Hospital "mercado"
«A ideia de que se deve olhar para os hospitais como
empresas da maior complexidade surge então naturalmente. Poucas empresas em
Portugal lidam com centenas de milhões de euros por anos, milhares de pessoas
como recursos humanos e como utilizadores nas suas instalações. Apesar da naturalidade dessa comparação, na
verdade, gosto de propor uma outra forma de pensar, outra analogia – o
hospital como “mercado” onde um conjunto de agentes procura recursos (os
médicos) e outro conjunto oferece recursos (a administração), não havendo preço
mas negociação nessa relação. A
analogia com um “mercado”, e não com uma empresa, resulta de haver duas cadeias
de autoridade dentro do hospital, e não apenas uma como nas empresas. Por um
lado, a hierarquia médica, que define os
tratamentos e solicita recursos para cumprir os objectivos assistenciais. Por
outro lado, a administração, hierarquia administrativa, responsável por um
orçamento global, e que disponibiliza os recursos necessários para os
tratamentos. Uma consequência desta
analogia é que para perceber em que medida as instituições de saúde cumprem, de
forma eficiente ou não, o seu papel é necessário que estas duas partes se relacionem
da melhor forma possível. Não
é só necessário que a decisão de cada profissional de saúde seja a melhor
possível. É também necessário que a gestão das instituições consiga garantir os
recursos necessários no momento adequado, e de uma forma que faça um balanço
entre as diferentes solicitações que recebe.
A atenção à qualidade da gestão intermédia nas unidades prestadoras de
cuidados de saúde é um fator que pode contribuir para um melhor desempenho
assistencial do Serviço Nacional de Saúde. Compreender melhor o contexto dessa
gestão é, por isso, essencial. Curiosamente, na discussão pública sobre
recursos humanos na saúde, a qualidade da gestão e a avaliação dessa qualidade
de gestão é normalmente ignorada.
Provavelmente, faz mais diferença do que se pensa, pois os ganhos de
eficiência que todos dizem querer ter no Serviço Nacional de Saúde para ajudar
à sua sustentabilidade dependem de muitos pequenos passos que têm de ser
definidos e aplicados pela gestão intermédia das instituições. Se os conselhos consultivos criados ajudarem
as organizações (os hospitais, desde logo) a olharem para a qualidade da sua
gestão, então darão um importante contributo para uma maior eficiência do
Serviço Nacional de Saúde.»
Pedro Pita Barros
link
É corrente a constatação de duas cadeias de autoridade nos
hospitais: a hierarquia médica, que define os tratamentos e a hierarquia
administrativa, que disponibiliza recursos necessários aos
tratamentos.
É dificil de aceitar, no entanto, que a relação entre estas duas hierarquias
sejam, essencialmente, relações de mercado ao ponto de caracterizar o hospital como
“mercado”
onde um conjunto de agentes procura recursos (os médicos) e outro conjunto
oferece recursos (a administração), não havendo preço mas negociação nessa
relação.
À medida que se foi desenvolvendo a organização dos
hospitais com a inerente padronização de recursos adequados a cada situação
clínica, estabelecimento de objectivos de eficiência/ qualidade e renovação do
compromisso de autonomia médica, a hierarquia administrativa assumiu, progressivamente,
maior controlo do poder de gestão das unidades hospitalares.
Hoje em dia, as relações de negociação quase permanentes entre
as duas hierarquias foram sendo substituídas por relações empresariais
traduzidas na obrigação de cumprimento de objectivos de produção/qualidade, constantes dum plano de actuação comum, elaborado por um grupo de gestores
profissionais. Esta relação, cada vez mais empresarial, é tanto mais evidente nos
hospitais PPP, onde o poder de contratação de profissionais médicos (e não só) é
mais ampla.
Se cá nevasse fazia-se, cá, ski
Etiquetas: HH, silly season
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