Centros de referência
“Nunca defenderia a privatização de todos os hospitais. Os
grandes devem continuar do Estado.” link
Isabel Vaz vem dizer o que os ministros da Saúde pós Maria
de Belém com peso político: Correia de Campos, Luís Filipe Pereira e Paulo
Macedo, delinearam para o sector hospitalar.
Apesar das diversas comissões constituídas e respectivos
estudos elaborados nos últimos anos, a reforma do Hospital Público nunca saiu
do papel. Para além disso, a legislação estruturante para o sector, caso do Decreto-Lei nº
374/99 - diploma que estabelece o regime geral a que deve obedecer a
criação dos centros de responsabilidade integrados, foi amputada nos objectivos
ao limitar-se a capacidade de gestão empresarial das unidades intermédias de
gestão. Disto é exemplo a não implementação de incentivos remuneratórios
dependentes do volume da actividade realizada, dos níveis de produtividade e da
qualidade dos resultados obtidos.
Consequentemente, vimos assistindo à degradação da vida
hospitalar no SNS, agravada pelo subfinanciamento crónico e pela concorrência
desleal dos hospitais privados ligados aos grandes grupos económicos. Digo
desleal porque o poder político consente formas de financiamento recusadas ao
hospital público, caso dos subsistemas públicos de saúde; fecha os olhos à
promiscuidade profissional, não fazendo cumprir as normas de incompatibilidades
previstas na Lei
n.º 12-A/2008 (regime de trabalho em funções publicas); não exige das
entidades reguladoras a aplicação das coimas devidas por incumprimentos
contratuais, caso das PPP; ou transparência de actividade obrigando à
publicação de resultados com “benchemarking” aferido ao risco, consentindo
assim em conhecidas técnicas de “skimming” por patologia e doente.
Face à situação descrita, o sector privado foi invadindo a
esfera pública, quer directamente quer através das PPP geridas pelos mesmos
grupos económicos, num alastrar continuo que se assemelha ao da tinta em papel
mata-borrão.
A realidade dos cuidados hospitalares hoje pode
sintetizar-se na expressão um País dois sistemas, nele coabitando dois
modelos onde sobressaem as piores características de cada um deles.
- Um público, em recessão, de figurino “beberidgeniano”:
subfinanciado, com fortes restrições no acesso (referenciação por área
hospitalar não tendo em conta a vontade do doente ou do médico de família,
taxas moderadoras próximas de copagamentos), com salários tabelados não
determinados pela produtividade individual ou do grupo, utilizado maioritariamente
pelas classes mais pobres.
- Um público/privado, em expansão, de matriz “bismarckiana”:
livre acesso (vontade do doente), controlo financeiro incipiente (pelo menos no
que respeita aos subsistemas públicos), incentivador de actos médicos ao
privilegiar o pagamento à peça, tendo o modelo anterior como rede de protecção
para patologias mais graves ou situações de incumprimento financeiro por falta
de cobertura do seguro, utilizado pelos sectores sociais com maior capacidade
económica.
É neste contexto que se vem proclamar que os grandes
hospitais devam permanecer no Estado! Deixa-se porém a pergunta, em que mãos
vão ficar o ensino e a investigação, as patologias tecnicamente mais exigentes
como sejam os transplantes, cuidados intensivos de longa duração e as inerentes
às doenças raras?
Será a pensar nisto que Paulo Macedo nos vem falar da
criação dos Centros
de Referencia? Tratar-se-á de uma espécie de oásis no meio da aridez
técnico-científica a que a politica hospitalar nos conduziu?
Tavisto
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