SNS, takeover da rede hospitalar
José de Mello Saúde mais do que duplica lucros
Resultado líquido no primeiro semestre de 2014 atinge os 14
milhões de euros, mais 121% face a igual período do ano passado.
A José de Mello Saúde teve lucros de 14 milhões de euros no
primeiro semestre de 2014, mais 121% face a igual período de 2013.
O volume de negócios atingiu os 263,4 milhões de euros, mais
8,2%, enquanto o EBITDA (resultados antes de amortizações, depreciações, juros
e impostos) ficou nos 31,6 milhões de euros, contra os 23,6 milhões de euros do
primeiro semestre do ano passado.
Em comunicado, a empresa liderada por Salvador de Mello,
destaca ainda a descida da dívida líquida para os 70 milhões de euros, no final
do semestre, menos 8,6 milhões de euros face a dezembro de 2013.
Para o desempenho dos rendimentos operacionais contribuiram
"o reforço da atividade de cuidados de saúde privados (7,7%), bem como a
atividade no segmento de cuidados de saúde públicos (8,7%)", segundo a
JMS.
A jóia da coroa da JMS em termos de cuidados privados é o
hospital Cuf Descobertas, em Lisboa. No que toca a parcerias público-privadas,
a empresa gere os novos hospitais de Braga e de Vila Franca de Xira.
A JMS é apontada como uma das interessadas na corrida pelo
controlo da Espírito Santo Saúde, ontem alvo de uma Oferta Pública de Aquisição
por parte de investidores mexicanos (Grupo Ángeles).
Questionado pelo Expresso sobre a OPA, Salvador de Mello,
recusou comentar assuntos relacionados com empresas cotadas e reafirmou que o
seu grupo está sempre "muito atento" ao que se passa no sector da
Saúde.
Ana Sofia Santos – Expresso “on line” 20/08/2014
O desinvestimento no SNS, em particular o congelamento da
reforma hospitalar, está a tornar-se um ”el dourado” para os grupos privados.
Os lucros fabulosos do grupo Mello aqui patenteados explicam bem a avidez na
disputa do BES Saúde, com vários pretendentes a posicionarem-se para a OPA com
o grupo Angeles na “pole position”.
Entretanto, Paulo Macedo assiste impávido à destruição do
sector público hospitalar. Cúmplice, limita-se a gerir a crise quando surgem
atos de insubordinação que extravasam para o domínio público como aconteceu
recentemente nos hospitais de São João e Garcia de Horta.
Enquanto as administrações dos hospitais públicos, a maioria
submissa, mourejam para conseguir equilibrar contas e contratar pessoal, as PPP
conseguem lucros obscenos. À semelhança do que é aqui referido, o Público
notícia que “o lucro da ES Saúde duplicou, para 4,6 milhões de euros (contra 2,3 milhões no mesmo período do
ano passado), com o resultado a beneficiar do aumento da actividade nas
unidades privadas e ainda “no segmento de cuidados de saúde públicos” do
Hospital Beatriz Ângelo. Este hospital gerido em regime de PPP teve um
crescimento homólogo de 13,9% nos rendimentos operacionais, para 23,1 milhões
de euros, o que lhe permitiu passar de um EBITDA negativo de 0,1 milhões de
euros para um resultado positivo de 0,6 milhões no primeiro trimestre”.
Na verdade a reforma hospitalar não está congelada mas em
curso, mais não consistindo que no “takeover” da rede hospitalar pública pelo
sector privado. É, no fundo, o guião do programa para a Saúde deste governo que
Paulo Macedo vai disfarçadamente aplicando.
Tavisto
1 Comments:
A 'baralhada' que se pretendeu estabelecer confundindo medidas de racionalização das despesas, sob o manto de uma 'defesa' implacável da sustentabilidade do sistema e um programado 'desinvestimento' de base ideológica tendo como objectivo a alienação da prestação de cuidados - transferindo-a para o sector privado ou social - o 'desfecho esperado' (programado) não resiste a qualquer análise, nem é possível esconder.
Há, de facto, um processo em curso dinamizado pela progressiva absorção do SNS assente em paulatinas transferências e as reformas 'necessárias' tornaram-se manifestamente supérfluas ou até 'despropositadas'.
Quando aldrabamos o presente, deixamos de ter terreno e espaço para construir o futuro.
Esta a realidade para aonde foi atirado o SNS.
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