domingo, abril 26

ULS de Amadora Sintra

Como e para quê?
O Dr. Artur Vaz – referência maior da administração hospitalar portuguesa, com desempenho dentro e fora do SNS, habituou-nos, ao longo dos anos, a um modo de ser saudavelmente irreverente, contrariando repetidamente o cinzentismo e a impregnada cultura de obediência dominante na nossa administração em saúde. Porque detentor duma sólida formação em administração hospitalar, duma leitura sistémica das “coisas da saúde” e por ousar ter reflexão própria.
Ouvi-lo constituiu sempre um desafio estimulante ao vê-lo desmontar mitos e a “abrir” novas soluções para a resolução de velhos problemas.
Este comportamento trouxe-lhe, nomeadamente nos primeiros anos da sua carreira nos serviços públicos de saúde, inconfessadas e repetidas incompreensões que, por vezes, culminaram mesmo em indisfarçáveis retaliações.

No decurso da sua longa incursão pelo mundo da gestão privada dos hospitais tive oportunidade de o reencontrar. Foi em 1998-1999, no mandato da Dra. Maria de Belém, no processo tendente à conceptualização e posterior tentativa de implantação dos Sistemas Locais de Saúde (SLS), “coisa” bem diferente das actuais Unidades Locais de Saúde (ULS).
À altura, recordo, o Secretário de Estado era, também, o Dr. Francisco Ramos.
Uma vez mais reencontrei nele – Artur Vaz - a mesma inquietação de sempre, a mesma capacidade de desafiar os dogmas, o mesmo entusiasmo pela descoberta do novo (que não a moda...).
Mas eis que, com a chegada do “furacão” Manuela Arcanjo, os SLS se viram condenados a voltar para onde mal tinham esboçado sair – o mero texto legal. E donde não mais saíram!
Como grande parte, de resto, do que então foi o designado por SNS21!

Vem isto a propósito do facto de, na edição de 27 de Abril do Tempo Medicina, ter deparado com uma notícia onde se escreve:
Artur Vaz afirmou que a ULS de Amadora/Sintra:
­˜ levará a um «novo paradigma de relacionamento» entre as unidades de saúde e que será «a maior do País»;
˜­ não gostaria que a criação desta ULS «ficasse para as calendas»;
­˜ a legislação que constituiu o Hospital de Fernando Fonseca como EPE «aponta claramente» para a criação da ULS de Amadora/Sintra;
­˜ foi classificada como «projecto estratégico e estruturante».

E é também escrito que, na sua opinião:
˜­ será importante debater (...) questões como «quais devem ser os objectivos centrais de uma ULS, como pode esta criar valor para as populações e os profissionais de saúde envolvidos» ou «como deve ser reforçada a articulação entre cuidados primários e hospitalares».

Sobre esta última afirmação, com a qual concordo, resta-me apenas recordar o debate recente que teve lugar no “nosso” saudesa acerca do tema. Infelizmente, o único que conheço onde o assunto foi tratado com preocupações de rigor e com recurso a fundamentação - evidence-based- , como agora sói dizer-se.
Foram, entre outros, os magníficos posts do CinqueQuest, do Brites, do Aidenos...
Quero acreditar que o Dr. Artur Vaz, homem atento e informado, o terá acompanhado ou, pelo menos, dele terá eco.
Quero por isso confiar, também, que Artur Vaz irá ser capaz, uma vez mais, de continuar a surpreender-me!
Enterrando o cinzentismo das actuais ULS e promovendo uma verdadeira integração de cuidados - que não uma mera integração de serviços.
A referência “Sistemas Locais de Saúde” que ele e o Dr. Francisco Ramos bem conhecem constituirá, seguramente, um excelente ponto de partida!

António Rodrigues

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