Paulo Macedo, esgotado
Salários baixos e degradação das condições de trabalho
afastam especialistas do Serviço Nacional de Saúde. Um anestesista, por
exemplo, que ganha entre 1500 e 2300 euros no público pode chegar aos 6000 no
privado. As diferenças ainda são maiores quando saem do país.
Anestesistas, radiologistas, cirurgia geral, ortopedistas,
ginecologistas, oftalmologia, internistas, patologia clínica ou pediatras.
Estes são só alguns dos exemplos de especialidades onde faltam médicos no
Serviço Nacional de Saúde. Os baixos salários, cortes nas horas extra e
degradação das condições de trabalho fazem com que optem cada vez mais pelo
setor privado e pelo estrangeiro, onde têm melhores condições e ordenados mais
altos. No caso dos anestesistas, ganham no público entre 1500 e 2300 euros limpos
por mês, se juntarem horas extra, enquanto no privado podem chegar aos 6 mil
euros. No estrangeiro há quem receba mais de 19 mil euros brutos.
Ana Maia 08/03/2015 DN
A reforma hospitalar ficou por fazer e o sector público
deixado exposto às mais cruas leis do mercado. Como se tal não bastasse,
promoveram-se, irresponsavelmente, as reformas antecipadas.
Nestas condições, um sector hospitalar privado agressivo,
sem controlo e politicamente abençoado, veio pôr a descoberto as limitações do
SNS na gestão de recursos humanos e não só.
Quem conheça a vida hospitalar e pretenda resolver o
problema, sem recurso a soluções fáceis ou demagógicas, sabe que não chega
atirar dinheiro para cima do sistema para o solucionar.
Sem medidas que confiram maior autonomia, responsabilização,
rigor, exigência, pagamento por objetivos e, necessariamente, estimulem o
trabalho a tempo inteiro, o SNS hospitalar ir-se-á esvaindo.
Tentar resolver o problema através da oferta, aumentando o
número de médicos e, consequentemente, reduzindo salários no público e no
privado, pode ser politicamente tentador. Porém, num sistema aberto e ávido de
mão-de-obra diferenciada só poderá incentivar ainda mais a emigração.
Não sei se um futuro governo terá capacidade para empreender
a reforma hospitalar pública necessária. Sei sim quem não foi capaz de o fazer
e de quem dá mostras de não ter soluções para além de necessários, mas
insuficientes, processos de equilíbrio financeiro. Nem que para tal seja
necessário juntar todos os hospitais de uma província num único centro
hospitalar.
Tavisto
Etiquetas: Crise e politica de saúde, Tá visto
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