terça-feira, junho 24

Populismo barato



As declarações de MFL relativamente ao que entende dever ser o âmbito do SNS são de uma enorme gravidade. Não só porque traduzem o pensamento de uma equipa que pode vir a governar o País, mas também por serem partilhadas por muitas personalidades políticas, incluindo algumas do partido no Partido Socialista.
Acresce a esta preocupação o facto de esta ideia para o SNS ser facilmente vestida de roupagem demagógica suficiente para ser “comprada” como coisa boa por um eleitorado desinformado sobre a problemática das questões da Saúde. Dizer-se que quem tem dinheiro deve pagar cuidados de saúde e que ao Estado só deve competir cuidar da assistência aos pobres; ou que não é justo que os ricos vão engrossar as listas de espera nos hospitais públicos tornando assim mais difícil o acesso aos mais pobres; colhe seguramente o apoio de muitos concidadãos desinformados e ansiosos por maior justiça social. Só que, quem se interessa por estas questões sabe-o, por trás deste fraseado pretensamente redistributivo esconde-se uma inaceitável discriminação dos cidadãos no acesso a cuidados de saúde. Do que efectivamente se trata é da defesa de uma ideologia que tem do Estado uma visão assistencialista, reservando às classes mais pobres uma protecção da saúde q.b., suficiente para manter os índices sanitários dentro do exigido aos países desenvolvidos e conter revoltas sociais.
A real situação de emergência social para a qual MFL alertou os seus correligionários e da necessidade do reforço de apoio pública no combate à pobreza, exigem, em matéria de Saúde, precisamente o oposto da ideia que vem transmitindo. Se o que pretende é aumentar a coesão social e reduzir o fosso entre pobre e ricos, então o papel do Estado deverá ser o do reforço e não o de afastamento, nas vertentes do financiamento e prestação de cuidados de Saúde. Pretender fazer justiça social discriminando cidadãos a jusante do Sistema está mais do que provado que só gera mais iniquidade. Mas será que MFL não sabe?
Tá visto

Etiquetas:

4 Comments:

Blogger Hospitaisepe said...

GH - Dar a possibilidade ao utente de dizer que tem um seguro e não quer contribuir para o SNS ?

Correia de Campos- Sim. Quero receber uma parte do que o SNS gastaria comigo se eu lá estivesse. Essas pessoas quando vierem ao SNS passam a pagar a totalidade dos serviços. Isso só se consegue com um sistema de informação capaz. Com um cartão de cidadão, como está no nosso programa, que serve para segurança social, para o registo de dador de sangue, saúde, carta de condução, identificação, cartão de eleitor. Aí estamos em condições de incluir nele se aquela pessoa optou por um subsistema ou um regime privado.

Foi com estas e outras do género que CC fez passar a mensagem de forma a convencer os futuros investidiores privados de que ele poderia vir a ser um bom ministro da saúde. Como de facto veio a acontecer.
Não nos podemos então admirar que a velha senhora venha agora defender também uma espécie de "opting out" do SNS.
O teste vai ser feito por José Sócrates na ADSE.
Enfim, muitas vontades a convergirem para a liquidação do SNS.
Neste sentido

12:16 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

João Ferreira do Amaral : não é correcto destinar verbas das obras públicas para os mais necessitados.

Até o camarada JFA não concorda com o populismo demagógico da senhora Manuela Ferreira Leite.

12:20 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Se recordarmos as propostas de Luís Filipe Menezes no congresso que confirmou a sua vitória nas directas constatamos que Manuela Ferreira Leite nada disse de novo, voltou a centrar a estratégia nas obras públicas. Será fetiche do PSD ou os discursos políticos estão mais condicionados pela situação financeira do partido do que com a situação económica do país? Ao contrário do que fez Passos Coelho, que ganhou a alma do congresso, Ferreira Leite nada disse de novo.

Aliás, a propósito das obras públicas propôs um pacto, sugeriu que as decisões em relação aos grandes investimentos deveriam ser consensuais. Esta proposta era politicamente questionável mas aceitável. O que Ferreira Leite fez foi bem pior, nada propôs, limitou-se a lançar a incerteza, não disse o que queria, apenas pôs tudo em causa, com o objectivo de levar os investidores a duvidar do futuro, os seus investimentos passarão a estar condicionados pelas sondagens eleitorais pois ninguém sabe o que Ferreira Leite pretende, a não ser que lhes diga em privado. Será este o seu objectivo?

Recorde-se que a solução do aeroporto em Alcochete acabou por ser consensual e que o projecto TGV é bem menos ambicioso do que o que foi aprovado por Durão Barroso. Nessa ocasião Ferreira Leite foi chamada a fazer as contas e apesar de um défice público descontrolado não viu dificuldades. Agora que pretende lançar a incerteza nos investidores com o objectivo de retardar a recuperação económica já mudou de opinião.

Manuela Ferreira Leite não demonstrou nem mais rigor, nem mais credibilidade, nem menos populismo que Luís Filipe Menezes, evidenciou um populismo queque alimentado por um cinismo de quem acha que a sua chegada ao poder justifica o recurso a todos os meios.

jumento 23.06.08

12:27 da tarde  
Blogger tambemquero said...

A inconsistência de MFL

A nova líder do PSD não tardou a revelar a inconsistência das suas propostas políticas, em questões-chave como o Serviço Nacional de Saúde.
Depois de na campanha eleitoral ter anunciado que o SNE deveria deixar de ser universal, devendo ser a solução para as pessoas sem rendimentos para pagar saúde privada, veio agora recuar nessa posição, dizendo que afinal deve ser universal, mas que só deve ser gratuito para quem não tem rendimentos. A mudança é, porém, assaz equívoca. MFL continua sem aceitar que toda a gente, independentemente dos seus rendimentos, deve ter direito a cuidados de saúde quando precisa deles sem ter de os pagar especificamente (sem prejuízo de moderadas taxas de utilização dissuasoras de consumos excessivos). Os cuidados de saúde não são um bem de consumo ou uma vantagem cuja procura depende de um decisão livre de quem deles necessita, mas sim de doença ou de acidente, que a todos pode atingir à margem da sua vontade, devendo por isso os seus custos ser partilhados por todos, como sucede com outros riscos sociais.
Questão diferente é, evidentemente, saber se os cuidados de saúde deve ser financiados por via de impostos, como sucede com o nosso sistema de saúde, ou por meio de um seguro de saúde obrigatório, público ou privado, com isenção de quem não pode pagá-lo, como sucede noutros modelos. Acontece que entre nós é o primeiro sistema que está consagrado desde a origem. Seria bom que MFL esclarecesse se pretende mudar o sistema, e em que sentido. Mas a mudança de opinião mostra que ela não tem ideias sobre o assunto.
Vital Moreira, causa nossa

12:43 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home