terça-feira, agosto 26

Milagre da multiplicação dos pães?

Espírito Santo Saúde fechou semestre com lucros de 8,7 milhões de euros.
As contas do primeiro semestre da Espírito Santo Saúde podem ainda ser alvo de revisão. A empresa presidida por Isabel Vaz, que registou nos primeiros seis meses do ano um lucro de 8,7 milhões de euros, diz que está à espera que o Ministério da Saúde reconheça ao Hospital Beatriz Ângelo, gerido em regime de parceria público-privada (PPP), o direito ao "financiamento das prestações de saúde adicionais realizadas no âmbito dos cuidados em regime de ambulatório aos doentes VIH/SIDA". A acontecer, este reconhecimento representaria uma receita adicional de um milhão de euros.
A Espírito Santo Saúde diz que tem mantido contactos com o Executivo, depois do direito a este financiamento ter sido atribuído à PPP de Braga, sob gestão da José de Mello Saúde, em 2013. "No caso particular do Hospital Beatriz Ângelo, o reconhecimento deste direito representaria um impacto de um milhão de euros nos rendimentos operacionais no primeiro semestre de 2014 e um valor estimado de 2,2 milhões no valor total do ano", escreve a empresa no comunicado de divulgação de resultados do primeiro semestre.
A empresa, que está a ser alvo de uma OPA por parte dos mexicanos do grupo Ángeles, fechou o primeiro semestre do ano com lucros de 8,7 milhões de euros, o que representa um crescimento de 44,3% face a um resultado líquido de seis milhões registado há um ano. A facturação atingiu os 201,1 milhões, com um crescimento de 6,4% face aos 188,9 milhões registados entre Janeiro de Junho de 2014.
A empresa explica os lucros com a "evolução dos resultados operacionais e [a] diminuição dos custos financeiros (-33% face ao período homólogo em 2013), devido ao decréscimo dos montantes em dívida e à diminuição dos spreads cobrados pelas instituições financeiras".
O EBITDA (‘cash flow' operacional) chegou no semestre aos 28,3 milhões de euros, com um crescimento de 1% face a igual período de 2013, evolução justificada com o "aumento dos custos de estrutura associados ao facto de a ESS ser uma sociedade cotada e pela redução de 1,1 p.p. da margem EBITDA no segmento de cuidados de saúde privados, face à margem EBITDA do primeiro semestre de 2013, atingindo os 318,4%".
Mais favorável foi a evolução do EBIDA do Hospital de Loures que passou de negativo em 0,1 milhões de euros no final de Junho de 2013 para positivo em 1,4 milhões, atingindo uma margem EBITDA de 3,1%. A ESS justifica este resultado com um aumento de 12,5% dos rendimentos operacionais, "o que permitiu uma maior diluição dos custos fixos, especialmente custos com pessoal".
Entre Janeiro e Junho deste ano, período em que o investimento atingiu os 7,5 milhões de euros, a dívida líquida reduziu-se em 26,1 milhões de euros, menos 12% do que no final de 2013, para 184,1 milhões de euros. A empresa explica que esta variação se deve "principalmente ao aumento de capital realizado no âmbito do IPO (22,5 milhões de euros) e à geração de fluxos de caixa operacionais das diversas unidades do grupo".
Económico 26/08/2014
Que novo filão será este que as PPP descobriram: financiamento das prestações de saúde adicionais realizadas no âmbito dos cuidados em regime de ambulatório aos doentes VIH/SIDA!
Ainda há pouco tempo o Grupo Mello ameaçava denunciar a PPP de Braga por não ser financeiramente sustentável, reclamando uma revisão do caderno de encargos. Paulo Macedo, ufano, vangloriava-se da excelência dos contratos de concessão das PPP, exemplo de boa prática do estado regulador na Saúde.
Com os lucros fabulosamente obscenos apresentados pelos dois grupos económicos nacionais, muito à custa da exploração PPP, intuímos quão permissivos devem ser os ditos contratos. É mesmo o dobrar dos sinos pelo sector hospitalar público que a imagem documenta.

Tavisto

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