sexta-feira, junho 27

Não tenham pena dos laboratórios

Pobre dos contribuintes!

A dívida do Estado aos laboratórios farmacêuticos, parece atingir um novo ponto crítico com acumulação de muitos milhões de euros. A maioria referente a dívidas vencidas (por cobrar há mais de 90 dias).

De acordo com o DE, um dos directores dos laboratórios nacionais contactado, caracterizou assim a situação: “Somos nós que estamos a financiar os hospitais, que recebem medicamentos durante um ano sem pagar nada por isso”.
link

Assim fosse. A realidade, porém, é muito diferente.

«O problema é que só aparentemente a indústria é o fornecedor ideal: como têm a certeza de que não vão receber a tempo e horas, os laboratórios sobem os preços à partida. Miguel Gouveia diz que as diferenças de preço podem chegar aos 28% e Pedro Pita Barros diz que os hospitais estão a pagar mais 33 milhões em juros por causa dos atrasos link Além disso, «os Laboratórios preparam-se para cobrar em tribunal mais de 200 milhões de euros de dívidas atrasadas dos hospitais públicos.» link

Sobre as dívidas do Estado à Indústria, CC, na altura ministro da saúde, caracterizava assim este problema crónico da saúde: «Provavelmente, não sabe que essas dívidas não são um prejuízo para os laboratórios. O sobrecusto dos hospitais sociedades anónimas, calculado pelo professor Miguel Gouveia, medido em juros anuais, foi de 38%. Os hospitais, quanto mais se atrasam, mais caros compram os medicamentos. Não tenham pena dos laboratórios! Com o sobrecusto de 38% de juros dá e sobra para pagar qualquer taxa de juro bancária. É do interesse dos hospitais pagar a curto prazo porque podem comprar melhor. E é isso que se está a verificar. Estamos a cumprir em muitos sítios porque os hospitais têm «cash» para pagar.» Revista Prémio 18.05.06 link

Também decorrente desta situação, em Março do corrente ano, o Ministério da Saúde autorizou um aumento extraordinário do preço de 121 apresentações, sob ameaça dos laboratórios em retirá-los do mercado link

Despesa com medicamentos: desastre à vista (aumento extraordinário de preços, sobrecusto referente à cobrança de juros, condenações em tribunal, aumento de co-pagamentos dos utentes do SNS) .

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2 Comments:

Blogger e-pá! said...

Não tenho pena dos laboratórios, tenho pena dos contribuintes...

O sobrecusto que os HH's pagam por representarem publicamente o aviltante papael de "caloteriros" custa a todos - Estado e aos co-pagadores do SNS - um desperdício à volta de 30 %.

Deixou-se de falar em desperdício?
Ou com a saída de CC ficou "demodèe"?

Tudo isto para não fazer um orçamento rectificativo para a Saúde...

Estas dívidas do Estado, estas "más contas", este deixar de ser "pessoa de bem", já foi experimentado, testado e conhecem-se os resultados.
Dois portugueses podem - se quiserem - explicar aos portugueses o desastre que se aproxima: João Cordeiro e Costa Freire.

Mas sujeitamos o Estado - ao fim e ao cabo todos nós - a ir dar com os costados em Tribunal (provavelmente por processos de injunções) tornamo-nos num bom exemplo para a sociedade que todos os dias perde referências: foram as 8 horas de trabalho (em Portugal desde 1917); o sagrado vencimento no fim do mês e aquilo que sempre integrou a "alma portuguesa" e, aqui, estou a lembrar-me de Torga. A "alma portuguesa" integra a "honra deste povo" e o homem rural português quando não consegue satisfazer as suas divídas, ou por más colheitas e por outros azares, põe termo à vida.
Uma trilogia: alma, honra e vida.

Hoje, estes "passáros" ou falam em palanques políticos ou frequentam tertúlias nos clubes chiques e, finalmente, engalanados, escrevem crónicas sobre dinheiro e finaciamentos. Pretendem ser "opinion makers" - (vidé PKM).

Caro Xavier: o desastre, o maior desastre, é humano.

Dos laboratórios não tenho pena. Só que devem ser pagos pelo que forneceram aos portugueses através do Estado. Elementar.

8:14 da manhã  
Blogger Joaopedro said...

«Somos nós que estamos a financiar o SNS»

Esta interpretação dos responsáveis da Indústria Farmacêutica pode ser verdade contabilisticamente mas não o é economicamente.
Os HHs acabam efectivamente por pagar mais caro aos Laboratórios devido aos juros implícitos ou seja a margem que os fornecedores colocam nos preços dos medicamentos por saberem à partida que só vão ter o pagamento depois de 365 dias ou mais, a qual pode chegar aos 28% de acordo com estudo encomendado por CC. È como se fosse dinheiro emprestado ao Sistema de Saúde.
Se a Indústria resolveu ir para tribunal é porque todas as estimativas foram ultrapassadas.
Miguel Gouveia, DE 27.06.08

Tanto "esperto" que tem passado no Governo e este problema ainda não foi resolvido!
A política de combate ao desperdício não devia ter definido a resolução deste problema como medida prioritária?
São milhões deitados anualmente à rua desnecessariamente.
É a política de poupar no farelo para gastar à fartasana na farinha sem proveito para ninguém.
Tudo se resumido, fica a Incompetência dos nossos governantes.

5:49 da tarde  

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