ADSE, que futuro ?
A tutela da ADSE vai transitar do Ministério das Finanças para a
Saúde até ao final deste ano, apurou o Diário Económico junto de fonte
governamental. A intenção já estava prevista no memorando de entendimento
assinado com a ‘troika' em 2011, mas só agora - com as alterações no modelo de
financiamento deste subsistema de saúde dos funcionários públicos (ver texto em
baixo) - é que a mudança de tutela se tornará efectiva.
Paulo Macedo herda apenas a ADSE. Para já não está prevista a
passagem para o Ministério da Saúde dos restantes subsistemas, como é o caso do
ADM (Assistência da Doença dos Militares) ou do SAD (serviços de saúde dos
polícias).
O modelo da passagem será fechado ao longo deste ano. Para já,
Paulo Macedo quer ter nas mãos um estudo actuarial para perceber a evolução
prevista das responsabilidades da ADSE no futuro.
Uma coisa é certa: apesar da ADSE e do Serviço Nacional de Saúde
(SNS) passarem a estar sob a mesma tutela não serão fundidos, uma vez que os
dois sistemas continuarão a ter fontes de financiamento diferentes. Enquanto o
SNS é financiado via Orçamento do Estado (a maior fatia) e através de taxas
moderadoras, a ADSE passará a ser sustentada apenas pelas contribuições dos
funcionários públicos.
A grande vantagem para o Estado com a mudança de tutela
prende-se com poupanças nas negociações com os prestadores convencionados. Até
agora o Ministério da Saúde negociava pelo SNS e o Ministério das Finanças pela
ADSE. Quando o subsistema de saúde dos funcionários públicos passar para as
mãos de Paulo Macedo, a negociação de preços passará a ser conjunta. Na
prática, aquilo que o Estado está disposto a comparticipar no caso da ADSE será
nivelado com os preços do SNS, o que permitirá melhores preços e poupanças
subsequentes.
Hoje, quando um beneficiário do SNS faz um exame numa clínica
privada o Estado paga um preço pelo serviço. Este valor é mais elevado quando
se trata de um beneficiário da ADSE, ainda que o prestador dos cuidados seja o
mesmo e pagador - o Estado - também. Daqui para frente, os preços serão
harmonizados, permitindo melhores preços e poupanças.
ADSE entrega 500 milhões de
euros aos privados da saúde
Os privados da saúde ganham pelo menos 500 milhões de euros por
ano com a ADSE. De acordo com o relatório de actividades de 2012, a ADSE gastou
nesse ano 272,7 milhões de euros com o regime convencionado e 138,2 milhões com
o regime livre (em que os utentes adiantam a totalidade e recebem depois o
reembolso de uma parcela). Já a comparticipação de medicamentos custou 73
milhões de euros. No total, os custos suportados directamente pela ADSE são de
483,9 milhões de euros. A este valor, somam-se ainda 50 milhões de euros que
saem do bolso dos utentes no regime convencionado.
De acordo com a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada
(APHP), cerca de 30% da facturação dos hospitais privados vem da ADSE.
DE 10.02.14
Várias questões se poderão colocar com esta transferência:
a) As transferências de financiamento para o sector privado vão aumentar?
b) A generalidade dos portugueses vão poder usufruir do seguro ADSE ?
c) Vamos ter um SNS coberto pela ADSE para portugueses remediados e um SNS sem ADSE para pobrezinhos?
Clara Gomes
Etiquetas: ADSE
1 Comments:
O raciocínio deste Governo é muito simples. Resume-se à 'política do low cost' e o resto é paisagem.
E a 'geografia paisagística' circundante será - é fácil de detectar - a redução dos salários, a imobilidade das carreiras, os co-pagamentos (em crescendo), o esmagamento dos preços das prestações (sejam do SNS ou da ADSE) e uma acessibilidade teórica (dita 'universal') bloqueada na prática pelos (próprios) 'custos'...
Será o único ponto em que a política deste governo tem alguma coerência.
O 'low cost' é, de facto, um complemento do empobrecimento e, simultaneamente, o seu instrumento.
A originalidade é a nuance deste governo que inventou a formula "low cost, high fare".
Foi uma invenção de Gaspar que não morreu, nem morrerá a 17 de Maio...
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