É isso mesmo:
dali- o inferno
"Mas quando nos julgarem bem seguros,
cercados de bastões e fortalezas,
hão-de ruir em estrondo os altos muros
e chegará o dia das surpresas"
A massiva debandada de médicos dos Hospitais e Serviços do SNS - não só por causa dos pontómetros - vão fazer ruir os muros atrás dos quais se escondem os burocratas e amanuenses e o processo vai desembocar, sem dúvida, no dia das surpresas, para os reverentes serventuários do sistema.
Chegará o dia em que um doente angustiado, percorrerá desvairado o Hospital à cata de uma impressão biométrica que tenha por detrás uma mão capaz de o ajudar.
Só encontrará o registo...
Caro Xavier:
A maneira como sorridente, displicente, arrogante e manhosa como Sócrates - na campanha para as últimas Legislativas - anunciou a reforma da Administração só podia enganar tolos.
É difícil definir se estas medidas reformistas são hilariantes, são repugnantes ou ambas.
Qualquer um de nós sabia que chegaria o dia em que pagaríamos o descontrolo de custos do guterrismo, crescidas das asneiras de Barroso & Santana.
Seria muito duro.
Sócrates optou por começar pelas medidas emblemáticas, espectaculares - mas pouco eficazes. Elas definem - erroneamente - a vontade férrea em mudar, venha o que vier, aconteça o que acontecer.
Em democracia, este método começa por funcionar (revela uma falsa autoridade) mas esboroa-se nas contradições da cidadania e na cadência cíclica do exercício do poder.
Começou-se pelo saneamento moral e a partir daí, por arrastamento, viria o económico e o financeiro.
Começou-se mal. O saneamento moral de que o pontómetro é um pequeno e ínfimo instrumento, poderia (deveria) ser aceite sem polémicas. Isto é, a assiduidade é um dever do funcionário.
Mas antes que se conseguisse implementar esse controlo, começou a ruir o edifício do agente público, com as suas pequenas regalias, bloqueamento das especificidades retributivas (aumentos anuais), de regime de trabalho (progressão nas carreiras) e o rigor hierárquico.
Sócrates destruiu, em poucos meses, uma ideia quase centenária - "os direitos adquiridos".
Certo que os direitos adquiridos não podiam ser eternos, nem exclusivos para a FP, enquanto o País lançava centenas de milhares de trabalhadores no desemprego.
Mas muitos julgavam que o Estado os protegeria, porque eram indispensáveis para o funcionamento da máquina estatal. Eram a "guarda pretoriana" do poder civil.
A diminuição das despesas (indispensável para o equilíbrio orçamental) começa na administração pela área social, i.e., da pior maneira.
Médicos, professores, juízes, etc., começam a ser atacados por uma urbe de investidores e empreendedores que, dentro do conceito neoliberalismo que veneram, acham que nada deve ser dado a ninguém, muito menos aos FP. Para esses porrada, por são improdutivos, pouco eficientes e gastadores...
Aliás, consideram os FP "gigolos" do Estado.
Os médicos há algum tempo iniciaram a sua debandada, muito embora defendam que os números são reduzidos. Ultimamente, a Ministra tem mostrado algum realismo.
Haverá sempre quem ponha o dedo.
Os critérios de recrutamento em Portugal não são muito exigentes e dependem muito do enquadramento político-partidário.
Resta saber qual os préstimos desse acto, para o doente e para o Hospital ou se quisermos ser mais vastos para o SNS.
O objectivo de diminuir 75.000 funcionárias públicos até ao final da legislatura, vai seguir um caminho ínvio. Centenas de professores, médicos e outros funcionários públicos têm pedido reformas antecipadas, com severas penalizações para se libertarem da senda persecutória em curso.
Como se diz no verso:
"Não aceitem nem queiram outra arte
que a proeza do registo, o verso acta."
No fundo, Caro Xavier, a ministra , vai ter de escolher entre Sallieri e Mozart.
Os administrativos indicarão Sallieri, mas muita gente preferirá Mozart.
Não é?
Ou, então, Xavier:
"O inferno são os outros."
Jean Paul Sartre
cercados de bastões e fortalezas,
hão-de ruir em estrondo os altos muros
e chegará o dia das surpresas"
A massiva debandada de médicos dos Hospitais e Serviços do SNS - não só por causa dos pontómetros - vão fazer ruir os muros atrás dos quais se escondem os burocratas e amanuenses e o processo vai desembocar, sem dúvida, no dia das surpresas, para os reverentes serventuários do sistema.
Chegará o dia em que um doente angustiado, percorrerá desvairado o Hospital à cata de uma impressão biométrica que tenha por detrás uma mão capaz de o ajudar.
Só encontrará o registo...
Caro Xavier:
A maneira como sorridente, displicente, arrogante e manhosa como Sócrates - na campanha para as últimas Legislativas - anunciou a reforma da Administração só podia enganar tolos.
É difícil definir se estas medidas reformistas são hilariantes, são repugnantes ou ambas.
Qualquer um de nós sabia que chegaria o dia em que pagaríamos o descontrolo de custos do guterrismo, crescidas das asneiras de Barroso & Santana.
Seria muito duro.
Sócrates optou por começar pelas medidas emblemáticas, espectaculares - mas pouco eficazes. Elas definem - erroneamente - a vontade férrea em mudar, venha o que vier, aconteça o que acontecer.
Em democracia, este método começa por funcionar (revela uma falsa autoridade) mas esboroa-se nas contradições da cidadania e na cadência cíclica do exercício do poder.
Começou-se pelo saneamento moral e a partir daí, por arrastamento, viria o económico e o financeiro.
Começou-se mal. O saneamento moral de que o pontómetro é um pequeno e ínfimo instrumento, poderia (deveria) ser aceite sem polémicas. Isto é, a assiduidade é um dever do funcionário.
Mas antes que se conseguisse implementar esse controlo, começou a ruir o edifício do agente público, com as suas pequenas regalias, bloqueamento das especificidades retributivas (aumentos anuais), de regime de trabalho (progressão nas carreiras) e o rigor hierárquico.
Sócrates destruiu, em poucos meses, uma ideia quase centenária - "os direitos adquiridos".
Certo que os direitos adquiridos não podiam ser eternos, nem exclusivos para a FP, enquanto o País lançava centenas de milhares de trabalhadores no desemprego.
Mas muitos julgavam que o Estado os protegeria, porque eram indispensáveis para o funcionamento da máquina estatal. Eram a "guarda pretoriana" do poder civil.
A diminuição das despesas (indispensável para o equilíbrio orçamental) começa na administração pela área social, i.e., da pior maneira.
Médicos, professores, juízes, etc., começam a ser atacados por uma urbe de investidores e empreendedores que, dentro do conceito neoliberalismo que veneram, acham que nada deve ser dado a ninguém, muito menos aos FP. Para esses porrada, por são improdutivos, pouco eficientes e gastadores...
Aliás, consideram os FP "gigolos" do Estado.
Os médicos há algum tempo iniciaram a sua debandada, muito embora defendam que os números são reduzidos. Ultimamente, a Ministra tem mostrado algum realismo.
Haverá sempre quem ponha o dedo.
Os critérios de recrutamento em Portugal não são muito exigentes e dependem muito do enquadramento político-partidário.
Resta saber qual os préstimos desse acto, para o doente e para o Hospital ou se quisermos ser mais vastos para o SNS.
O objectivo de diminuir 75.000 funcionárias públicos até ao final da legislatura, vai seguir um caminho ínvio. Centenas de professores, médicos e outros funcionários públicos têm pedido reformas antecipadas, com severas penalizações para se libertarem da senda persecutória em curso.
Como se diz no verso:
"Não aceitem nem queiram outra arte
que a proeza do registo, o verso acta."
No fundo, Caro Xavier, a ministra , vai ter de escolher entre Sallieri e Mozart.
Os administrativos indicarão Sallieri, mas muita gente preferirá Mozart.
Não é?
Ou, então, Xavier:
"O inferno são os outros."
Jean Paul Sartre
e-pá!
Etiquetas: E-Pá
6 Comments:
Apesar do arrebatamento entende-se a mágoa do e-pá.
Achamos, no entanto, exagero comparar o pontómetro à extinção das carreiras médicas.
Afinal este "sistema execrável" foi merecido, como reconheceu o Távisto com o exemplo do seu colega.
Sobre as carreiras parece-me que também ninguém se entende, havendo propostas para todos os gostos.
É disto afinal que se aproveita o sector privado para avançar levando tudo à sua frente.
Afinal donde vem tanto dinheiro para tão largos investimentos?
Será que não há por aí muito dinheiro, não digo de "off shores", mas capital da nossa vizinha espanha a arrematar nos saldos do SNS!
Comentário do e-pá apagado por engano. Com as minhas desculpas ao e-pá.
e-pá disse...
Cara Clara:
O meu sentimento não é a mágoa.
Eu desde que começou a história do pontómetro alimentada pela clique que, em tempos idos, rodeava a administração de CC, senti-me insultado.
Trabalho há mais de 30 anos no SNS, percorri toda a carreira profissional com concursos públicos, nas alturas correctas nos devidos tempos.
Fui sindicalista, membro do colégio da Ordem, da direcção da Sociedade científica que congrega em Portugal a minha especialidade, integrei comissões médicas internacionais, etc.
Nunca aceitei cargos de nomeação quer hospitalar, quer política, ou outros.
Pôr o dedo não foi, na minha sensibilidade, cumprir o preceito de assiduidade do funcionário.
Foi a humilhação pessoal - nunca poderia ser pública - de um funcionário do Estado, que não tinha entrado ontem e que fazia os esforços por cumprir.
Foi tentar rebaixar um homem que tinha a sua história, o seu cuuricula, exercía responsabilidades, dirigia um grupo funcional, etc.
Foi, para mim, o depois do adeus.
Tornou-se na abjecta nocividade da recompensa que poderia reclamar.
Cara Clara: Os homens do pontónetro e os da extinção das carreiras médicas fazem parte do mesmo redil. São pretensos dirigentes do SNS, que nunca deram o coiro lá e não compreendem o serviço público que lá se faz. Sairam há pouco da Universidade, com cheiro a cueiros e perfumados de um incomodativo dilantismo. Cheiram a patcholi.
Estes moços, arvorados em campeões de efectividade, convenceram CC que com uma afronta deste tipo - alguém iria ganhar alguma coisa.
Hoje CC deve saber como as aparências influenciam os grandes dislates.
Em breve voltarei a este assunto.
Mas não me julgo magoado.
Nunca me conseguiram tirar os dados biométricos digitais e portanto nunca fui ao pontómetro - nem para experiência.
A propósito:
estes aparelhos estão a ser montados nos CS como previa o despacho calendarizador de Francisco Ramos?
Ou, estamos só a falar de uma brincadeira para assustar uns prevaricadores e que custou milhões de euros?
Já estivemos mais longe...
e-pá!
Mais que pertinente, a perspectiva de um bloguer consciente:
"Quando ouço falar em "Carreiras", vem-me à cabeça uma espécie de Cruzeiro inter-continental.
Fico nauseado.
Carreira é aquilo que uma série de pessoas, falando na médica, se calhar até construiram com a melhor das intenções. Faço o frete de assumir essa evidência incerta. Mas enfim, talvez o leit motiv da coisa fosse mesmo a progressão em função da superior competência, do superior saber....
Independentemente disso, é seguramente aquilo que outros, depois, usaram para se para-promoverem, bem ao jeito do amiguismo reinante na função pública dos dias que correm, para se perpetuarem em ciclos de mediocridade em postos que exigiriam à partida superior mérito, para açambarcarem postos onde as suas patéticas opiniões são transmitidas como sendo as da classe em geral. Que ainda acredito não ter nada a ver com essa corja, dos "promovidos" na carreira, nomeadamente dos ineptos (que não serão todos, claro está), quais carraças que não desgrudam do fino tecido daquilo que deveria ser uma Medicina de excelência.
Hoje fala-se em acabar com as carreiras. As carreira, com a vossa licença, já estão podres há muito tempo. Os seus defensores não passam de uns agónicos cadáveres anunciados a estrebuchar num último suspiro contra essa evidência, que nenhum político ou gestor de Hospital no seu perfeito juízo poderá novamente ignorar.
Quando se está do lado "de dentro" de uma instituição Hospitalar, constata-se o inacreditável, o despudor por vezes total, como aquele que eu testemunhei recentemente, vendo em prestigiada revista do meio um discurso de um colega recém-empossado em cargo de relevo interno, ainda que inconsequente em termos práticos (valha-nos isso...).
O referido colega encorpava a "defesa intransigente" das "carreiras", e do que elas significavam em termos de "defesa da qualidade" e de "justiça nas promoções". O mesmo homem que conseguiu o feito de se rodear, em direcção passada, do que havia de reconhecidamente mais incompetente naquela instituição. Do que havia de mais interesseiro. Do que havia de mais politiqueiro.
Esse homem estava agora, pasme-se, naquelas linhas, a travestir-se de defensor da meritocracia, "confundindo-a" com "evolução na carreira".... Se o fez deliberadamente, ou se esquizofrenicamente, não me interessa destrinçar.
Julgo que quem lesse ou ouvisse tão bem escritas ou proferidas palavras até lhes achasse alguma piada. E até ficasse, caso vivesse numa garrafa, e desconhecesse a real estirpe da pessoa em causa (ou de outras que tal), solidário com a posição de sinónimo entre "carreira" e "mérito". Calculo que os receptores partam do sábio princípio de "inocente até prova em contrário". Ou seja, a areia nos olhos anda aí, e não é fácil de varrer....
Mas eu, que estou neste barco, nauseio-me e vomito.
E sinto-me mais Liberal que nunca."
http://juramentodoshipocritas.blogspot.com/2008/04/as-carreiras.html
Apenas acerca do pontógrafo:
1) e-pá foi o único abrangido? Se sim deve estar ofendido. Se não...
2) Todos os profissionais cumprem o seu dever de assiduidade e todos os responsáveis departamentais garantem esse cumprimento no âmbito do seu departamento? Se sim os pontógrafos são um desperdício. Se não...
Cumprimentos
Dois pequenos apontamentos, sobre o pontómetro e sobre as carreiras.
Relativamente à assiduidade, sempre houve controlo e os profissionais nunca o contestaram. Porquê? Porque era um faz de conta, ao fim do mês todos tinham a folha de ponto assinada fosse qual fosse o tempo de permanência. Como, lamentavelmente, o SNS ainda não tem mecanismos de avaliação pela produção, prefiro um controlo eficaz da assiduidade que colaborar numa farsa.
Sobre as carreiras, “naoseiquenome usar” atira-se às ditas como gato a bofes. Percebo que à sombra das carreiras médicas se fez muito “carreirismo”, o que faz com que muitas das suas observações sejam bem pertinentes. Lembro, porém, que muito do compadrio da que fala nada tem a ver com a progressão através das ditas, tratando-se de nomeações para cargos de direcção, aos mais diferentes níveis, da responsabilidade exclusiva dos Conselhos de Administração. A solução para as distorções que aponta não me parece que deva passar pela extinção de uma hierarquia profissional assente em graus de competência, mas para o seu aperfeiçoamento, e, bem mais importante, por regras de responsabilidade “accountability” do topo à base, por forma a que sejam os mais competentes a ocupar os lugares de direcção.
Quanto ao sentir-se mais liberal do que nunca, “naoseiquelhe diga”.
Caro naoseiquenome usar:
Abandonemos então as carreiras... Como deveremos abandonar outras coisas.
Estamos viciados em organizar, hierarquizar, escalonar, ordenar, observar critérios.
O grupo médico não precisa que qualquer tipo de hierarquia. Convenhamos que assim é mais domável, meno organizado, mais fácil de ajoelhar, de dobrar "a espinha".
Todos ao monte, sem saberem para que lado está o Oriente, istoé, desorientados e entra no antro dos "novos padrões sociais", um andor, no cimo do qual está, permanentemente, a ser incensado: o mérito a cavalo do "carreirismo".
O mérito igualzinho - decalacado - ao yankeee - em que um varredor do subúrbio ganha a eleição de Juiz, ou mayor, etc. O mérito inspirador da eterna ilusão do "self made man".
Todos conhecemos a meritrocracia. Ela anda de braço dado com o Estado burocrático e parece ser o inimigo das classes sociais, procurando extingui-las. Nada mais falso como a história há séculos demonstra.
Pelo menos isso: a Revolução francesa não foi um equívoco...
Os meritrocratas pretenden prepetuar essas classes, impondo-lhe um certo nivelamento social.
Entretanto, a "meritocracia" é a chave para destruir esses "carreiristas" que agora são declarados como os defensores das "podridão" de um regime de carreiras. As nomeações por inerências ou mesmo por direito nobiliário são muito mais vistosas.
E não se conspurcam com a avaliação, a competição e/ou a eventual rejeição.
Mas, é também nauseabundo o tipo de sociedade onde riqueza, o rendimento, e classe social são designados por competição, assumindo-se que os vencedores, de fato, merecem tais vantagens. Assim, o homem de mérito entrosa-se na selecção natural - novo "darwinismo social" - e baliza as sociedades agressivamente competitivas, com grandes diferenças de rendimentos e de riqueza, contrastadas com sociedades igualitárias onde vigoram as carreiras, sendo os hommens avaliados pelos seus pares nos seus conhecimentos e em pleno desconhecimento dos seus rendimentos, posses, títulos ou, não podemos ser púdicos, dos enquadramentos partidários.
Ao ler tamanhas alarvidades sinto-me mais socialista do que nunca...
Caríssimo naoseiquenome usar:
Na verdade o que sente não é a virtualidade Liberal.
É a vontade de ordenar que os outros abandonem, sem nada saber, nada aprender, nada fazer... É o apetite voraz pelo esmagamento. E, para isso, o ideal seria destroçar as carreiras. A mesma lógica com que se combate na área do tgrabalho a existência de contratos colectivos.
Mas cautela quando os que seguirem nessa direcção começarem a ter fome, a sentir-se ludribiados, pode ser feio, mesmo para os aristocráticos Liberais, cuja submissão a carreiras são uma terrível maçada do género: "eu sábio, avaliado por um bando de incompetentes..."
Cuidado: O Mundo é, cada vez, mais pequeno.
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