da Saúde que na oposição acusou o então titular da pasta de "contabilidade criativa" também não ficaria nada mal vir demonstrar os fundamentos dos resultados alcançados no HSJ (eventualmente noutros).
Em matéria de resultados dos HH EPE's, cabe ainda, aqui, uma nota para referir o facto de não estarem divulgados os relatórios e contas de cerca de metade dos mesmos.
E é de notar também, como já aqui foi referido o facto de o relatório e contas do HIDP (Aveiro) ter sido "raptado" do "site" dos HH EPE. Será que vai voltar a aparecer com uma nova "roupagem"?
Note-se que o HSJ é precisamente um dos HH cujas contas de 2006 não constam ainda daquele "site".
Enfim, parece que andam, na verdade, a brincar com coisas sérias!
Caro É-Pá:
No Post em que incide o seu “Comentário” não me moveu qualquer intuito persecutório, nem de instituições nem de pessoas.
De resto, expressamente levanto a hipótese de a informação (os tais 83,29% de variação entre os 1-ºs Semestres de 2006 e 2007) não estar correcta. Se está, o meu pronunciamento vai no sentido de que o caso deve ser detidamente analisado, pois todos estaremos de acordo com o interesse de conhecer as suas causas e de eliminar a sua repetição, nesse ou em qualquer outro hospital. Como muito bem observou, foi sob a forma interrogativa e colocando a expressão entre aspas que falei em caso de polícia.
Não tenho a mínima dúvida de que fui correctamente entendido pelo É-Pá e não estou a contestá-lo. O que pretendo é evitar que alguém, porventura menos atento, entenda diferentemente.
As auditorias deveriam ser habituais, como garantia de credibilidade, e não vistas como qualquer coisa que só acontece quando há suspeitas de casos de polícia. Por isso, nada haverá a opor à sua realização. Antes pelo contrário.
Mas, como “slogan” preferia outro:
“Publicação do Código de Ética do SNS e Avaliação Sistemática dos Gestores, já!”
Caro aidenos:
São oportunas as ressalvas que efectuou, porque de interpretações inviesadas está o Mundo cheio.
Deve, também, compreender que o meu comentário não se orienta por motivos persecutórios, sejam de instituições ou de pessoas.
Estou de acordo que as auditorias devem ser habituais porque, na verdade, devemos aferir "as contas", neste caso públicas.
É, exactamente, a tal credibilidade de que fala.
Mas, peço desculpa pela insistência, vou mais além.
Para mim, elas devem ser imprescindíveis (obrigatórias)quando essas contas apresentam importantes desvios (quantitativos e qualitativos) dos "modelos padrão", isto é, dos resultados esperados, projectados e previsíveis. Quer por defeito ou excesso.
Quanto ao código de ética do SNS, o meu aplauso. Que seja o mais abrangente possível e extensivo a todos os grupos profissionais que aí trabalham.
Como escreveu José Saramago:
"Se a ética não governar a razão, a razão desprezará a ética".
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