segunda-feira, junho 23

PPP à portuguesa (3)

HV Franca, maquete HPP
A SaudeSA tentou trazer a debate este início de ano o tema das PPP. Após a publicação de três posts link link nada de significativo aconteceu.
Encontrei hoje, finalmente, um comentário do gatekeeper
link digno de nota.


I- Primeiro a transcrição do comentário do gatekeeper :

Desculpem o pensamento contra corrente mas tenho uma visão consideravelmente diferente da importância das PPP em Portugal. Conceptualmente falando as PPP assentam, de forma global, em três grandes pilares: (i) relação contratual duradoura entre um parceiro público e um parceiro privado; (ii) optimização da transferência de riscos e (iii) monitorização e acompanhamento dos contratos de PPP. Por razões de seriedade intelectual não me parece, na minha opinião, sob pena de cometer riscos básicos de análise, as PPP poderem ser catalogadas à priori de más medidas e politicas fracassadas do Ministério da Saúde. O pressupostos base terão de ser, necessariamente os seguintes: o Estado tem de ter peso negocial e, acima de tudo, tem de saber o que quer. Se isto acontecer as PPP serão certamente uma mais valia.

A mais valia prende-se com uma razão muito simples. Pela experiência que possuo a gestão das unidades hospitalares é caótica, não existem regras de gestão, os corporativismos vingam e a pouco exigência na definição anual dos contratos programa dão margem exageradas aos hospitais para serem ineficientes. Conheço profundamente os contratos PPP, sendo uma característica básica dos mesmos, o constante acompanhamento e monitorização da sua actividade, mediante a definição de parâmetros de desempenho, os quais tem subjacentes deduções à remuneração. Neste contexto não tenho quaisquer dúvidas que as PPP permitem o Estado poupar, quando comparado com uma situação de gestão tradicional, mesmo tendo em consideração que os privados ganham dinheiro com isto. E qual é o mal se o estado ainda consegue poupar? A tónica não deveria ser os privados ganham muito, ao invés deveria ser o estado gere tão mal que o mesmo serviço gerido pelos privados permite-lhes ganhar dinheiro a eles e poupar dinheiro ao Estado.

Por último, importa referir que os longos períodos de formação do contrato de gestão, são justificados, por um lado, pelo longo procedimento concursal, e, por outro, muito por culpa das comissões de avaliação. O que se verifica é que, por incrível que pareça, a única parte do processo PPP que está a correr mal é quando o estado interfere… Mesmo assim considero que as poupanças potenciais do estado são gigantescas. O que é preciso ser sublinhado é que o nível de ineficiência dos hospitais actuais é de tal forma grande que, a diferença de custos entre a gestão pública e a “gestão PPP” permite pagar o hospital em meia dúzia de anos.
gatekeeper

II- Em teoria o gatekeeper tem razão nalgumas das suas teses. Porém a prática é outra coisa.

A - As fontes do ganho e os «perdedores»
Em teoria as PPP poderão gerar ganho substancial, face aos custos comparáveis dos hospitais públicos, o qual poderá ser dividido pelos 2 parceiros (público e privado). Esse ganho assenta na ultrapassagem dos pontos fracos: baixa produtividade do pessoal, reduzida eficiência dos equipamentos principais (BO, MCD mais «pesados»), má gestão de processos operacionais e deficiências estruturais, como seja, por ex., o peso menor da CE e da CA.

Uma parte do ganho poderia resultar de maior produção com os mesmos recursos físicos ou da diminuição da inapropriação e aumento de qualidade (ex. menos dias de internamento devidos a menores infecções hospitalares).

Parte da «renda» adicional gerada proviria da redução dos ganhos actuais dalguns intervenientes (Quem perde?).
• Redução de ganhos dos profissionais para a mesma actividade, com menos profissionais e retribuição global inferior à média dos HH;
• Maior pagamento pelos doentes para a mesma actividade, com maior cobrança de receita e transferência acrescida dos doentes para o Estado;
• Redução de gastos com fornecedores de recursos, por ganhos de negociação na aquisição de produtos e serviços gerais;
• Redução de ganhos de prestadores clínicos através de 2 movimentos:
√ Menor gasto em MCD e maior controlo da facturação;
√ Maior produção hospitalar, reduzindo a receita da actividade liberal e doutros privados.

B) Controlo do Estado, poder dos privados e divisão do «bolo»
A teoria do gatekeeper assenta em «… se o Estado tiver poder negocial, se souber o que quer,…» então colherá grandes ganhos.
Porém logo a seguir reconhece que a gestão que o Estado faz «..é caótica, não existem regras de gestão (??)…pouca exigência na definição dos contratos programas…». Quer dizer o Estado não tem conseguido definir bem contratos nem controlar as suas empresas … mas depois vai fazê-lo quando tiver os parceiros privados!
Infelizmente o controlo exercido pelo Estado é fraco, em todas as épocas e em todas as áreas onde a saúde não é excepção. Essa é uma das razões porque o Estado gasta demais e porque os contratos são aliciantes para os privados, sobretudo quando estes são poderosos e quando os contratos são difíceis de controlar – como é o caso.

O SNS tem sido incapaz de controlar um contrato com o AS (mesmo sendo o único, que faria se fossem doze) como de controlar as convenções e, noutro registo, de controlar os seus hospitais. O que nos pode levar a acreditar que no futuro vai ser diferente? Mesmo se formasse especialistas de controlo o que nos garante que permaneceriam nesse papel (não contratados pelos privados?) e que teriam sempre audição ao longo dos vários governos?

Ora os prestadores privados são 3 e constituem grandes grupos nacionais muito poderosos e influentes ao nível económico e político. Veja-se, por ex., que no concurso de Loures o presidente de um deles pediu uma entrevista ao MS que a agendou imediatamente. Mesmo assim decidiu faltar e anunciar isso ao jornais, encontrando-se rapidamente como o PM, passando por cima do MS (LFP)!

Com tanto poder não será de estranhar que viessem a aumentar a sua parte do bolo (face o Estado) através de: lacunas e aspectos pouco claros do contrato; revisão vantajosa do contrato (há uma por ano, basta esperar por «governantes amigos»); de lacunas de controlo do Estado.

Nesta situação de oligopólio a concorrência pelos preços seria, a prazo, nada mais que uma miragem, sendo provável a concertação e a divisão do bolo.

C) A perfeição concursal … o pesadelo para todos!
Também é verdade que sendo a actividade hospitalar muito complexa, muito mais que a simples convenção de MCDT, o contrato sempre terá que incluir múltiplos aspectos e clausulados - não poderia ser aquele «deserto» do AS.
Pelas palavras do gatekeeper até parece que ele preferia um contrato igual ao AS e parece que o ideal era que o Estado não estivesse: «…única parte do processo PPP que está a correr mal é quando o estado interfere….». O que não parece ser uma boa posição de um parceiro para o longo prazo.

O concurso e as peças concursais foram gizadas no tempo de LFP e foram motivo de declarações públicas de orgulho do seu responsável.

O que se vê, agora, é que o processo é mau demais, correspondendo a: muito tempo gasto por todos os intervenientes (Estado, concorrentes); conflitos e reclamações permanentes; grande prazos até ao arranque do hospital; grande séquito de entidades adjacentes (advogados, consultores, lobistas, etc.) também com custos elevados. Depois de tanta declaração pública e política, da enormidade dos gastos envolvidos e de tanto conflito o que existe a funcionar é quase nada. Uma MFR que nem dimensão tinha para ser incluída em PPP e que só teve um concorrente e um call center que poderia ter-se contratado de modo mais rápido e expedito..

É muito pouco e só prova que não era a solução milagrosa anunciada nem será essencialmente por aí que se resolvem os problemas de gestão dos hospitais do SNS que o gatekeeper refere. Se não existisse consenso á volta desta matéria, limitando o seu uso à construção e equipamento, outra movimentação haveria dos grupos, dos políticos e mesmo dos bloguistas do saudesa que quase não pegaram no tema, porque o consideram arrumado.

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12 Comments:

Blogger e-pá! said...

Completamente de acordo que este tema seja incluído - com carácter prioritário - na agenda de discussão dos assuntos de Saúde.
É, um dos terrenos do investimento onde se verificaram recentes avanços e, será óbvio que, quanto mais bem informados estivermos, melhor.

Temos de confrontar resultados, validar modelos, com a experiência e as avaliações, que já podemos colher do NHS da GB. Perder um pouco do improviso (não vou mais além) que lhe conferimos com o epípeto:
"à portuguesa"!
Somos um País de nacionalismos serôdios em termos de orgulho, audácia e por vezes de aventura. Em termos de qualidade o País do "tipo" - queijo tipo Serra, alheiras tipo Mirandela, espumante tipo champanhe, etc., com os resultados e os custos que todos conhecemos.

Depois, herdarmos o PNS de LFP (até 2010!) quase como um "diktat", julgo que, para a troca, devemos declarar as PPP's, ainda em fase embrionária de desenvolvimento, livres de quaisquer peias, quanto ao seu questionamento.

Na apreciação que fiz à entrevista de CC à revista Sábado, essa era uma das questões que, assinalei como mal definidas ou insuficientemente discutidas, na área da Saúde e que se interliga com os grandes e obscuros (não discutidos) problemas da sustentabilidade financeira do SNS.
A interrogação que aí fiz e que julgo pertinente é com certeza uma importante questão.
Recordo:
"Uma pergunta percorre o sistema: o actual modelo de PPP’s nos HH’s vai manter-se?"

Este tipo de problemas começa a impressionar, diria a "assustar", os portugueses:
É perguntar o que pensam os cidadãos sobre as SCUT, a Lusoponte, etc.
Estão à margem dessas "questões políticas" mas rapidamente acordam quando se apercebem que o Estado ameaça entrar-lhe aos bolsos depois de terem apregoado os badalados "custos zero".
Com as PPP's será a mesma coisa ou pior.

Qualquer português tem pelo menos sérias dúvidas se o Estado colheu benefícios com o negócio do HH Amadora-Sintra.
Sabemos que não é uma questão sobreponível com as previstas PPP's "à portuguesa", mas gato escaldado de água fria tem medo.
Estes negócios entre HH's públicos e privados são, para a maioria dos portugueses, mesmo "negócios", rodeados de demasiado secretismo.

O Povo compartihará entá um "feroz cepticismo" como descreveu, André Maurois:
"Todos os negócios que me propõem são maus, porque se fossem bons não mos propunham."

Não será?

10:32 da tarde  
Blogger tambemquero said...

O grande negócio da saúde

Investimentos avultados, parcerias e internacionalização pontuam o sector da saúde privada em Portugal
O sector da Saúde está tão quente agora, como esteve a banca há vinte anos e as telecomunicações há dez. Os privados abriram a torneira dos investimentos e estão a estender as suas redes de cuidados de saúde. A aposta não se fica pelo território nacional e a internacionalização faz parte dos planos das empresas portuguesas.
O paradigma da saúde privada está a mudar rapidamente. Longe vão os tempos em que o sector privado era feito de consultórios médicos dispersos e algumas clínicas com meios de diagnóstico e poucos tratamentos. Agora, o leque de serviços equipara-se à oferta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e há mesmo uma grande aposta em áreas onde os custos para o prestador são astronómicos, como a oncologia e as doenças cardiovasculares. O «boom» nos contratos de seguros de saúde - que já ascendem a cerca de 1,8 milhões -, tem viabilizado a aposta.
O envelhecimento da população é uma evidência e faz da saúde o negócio do século XXI. Os custos suportados pelo SNS crescem de ano para ano, a um ritmo que deixará de ser sustentável no curto prazo. Atentas, as empresas reclamam maior quota de mercado. Por enquanto, apenas 10% das camas do sector hospitalar estão nas mãos de privados, cuja presença nos cuidados ambulatórios é mais forte devendo roçar os 50% do mercado, segundo a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP).
Além dos investimentos previstos, os grupos privados concorrem às parcerias público-privadas (PPP) para a construção e gestão de novos hospitais, cujos concursos têm vindo a ser lançados a conta-gotas pelo Governo. E preparam-se para se digladiar pela gestão do hospital Amadora-Sintra (actualmente entregue aos Mello), que vai a concurso público em 2008.

600 milhões de euros
As cinco empresas mais dinâmicas e com maior crescimento são a José de Mello Saúde (JMS), o Grupo Português de Saúde (GPS), a Espírito Santo Saúde (ESS), o grupo empresarial Hospitais Privados de Portugal (HPP) e a CESPU - Serviços de Saúde. No total, a facturação global do sector ascende a 600 milhões de euros.
“Ainda há uma grande margem para crescer”, acredita Teófilo Leite, presidente da direcção da APHP. O responsável defende a liberdade de escolha para o doente que, dessa forma, poderia optar por receber tratamento no privado ou na rede pública. “Parte da aposta das empresas tem por base essa possibilidade”, adianta o responsável, acrescentando que “a Constituição prevê que o Estado assegure o financiamento dos cuidados de saúde à população e não a sua prestação”. “O cidadão quer receber tratamento quando precisa e está disposto a pagar por isso, como prova o aumento no número de seguros”, sublinha Teófilo Leite.
Semanário Expresso, Edição 1785 de 13.01.2007

11:16 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Mais um caso exemplar demonstrativo da fragilidade do Estado para controlar a actividade dos grandes grupos económicos trazido aqui à SaudeSA pelo aidenós.

Parcerias Público Privadas em saúde

O jornal Expresso, no Caderno Economia e na sua edição nº 1747 de 22 de Abril de 2006, apresenta na primeira página a seguinte notícia:
“ESS ganha nos Açores
A Espírito Santo Saúde (ESS) ganhou o contrato, no valor de 525 mil euros, para fazer a assessoria técnica e financeira no concurso para o Hospital de Angra do Heroísmo, a construir em regime de parceria público-privada. Além de preparar o caderno de encargos, vai acompanhar todo o processo de selecção das propostas até à adjudicação.”

Obviamente, a concretização deste contrato implica a renúncia da ESS a candidatar-se no concurso para a construção e gestão do Hospital de Angra do Heroísmo. Mas isso não é suficiente: é inevitável questionar se este contrato é compatível com a posição de concorrente que a ESS assumiu nos concursos abertos (ainda não decididos) para construção e gestão de hospitais em regime de P.P.P. e se, depois dele, ainda poderá ser aceite como concorrente nos concursos para a chamada “segunda vaga”. Vejamos.
Ao apresentar a sua candidatura, os concorrentes criam uma teia de relações, de natureza ética e jurídica, que não pode ser ignorada:
• com a Entidade Pública Contratante, perante a qual se obrigam a manter a proposta apresentada, de acordo com todas as condições exigidas no Caderno de Encargos, e da qual adquirem o direito de exigir respeito rigoroso das normas da concorrência;
• com os restantes concorrentes, naturalmente portadores de interesses adversos, mas todos titulares do direito a tratamento igualitário.
Ora, se o contrato em causa se concretizar, vai ferir todas as regras da ética e da livre concorrência. De facto a empresa seleccionada (segundo a notícia do Expresso, a ESS) terá neste novo papel:
– Acesso à documentação, metodologias e propostas dos concorrentes (e ao know how dos seus consultores exclusivos);
– Diálogo e acesso a informação, de modo privilegiado, de organismos técnicos e de tutela da saúde (incluindo hospitais) e bem assim de se relacionar com a Missão Parcerias de Saúde de modo especial – face aos seus concorrentes nos concursos nacionais. De modo semelhante, terá acesso a empresas e entidades que actuam como consultoras e assessorias técnicas naqueles concursos, em regime de exclusividade, isto, não podendo colaborar com qualquer concorrente (como será, por exemplo, o caso do escritório de Advogados);
– Poder de influenciar a decisão do concurso em causa (“vai acompanhar todo o processo de selecção das propostas até à adjudicação”), eventualmente beneficiando os seus parceiros, ou prejudicando os seus concorrentes nos concursos nacionais – não afirmamos que o fará, o que é grave é que o possa fazer;
– A possibilidade de dispor sobre as entidades que intervierem na selecção dos concursos, passados ou futuros, de um ganho de credibilidade, ou ascendente, não obtido em condições de igualdade de oportunidades com os restantes concorrentes.
Se um concorrente pode “saltar” de posição, (ora do lado de quem procura ganhar o concurso, ora de quem o decide e detém a informação), onde ficam a isenção da entidade pública contratante e a ética e os princípios da sã concorrência e do interesse nacional por que deve reger-se?
No momento em que está em agenda a revisão e melhoria dos procedimentos dos concursos em regime de P.P.P. como foi possível ninguém se lembrar da história da mulher de César? Por favor, digam que não é verdade. É que o silêncio do Ministério da Saúde sobre este assunto já é ensurdecedor e incompreensível.
ESS e Parcerias em Saúde


Como diria o Eça, pas si bêtte…

A distinção formal entre o Governo da República e o Governo Regional dos Açores e entre os orçamentos de um e de outro não escapam a ninguém! O importante é saber se não são canais que levam água da mesma fonte (pelo menos em parte, água da mesma fonte), no caso, os impostos pagos pelos portugueses, incluindo os açoreanos. E ainda se entre os dois canais não há derivações de solidariedade que regularizem os caudais quando tal se impõe.

Essas derivações de solidariedade não transportam apenas dotações orçamentais, mas também outros recursos como, por exemplo, Know how, com o que todos estaremos de acordo. Sendo o processo das P.P.P. extenso e complexo, não se compreenderia que a Secretaria Regional dos Açores tivesse que refazê-lo na íntegra, integrando-se, como se integra, num mesmo Estado.

Mas, se é assim, continuam com validade os argumentos expendidos: a concorrência, a igualdade de tratamento e a ética que vão para as urtigas. Cante o galo no seu poleiro.

Creio que interpreto bem ao ficar convencido de que também a perspicácia do Raven o levou a concluir que os aspectos formais não sobrelevam os aspectos materiais ou de fundo e o que pretendeu – e eu agradeço – foi colorir com algum humor aspectos sérios de mais para ser necessário referi-los.

Cumprimentos.
Aidenos

11:25 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Estado britânico paga riscos dos privados

DESDE 1997 que o Governo trabalhista de Tony Blair se tem revelado um grande apologista das Parcerias Público-Privadas (PPP). De tal maneira, que a maior parte dos projectos de investimento público concretizam-se através das PPP, sob o argumento de que estas são mais baratas e mais eficientes do que o financiamento público directo. Mas a escolha deste mecanismo de financiamento e gestão está longe de ser pacífico, pois até agora ainda não concretizou o que prometeu, em particular na área da Saúde.
Vários estudos independentes e relatórios parlamentares revelam que os projectos financiados por PPP custam mais dinheiro ao contribuinte e são de menor qualidade e menos eficiência do que qualquer projecto financiado e/ou gerido pelo Estado. Segundo Allyson Pollock, catedrática de política de saúde na University College London, sob o esquema das parcerias «o Serviço Nacional de Saúde paga mais para menos», pois os hospitais diminuíram a diversidade e acesso aos serviços, a inflexibilidade aumentou e tudo isto a um custo mais elevado.
Os custos de construção de hospitais sob o regime de concessão a privados são entre 18% e 60% mais elevados do que se estes fossem financiados ou adquiridos directamente pelo Estado. Em contrapartida, os accionistas das empresas envolvidas nos consórcios têm lucros garantidos entre 15% e 25%.
Capacidade reduzida
As empresas privadas justificam os custos elevados com o argumento do risco. O Governo também diz que os projectos PPP são vantajosos porque o risco é transferido para as entidades privadas. Mas, na verdade, quem tem assumido os riscos do investimento tem sido o Estado. Cerca de 55% de organismos públicos financiados pelas parcerias viram os custos (leia-se riscos) do contrato aumentar por atrasos no cumprimento dos projectos ou aparecimento de «circunstâncias extraordinárias».
Segundo investigação publicada no «British Medical Journal», a transferência de risco não é fácil, porque em primeiro lugar é difícil identificá-lo. O próprio Tesouro britânico reconheceu que em dois terços dos projectos de PPP para os hospitais não foi possível identificar o risco. Além disso, mesmo que as autoridades públicas queiram terminar um contrato porque a empresa contratada não cumpriu com as suas obrigações, o Estado tem de pagar os custos e dívidas deixadas pelo consórcio, como aliás aconteceu com a empresa Railtrack (gestora dos contratos e segurança dos caminhos-de-ferro).
Até ao momento, os projectos de parceria na área da Saúde resultaram na redução de capacidade dos hospitais. Os primeiros 14 hospitais construídos sob o esquema PPP resultaram em reduções de 33% na sua capacidade e de 20% do pessoal, revela um estudo da University College London.
E, segundo números do Ministério da Saúde, no período 1996-1997 havia 198.848 camas disponíveis nos hospitais ingleses; no período 1999-2000 o número de camas disponíveis baixou para 186.290. O problema é que a redução da capacidade custou mais ao contribuinte.
Por outro lado, a qualidade da construção dos hospitais deixa algo a desejar. Para pouparem dinheiro, as empresas privadas optam por utilizar materiais mais baratos e prestam menos atenção às reais necessidades dos hospitais. Alguns hospitais construídos através das PPP foram implantados sem ar condicionado (enfermaria de Cumberland, em Carlisle), outros com canalizações tão boas que explodiram pouco tempo depois da inauguração, enquanto outros hospitais construídos de raiz são mais pequenos do que os que vieram substituir.
A falta de transparência na celebração dos acordos é outro dos problemas levantados pelas PPP. Por exemplo, muitas vezes, o Estado quer apenas aumentar a capacidade de um hospital ou melhorar as suas infra-estruturas. Mas porque é menos lucrativo para as empresas privadas que vão financiar o projecto, o Estado acaba por concordar em demolir ou encerrar hospitais, para construir edifícios de raiz. O pior é que muitas vezes, os novos hospitais têm menos capacidade do que os que vêm substituir (foi o que aconteceu no hospital de Worcester).
Truque orçamental
Apesar destes factos, o Governo prefere optar pelas PPP porque o pagamento é feito a prestações e não a pronto, ou seja, a sua presença no Orçamento é quase invisível. Mas na verdade os projectos financiados por PPP custam mais dinheiro ao contribuinte. É que o custo do crédito para uma empresa privada é mais elevado do que para o Estado.
Só que parece ser menor, porque o Estado vai demorar, em média, 30 anos a pagar a sua dívida. Mas este tipo de contratos permite ao chanceler do Tesouro aparentemente respeitar as regras da rectidão orçamental, quando na verdade está a deixar pesadas dívidas às gerações futuras.

Semanário Expresso, Eunice Goes, correspondente em Londres, 27/7/2002

1:52 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Ingleses criticam auditores para o Amadora-Sintra


A EMPRESA de auditoria Deloitte & Touche, à qual o ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, adjudicou a análise do exercício de medicina privada no hospital Amadora-Sintra, está a ser alvo de um polémico debate no Reino Unido. Num estudo da Universidade de Londres para o sindicato Unison, a empresa é uma de cinco auditoras - com as PricewaterhouseCoopers, Andersen Worldwide, KPMG e Ernest & Young - acusadas de fazer lóbi a favor da privatização e de negociar as parcerias público-privadas (PPP) com o Governo.
No documento é referido que, até Junho, a Deloitte celebrou 66 acordos de PPP em diversas áreas, avaliados em mais de 6953 milhões de euros. Negócios que para os analistas são a prova de que a actuação do Governo para desenvolver e avaliar as parcerias tem dependido de empresas com interesses, e lucros, nesses acordos.
Estas companhias «não podem ser auditores ou neutrais porque fazem lóbi a favor das PPP, desenvolvem a política governamental e avaliam essas mesmas empresas», afirma uma das maiores especialistas britânicas em PPP, Allyson Pollock. Por isso, o referido estudo defende que só as investigações parlamentar ou académica podem fazer avaliações isentas. Contudo, ao EXPRESSO, os responsáveis britânicos pela Deloitte não quiseram apresentar os seus argumentos. Recorde-se que foi a ténue fronteira entre os serviços de consultadoria e de auditoria que esteve na origem do escândalo com a Arthur Andersen nos EUA.
Ministro conhece realidade britânica
Entre nós, estas suspeitas assumem especial relevância porque será a Deloitte a apurar se o exercício de medicina privada no Amadora-Sintra - o único hospital público de gestão privada no país - afecta os utentes do Serviço Nacional de Saúde. Mas o debate torna-se mais importante se for tido em conta que as PPP que Luís Filipe Pereira vai assinar para a construção de dez hospitais são inspiradas no modelo britânico. Experiência cuja avaliação é - pelos motivos descritos - muito contestada.
Ao contrário do que estava previsto, na Grã-Bretanha as PPP custam mais dinheiro e são de menor qualidade e eficiência do que qualquer unidade financiada pelo Estado . Os custos de construção são entre 18% a 60% mais elevados, mas os accionistas das empresas nos consórcios têm lucros garantidos entre 15% e 25%. Ao EXPRESSO, António Mocho, assessor do ministro da Saúde, garante que Luís Filipe Pereira «desconhecia a discussão quando a Deloitte foi contratada».
Mas Luís Filipe Pereira, que na quarta e quinta-feira visitou alguns hospitais britânicos com parcerias público-privadas, já teve, certamente, a oportunidade de se inteirar da polémica. O tema foi nesta semana tratado pelos jornais, como o «Financial Times» e o «The Guardian». Ainda assim, «o ministro continua convencido que as parcerias com privados são a solução, aliás, como garantem os responsáveis do Governo britânico», salienta o seu assessor.
De acordo com o «The Guardian», a estratégia britânica de convidar governos estrangeiros não é inédita. Muito antes da comitiva portuguesa, representantes sul-africanos fizeram uma «visita selectiva» a estes projectos. A ronda surtiu efeito e «há dois anos, a África do Sul iniciou as primeiras parcerias nos hospitais e muitas das empresas, sem surpresa, são as mesmas que experimentaram e testaram o modelo no Reino Unido», lê-se no artigo do «The Guardian».

Semanário Expresso 01.11.02, V.L.A. com Eunice Goes, correspondente em Londres

2:01 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Contra as PPP

Alguns estudos, nomeadamente do Institute for Public Policy Research e de Fox, L., 2002, defendem que os PPP não proporcionam “value for money”, não rentabilizam o investimento e são demasiado caros. Um outro argumento é o de que os consórcios privados envolvidos com os projectos de PPP podem obter empréstimos a taxas mais baixas, o que sugere que há um risco muito pequeno associado ao empréstimo. Consequentemente, isto indica que não há nenhum risco real que seja transferido do sector público para o privado.
A abordagem dos PPP é ainda muito criticado pela confidencialidade comercial, que é dominada pelos consórcios privados porquanto obscurece a responsabilização e torna difícil a comparação entre esquemas de financiamento público e privado. Outro argumento contra os PPP, é que é indesejável para o sector da saúde participar em contratos a longo prazo. As mudanças na procura e acontecimentos imprevistos no futuro, podem introduzir graves restrições nos recursos se as autoridades de saúde ficarem condicionadas por contratos de PFI.
Se considerarmos agora as PPP que incluem tanto o desenvolvimento das infra-estruturas e equipamento como a gestão dos serviços pode dizer-se que a experiência existente é não só muito mais limitada, mas bastante mais controversa.
O exemplo mais conhecido que é normalmente utilizado é o do Hospital La Ribera – Alzira, em Espanha – Valência, cujo pagamento é baseado em capitação (224,58 € ao ano por habitante), que serve uma população de 230 000 habitantes e que funciona desde 1 de Janeiro de 1999. Não se conhecem trabalhos de avaliação, independentes dos interesses, sobre esta experiência, e até agora esta não foi replicada em Espanha ou em qualquer outro sistema de saúde de características similares.
Esta é uma das modalidades de PPP que o governo pretende pôr a concurso para dez novos hospitais para os próximos 3 anos.
COMENTÁRIO FINAL
No actual estado do conhecimento sobre PPP para o desenvolvimento das infra-estruturas e para a gestão de unidades hospitalares, considerando as fragilidades dos dispositivos de regulação e governação, amplamente documentadas neste relatório, não parece tecnicamente legítimo implementar as dez PPP anunciadas para o sector hospitalar sem a publicitação e discussão de uma análise detalhada da fundamentação na base do conhecimento existente sobre esta matéria e sem uma estimativa elaborada sobre o seu previsível impacto no sistema de saúde português.
Sabe-se que a maior parte das experiências descritas não se situam na área da saúde; as que existem são maioritariamente na área hoteleira e na construção/remodelação, mas as opiniões dividem-se sobre os resultados alcançados, como já ficou descrito. Sabe-se igualmente que as poucas experiências que envolvem a área clínica, não estão suficientemente documentadas e que os resultados apresentados são fortemente contestados.

OPSS, relatório Primavera 2003

2:11 da tarde  
Blogger e-pá! said...

“A CONSTITUIÇÃO PREVÊ QUE O ESTADO ASSEGURE O FINANCIAMENTO DOS CUIDADOS DE SAÚDE À POPULAÇÃO E NÃO A SUA PRESTAÇÃO”…
Teófilo Leite, presidente da Direcção da Assocação Portuguesa de Hospitais Privados (APHP):

Oh! Pela sua saudinha…

CONSTITUIÇÃO DA RP - 7ª. Revisão constitucional (2005).
Artigo 64.º
(Saúde)
2. O direito à protecção da saúde é realizado:
a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito;

3. Para assegurar o direito à protecção da saúde, incumbe prioritariamente ao Estado:
a) Garantir o acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação;
….
A APHP tem uma espantosa maleabilidade interpretativa do documento fundamental da República, que impressiona. Ou andamos todos distraídos e já não sabemos ler, ou estará na forja uma nova revisão constitucional. …
Ou, ainda:
- a “rede” de Hospitais Privados integra o SNS ou, complementarmente, poderá ser articulada com ele?
Se não:
- como consegue garantir condições de universalidade e de equidade (garantir o acesso a todos os cidadãos) com as tais 10% das camas hospitalares?

Finalmente, a desenfreada caça a uma importante fatia do financiamento público, obnubila o resto., i.e., o artº 64, 2. alínea d) da CRP:
“Disciplinar e fiscalizar as formas empresariais e privadas da medicina, articulando-as com o serviço nacional de saúde, por forma a assegurar, nas instituições de saúde públicas e privadas, adequados padrões de eficiência e de qualidade;".

O poder de disciplinar e fiscalizar, isto é, o exercício da função reguladora do Estado, é para esquecer, nunca se deve referir e até sucumbirá de raiva quem lembrar isso…
É, este o ponto nevrálgico da questão das prestações privadas no seio do SNS. Portugal seria um paraiso onde a prestação de cuidados na saúde não estatia sijeita a qualquer regulação...
Se, fosse tão arguto como o sr. Presidente da APHP, diria que as jactâncias atiradas ao ar, não andam longe da má fé.
Porque, inocentemente, esqueci-me que a regulação das empresas, só pode ser feita pelo mercado, pela lei da concorrência e auxiliadas pelos inefáveis “rankings”. Não é?
E substituir-mos a Constituição pelo sacrossanto Mercado. Estaria o Sr. Teófilo Leite de acordo?

É que, no fundo, estas aleivosias, não são confusões de conceitos ou ideias, mas uma programada terraplanagem do terreno para um deliberado e consciente assalto às "coisas e causas públicas".
Deliberado, também, porque é o triunfo do neo-liberalismo, sem necessitar de passar pelas urnas. Bastam espertezas saloias apoiadas em malabarismos verbais, repetidas incessantemente …

As PPP´s na Saúde anteciparam a necessária discussão sobre o modelo do Estado na Saúde : financiador, prestador e regulador.
Os pressupostos mostraram ser frágeis, baseavam-se na incapacidade de gestão pública e na excelência da gestão privada. Embalaram o MS para grandes voos, tal como um modermno Icaro, com asas de cera...

Hoje, é claro e notório que, para além disso, abriram o caminho a Teófilos e quejandos...,i. e., à entrada da Saúde num outro mercado:
primeiro, da especulação verbal
e, depois, da captura económica.

11:05 da manhã  
Blogger gatekeeper said...

Gostaria de sublinhar, antes de mais, a importância que as PPP deverão assumir na discussão tanto entre académicos, como entre os profissionais e os responsáveis do sector da saúde. Fazendo uma pesquisa do trabalho académico elaborado neste tema, o número de trabalhos realizados e publicados é muito reduzido, não existindo sequer quaisquer guidelines publicadas pelas entidades competentes, ao contrário do que sucede nos países mais avançados na adopção de PPP.

Fazendo apreciações genéricas aos seus comentários verifico que o seguinte:
- estamos globalmente de acordo relativamente ao potencial de poupança para o Estado, mediante a aplicação das PPP;
- na identificação dos potenciais perdedores, nos quais é obtido o “ganho” das PPP, constato que grande parte dessa identificação resulta de “infundados” receios, possivelmente decorrentes de algum desconhecimento da globalidade dos modelos de PPP, na medida em (i) a estrutura de pessoal afecta à unidade hospitalar é definida e validade pelo Estado, não resultando por isso na redução do número de profissionais e saúde (cumprindo os rácios por cama preconizados), (ii) o pagamento os utentes (taxas moderadoras) é exactamente igual àquele que seria em qualquer outro hospital público, (iii) os restantes perdedores deverão ser antes encarados como “menores ganhadores”;
- a articulação entre o estado e os parceiros privados e a invocada incapacidade do estado em “controlar as suas empresas”, e a referência de anuais alterações vantajosas para o parceiro privado, resulta uma vez mais de algum desconhecimento dos modelos de PPP, na medida em que, da informação que disponho, o estado acorda à partida os preços por linha de produção e a sua evolução resulta de percentagens definidas à partida e fechadas num ambiente competitivo. Deste modo, a única variável a variar ao longo do contrato é naturalmente a actividade contratada. Deste modo, o estado não fica minimamente prejudicado caso o parceiro privado para fazer determinada actividade tenha custos superiores aos que foram inicialmente estimados. Por outro lado, no contrato estão previstos mecanismos facilitados de controlo e de autoregulação que reduzem substancialmente a função de controlador do Estado;
- o exemplo apresentado do modelo do AS, como o ícone de incapacidade do estado no controlo dos contratos, revela-se pouco adequado na medida em que, pelas informações que disponho, o tipo de contrato definido no AS assenta num modelo de pagamento “à peça” (por procedimento), o que conduziu, naturalmente, a impossibilidade de controlo do controlo, este facto resultou obviamente do incumprimento do pressuposto por mim definido de que o estado não sabia o que queria. Nos modelos de PPP actuais o modelo de pagamento é claramente diferente (“em pacote”), reduzindo o contencioso com o parceiro privado;
- a referência às peças concursais, que supostamente são as mesmas que as definidas pelo anterior ministro, parece-me incorrecta em virtude de ao longo do procedimento concursal, fase de negociação competitiva e final, serem introduzidas alterações às mesmas; este facto resulta do Contrato de Gestão ser um documento substancialmente diferente do caderno de encargos, incorporando deste forma a curva de experiência do estado no desenvolvimento dos projectos;
- por último, relativamente, à morosidade do processo, concordo com o facto dos prazos serem excessivos mas considero que são os necessários tendo em consideração a complexidade dos mesmos; considero que uma tentativa de “apressar” e aligeirar o processo resultaria, indubitavelmente em perdas para o Estado, a esse propósito vejam-se as notícias de reduções astronómicas dos preços apresentados ao longo das negociações; É necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre o tempo do projecto, e os seus impactos negativos, e os ganhos resultantes dos projectos, sendo de evitar entrar em períodos em que os benefícios marginais são negativos;

Para finalizar, o comentário gostaria de sublinhar que grande parte das opiniões menos positivas decorrem no contrato do estado com o AS. Neste contexto, é preciso sublinhar e realçar que os actuais modelos PPP nada têm a ver com esse contrato “papão”.

12:40 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Watchdog counts PFI cash waste

Millions of pounds of public money are being wasted because contractors are charging unjustifiably high fees for making changes to active private finance initiative projects, according to the National Audit Office.
Public authorities are typically getting “poor value for money” when they ask private sector consortia for additions to ongoing PFI projects, such as building and operating hospitals and schools, an audit office report concluded on Wednesday.
More than £180m ($353m) of taxpayers’ money was spent on changes to many of the 500 PFI deals in 2006. The audit office found that most private sector PFI operators charged “unjustified” extra management fees, often as high as 10 per cent, on top of the charges made by the service providers for requested changes.
Another problem was that public authorities were frequently ill-equipped to manage PFI projects and had little idea how much changes should cost. For example, it found that the cost of adding a single electrical socket varied widely from about £30 to more than £302 in PFI projects, with an average higher than benchmark prices.
James Robertson, chief economist at the NAO, said: “Public authorities are not necessarily sighted on what the typical cost ought to be and that’s a problem.”
Although 82 per cent of changes to PFI projects, which can often run for 25 to 30 years, were small, “these all add up to a sizeable amount of money”.
Changes that cost more than £100,000 accounted for 90 per cent of the spending, yet just 30 per cent of those changes were competitively tendered, with the rest being awarded directly to the existing contractor.
The audit office said about another third of the changes could have gone to tender to drive down costs. For example, it said a £25m new block at HM Prison Altcourse and £22.9m expansion of Hexham General Hospital were among a number of schemes not competitively tendered but which might have been suitable for such treatment.
Edward Leigh, the chairman of the Commons’ public accounts committee, said changes were inevitable but public sector managers should be more “street-wise” when dealing with savvy private sector contractors.
He said: “The public sector has allowed itself to be taken for a ride. It is depressing that, for one in five PFI projects, the public authorities trim the projects at the initial plan stage to save money, only to risk being stung later by the private sector contractors when things are put back into the project.”
Neil Bentley, director of public services at the CBI employers’ body, said: “The report shows PFI deals are flexible and able to respond to public service users’ changing needs. But value for money is paramount and PFI partners need to work together to deliver a good deal for all.”

By Bob Sherwood
Published: January 17 2008 03:38 | Last updated: January 17 2008 03:38

7:37 da tarde  
Blogger xavier said...

O gatekeeper volta à carga glosando as virtualidades (teóricas) das PPP em hospitais e nada dizendo sobre os aspectos práticos que as inviabilizam na realidade actual em Portugal. link Já havia acordo quanto à possibilidade de gerar economias elevadas, perante hospitais mal geridos. Aguardávamos a enunciação de como, na prática, iria transformar essa possibilidade em realidade no quadro (desequilibrado) que todos conhecemos:

– De um lado um Estado fraco controlador e com mudança de políticas, ainda que o governo seja o mesmo. Com dificuldade em criar e manter estruturas altamente qualificadas para acompanhamento e controlo de contratos tão complexos como são os de gestão de hospitais.
– Doutro três grupos muito poderosos e influentes (em todos os governos), acompanhados do que de mais sofisticado houver – na consultadoria financeira, jurídica, etc.

Na ausência daquela enunciação resta-nos comentar as «apreciações genéricas» que produziu. Socorri-me de informação que me foi transmitida por fontes ligadas directamente ao processo, a quem agradeço a ajuda prestada.

1-Que perdedores?

1.1- Afirma primeiro que a «estrutura do pessoal é definida e validada pelo Estado». Pois bem quem define o número, composição e qualificação do pessoal proposto é o concorrente, podendo o Estado exigir o cumprimento de determinados padrões de recursos nalgumas áreas. Na negociação (2 fases) pode haver ajustamentos da proposta mas trata-se sempre de uma negociação. Assim nada obsta a que seja proposto e aceite um número muito menor de pessoas, uma composição mais económica e com menor retribuição. Foi isto exactamente o que afirmámos, pessoal como perdedor, perante as remunerações globais recebidas agora. Note-se que classificar como perdedor não significa da nossa parte que estejamos a legitimar a situação de partida.

1.2- Depois afirma que o «pagamento dos utentes é exactamente igual … hospital público». O valor está definido mas um privado cobrará maior percentagem das receitas possíveis, por melhor identificação e maior pressão para cobrar (tudo e cedo) - a tal melhor gestão que o Sr começou por identificar. Ou seja os pagamentos efectivos serão maiores, como nós dissemos.

1.3- Nos restantes (lembro: fornecedores de recursos, MCD, médicos em prestação liberal,…) reconhece-os como perdedores, mas disfarça passando-os a «menores ganhadores», só que mudar o nome não muda a realidade!

2- Contrato fechado?

2.1- Nega que haja revisões anuais do contrato mas a verdade é que não só estão previstas no concurso como são necessárias – e não é preciso pensar muito, por exemplo:
– Valores da procura iniciais são estimados, com anos de dilação e com a fiabilidade a que o IGIF nos habituou. Assim a realidade afastar-se-á daquela previsão quanto ao nº, composição em GDH, estrutura – internamento/CE/CA/HD/SU, gravidade, etc. O valor global terá alteração que pode ser substancial e ditará um efeito que, muitas vezes, se acumula no tempo.
– Os custos dos factores podem ter variação de preços muito diferente da prevista.
– A inovação tecnológica fará desaparecer alguns MCD previstos no contrato e imporá a inclusão de outros.
– O Estado pode querer diminuir a procura contratada (ex menor nº SU depois de concretizar as USF) ou aumentar noutras áreas e terá que negociar.

2.2. Diz que o Estado não é prejudicado se o custo para o privado for superior ao previsto. Teoricamente sim, mas o privado tudo fará para «contrabalançar» a perda: menor qualidade, adiar a expansão, reduzir o que o serviço normalmente comporta, etc.

2.3. Recusa a comparação com o AS porque o contrato é diferente do das PPP, este é «por pacote» e mais complexo. Só que quanto se trata de controlar não é a maior complexidade que facilita, antes agrava as debilidades que todos reconhecemos ao Estado nesta área – se nem as convenções e contratos simples (como o do AS) consegue controlar!

3- Concurso gera concorrência?

3.1. Basicamente as peças são as mesmas que foram desenhadas por LFP, havendo lugar a actualizações e correcções em cada concurso (e à inclusão de partes novas nos concursos de hospitais substituição e com ensino).

3.2. Pareceu-me que reconheceu, implicitamente, que o AS foi mal lançado, quando justifica a complexidade das peças do concurso PPP e quando afasta a comparação com o «papão» que «nada tem a ver com as PPP». Parece-me que também reconhece a fragilidade do Estado quando afirma que «…uma tentativa de apressar e aligeirar o processo resultaria, indubitavelmente em perdas para o Estado». Podia admitir que prejudicava o parceiro privado mas é muito claro e firme em identificar o perdedor. Perante o poder e a sofisticação do concorrente, também não duvido.

3.3. Foi lesto a referir «as notícias das reduções astronómicas dos preços apresentados» mas nada diz sobre o resultado previsível do oligopólio a prazo: maiores preços. Aquela redução será conjuntural e ligada a guerras de conquista de posições em mercados aliciantes para o grupo, mas ninguém acredita que os 3 grupos não se entendam de futuro para evitar guerras de preços.

Terminava referindo que o sucesso das PPP depende de vários factores:

a- Nº de concorrentes, sua capacidade e comportamentos adoptados no prazo do contrato.
b- Capacidade do Estado acompanhar e fiscalizar o contrato.
c- Factores não controláveis pelas partes: evolução das doenças, da tecnologia, da disponibilidade e custo dos factores de produção e doutras variáveis presentes no Meio.

Já dissemos o bastante sobre a diferente capacidade e sofisticação das partes e sobre o reduzido nº de concorrentes. A evolução previsível é também um problema, não apenas por dar azo ao exercício do «tal» poder negocial mas porque são múltiplas as fontes de risco num contrato muito complexo como este é, perante a debilidade do Estado controlador. Cito algumas possibilidades conhecidas de aproveitamento pelo parceiro privado:

- Fazer up-coding, quando for conveniente e menos arriscado.
- Promover a multiplicação de actos desnecessários ou inapropriados, onde houver lucro marginal significativo (pode ser o caso do SU).
- Subprescrever medicamentos no ambulatório, beneficiando do diferencial previsto.
- Classificar os seus doentes segurados como do SNS ou como não identificados (dizem-me que são pagos como se fossem do SNS).
- Desviar (desnatar) determinados doentes que interessem para os seus estabelecimentos privados.

Declaração de interesses: Eu vivo numa PPP

1:36 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

Há mais alguma PPP na Saúde, em funcionamento, para além do Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul, em São Brás de Alportel?

2:09 da tarde  
Blogger xavier said...

Caro é-pá,

Há um Centro Hospitalar adjudicado às PPP.

Um abraço.

3:25 da tarde  

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