sábado, abril 26

A propósito,

da anunciada inauguração de mais um grande HH privado em Lisboa.
O SNS ainda garante a maioria dos internamentos (74% das camas hospitalares).
Mas...
Até 2009, a oferta dos hospitais privados atingirá em Portugal as 5.000 camas (o dobro da actual). Para corresponder à procura dos Seguros, Subsistemas e Sigic (estratégia dos três SSS).
Mas, não só...
Na cidade do Porto, além do Hospital da Boavista dos HPP (190 camas) e Hospital da Boa Nova, em Matosinhos (70 camas), a JMS vai construir o Hospital da CUF (cem camas), com entrada em actividade prevista para 2010.
Em Lisboa, a inauguração do Hospital dos Lusíadas, está anunciada para 19.05.08. Com 160 camas, capacidade para 20 mil cirurgias, 50 mil diárias e 400.000 consultas ano. O hospital dispõe de 60 gabinetes de consultas, oito salas de bloco operatório, três salas de bloco de partos e um hospital de dia médico.
É o próximo grande acontecimento da "heróica" expansão da hospitalização privada.

O Estado também está a investir na construção/substituição de HHs da rede pública. Só na região de Lisboa, segundo dados do MS, verificar-se-á, a médio prazo, um aumento de 961 camas públicas e um aumento líquido de 530 camas. link
A modernização do parque hospitalar é condição essencial para o sector público manter a sua posição dominante .

Só que os players privados nacionais têm outras ideias. Bem diferentes do papel de complementariedade que o Estado lhes tem reservado até hoje. A estratégia de conquista é bem clara:
a)- Investir em força na criação de oferta do melhor nível, através da introdução de elementos de inovação assistencial e de gestão;
b)- ganhar capacidade para recrutar recursos humanos altamente diferenciados. Os melhores. «Até ao presente muito ligados ao SNS, estes quadros, fruto da reestruturação que a hospitalização pública se encontra a realizar, começam a estar motivados para integrarem projectos privados que, além do mais, lhes oferecem condições de trabalho comparáveis (ou até superiores) àquelas de que dispõem nos hospitais públicos. »
c)- «adaptar as linhas orientadoras da Estratégia de Lisboa à saúde, estimulando o empreendedorismo, a inovação e a utilização sustentável dos recursos, como vias de aumento da competitividade da economia nacional.»
«Os privados têm consciência de que é possível criar em Portugal um sector privado de prestação de cuidados de saúde forte, capaz e altamente competitivo a nível internacional, nomeadamente Europeu, mas que, para isso, é necessária uma cooperação estratégica entre os poderes públicos e os agentes privados.» APHP - Plano de Actividades – 2008) link
Cooperação do Estado, ao que parece, não tem faltado.
Como é que a ministra da Saúde, Ana Jorge, vai conseguir suster a debandada de profissionais do SNS para o sector privado? Rompendo a cooperação estratégica? Neste sentido, o fim da gestão privada do AS terá sido apenas o primeiro sinal?

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7 Comments:

Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

Pensou bem neste item que escreveu?

"b)- ganhar capacidade para recrutar recursos humanos altamente diferenciados. Os melhores. «Até ao presente muito ligados ao SNS, estes quadros, fruto da reestruturação que a hospitalização pública se encontra a realizar, começam a estar motivados para integrarem projectos privados que, além do mais, lhes oferecem condições de trabalho comparáveis (ou até superiores) àquelas de que dispõem nos hospitais públicos."

No SNS, destruiu-se as carreiras profissionais, reduziu-se para além do tolerável as eqipas de urgência responsabilizando os presentes, institui-se o congelamento da progressão e salarial, aumentou-se a idade da reforma (em profissões de risco), interferiu-se com a autonomia técnico-profissional em nome da racionalidade, "amenizou-se" (ia a dizer boicotou-se) a "clinical governance" em nome da eficiência, entre outras habilidades.
Há, tenta-se introduzir o controlo da assiduidade do pessoal da saúde por métodos biométricos.

Como recrutar "os melhores" neste meio?

O que se prepara é uma nova Batalha das Termópilas.
Esperemos que deste combate desigual, deste massacre, ao menos, dê o tempo necessário aos políticos para salvar o SNS.

12:33 da tarde  
Blogger Clara said...

A enorme confiança dos investidores privados, a inaugurar vinte e dois novos hospitais até 2010, só é possível através de uma forte e segura cooperação estratégica com o Estado.

Neste matéria o primeiro ministro, José Sócrates e o ex ministro da saúde, Correia de Campos, foram os grandes artífices.

José Sócrates está a tentar agora, usando a actual ministra, Ana Jorge, fazer um compasso de espera até à próxima maioria.Na dita cooperação.
Uma das suas habituais piruetas.

Mas tudo tem limites.
Sócrates desta vez foi longe demais no seu exercício de representação. Deixou ver as cuecas.
E o povo leva a mal quando alguém deixa ver as cuecas em público.
Maioria absoluta: viste-la. Nem no Totta.
Porque o povo desta vez já contribuiu o suficiente para os palhaços.

2:04 da tarde  
Blogger Tá visto said...

Note-se a diferença entre os 2 documentos em “link”. O do gabinete do Ministro, meramente factual, limita-se a contar camas dos sectores públicas e privado, reconhecendo não ser possível prever o impacto da abertura das novas unidades privadas na cidade ou na região. Ou seja, o MS não tem um plano estratégico para a medicina hospitalar, limita-se a ir a reboque dos acontecimentos.
O da APHP é um documento estratégico onde claramente é expressa a vontade de afastar o Estado da função de prestador, visando uma reforma da saúde orientada pelas leis do mercado num ambiente de livre concorrência entre operadores, com o cidadão a poder escolher onde quer ser tratado. Numa perspectiva “Darwinista“, diz claramente que “ao Estado basta assumir o papel de financiador a selecção natural encarregar-se-á de garantir a sobrevivência dos melhores”.
Quem vai pagar a mercantilização da saúde? Em primeiro lugar os cidadãos depois o Estado. As duas grandes debilidades dum modelo concorrencial deste tipo, o aumento da despesa pública e privada e as iniquidades no acesso, são habilmente escamoteadas. No capítulo da sustentabilidade, foge a abordar os custos de financiamento; o da equidade refere-se a igual tratamento entre prestadores e não no acesso dos cidadãos a cuidados de saúde.
O documento termina com o slogan “rumo à liberdade na escolha europeia”. Era também em torno deste conceito “liberdade de escolha” que a Direita em geral e a Ordem dos Médicos de Gentil Martins, contestavam o plano do SNS de António Arnault. Segundo os seus detractores a relação médico-doente seria posta em causa por um sistema assente no prestador público. A verdade é que o SNS não só vingou como foi eleito como o 5º melhor do mundo pela OMS, descaracterizado como está hoje não o é certamente.
Temos pois no terreno duas situações, um poder político frágil e sem qualquer plano estratégico conhecido para a medicina hospitalar e um poder económico forte, pressionante, organizado em “lobby“ internacional que, em nome da liberdade de escolha dos cidadãos, procura realizar mais valias à custa da nossa saúde.
Terá Ana Jorge capacidade para recuperar o hospital público das teias tecidas por LFP e CC? Será essa a vontade do PS de José Sócrates com a sua nomeação? Duas questões em aberto a que teremos de estar interventivamente atentos. Para já digo como e-pá!: O que se prepara é uma nova Batalha das Termópilas.

2:53 da tarde  
Blogger SOSNS said...

Se há sector da governação em que o PS de Sócrates tem mostrado a sua sua total incompetência é na saúde: tentativa de asfixia e descaracterização do SNS, complexidade sem eficácia, desnorte, fuga de profissionais qualificados, falta de condições de trabalho, falta de rigor e de transparência com as contas, negligência no controlo da gestão, gestão do compadrio, demissões em massa, a todos os níveis (a nível central e a nível dos hospitais e dos cuidados de saúde primários. Há hospitais, onde a debandada é geral: ninguém quer comprometer-se ou envolver-se coms as administrações vigentes, desde o Hospital de Faro, aos HUC, passando por Matosinhos,IPO do Porto e HGSA), admissões apenas dos amigos, e familiares, favorecimento dos apaniguados, investimentos sem nexo e sem qualquer estudo prévio minimamente rigoroso, nepotismo, em muitos casos, uma perda geral de credibilidade, «cascas grossas» ao comando, recursos sistemático e em grande escala de emprego temporário, ausência de qualquer gestão e motivação de pessoas (não há sistema de carreiras, não há incentivos de qualquer espécie, apenas acções tipo controlo biométrico ou outros tipo de acincalhes, enfim, uma desgraça... A rever de alto a baixo, a começar pelo desenho do Sistema de Saúde que está todo distorcido, sem nexo e sem eficácia, onde não se vislumbra verdadeiramente qual é o papel do SNS nisto tudo, passando pelo sistema de gestão dos hospitais e de nomeação dos gestores (o sistema da nomeação de comissários tem os dias contados, mais cedo ou mais tarde), o sistema de gestão e de motivação dos médicos e dos restantes profissionais, ...
O PS de Sócrates ainda não aprendeu a lição, nesta área. Só nesta?

3:44 da tarde  
Blogger e-pá! said...

ADENDA:

Num texto de 7 páginas publicado pela Associação Portuguesa de Hospitalização Privada - Plano de Actividades – 2008, só conseguimos encontrar uma referência (única e solitária) ao SNS, pág. 4, "Metas de Sustentabilidade".
De resto, o SNS, pura e simplesmente, não existe.

Diz o referido texto:

A) "Redefine a relação do cidadão do SNS com os vários prestadores de cuidados de saúde: a
evolução da sociedade converge para um equilíbrio de poderes e papéis entre os vários
intervenientes do chamado ciclo de prescrição. Do médico, o paciente, cada vez mais
informado, espera uma atitude de compreensão e explicação. Das unidades de saúde,
espera um serviço completo e integrado;
Uma autêntica indefinição sobre ciclo de prescrição (o que será exactamente isso?).
B) Depois espera uma atitude de compreensão e explicação - estamos na campanha de humanização da Serviços promovida no tempo de Maria de Belém Roseira?
C) "Das unidades de saúde,
espera um serviço completo e integrado" aqui sim a essência do SNS que tem como característica a sua universalidade e equidade, mas sejamos complacentes será a última coisa que a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada terá capacidade de assegura e garantir aos portugueses.

Caro Xavier: as razões a "explosão da oferta" não podem ser estas.
Terão de existir compromissos entre o Governo e os grupos privados para que o que assistimos quotidianamente - Hospitais por todo o lado - possa ter coerência.
Tanto mais difícil porque, embora com precalços, existem palnos de modernização da rede pública hospitalar.

Tudo isto faz-me lembrar um filme dos fnais do séc XX - "The Gods Must Be Crazy".
No filme coexistia a eminência do choque civilizacional entre "civilizados" e "selvagens"
Na Saúde aproxima-se o choque entre sector público e privado(incluindo social).

"Revoltada"Clara:
Nestas fitas, como nos filmes cómicos. poderá aparecer Sócrates de cuecas. Acho que não. Deve usar boxers. Abanderado (sem costuras) porque não molesta as partes podengas.

O pretexto, conhecemos desde o fim do socialismo: é o mercado.
Mas, politicamente, não temos qualquer explicação, como nos é devida pelo Governo (que continua a chamar-se socialista), sobre o que é, exactamente, esse "mercado".
Mercado económico ou social que integre projectos nacionais (SNS), regionais (ARS), locais (ACES) e intersectoriais de saúde?

Quanto mais nos aproximamos daseleições mais exigentes devemos ser nas definições e no delineamento das políticas sociais.
Depois das eleições mais de metade das promessas vão para o caixote do lixo, com as mais ilustres justificações.

Então, até às próximas eleições...

7:29 da tarde  
Blogger Hospitaisepe said...

Excelente post.
É evidente que isto não está a acontecer por obra e graça do espírito santo.
CC referiu repetidas vezes no "pipe line". Na necessidade de alimentar o "pipe line".

O acordo estratégico é um facto.
Os privados esperam mais do Estado do que vales de cirurgia do Sigic.
Sócrates tem tudo à venda.
O nosso SNS está a derrapar rumo a um sistema convencionado.
Por isso, acho piada quando aqui nós discutimos as vantagens do modelo EPE em relação às PPP.
Se o jogo está viciado à partida.

A decisão de pôr termo à gestão privada dos HH públicos, embora se trate de uma boa medida, embora tenha deixado Manuel Alegre muito satisfeito, não chega.
Que outras decisões políticas em relação à manutenção e desenvolvimento do SNS, o primeiro ministro nos tem para anunciar até às próximas eleições?

9:39 da tarde  
Blogger Tá visto said...

As teias que tecem e tolhem o H.Público.

- Não implementação de uma nova política organizativa, criando centros de custos em toda a rede hospitalar do SNS.
- Incapacidade de avaliar os serviços e departamentos de acção médica pela produção, recorrendo ao anacrónico controlo biométrico como forma de garantir a assiduidade/produtividade.
- Ausência de discriminação positiva dos profissionais, através de uma componente variável nos vencimentos em função do desempenho.
- Baixos salários com suplementos de vencimento irrisórios para cargos de chefia.
- Instabilidade laboral pela introdução do regime de contrato individual de trabalho, sem um enquadramento em novas carreiras profissionais e de mecanismos de progressão, desmotivando o exercício dos profissionais mais jovens. Congelamento da progressão e dos escalões aos trabalhadores do quadro.
- Ataque ao funcionalismo público em geral, estimulando os profissionais a passar para o privado.
- Mudança do discurso político, estimulando os médicos a passarem ao regime parcial (20 horas) em vez de privilegiar o trabalho a tempo inteiro (40 horas).
- Política de reforma antecipadas com consequências dramáticas nos quadros médicos dos hospitais nos próximos anos, tendo em conta a concentração de profissionais na faixa etária dos 50-60 anos. A par da atracção pela medicina hospitalar privada emergente.
- Como agravante, a concessão facilitada de licenças sem vencimento de longa duração (o profissional mantém o vínculo durante 10 anos) com a perversidade desses mesmos profissionais estarem a ser contratados individualmente ou através de empresas privadas, para funções públicas auferindo vencimentos muito superiores aos do quadro.
- Ausência de um regime de incompatibilidades fomentando o próprio Estado a promiscuidade público/privado, nomeadamente ao não definir uma lei-quadro das convenções.

Parece-me bem claro que sem mudanças profundas dificilmente sairemos vencedores na batalha das Termópilas..

11:33 da tarde  

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