quarta-feira, junho 25

PPP à portuguesa (5)


Antes de mais, o apelo de princípio de ano (é aí que ainda estamos!) não passou desapercebido a mim como possivelmente a outros. Simplesmente, conhecendo como cada vez mais vou conhecendo o Xavier, através do seu dedicado, criterioso e exigente desempenho na gestão do saudesa – desempenho que (é com verdade que o digo), não estou a ver muitos que o pudessem igualar – diria que esse apelo se dirigia a uma análise de suficiente globalidade e fundamentação, não apressada nem ferida de preconceitos que sempre turvam as percepções da razão. Por isso, não me pareceu que o contexto dos primeiros dias do ano, em que a problemática dos “encerramentos” esmagou tudo, também nos mídia generalistas (ou sobretudo neles?), fosse propício até para a análise que considero ao meu alcance e que, obviamente, nunca poderá ser exaustiva. Mas estamos aqui para dizer só o que sabemos ou de que nos apercebemos, não é verdade?

Depois, devo dizer que considero o Post do Xavier link e a intervenção sobre a qual incide, do Gatekeeper link, muito bons e mais complementares do que em oposição. Não se excluindo reciprocamente (é a minha leitura) cada uma delas focaliza-se em aspectos efectivamente carecidos de séria reflexão. Dizem o que de mais relevante haverá para dizer, apesar da preocupação de sintetizar visível em qualquer delas. Não obstante, ou por causa disso, alguma coisa terá ficado por dizer. Tentarei situar-me na mesma onda.

Finalmente, considero de fazer já a minha declaração de interesses porque é um pressuposto de tudo quanto direi: rejeito, liminarmente, a posição que considera que bom é o privado e mau é o serviço público, ou que quem quiser o bom tem de poder pagá-lo, e contraponho-lhe que só os melhores são capazes do melhor, e os melhores podem estar em qualquer dos lados e, em última análise, somos nós que os pagamos, estejam onde estiverem. Desistir de conseguir o melhor é uma demissão inaceitável e considero que está na base do muito de mau que temos tido. O que tem acontecido é que sector público e sector privado não dispuseram e ainda não dispõem das mesmas armas numa concorrência pelos melhores que, à medida que avança, se revela cada vez mais desigual, num quadro de inacção ou falta de acção adequada e atempada da parte do Estado.

1. Pressuposto basilar, ou de partida.

As PPP podem estar num cenário em que as características fundamentais do SNS – universalidade, generalidade e gratuitidade tendencial – se tenham degradado ou até tenham sido arredadas, o que será lamentável, se acontecer. Não haverá então SNS; mas esse cenário não deriva nem tem como motor a existência de HH-PPP, ou seja, não tem de decorrer da natureza destes, qualquer que seja o seu número. Do ponto de vista legal, não há qualquer dúvida de que os HH-PPP se enquadram pacificamente no enquadramento jurídico vigente, designadamente no previsto na Lei de Bases da Saúde. A legislação específica das parcerias integra, e bem, os HH-PPP no SNS. São HH a que pode aceder toda a população, beneficiária do SNS ou de Subsistemas, nas mesmas condições e com as mesmas responsabilidades que lhe são oferecidas ou exigidas por qualquer outro H do SNS. O que os distingue dos restantes é o regime jurídico e a responsabilidade pela sua gestão, subordinadas ao direito privado com as especificações previstas no contrato de parceria celebrado com a parte pública. Eventuais distorções relativamente aos princípios fundamentais do SNS só podem ser imputadas a erros ou desvios de concepção das unidades ou de execução contratual que é obrigação estrita da parte pública não tolerar, quer prevenindo-os quer reprimindo-os adequadamente (a repressão pode chegar à rescisão da parceria). Por agora, fiquemos por aqui; adiante falaremos da responsabilidade inerente aos riscos que os HH-PPP implicam, porque efectivamente são de recear, seja qual for a parte responsável.

2. O âmbito das Parcerias


Na minha análise, o Gatekeeper identifica bem os três grandes pilares em que as PPP assentam: (i) relação contratual duradoura entre um parceiro público e um parceiro privado; (ii) optimização da transferência de riscos e (iii) monitorização e acompanhamento dos contratos de PPP. É bom que o tenha feito para afastar o risco de se esquecer que, na relação de parceria, as partes (uma e outra!) se obrigam não só a (i) aceitar que o negócio seja bom para ambas (como em qualquer contrato que de outra forma não seria aceitável para um dos lados), mas também a (ii) disponibilizar à contraparte a colaboração ao seu alcance para conformar a relação de modo a maximizar as suas vantagens. É este o traço distintivo da parceria e, se ele se não concretizar, poderá haver negócio mas não parceria.
Também tem toda a razão quando refere que o êxito das Parcerias exige, necessariamente, que: o Estado tem de ter peso negocial e, acima de tudo, tem de saber o que quer. Já não tanta quando afirma Se isto acontecer as PPP serão certamente uma mais valia. Porque não basta: o parceiro privado tem que por alguma coisa de seu, não só em recursos, também em know-how, em empenho, em lisura e correcção dos procedimentos, em resumo: na concretização e dinamização da parceria, como não duvido que o Gatekeeper estará de acordo.

Referindo-se à mais valia esperável dos HH-PPP, afirma o Gatekeeper “… a gestão das unidades hospitalares é caótica, não existem regras de gestão, os corporativismos vingam e a pouca exigência na definição anual dos contratos programa dão margem exagerada aos hospitais para serem ineficientes”. Não entrando já nas razões por que assim é, é evidente que, depois das posições que aqui tenho assumido, verberando a sub-produtividade e o pesado desperdício que existem no SNS (por causas várias, entre elas as de natureza jurídico-organizacionais e de gestão) não vou por em causa esta afirmação, mas antes destacar que ela não esgota os objectivos que, com os HH-PPP devem ser prosseguidos. O grande problema é que o SNS precisa de ser reformado para que se torne o que dele temos todo o direito de esperar. Contrariamente ao que das palavras do Gatekeeper poderia depreender-se, a reforma necessária não se circunscreve ao domínio da eficiência; pelo menos em igual medida, respeita também ao domínio da qualidade das prestações, o que envolve variados aspectos, desde a recentragem das actividades no utente dos serviços (coisa de que se fala muito mas em que pouco se faz), à apropriação das prestações, à sua realização em condições de actualização técnica e de segurança (clínica e geral), à redução das infecções nosocomiais, à responsabilidade social e ambiental … até à satisfação dos utentes, dos profissionais e das entidades relacionadas (de tutela, clientes institucionais e fornecedores de serviços ou de materiais). Tudo aspectos que, tal como a promoção da eficiência, fazem apelo a uma nova mentalidade e, por isso, sugerem um longo caminho a percorrer num tempo que já é escasso porque durante muito tempo seguimos por outro rumo em que à concorrência foi exigido pouco ou nenhum contributo: a necessidade de mudança nunca foi sentida como imperiosa.
Estou agora onde pretendia chegar: instalações e equipamentos antecipados pelas parcerias são importantes mas são apenas a parte menor da mudança necessária. Por isso não acompanho aqueles que condenam as parcerias por elas se estenderem também à gestão de serviços de saúde. Muito pelo contrário, se bem conduzidas e adequadamente monitorizadas, será aqui que as parcerias poderão demonstrar as suas maiores virtualidades, tornando mais fácil e de menor drasticidade a mudança global indispensável à sobrevivência do SNS. Aqui, não consigo resistir a transcrever da intervenção de Vital Moreira link (comentário de Tambémquero), e do excelente Post, mais um, do Hermes "SU: como chegámos aqui?": A meu ver, por mais politicamente aliciante que seja, não tem fundamento a tese de que as políticas de saúde em curso estão a "destruir o SNS". Pelo contrário, penso que só a sua reforma pode salvá-lo da destruição, pela insustentabilidade financeira e pela incapacidade para responder às crescentes necessidades em cuidados de saúde.

3. Ganhos e perdas das Parcerias


O Xavier inicia as suas considerações pelas fontes do ganho e os «perdedores». A meu ver, o que faz é um inventário das forças em presença, o que é sempre útil em qualquer projecto. Porém, embora excessivamente centrado na análise das posições do Gatekeeper, não posso dizer que incide no mesmo “pecado” de se limitar aos aspectos relacionados com a eficiência, antes refere também o impacto que as parcerias poderão (deverão) ter no domínio que, globalmente, poderemos chamar da qualidade, ainda que o faça de passagem, sem o destaque que consideraria adequado: “Uma parte do ganho poderia resultar de maior produção com os mesmos recursos físicos ou da diminuição da inapropriação e aumento de qualidade (ex. menos dias de internamento devidos a menores infecções hospitalares”. E isto tanto mais quanto é certo que, um e outro, estão a considerar as parcerias “à portuguesa”, isto é, abrangendo a gestão e exploração do estabelecimento, como se vê dos ganhos que ambos reconhecem e que incidem principalmente na exploração. No domínio da eficiência, totalmente de acordo. Tal como diz, os ganhos assenta(m) na ultrapassagem dos pontos fracos: baixa produtividade do pessoal, reduzida eficiência dos equipamentos principais (BO, MCD mais «pesados»), má gestão de processos operacionais e deficiências estruturais, como seja, por ex., o peso menor da CE e da CA, em contraste com a abertura excessiva aos SU, acrescentaria eu. Referiria também os ganhos, em qualidade e em eficiência, esperáveis dos HH-PPP como resultado da continuidade do processo assistencial do doente (exigência dos Cadernos de Encargos de articulação com as redes de cuidados primários e de cuidados continuados).
Como refere o Xavier e é obvio, se falamos de redução de desperdício e de promoção de produtividade, designadamente através da previsão de incentivos remuneratórios, é forçoso que o êxito que se atingir se traduza em prejuízo de alguns: dos convencionados com a redução da procura injustificada, dos que têm lucrado com o divórcio entre remunerações e níveis de desempenho, dos profissionais liberais que sofram a correspondente redução de clientela, dos fornecedores de consumos, de serviços e de outros bens desnecessários. Mas como poderão pôr-se em causa tais prejuízos?

4. Os riscos e os receios das Parcerias
4.1 – Os receios das Parcerias: - Poder dos privados e divisão do “bolo”
Ninguém terá dúvidas sobre o poder dos privados e da sua capacidade de, em contexto desregulado, de oligopólio, distorcer ou até anular a concorrência, circunscrevendo-a aos que nele se integram, com efeitos tanto mais nocivos quanto menor for o seu número. Neste quadro e em situação limite, pode até chegar-se ao extremo de compor interesses, dispensando a concorrência entre si.
Isto não pode ser surpresa para ninguém, muito menos para quem tiver lido qualquer compêndio de economia política, mesmo elementar (pode não ser mais que as páginas de uma “sebenta”, até de uma faculdade de direito). A interdependência entre o poder político e o poder económico é complexa mas inevitável e seria insensato – à luz dos resultados que as experiências das últimas décadas apresentaram – que um suprimisse o outro: a Política não dispensa os recursos económicos e a Economia precisa de um quadro de opções definido para promover a criação de recursos. E mais: como, com outros termos, bem evidencia o Xavier (Infelizmente o controlo exercido pelo Estado é fraco, em todas as épocas e em todas as áreas onde a saúde não é excepção) não se trata de uma especificidade da área da saúde. Mesmo na área da Saúde, os HH-PPP não serão a única área de intervenção dos privados; basta lembrar que, via convenções, estes detêm cerca de 70% dos MCDT e grande parte das consultas de especialidade, para não falar no mais (seguros, medicamentos, próteses, material clínico …) que é também muito.
Por mais que o episódio ocorrido no âmbito do concurso para o Hospital de Loures – tem havido outros … – nos faça lembrar um vergonhoso “apagão” (de muitas coisas que me dispenso de enunciar), o que verdadeiramente está em causa é saber se estamos ou se vamos para uma situação de “captura” do Estado pelo poder económico e, na afirmativa, o que pode ser feito para corrigir essa clausura.

4.2 – O Estado tem de ter peso negocial e, acima de tudo, tem de saber o que quer (Gatekeeper) A perfeição concursal … o pesadelo para todos! (Xavier)
Plenamente de acordo com as afirmações do Xavier relativamente ao contrato para o AS e à necessidade de suficiente (a total é inatingível) “perfeição concursal”. Se os juristas foram chamados a desempenhar qualquer papel, mesmo não conhecendo eu o contrato no seu pormenor, basta a análise do histórico para poder afirmar que não se saíram bem. Repito: se algum papel lhes foi atribuído. O melhor parece-me ser passar adiante sem dizer mais, porque o que haverá a fazer, mais importante do que dizer!, estará já a ser feito (preparar novo concurso).
Mais interessante será reflectir sobre as componentes que devem integrar a “perfeição concursal” e, neste ponto, entendo que o Xavier e o Gatekeeper se encontram muito mais do que parece. A síntese deste contém, efectivamente, muito mais do que se colheria numa leitura apressada.

a) O peso negocial do Estado e a sua posição dominante, em defesa e para garantia do interesse público, que deve moldar a oferta pública do negócio, passando pela definição:
• dos seus limites (que população, que serviços, que modalidades de prestação, em que condições de prontidão, de segurança e qualidade, de satisfação, de recursos mínimos a disponibilizar – recursos humanos e qualificação profissional exigida, instalações, equipamentos e organização –);
• da margem de definição deixada para opção dos eventuais concorrentes;
• dos limites de remuneração do adjudicatário e das incidências remuneratórias a suportar por este em função do seu desempenho contratual;
• dos critérios de admissão e de avaliação dos concorrentes e das suas propostas;
• das condições de monitorização do desempenho contratual e da informação sistemática a disponibilizar para o efeito;
• aceitação e submissão antecipada às normas e regras que venham a ser instituídas para aplicação generalizada no funcionamento de todo o SNS.
Tudo isto consta dos documentos concursais e concordaremos que não é o “deserto” de clausulado a que alude o Xavier a propósito do AS. Não será a perfeição; apenas como simples exemplo, não consigo entender como pode ser levado a sério um concorrente – ao Hospital de Braga – que oferece consultas hospitalares (integrando tudo o que impliquem, incluindo meios de diagnóstico) a preço inferior a dois Euros. Penso, no entanto, que a Missão para as Parcerias fez um bom trabalho na preparação dos Cadernos de Encargos dos HH-PPP, em termos globais, de completude e de consistência e que o lançamento do 1.º concurso se constituiu como marco distintivo do antes e depois para estes documentos.

b) O Estado tem de saber o que quer
A exigência é normalmente uma faca de dois gumes, isto é, corta para os dois lados. Está aqui, a meu ver, a maior e mais séria debilidade dos HH-PPP. Para o Estado proceder às definições que lhe competem e não ficar em risco de perder a sua posição dominante, em defesa e para garantia do interesse público, precisa não só de Know-how em termos teóricos ou importados, mas de know-how com a consolidação que deriva da aplicação e experimentação. Precisa também de ter feito definições prévias do que deve ser o posicionamento dos vários sectores integrantes do SNS (o que se espera dos CSP, dos HH, dos CC, da rede de SU, Oncológica e outras, como se interrelacionam, articulam e complementam); precisa de ter definido concretamente os parâmetros da avaliação em termos de qualidade e de eficiência sem o que não saberá qual a informação que será necessária para esse efeito e terá de ficar-se por afirmações de generalidade; precisa ainda de ter estabelecido qual o sistema de informação obrigatório no âmbito do SNS, sem o que se arrisca a criar ou a defrontar-se com dificuldades de compatibilização.
Assim, parece-me perfeitamente claro que: i) o know-how faz parte importante do peso negocial do Estado; ii) é necessário desde a fase inicial do processo e não apenas na fase final de negociação das cláusulas contratuais; iii) o ganho de tempo que se pretenda com início apressado dos processos paga-se, com demasia, em tempo e em dinheiro, nos incidentes de percurso, no suprimento das lacunas ou, se estas forem deixadas em aberto, no suportar das suas consequências. Por isso, e porque é evidente que quem não sabe avaliar é sério candidato a ser logrado no conto do vigário, compreendo bem a afirmação do Xavier: “A perfeição concursal … o pesadelo para todos!” No entanto, sendo as coisas o que são, a saída preferível ainda será tentar suprir as lacunas.

5 – O controlo exercido pelo Estado é fraco, em todas as épocas e em todas as áreas onde a saúde não é excepção.

Ninguém discordará desta afirmação, mas é também o Xavier quem reconhece que o Estado não tem conseguido definir bem contratos nem controlar as suas empresas … e que “essa (a debilidade do controlo) é uma das razões por que o Estado gasta demais”. Claro que continuo de pleno acordo. Mas, sendo assim, o problema não se circunscreve às PPP nem nasce com elas. Se a avaliação e o controlo são obrigações estritas do Estado e o maior peso da sua falta se situa exactamente “nas suas empresas” (tomada a expressão no seu sentido amplo) por que razão há-de continuar a ser tolerada esta demissão? É uma das que tinha em mente quando acima escrevi: Desistir de conseguir o melhor é uma demissão inaceitável e considero que está na base do muito de mau que temos tido.
Aidenos

Em tempo: quero saudar a notícia que me chegou de que, finalmente, será em breve publicado despacho aprovando os parâmetros por que vão reger-se a avaliação e o controlo dos Hospitais e dos responsáveis pela sua gestão. Já não era sem tempo!

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12 Comments:

Blogger xavier said...

Postei por engano, no lugar do post do Aidenós, um comentário meu (que, entretanto, já retirei) de resposta ao GateKeeper.

10:43 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Seria bom que nesta euforia de realizações, inovações & transformações, do tipo PPP’s ou outras, fizessemos uma pausa para pensar e tempo para reflectir.
Será isso que a anunciada petição sobre o SNS, pretende?

As PPP's, no meu entendimento, entram na economia política europeia como uma muleta do “thatcherismo”, i. e., como uma via de transição para a privatização da generalidade dos serviços públicos, uma bandeira dos “ tories”.
Margaret Thatcher não teve tempo de a concretizar, dada a implosão da sua política liberalista e monetarista, sob a armadilha fiscal da “poll tax”. A oportunidade de implementar esse instrumento de gestão pública caberia ao seu sucessor Tony Blair, que se apressou a inverter as razões de origem:
as PPP’s passaram a ser um modelo para evitar a privatização total dos serviços públicos…
E a justificação trabalhista foi a eficiência: redução dos custos e rapidez de construção de novos empreendimentos públicos.
Este projecto envolveu diversos sectores dos serviços públicos: saúde, rodovias, educação e presidiário.
O Institute for Public Policy Research (IPPR) e alguns Survey Paper’s constataram que foram obtidos resultados satisfatórios em rodovias e prisões, mas levantam-se algumas dúvidas quanto aos contratos com Hospitais e Escolas. O grande óbice desta avaliação é que, tratando-se de contratos a longo termo (30 anos), este balanço preliminar recaiu sobre situações com menos de 10 anos de funcionamento.

Em Portugal, o "pioneirismo" neste temerário caminho coube às SCUT’s e todos conhecemos as polémicas apreciações feitas à posteriori pelo Governo de Durão Barroso, as promessas eleitorais de Sócrates e, a realidade que vamos ter de enfrentar em relação a portagens. Um pormenor, as SCUT’s não foram apresentadas exclusivamente como um modelo de investimento público em parceria, menos oneroso e mais rápido. Se bem se lembram foram anunciadas a “custo zero”.

Todavia, as PPP’s, que se expandiram em todos os Países onde, nos últimos 10 anos, exerceram o poder, governos conservadores - Alemanha, Espanha, França, Dinamarca, ... continuam a gerar intensas controvérsias.
Toda a gente se lembra do desastre da Camden Town Station (Londres) e da intensa polémica que se levantou acerca da empresa responsável pela manutenção (uma PPP).

O modelo "português" que associa a construção à gestão, saberá, em devido tempo, onde se fará a propagada redução de custos: na qualidade da construção, na melhoria dos cuidados, na contracção de recursos humanos, etc… Uma certeza transparece para o nosso País. Uma boa performance nunca poderá ser imputada a um eficiente sistema regulador e fiscalizador deste contratos público-privados, que não existe. Ora, sabemos que o principal inimigo das PPP's é a corrupção.
Os modelos para esse estudo existem, p. exº., no México, onde também chegaram.

Há, todavia, um facto político que passa para a opinião pública:
As PPP’s mostram aos eleitores que os Governos estão fazendo alguma coisa.

Fazendo ou iludindo?

12:06 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Por lapso, esqueci-me de integrar no meu comentário uma "interessante" notícia do JP de hoje.

MISSÃO PPP
-Saúde gastou 8,4 milhões em estudos

Os concursos de três dos quatro hospitais da primeira vaga de unidades a construir e gerir em parceria público-privada (PPP) estão atrasados cerca de um ano em relação às últimas previsões, indica um relatório do Tribunal de Contas (TC) ontem divulgado. Mas entre 2005 e 2006 a Estrutura de Missão Parcerias.Saúde já gastou 10,2 milhões de euros, o grosso dos quais em "estudos, pareceres e projectos de consultoria" (8,4 milhões).
No relatório de acompanhamento das PPP na área da saúde, o TC voltou a encontrar divergências nas contas entre a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) e o Hospital Amadora-Sintra (o único com gestão privada em Portugal). As situações serão analisadas no âmbito da auditoria em curso à execução do contrato de gestão do hospital.
Actualmente há já cinco processos instaurados pela ARSVT por alegado incumprimento contratual do hospital, mas apenas um foi concluído com o pagamento de uma multa, no valor de 4500 euros, em 2005.
À semelhança do que já tinha sido detectado em acções anteriores, o TC nota que continuam a verificar-se atrasos significativos da ARSLVT na validação das prescrições de medicamentos e meios auxiliares de diagnóstico. Há casos em que chega a passar um ano entre a prescrição dos médicos e o registo dos créditos.
Dos 122 milhões de euros da despesa total das PPP na área da saúde, 118,7 milhões foram gerados em 2006. E só para o Hospital Amadora-Sintra foram 117,2 milhões de euros.
Os encargos futuros das PPP em saúde totalizam 5,534 milhões de euros apenas para a primeira vaga de hospitais (Loures, Cascais, Braga e Vila Franca de Xira) e 96,3 milhões para o Centro de Atendimento do SNS (Call Center) e o Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul. Estes dois últimos já estão em funcionamento.
O TC nota, porém, que esta projecção não contempla os encargos a suportar com a gestão clínica dos 20 anos seguintes, ou seja, desde o fim da componente de gestão clínica (10 anos) até ao termo da parceria na vertente de infra-estruturas (construção, gestão e manutenção do edifício) que tem a duração de 30 anos.
No que se refere à primeira vaga dos hospitais, foi lançado concurso para a unidade de Loures e estão a decorrer os procedimentos para concursos relativos aos hospitais de Cascais, Braga e Vila Franca de Xira.
(Público, 24.01.2008, Alexandra Campos)

Entre 2005 e 2006...8,4 M€ em estudos, pareceres e projectos de consultoria ...!
Será que poderíamos quantificar e qualificar esta produção?

Esta Unidade de Missão, conforme a nova Lei Orgânica do Ministério da Saúde, foi objecto de integração (internalização, é o termo "in") na ACSS.

A ACSS terá de ir à bruxa?
ou
TC - e não se pode extreminá-lo?

2:40 da tarde  
Blogger Hospitaisepe said...

Quanto custa a sofisticação ao Estado

Entre 2005 e 2006 a Estrutura de Missão Parcerias.Saúde já gastou 10,2 milhões de euros, o grosso dos quais em "estudos, pareceres e projectos de consultoria" (8,4 milhões).
JP 24.01.08

4:29 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Hospitaisepe:

Durante este período (2005-06)existiram, na Unidade Missão PPP's, 2 responsáveis:
Ferreira Simões;
João Wemans.

F. Simões esteve mais tempo...

5:19 da tarde  
Blogger tambemquero said...

O fracasso de uma política nunca é da política, é da apresentação. Como, inversamente, o sucesso nunca é da política, é sempre da apresentação. Não há políticas boas, nem políticas más, só há políticas mal ou bem apresentadas. Segundo a versão oficial, por exemplo, Correia de Campos reorganizou (e continua a reorganizar) o Serviço Nacional de Saúde da melhor maneira: o único erro dele foi que não explicou com proficiência ao povo (por natureza, denso) o que estava a fazer. Esta ideia absurda já se tornou ortodoxia e promoveu a agência de comunicação, ou o agente de comunicação, a uma das personagens principais, se não a personagem principal, da vida pública. Corria que Peter Mandelson e, a seguir, Alastair Campbell mandavam em Inglaterra tanto ou mais do que Tony Blair. Não mandavam.
Nem a política se pode tornar num puro fenómeno da imaginação, nem as pessoas são tão crédulas como geralmente as supõem. A gente que trata da imagem (ou, se quiserem, da propaganda) do primeiro-ministro conseguiu ao princípio criar uma ilusão convincente. Mas não conseguiu depois tapar ou disfarçar a realidade: o autoritarismo, o contínuo crescimento da despesa do Estado, a futilidade da "revolução científica", o desemprego e por aí fora. Sócrates, com o tempo, apareceu como devia aparecer: com a sua insignificância e banalidade. Cunha Vaz também conseguiu eleger Menezes presidente do PSD, mas no fim ficou com Menezes. Por outras palavras, com o que Menezes pensa, com o que Menezes diz, com a instabilidade e as fantasias de Menezes.
JP 25.01.08

11:06 da manhã  
Blogger xavier said...

Agradeço ao Aidenós os adjectivos que eu não mereço.
Os responsáveis pela elevada qualidade dos testos aqui publicados são, obviamente, os colaboradores da saudesa.

12:14 da tarde  
Blogger tambemquero said...

The big payback
The private finance initiative has played havoc with some NHS trusts' budgets and services - but worse is yet to come

These are challenging times for the NHS as it approaches its 60th birthday. Despite years of real-terms growth in the NHS budget, many hospitals are cutting back on clinical services in an attempt to get their finances back "in the black".

This has been the main policy goal of the Department of Health (DH) since stories of NHS deficits first hit newspaper headlines 18 months ago. Ministers have been less than straightforward, however, about the origins of the financial problems among NHS trusts. The government has accused hospital managers of financial incompetence, while sections of the press have pointed to greedy health professionals.

A report, published today by Edinburgh University's centre for international public health policy, looks at the private finance initiative (PFI) and its impact on trust finances. If NHS trusts want capital investment to upgrade or replace their denuded estates, they have little choice but to turn to private finance. Since New Labour took power, 87% of contracts signed for new hospitals have come through PFI.

In the NHS, this policy has been controversial because of its high cost and the association with service cuts, including reductions in beds and staff. These issues have arisen because of the cost of servicing PFI debt.

Prior to contracts being signed, NHS trusts prepare business cases that purport to show their PFI plans are "affordable" within projected budgets. Since PFI costs are higher than historical capital costs, all business cases contain plans to sell assets and cut service capacity to offset the shortfall. Our report shows that these cuts have been insufficient to bridge the affordability gap.

As a result, trusts are required to divert revenue from clinical services to pay their PFI costs. Where this has proved impossible, trusts have gone into deficit, and many are now considering further closures to help resolve their financial problems.

Under payment by results, the new system of resource allocation in the NHS, trusts receive most of their income through a standard tariff for treatments. This includes an element for capital charges (the cost of buildings and equipment) based on 5.8% of trust income - the average across the NHS.

However, the capital costs of trusts with PFI schemes are much higher than average, with the result that they are underfunded. For trusts with large or multiple schemes, the shortfall in funding is significant. Trusts that were making PFI payments of major schemes in the financial year 2005/06 had average capital costs of 10.2%. This meant they had a shortfall in income of some 4.4%.

The case of south-east London demonstrates the impact of this. Bromley and Queen Elizabeth hospital trusts both have "whole hospital" PFIs in operation. They had aggregate debts of £151m by the end of the last financial year. In this deprived part of the capital, the strategic health authority has highlighted PFI as the main cause of the "underlying income/expenditure and cash flow deficits" at the two trusts.

Both organisations are under pressure to "reduce unit costs" - staff and services - in order to get back in financial balance. Similar problems are being experienced up and down the country. In Worcestershire, for example, the NHS trust overspent its budget by £4.9m in 2005-06 and recorded a cumulative deficit of £31.8m. The trust attributes £7m of this to the costs of the PFI charge in excess of that funded through the tariff.

Inflexibility

In evidence to the House of Commons health select committee, the trust claimed it would need to reduce staff numbers by 675 to meet the shortfall. It also identified a need for "a comprehensive review of services" in each of its three hospitals. The impact of such "reviews" will not be limited to the trusts directly involved in PFI schemes. Because of the inflexibility of PFI contracts, which run for anything between 30 and 60 years, the capacity for service reconfiguration is constrained.

In south-east London, health officials have said the area's deficits cannot be closed without major reconfiguration of their estate. Health officials are focusing their cuts on the cheaper public, rather than more expensive PFI assets. Economics, it seems, will dictate the pattern of future provision, rather than public health need.

In London, a major reconfiguration has been proposed by the government that will see the closure of many hospital-based services, and their replacement with new "polyclinics". This is essentially a pilot project for a broader phase of reform to be rolled out across the country. The government has insisted that the plans for London are service led, and are unrelated to the NHS's financial woes. Many academics and professional bodies in healthcare disagree.

Meanwhile, Sir Ara Darzi, the newly appointed peer and health minister - and author of the London plan - has said PFI will present no barrier to this process. In a recent interview with Society Guardian, he said that if a hospital becomes a local or specialist hospital, the cost of PFI unitary charges would stay the same.

That is unlikely to be the case. It is impossible to significantly alter the buildings and services delivered through PFI except at prohibitive cost. Contracts under PFI are essentially long-term private monopolies, and incumbent providers are in a powerful position when it comes to agreeing change.

There are 10 major PFI schemes now running in London, with an annual cost to the NHS of £125m. A further six large schemes are in construction, procurement or earlier stages of planning. The process of reconfiguring London's NHS estate is certain to be influenced by the high cost and inflexible nature of these schemes.

The PFI-generated cost pressure is likely to be felt across the health economy. Perhaps because of the problems this creates, commentators frequently speculate about PFI's demise. In fact, the PFI programme in England's NHS is being expanded (though its days in Scotland appear to be numbered).

There are now more than 80 signed PFI contracts in England's NHS, with a combined construction cost of £8.5bn. Under plans published in April, DH will deliver 41 more schemes, bringing the total construction cost to £15.5bn.

The debt and service payments accruing to these schemes will grow accordingly. Last year, the NHS made PFI payments of £470m to PFI consortia. As we've seen, these payments are already a real source of financial difficulty for trusts.

As the PFI programme expands, these problems will become more widespread. By 2013/14, when all 126 schemes in the current programme are in operation, PFI payments will be £2.3bn a year. Over the long term, the money to be repaid by the NHS under these contracts dwarfs that raised by the private sector.

When all the planned schemes are completed, the NHS will have committed itself to a total bill of around £90bn - up from around £50bn today. It is unlikely ministers will truly get to grips with the NHS's underlying deficit problem if this expansion is allowed to occur.

Mark Hellowell and Allyson Pollock The Guardian, Wednesday September 12 2007

· Mark Hellowell and Allyson Pollock are, respectively, fellow and head of Edinburgh University's centre for international public health policy. View the report at health.ed.ac.uk/ciphp

12:36 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Ainda a este propósito, não posso deixar de reproduzir uma "boutade" de Paulo Mendo, ministro da Saúde de 93 a 95, militante histórico do PSD.

" As parcerias público-privadas irresponsabilizam os dois parceiros. Promiscuidade é isto"

Expresso, 26.01.08, 1º. caderno, pág. 19.

5:01 da tarde  
Blogger helena said...

The critique of PFI hospitals focuses on inflated costs, poor quality, inflexibility, lack of accountability and the knock-on costs to other parts of the NHS, as well as the huge profits that are being made.

5:41 da tarde  
Blogger tonitosa said...

O mercado da Saúde pode dizer-se que sempre existiu. Desde logo quando foi possível a um médico ou um grupo de médicos terem os seus consultórios e as suas clínicas.
Depois, em matéria hospitalar foram durante muitos anos os hospitais das Misericórdias que ofereceram serviços de Saúde no mercado social. E, mais recentemente, muitos hospitais particulares têm surgido.
Entretanto o Estado, através do SNS, foi enfrentando dificuldades acrescidas para responder continuamente às maiores exigências da sociedade e dos cidadãos.
E à semelhança do que se tem feito noutros países sugiu o modelo de parceria. Como o próprio nome indica, neste modelo, não se trata de reunir rivais nem concorrentes mas sim paceiros. Por um lado o Estado que se liberta de pesados investimentos directos, transferindo esses custos para os particulares; por outro lado os particulares que, estando dispostos a investir, procuram rentabilizar os seus investimentos. O modelo tem naturalmente vantagens e desvantagens e é do equilíbrio de umas e outras que podem, efectivamente resultar mais valias para o SNS.
Os HH PPP não deixarão de fazer parte do Sistema Nacional de Saúde, a sua actividade terá que ser necessariamente Regulada (esperemos que não se meta nisso a ASAE!) e cabe ao Estado encontar as melhores regras para o seu funcionamento. E não podem ser os erros do passado a impedir que novas parcerias sejam adoptadas. Saibamos antes aprender com esses erros.
Paralelamente o Estado deverá manter em funcionamento Hospitais modernos e devidamente equipados e geridos de forma empresarial, que possam servir, também, como elemento de aferição para a actividade privada e das parcerias.
Caberá sempre ao Estado assegurar a acessibiladade com equidade aos cuidados de saúde, designadamente hospitalares. E bom será que se possa também ter indicadores de qualidade e garantir a "liberdade de escolha" para que sejam os melhores a "vingarem" no Sistema.

6:45 da tarde  
Blogger saudepe said...

PFI hospitals ‘costing NHS extra £480m a year’

The Private Finance Initiative could be costing the NHS an extra £480m a year as private equity providers enjoy a 58% return on their investment, according to research from Manchester Business School.

An MBS report, The cost of using private finance to build, finance and operate the first 12 NHS hospitals in England, examines the first PFI hospitals, which became operational in 2000/01.

By studying the charges paid by the hospital trusts and the accounts of the PFI special purpose vehicles, the authors found that the average cost of capital for SPVs was 8% – or £123m a year: almost twice as high as the cost of public sector borrowing.

‘This means that by 2005, the additional cost of private finance was about £60m a year on 12 capital projects worth £1.2bn,’ the researchers – Jean Shaoul, Anne Stafford and Pam Stapleton – state. ‘If this experience is generalised across the entire PFI programme… then the extra cost of private finance for the signed PFI capital programme in hospitals… is about £480m every year.’

The higher cost of capital for the SPVs was accounted for largely through the higher interest rate private borrowers are subject to (around 7%–8% in the cases examined), but also by the rates of return paid to private equity investors.

After five years with no return on their investment (while the hospitals were still being built), equity providers claimed a 58% post-tax return in 2005; a rate that Shaoul told Public Finance was ‘set to continue for the remainder of the 30-year contracts’.

That return is four times higher than the ceiling 14%–15% rate of return seen in other PFI deals, which the Treasury described as ‘too high’ in 2005.

The report also raises concerns about the on-going affordability of PFI schemes as hospital trusts move to a less stable funding regime. Between 2000 and 2005, the annual charges paid by hospital trusts to PFI SPVs increased by an average 20% above the anticipated charges detailed in the full business case. This meant that despite large increases in NHS funding over the same period, PFI charges remained fixed at around 12% of a trust’s income.

The research has been peer-reviewed for academic publication later this year.

The Department of Health rejected the figures. ‘We would dispute the researchers’ conclusions,’ a DoH spokesman said. ‘The use of 7%–8% as the private sector rate of debt is wrong as this is project finance and the rate depends on the project and the clients.’ The researchers say their figure is an arithmetic average based on actual figures.

The DoH also disputed the 58% figure for the return on private equity. ‘The equity returns of NHS PFI schemes are in the region of 12%–14%,’ the spokesman said. He added: ‘The PFI payment may take up 12% of a trust’s income, but this will be no more than would be paid if the new non-clinical services and estate had been paid for under the conventional route.’
Article Date: 23-Mar-2007

7:04 da tarde  

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