terça-feira, julho 8

Informação clínica



Exmo.(a) Sr.(a) Dr.(a),

A IMS HEALTH é uma empresa de Investigação e Estudos de Mercado que opera exclusivamente na área médico farmacêutica.
Ao longo dos anos da sua prática baseada no rigor e ética profissional, revelou-se determinante para a disponibilidade e confiança que vimos merecendo da Classe Médica, para colaboração nas diferentes áreas de investigação que regularmente realizamos e onde destacamos as da incidência/prevalência de patologias e sua abordagem clínica.

Com este propósito vimos convidar V. Exa. a participar no nosso painel. A sua colaboração será trimestral e feita através de um caderno de registo de Prescrições, Incidências de Patologias e Factores de Risco.
Em todo o processo de colaboração está salvaguardada a total Confidencialidade no que respeita a V. Exa. e aos doentes, já que nunca poderão ser identificados. Os resultados do estudo assim produzido reflecte a totalidade dos médicos do painel, cerca de 600, e nunca o Médico individualmente ou os seus Doentes.

A sua colaboração será reconhecida com apreço e procuraremos retribuir a sua colaboração através de um plano de reconhecimento atractivo.

Relativamente ao Processo de colaboração como, fazê-lo ?
Trimestralmente a IMS enviará um caderno de colaboração para registo de informação. Cada folha apresenta uma área restrita de decalque que permite a recolha de Fármacos prescritos por Doente, não sendo recolhida qualquer informação confidencial do Doente.
Paralelamente é solicitada informação de fácil referenciação relativa ao Doente.
Solicita-se o seu preenchimento para a Totalidade dos Doentes em cinco dias de consulta, num período que não ultrapasse duas semanas consecutivas por trimestre – valor médio desejado 75 pacientes.
O caderno será devolvido, depois de totalmente preenchido à IMS Health em envelope RSF.

Relativamente ao Plano de reconhecimento, este envolve duas áreas distintas:
Uma de cariz material, outra envolve o acesso, caso seja pretendido, a um relatório síntese dos Estudos em que participa.

Relativamente ao Plano de Reconhecimento:
A verificar-se a colaboração trimestral, envolverá um reconhecimento trimestral de 20 pontos (100 Euros) e que será materializado trimestralmente ou cumulativamente se o desejar, através de uma das várias opções indicadas:
Cheque Kadeos (que podem ser utilizados em todas as lojas abaixo mencionadas)
Cartão Sonae / Worten
Cartão El Corte Inglês
Top Atlântico
Crédito nas Pousadas de Portugal
Crédito Livros Técnicos – Livraria Prata de Oliveira (www.po.web,pt)
Solicitamos, por fim, caso esteja disponível para aceitar o nosso convite, que preencha o formulário anexo que poderá ser devolvido por RSF, ou por Fax para o número 218925199.
Na expectativa do Vosso reconhecimento, os nossos cumprimentos

Comentário: aos colegas da SaudeSA: que acham disto, nomeadamente em relação à garantia de confidencialidade de dados dos doentes e ao designado Plano de Reconhecimento?

13 Comments:

Blogger tonitosa said...

Este procedimento já existe há muitos anos, no domínio dos hospitais. E chegou a uma situação em que a empresa pagava o salário de "colaboradores" (não pertencente aos hospitais) mas que se movimentavam nos hospitais como se fôssem empregadas dos mesmos. Recolhiam a informação (sendo autorizadas a fazê-lo) e enviavam-na à IMS. Recebiam salários bem superiores aos dos trabalhadores dos hospitais (equiparáveis em habilitações e funções) e os hospitais nada "cobravam".
Da leitura da "carta" que o Xavier reproduz, parece que o que aqui está em causa não são dados recolhidos em serviços hospitalares ou semelhantes mas sim de médicos no exercício da sua actividade. E se assim é, nada obsta a que adiram ao convite que lhes é dirigido.
Obviamente que deverão salvaguardar (ocultando sempre) a identidade dos doentes.
Quanto aos dados sobre prescrições, incidências de patologias e factores de risco, não me parece sucitarem-se questões.
E quanto ao Plano de Reconhecimento, coloca-se, a meu ver, um problema de ordem fiscal, pois a forma como é retribuída a colaboração é indiciadora de "mecanismo de fuga" a impostos pelo destinatário dos cheques (ainda que seja esta apenas uma suposição pois poderá, haver emissão de recibo como remuneração).
Ainda que este procedimento possa parecer algo estranho, a verdade é que este tipo de tratamento de dados permite recolher e tratar informação que interessa não apenas à indústria mas também a médicos e outros profissionais e organismos de classe e também aos serviços públicos da Saúde. E neste sentido a colaboração pode ser defensável.

1:51 da manhã  
Blogger xavier said...

Esta carta foi dirigida, recentemente, a um médico hospitalar.

2:33 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Como disse, "paceu-me" que a carta era dirigida a médicos fora da sua actividade hospitalar.
Tratando-se de informação a obter sobre a actividade exercida ao serviço de hospitais sou de opinião de que:
1. A colaboração deve ser solicitada ao próprio hospital;
2. Cabe, nomeadamente ao Director Clínico estudar as questões envolvidas e a forma de tratar a informação a fornecer, nomeadamente para que seja salvaguardada a confidencialidade;
3. Qualquer pagamento deve reverter para o hospital e não para os profissionais enquanto tais;
4. A colaboração pode (deve) ser encarada sob o ponto de vista não apenas comercial (conhecimento do mercado)mas também sob o ponto de vista do acesso a dados de interesse para os serviços de Saúde e dos próprios hospitais.

10:21 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Infelizmente, a Indústria Farmacêutica mantêm esquemas de colaboração com os médicos, que eticamente deixam muitas dúvidas.

Alguns assuntos poderão ter interesse científico, mas as vias de recolha, captação e drenagem devem ser a Direcção clinica dos HH's.

Em relação, ao actualmente pretendido pela IMS julgo que o MS da possui esses dados, ou, no mínimo, o perfil de prescrição de alguns médicos, o que se justifica pela necessidade da existência de uma ou várias "centrais de compras" e de praticar economias de escala. Por outro lado, estes perfis podem ter interesse na investigação judicial de eventuais influências ilegítimas na prescrição e respectivos favorecimentos.

A confidencialidade deverá ser o denominador comum destes procedimentos.

Na actividade privada, poderia um hiato. Não me parece. Os DIM, e consequentemente os seus Laboratórios, conhecem, ao pormenor, o perfil de prescrição dos diferentes médicos.

As farmácias negam o fornecimento estes dados, mas estou em crer, que a IMS HEALTH, não adivinha.

A realidade é que os estudos de mercado farmacêuticos existem, são vendidos pela IMS e, julgo eu, estão próximos da realidade.
Os dados não caiem do céu...

No artigo confunde-se investigação com estudos de mercado.
Embora exista uma relação orientadora partindo do consumo e da adesão a novos ou velhos fármacos, não é baseados nestes métodos de mercado que a Industria Farmacêutica investiga e cria novas armas terapêuticas (seja-lhe reconhecido este mérito).
Os projectos de investigação são, inegavelmente influenciados pelos potenciais mercados, mas têm outras bases.

10:54 da manhã  
Blogger Farmasa said...

É fantástico!!!

Quando, há meses atrás, se comentou o projecto XPONENT da ANF com a IMS, todos acharam que era imoral, indecente, ilegítimo, enfim... que os farmacêuticos que adiriam a tal processo eram uns gananciosos que não queriam saber da ética para nada.

Agora, que vem a lume o que há anos se passa com os médicos (e aliás, tive a oportunidade de dizer nessa altura), já é "defensável", dada a relevância da informação.

Que diabo! Um pouco de coerência fica bem!

Relativamente à questão em si, é de referir que a IMS tem a esmagadora maioria da sua informação, comprada aos distribuidores de medicamentos para as farmácias. Estes, vendem-lhes esta informação por código de produto e código postal. Naturalmente que estes dados são da venda à farmácia e não da venda ao doente e, portanto, nao correspondem exactamente à prescrição. Por esse facto, é natural que a IMS tente, das mais diversas formas, quer com projectos como o XPONENT, quer com este projecto dirigido aos médicos, "afinar" a informação, para depois a Indústria Farmacêutica saber com maior detalhe como se movimenta o mercado, e assim determinar as suas políticas de marketing.
O que me parece é que, qualquer que seja a forma encontrada para obter a informação, há que ter sempre o cuidado de tal se fazer sem revelar a identidade do doente, do médico e da farmácia e apenas e só prestar essa informação a empresas idóneas.

12:38 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

Quando se trata de doentes do SNS (CS ou HHS)os médicos ou outros quaisquer profissionais não podem em circunstância alguma fornecer qualquer informação clínica a empresas privadas (de fins lucrativos ou outros). Com a agravante de participarem neste esquema miserável de compensações.

Qual é a vantagem que resulta desta actividade para os doentes e para a sociedade em geral a não ser contribuir para os lucros astronómicos desta empresa!

1:30 da tarde  
Blogger Clara said...

Trata-se, como é evidente, de um processo particularmente pouco transparente no caso de envolver doentes do SNS.

11:35 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Se em todas as intervenções de entidades com fins lucrativos não formos capazes de ver utilidade social, e apenas invejarmos o lucro, então o melhor é "declararmos a falência do País", entregarmos o património aos "credores" e aqueles que se julguem capazes emigrarem para o um qualquer país tipo Zimbabwe, onde ainda será possível aceder a uma propriedade "nacionalizada".
PS: venham de lá mais uns tiros...

11:45 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Tonitosa:

Na Europa (desconheço o que se passa nos novos membros vindos da Europa de Leste) estas "recolhas de informação" custam às empresas (do tipo IMS), os "olhos da cara".
Aliás, quem tiver a "ousadia" (p. exº. para um trabalho científico) de tentar comprar uma informação deste tipo, fica logo a saber o que significa dinheiro (a sério).
Os tais "planos de reconhecimento" são "esmolas" caritativas para incautos que desconhecem em absoluto o valor da informação no mercado. Nomeadamente, no mercado de medicamentos.
Agora, não vamos confundir empresas com fins lucrativos (legítimas) a tentar comprar mercadoria valiosa (informação), ao preço da chuva, para as vender como se fossem pepitas de ouro.
Há aqui um processo produtivo que não escapa às novas e liberais técnicas de feroz exploração.
Não precisa de ir para o Zimbabwe para conhecer os métodos que se usam, p. exº., nestes paises periféricos da Europa, sem regras deontológicas rígidas, sem uma cultura inflexível de protecção de dados e onde se caldeia o público e o privado.
Para fornecer o que me interessar transmitir à IMS (há interesses de ambos os lados, reconheça-se) esta terá de, pelo menos, pagar, a minha disponibilidade. E ela tem diversos preços. E a IMS sabe disso.
Como também sabe que a boa informação, credível e ajustada, nunca foi, na sociedade mercantilista, tão valiosa. E tão resguardada.
Nada disto tem a ver com invejas. Isto é reclamar o justo preço porque o valor - num ambiente de mercado - assim o determina. Os produtos tornam-se baratos para o aquisitor, quando são extremamente necessários. Para ter a certeza disso é procurar conhecer os custos no acto de venda.

Mas nunca "vendáveis" por:
Cartão Sonae / Worten
Cartão El Corte Inglês
Top Atlântico...etc.

Saldos, lá mais para o Natal. Não é?

Apostilha: Todo este comentário, como é óbvio da sua leitura, tem a ver com a actividade clínica privada. E é melhor ficarmos por aqui.

11:17 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Caro é-pá,
Estou, em absoluto, de acordo consigo se, como me parece,
o caro amigo, como eu, não vê que da actividade de empresas como a IMS venha mal à Nação.
Como se pode ver nos meus anteriores primeiros comentários, acho que a obtenção da informação, quando como no caso em apreço se destina a uma actividade com fins lucrativos, pode e deve ter uma contrapartida para quem colabora na sua obtenção, nomeadamente os Hospitais e Centros de Saúde em relação aos quais o preço a pagar pela informação deve ser definido institucionalmente e não com qualquer "empregado" a título particular.
Discordo, e penso que também aqui estaremos de acordo, da ideia de que a informação/colaboração não deve ser prestada por se tratar de empresas privadas visando o lucro.
Na verdade este tipo de informação pode ser utilizado pelos próprios hospitais e outros serviços de saúde e o fornecimento do resultado dos estudos/análise pode entrar nas contrapartidas (a par de outras).
Mas também se tem verificado, até agora, que os hospitais que recebem a informação tratada se limitam, na maioria dos casos, a enviá-la para os arquivos.
Quanto a actividade clínica privada não vejo que deva ser discutida, salvo no que possa ter a ver com "ocultação" de rendimentos para efeitos tributários (mas nem sequer estou certo de que essa ocultação seja evidente embora seja estranha a referência a pontos convertíveis em cheques...).

12:29 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Caro é-pá,
Estou, em absoluto, de acordo consigo se, como me parece,
o caro amigo, como eu, não vê que da actividade de empresas como a IMS venha mal à Nação.
Como se pode ver nos meus anteriores primeiros comentários, acho que a obtenção da informação, quando como no caso em apreço se destina a uma actividade com fins lucrativos, pode e deve ter uma contrapartida para quem colabora na sua obtenção, nomeadamente os Hospitais e Centros de Saúde em relação aos quais o preço a pagar pela informação deve ser definido institucionalmente e não com qualquer "empregado" a título particular.
Discordo, e penso que também aqui estaremos de acordo, da ideia de que a informação/colaboração não deve ser prestada por se tratar de empresas privadas visando o lucro.
Na verdade este tipo de informação pode ser utilizado pelos próprios hospitais e outros serviços de saúde e o fornecimento do resultado dos estudos/análise pode entrar nas contrapartidas (a par de outras).
Mas também se tem verificado, até agora, que os hospitais que recebem a informação tratada se limitam, na maioria dos casos, a enviá-la para os arquivos.
Quanto a actividade clínica privada não vejo que deva ser discutida, salvo no que possa ter a ver com "ocultação" de rendimentos para efeitos tributários (mas nem sequer estou certo de que essa ocultação seja evidente embora seja estranha a referência a pontos convertíveis em cheques...).

12:29 da manhã  
Blogger Carago said...

Subscrevo o que dizem os médicos do Sindicato Independente dos Médicos:
Spiritus Promptus Est, Caro Autem Infirma
Segundo o Jornal de Negócios de hoje, a consultora de saúde IMS Health compra informação a médicos portugueses a troco de vales de 100 €.
Segundo o mesmo jornal, questionada sobre se a adesão dos médicos pode configurar uma falha ética e uma fuga ao fisco (por serem rendimentos na forma de vales-oferta), a Ordem dos Médicos não deu resposta até ao fecho da edição.
Mais explícito, Adalberto Campos Fernandes, médico e Presidente do Centro Hospitalar de Lisboa Norte afirma "no plano de princípio não me revejo neste tipo de procedimento".
A empresa é explícita: "a sua colaboração será reconhecida com apreço e procuraremos retribuir a sua colaboração através de um plano de reconhecimento atractivo".
O reconhecimento atractivo tem o valor de 100 €, trimestralmente, acumulável e descontável em entidades médicas tão credíveis como a Fnac, Conforama, La Redoute, Abreu, Vista Alegre, Estalagens de Portugal, Holmes Place, Jardim Zoológico, Badoca Safari Park, Companhia do Campo, Corte Inglês, Sonae, Worten, etc.
A alma é forte, mas a carne é fraca.

4:25 da tarde  
Blogger saudepe said...

A consultora de saúde IMS Health está a solicitar a médicos de hospitais portugueses a sua colaboração em pesquisas sobre a prescrição de medicamentos, oferecendo como contrapartida uma remuneração em cheques da empresa Kadeos e em crédito para trocar por produtos de empresas e marcas como a Sonae, El Corte Inglés, Top Atlântico e Pousadas de Portugal.

A IMS Health diz que este contacto com os médicos é uma situação "natural" em todas as empresas de estudos de mercado ligadas à área da Saúde. A carta que a empresa tem enviado a vários médicos de hospitais portugueses foi revelada no blogue Saúde SA. "A sua colaboração será reconhecida com apreço e procuraremos retribuir a sua colaboração através de um plano de reconhecimento atractivo", refere o documento.
Miguel Prado, JN 10.07.08

Um rigoroso exclusivo SaudeSA que este senhor jornalista aqui veio sacar.

11:17 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home