sábado, janeiro 5

Sustentabilidade da Saúde

Na pág. 60 do relatório da OCDE "The status of health in the european union: towards a healthier europe", coordenado por Vittorio Silano coadjuvado por Luciano Vittozzi, relativamente ao subtema Demands on healthcare services, uma perspectiva interessante (porque diferente) da (previsível) sobrecarga da oferta, derivada do envelhecimento da população (como sabem, é apontada como razão para maior crescimento futuro das despesas em saúde face aos respectivos PIB e invocada por razões de sustentabilidade do sistema): as gerações recentes (mais novas) são, em média, mais bem formadas (do ponto de vista de hábitos de promoção de comportamentos de vida saudável e prevenção) do que as gerações mais velhas. Estas são também igualmente, em média, mais saudáveis do que as que as precederam.
Deste modo, a sobrecarga da oferta (maiores riscos de comorbilidades, limitações de actividade física, doenças crónicas e saúde mental) pode ser parcialmente compensada por menores custos de entrada de novos doentes no sistema. Doentes mais «bem educados», por isso menos pesados justificam um investimento continuado e persistente em políticas de promoção da saúde e prevenção da doença. Os destinatários destas políticas não têm sexo nem idade.
Em países com NHS, como o nosso, não estamos sós. Temos uma estrutura de estado social de apoio à debilidade e à doença, com a perspectiva de rápido retorno à vida activa. Os governos destes países não têm desculpa para não investir nesta área; não é coerente com a necessidade de assegurar sustentabilidade futura.
Francisco cabral, facebook

Importante, no entanto…
A entrada de novos doentes no sistema resulta directamente do estado de saúde dos cidadãos em função das determinantes da saúde prevalecentes na população dum determinado lugar (país) num determinado tempo.
Como sabemos, as determinantes da saúde são de diversa natureza como contexto  demográfico e social (cultura, política, género, factores socioeconómicos e capacidade comunitária), ambiente físico (condições de vida e de trabalho), dimensões individuais (legado genético e comportamentos) e acesso a serviços de saúde (kirch, 2008).
Não pondo em causa os avanços culturais da nova fornada de cidadãos os riscos ligados aos comportamentos permanecem muito elevados (álcool/drogas/hiv/sida).
Uma coisa é certa, no nosso país não vai haver dinheiro nem vontade política para investir nestas políticas nos próximos tempos (prevenção). Devemos contar que a grande machadada que este governo está a dar no financiamento da Saúde e rendimento dos portugueses determinará alterações profundas do estado de saúde da população e prejuízo grave da sustentabilidade do SNS.
"The status of health in the european union: towards a healthier europe" link

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3 Comments:

Blogger tambemquero said...

O senhor presidente da República disse, no seu discurso de Ano Novo, que a sua forte suspeita de que o orçamento de Estado contém normas inconstitucionais não podia impedir a homologação do dito; disse, ainda, grosso modo, que a política deste governo é uma grande desgraça, que assim não vamos a bom porto, mas não pode mandar o governo às malvas porque a instabilidade política teria graves consequências. O senhor presidente da República não disse, mas deu a entender que precisa da declaração de inconstitucionalidade das normas que vão ser apreciadas e dos desastrosos resultados (espiral recessiva) da execução orçamental para tomar uma decisão sobre a vida do actual governo. Ou seja, enquanto o doente não entrar em estado de coma, ele, Cavaco Silva, não arrisca a cirurgia. Afinal, para que serve um presidente da República?

Tomás Vasques

3:50 da tarde  
Blogger e-pá! said...

É o perfil e as características - necessariamente diferentes - das novas gerações de utentes que começam a mostrar a vulnerabilidades dos 'apóstolos do neoliberalismo' que, como manda a cartilha, são intransigentes defensores da teoria de uma incontornável espiral de crescimento dos custos da saúde, que afectariam 'todos' os sistemas públicos tornando-os, a breve trecho,'insustentáveis.
'Torturam-se', aqui e agora, inacabadas projecções epidemiológicas, demográficas, sociais e culturais, quanto à evolução futura (ainda não estudadas e correctamente dimensionadas), no 'altar das ideologias'...
A par do 'Estado mínimo', e de acordo com peregrina ideia da sua 'refundação', pretende-se transformar o SNS num esteio social minimista...
Trata-se de transferir do sector público para o social (Misericórdias, IPSS, etc.) dinheiro, a seguir competências e, finalmente, estruturas.
Depois, o sector privado 'colonizará' o que resta do público e 'tomará conta' (também pela via financeira), do social. Uma perturbadora dinâmica social em marcha.

4:12 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Boa matéria de discussão.

Resultados do Eurobarómetro sobre desporto e atividade física (Special Eurobarometer, 2010) indicam que a maioria dos portuguesesn (55%) nunca pratica desporto ou exercício físico e que 11% fazem-no raramente. Apenas 9% dos portugueses referiu prática regular (pelo menos 5 vezes por semana), sendo esta proporção mais elevada entre a população masculina dos 15 aos 24 anos (24%). A proporção de portugueses que pratica desporto ou exercício físico com alguma regularidade (1-2 ou 3-4 vezes por semana) atinge 24%.

Em 2008 os internamentos exclusivamente atribuíveis ao álcool representavam 1,8% do total de internamentos nos hospitais públicos de Portugal Continental, enquanto em 2003 representavam 2,5% (ACS, 2010). Do total de vítimas mortais de acidentes de viação autopsiadas pelo Instituto Nacional de Medicina Legal em 2011, 27% tinha taxa de álcool no sangue igual ou superior a 0,5 g/l; em 2007 esta percentagem era superior a 31% (INML, 2012).

A taxa de AVPP (anos vida potenciais perdidos) evoluiu positivamente na última década. Assistiu-se de 2002 para 2010 a uma redução considerável: de 5280 para 3906 anos de vida perdidos por 100000 habitantes. Esta evolução é mais acentuada no sexo masculino, em que o problema da morte precoce é mais importante.

4:22 da tarde  

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